[Não é Incesto]
I. Minha irmã mais nova é lésbica
"Mana, eu sou lésbica."
As palavras da minha irmã mais nova não paravam de ecoar na minha cabeça. Não que eu tenha algo contra, claro que não. É mais porque eu não fazia ideia do sofrimento que minha irmãzinha passava em ter negado sua identidade há tanto tempo.
Que tipo de irmã eu sou que nem presto atenção nas pessoas que eu amo?
Se ela não tivesse me falado, naquele momento, eu seguiria insensível em meu próprio mundo cor de rosa.
Ainda me lembro bem de como aconteceu. Eu estava deitada na cama mexendo no meu celular, quando recebi uma mensagem dela.
"Mãe tá chamando."
Era o sinal que o almoço estava pronto.
Desci as escadas e cheguei na cozinha. A primeira coisa que eu notei foi a minha irmã sentada na mesa sozinha com cara de cu.
"Onde tá a mãe, Tina?", eu perguntei. Ela respondeu, sem me olhar, que ela tinha saído para algum lugar.
Tina não parecia muito feliz.
"Aconteceu algo?" - perguntei. Ela apenas me olhou e voltou a desviar o olhar.
Tina é do tipo silencioso. Na maior parte do tempo ela só escuta as pessoas, então ela é uma ótima ouvinte (já chorei muito no ombro dela). Mas ela é péssima para demonstrar as emoções.
"Sério, o que houve?" - insisti, me sentando bem na frente dela e olhando-a nos olhos.
"..."
Ela me olhou, triste. Eu decidi então que deveria ter a maior paciência do mundo, afinal, Tina apesar da maturidade ainda é uma adolescente de 15 anos.
"Eu fui rejeitada.", ela finalmente falou depois de alguns minutos em silêncio, e eu não pude deixar de ficar aliviada que era só isso.
"Não se preocupe, irmãzinha. Tenho certeza que existem muitos garotos por aí que...", mas Tina me interrompeu.
"Não, não foi um garoto. Foi pela Ana."
Eu levei quase um minuto para processar a informação.
Na hora, eu não consegui falar nada além de 'é mesmo?', o que me fez sentir uma completa idiota.
Depois disso, ela apenas se levantou da mesa e foi para o quarto dela. E aqui estou eu, na minha cama, tentando pensar em uma forma de falar alguma coisa para ela.
"Talvez ela prefira ficar sozinha...", disse, para ninguém ouvir. Mas logo sacudi esses pensamentos. Eu era sua irmã mais velha. É meu dever ajudar!
Sentei na cama bem rápido e procurei uma conversa no meu celular. Era de uma amiga minha da faculdade, Beatriz. Era uma das pessoas que eu sabia que poderia me ajudar.
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"amiga, preciso de sua ajuda."
"o que houve?"
"minha irmã saiu do armário para mim."
"uau, meus parabéns! Ela é gatinha?"
"BIA!"
"kkkkk to brincando, Mi"
"você quer saber como ajudá-la, certo?"
"... sim."
"nesse caso, você precisa demonstrar todo o apoio para ela"
"é o óbvio, não?"
"... sim."
"e por que ainda não fez?"
"pq eu não faço ideia do que fazer"
"se eu soubesse não estaria te pedindo ajuda!"
"calma, gatinha."
"nessas horas você não precisa falar muita coisa"
"só mostrar que tá perto e que ela não tá sozinha"
"é muito importante ter o apoio de alguém assim na hora que a gente se assume"
"se eu tivesse tido, as coisas seriam bem melhores para mim hoje"
"... entendi, bia"
"vou falar com ela agora mesmo"
"boa sorte, gata"
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Sorri com a última mensagem da Bia. De vez em quando ela brinca de flertar comigo, por que ela sabe que eu fico bastante embaraçada com essas situações. Mas não posso pensar nisso agora. Tenho que falar com a minha irmã.
Saí do meu quarto cheia de atitude, apenas para bater na porta ao lado.
"Quem é?", pergunta Tina.
"Sou eu.", respondi. Um silêncio durou por alguns segundos, e eu genuinamente achei que iria ser ignorada, mas no final ouvi a porta sendo destrancada.
"Pode entrar.", ela disse. E foi o que eu fiz imediatamente. Assim que entrei, vi Tina escorada na parede, olhando para a janela, com uma expressão meio triste.
Vê-la assim me deu mais motivação para continuar o que eu tinha vindo fazer aqui.
"Tina.", comecei. "Vim te dizer que você não precisa carregar esse sentimento sozinha. Você pode sempre desabafar comigo! Eu não entendo muito de namorar garotas, mas vou fazer o possível pra te ajudar a conquistar elas!"
...
Silêncio.
...
"Er... Tina?", falei, ansiosa. Será que ela iria me ignorar...?
Então, ela suspirou.
"Você é uma idiota mesmo."
E então sorriu.
"Obrigada.", disse, me abraçando. "Você é a melhor irmã do mundo!"
Não pude deixar de encher os olhos de lágrimas nesse momento. Amor de irmão é estranho né? A gente não busca um copo d'água, mas eu poderia dar um rim meu por ela.
E pode ter certeza que eu faria!
Fim do capítulo
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