Era quarta-feira de manhã e Sófia estava no café que havia marcado com Amanda. Estava olhando pela janela de vidro enquanto sua amiga a encarava.

—O que aconteceu? — Amanda não estava aguentando aquele silêncio da amiga.

—Eu estou sentindo coisas estranhas na presença de Raquel —Se virou para amanda.

—Coisas estranhas?

—Ontem, uma mulher começou a olhar para Raquel no bar que estávamos e no final mandou um bilhete pelo garçom com o seu número.

—Isso lhe incomodou?

—Muito, Amanda, você não faz ideia — Respirou fundo.

—Acho que não deveria estar sentindo essas coisas, né?

—Claro que não, eu morri de ciúmes daquela mulher. A Raquel não é nada minha, além de amiga, não podia estar sentindo essas coisas.

—Sófia, eu estranhei muito a forma que você falava da Raquel.

—Estranhou?

—Sim, você não parava de falar dela em nenhum instante. Você nunca fez isso com o Ricardo.

—Mas eu não amo o Ricardo.

—Isso, Sófia, você não ama o Ricardo. Mas e a Raquel?

—Como assim e a Raquel?

—O que você sente por ela?

Sófia pareceu pensar.

—Eu gosto da companhia dela, mas ela é uma mulher...

Amanda levou a xícara de café até os seus lábios.

—Hum... E qual é o problema nisso?

—Eu nunca me relacionei com uma mulher, Amanda.

—Antes do Ricardo, você nunca havia se relacionado com um homem.

—Mas é diferente...

—Diferente como, Sófia?

Neste momento, o celular de Sófia que estava sobre a mesa começou a tocar.

—Não vai atender? — Amanda perguntou.

—Não...

—Vai fugir? — Questionou.

—Não é isso... Se caso eu estiver mesmo gostando da Raquel, o que eu posso fazer? Eu estou namorando o Ricardo.

—Mas você não o ama.

—Mas de qualquer forma estou com ele, Amanda. Como posso colocar a Raquel na minha vida sendo namorada de outro?

—Você está certa...

—Vou me afastar dela por um tempo — Sófia falou decidida.

—Você acha que vai ser melhor assim?

—Preciso terminar tudo com o Ricardo. Não posso continuar com esse relacionamento.

—Pretende ficar com a Raquel?

Sófia levou suas mãos até a face.

—Não sei, Amanda, acho que ela nem deve pensar em mim.

—Ah... Então você já pensou sobre isso?

—Isso o quê? — Sófia ficou assustada.

—Se a Raquel pensa em você ou não — A sua amiga sorriu.

—Amanda... Estou me abrindo para você e você só me deixa pior.

Amanda levou sua mão até a de Sófia que estava sobre a mesa.

—Por favor, lute pela sua felicidade... Você sabe que ela não está ao lado do Ricardo.

—Mas como vou saber se está ao lado de Raquel? Amanda, eu nunca fiquei com uma mulher. E ela deve ter até ligado para aquela mulherzinha do bar — Disse enciumada e Amanda riu.

—Acho que ela gosta de você — Amanda recolheu sua mão.

Sófia a olhou mais esperançosa.

—Você acha?

—Claro, ela olha para você com tanta intensidade. Talvez ela ainda não saiba.

—Ah... Isso não me ajudou, Amanda.

—Mas já é um começo, Sófia, se eu fosse você... Nem ligava para o Ricardo e já iria atrás da Raquel.

—Mas você disse muito bem... Se você fosse eu, mas não é... Você sabe que nunca faria isso com o Ricardo. Ele já me ajudou muito. Se não fosse ele, o meu pai havia falecido.

—É Sófia, mas o seu pai tá bem agora e você não pode ficar com alguém só por gratidão. E se a Raquel ficar com outra nesse momento em que você ficar esperando o Ricardo voltar?

Sófia sentiu o seu peito esquerdo doer nesse momento, mas ela sabia que não podia ficar com Raquel já estando com outro.

—Eu não vou poder fazer nada, Amanda. Só aceitar que a Raquel não é para mim.

Amanda respirou fundo, Sófia era muito cabeça dura.

***

Raquel estava sentada no sofá com o celular em sua mão. Havia acabado de ligar para Sófia e a loira não havia atendido.

—Ela não me atendeu de novo, Nino —Olhou para o seu cachorro que estava deitado no chão, parecendo estar triste.

Como não havia passeado com Nina naquele dia, Nino estava muito triste.

—Acho que você não vai ver sua namorada hoje, garoto.

Raquel se deitou no sofá. Estava tão confusa. Não era normal Sófia não querer lhe atender e nem lhe mandar uma mensagem. Será que havia feito algo de errado na noite anterior?

Tentava se lembrar de alguma palavra que havia dito que pudesse deixar Sófia magoada, mas nada vinha a sua mente.

A única coisa que havia acontecido naquela noite, que não estava nos planos das duas, foi aquela mulher que ficou lhe olhando a noite toda, mas Sófia não iria ficar sem falar com ela por causa disso.

Enquanto tentava pensar em algum motivo para Sófia estar agindo daquela forma, o som da campainha começou a tomar conta do ambiente.

Raquel se levantou do sofá e foi até a porta.

—Transou tanto que se esqueceu até da amiga— Norma falou já cheia de graça.

—Oi, Norma!

—É, pelo visto, o encontro não foi lá essas coisas — Entrou no apartamento e Nino foi ao seu encontro —Olá, garotão.

Raquel fechou a porta e se virou para a amiga.

—Não teve nenhum encontro, Norma.

—Quando duas pessoas estão envolvidas emocionalmente, acho que já podemos chamar de encontro amoroso.

—Foi nada de encontro.

Raquel se jogou no sofá.

—Hum... É... O que houve?

Norma se sentou no sofá cruzando as pernas naturalmente.

—Ela não tá querendo falar comigo hoje.

—O que você fez?

—Fiz nada, Norma, a nossa noite estava sendo perfeita, mas ai ela ficou estranha.

—Você falou algo que pudesse lhe magoar?

—Que eu me lembre não...

—Hum... E mesmo ontem não sendo um encontro, como você disse, você está toda preocupada.

— Norma, já falei... Somos só amigas.

—Essa amizade tá muito estranha. Né, Nino?  — Encarou o cachorro que havia voltado a se deitar.

—Mesmo não acreditando somos só amigas.

—Mas você não desejaria que tivessem algo a mais não?

—Norma... — Gritou.

—Tá... Tá... Tá... Já entendi... Bom, ela deve estar ocupada, por isso que não tá falando contigo.

—Pensei nisso, mas ela visualiza minhas mensagens e não responde. Eu fiz algo a ela que ainda não sei o que é, Norma.

—Será que você não tá se esquecendo de nada que aconteceu ontem não?

Raquel ficou pensativa e se lembrou da mulher loira da outra mesa que estava a olhando.

—Bom... Teve algo...

—O que foi? — Norma ficou curiosa.

—Uma mulher da outra mesa ficou olhando para mim e Sófia ficou incomodada.

—Quer mais provas de que o que aconteceu ontem foi um encontro? — A amiga começou a rir.

—Como assim? —Raquel ficou confusa.

— A Sófia ficou com ciúmes.

—Isso não é possível, somos só amigas.

—Às vezes parece que você não conhece as mulheres.

—A gente só tem o que sempre conversar, Norma, você que fica fantasiando as coisas...

—Está bem... Ela fica querendo o seu corpo nu e eu que fantasio. Quer mais provas?

—Ai... Não dá para conversar com você, Norma, parece que quer me ver namorando.

—Claro que quero. Já chega de ressentimentos do passado.

—A questão não é essa... Não quero mais sofrer.

—Você acha que a Sófia seria capaz de te fazer sofrer, Raquel?

—Acho que não, mas tenho medo de voltar a amar outra vez.

—Amor, por favor, se dê uma outra oportunidade de ser feliz — Norma falou sincera e Raquel ficou pensativa.

 

 

 

Fim do capítulo