— Tá vendo aquela guria sentada ali?

— Qual? – Ela levantou a cabeça olhando na direção que eu apontava, sorriu dizendo: — Ah, a moça que falam que é terrivelmente sedutora e ao mesmo tempo fria?

— Você a conhece?

— Quem não? – Me olhou sorrindo, franzi a testa e em resposta disse:

— Eu não a conheço... Por que nunca a vi antes?

— Porque você é desligada e só olha para o seu umbigo.

— Calúnia, eu sou a concentração em pessoa... – Fiz bico, ela sorriu, perguntei: — E então, vai me contar quem é?

— Aluna nova, entrou semana passada, mas dizem que não vai ficar muito tempo por aqui.

— Por quê? – Olhei a moça interessada, naquele momento ela levantou a cabeça e observou em volta, nossos olhares se cruzaram, meu sorriso saiu livre, mas falhou diante do olhar que ela me deu.

— Entendeu?

— Oi? – Olhei a minha amiga que me olhava com as sobrancelhas erguidas, balançou a cabeça e levantou dizendo apenas:

— Quando na sua vida, vai focar no que as pessoas em sua volta dizem?

— Quando isso começar a me interessar? – Respondi sorrindo, ela revirou os olhos e deu as costas indo em direção a turma, levantei e fui correndo atrás dela, joguei meus braços sobre seus ombros dizendo:

— Desculpa, eu estava brincando.

— Você sempre está.

— Por favor, repete o que estava dizendo.

— Por que eu faria isso? – Me olhou desafiante, sorri:

— Perdi o foco alguns segundos, olhando para a tal moça terrivelmente sedutora. – Sorri e segundos depois ela abriu um sorriso me empurrando de leve dizendo:

— Como você consegue tirar as coisas das pessoas?

— Porque eu sou um docinho, tu não sabes? – Joguei os cabelos para o lado fazendo charme...

Ela sorriu, voltei ao normal bebendo cada palavra que minha amiga dizia sobre a moça... Naquele momento a tal guria entrou na sala, seus olhos cruzaram com os meus, novamente sorri esperando ser rejeitada, ledo engano, ela desviou os olhos, mas o sorriso se formou em seus lábios...

Agora eu estava encantada... E mais uma vez me perdi e esqueci da minha amiga falando ao meu lado... Quando a olhei, sorria desafiadoramente... Fiz careta levantando os ombros... Perdia o foco facilmente...

A aula começou... Mas a minha concentração estava na moça lá atrás, que agora levava um pedaço de chocolate aos lábios. Quando viu que eu a observava, levou o dedo até os lábios e o sugou vagarosamente sem desviar os olhos dos meus... Perdi a compostura e quase caí da cadeira... Todos me olharam, rindo e fazendo bagunça.

Discretamente a moça abaixou a cabeça balançando a cabeça rindo, não mais me olhou... Mas as sensações que ela me causou me fizeram perder o foco novamente... “Ahhh, como eu queria ser aquele chocolate agora!”. Inspirei fundo e voltei a sala... Precisava me concentrar...

Mas como eu faria para conseguir algo que definitivamente seria impossível pra mim: me concentrar. Ainda mais com as imagens em minha cabeça daqueles lábios, devorando os dedos e os saboreando gostosamente.

Voltei a buscá-la com os olhos e mais uma vez percebi que também me procurava com os seus. Trocamos mais um sorriso e enfim tive a certeza de que a garota terrivelmente sedutora poderia ser tudo, menos fria.

Finalmente aquela aula acabou e o intervalo começou, e em minha cabeça passavam milhões de coisas. Meu coração palpitava acelerado como que se antecipasse algo que eu sequer imaginaria que pudesse acontecer. Mais da metade do intervalo se passou e minha amiga não parava de falar sobre as matérias, os professores chatos, os alunos gatinhos... A verdade é que eu não fazia ideia sobre o que ela tanto falava já que meu único interesse estava a algumas mesas de nós, eu só conseguia pensar naquela guria linda.

Em um momento de distração, mais um, ela simplesmente desapareceu. Olhei em volta, cheguei a levantar para procurá-la, mas nada: sumiu como fumaça. Decepcionada, resolvi finalmente prestar atenção ao que minha amiga falava.

— E então, vamos? – Perguntava enquanto me olhava. Tentei buscar em minha mente sobre o que ela falava, mas foi em vão.

— O que? – Tentei parecer mais interessada.

— Vamos ao banheiro, louca? – Aliviada resolvi acompanhá-la apesar de nem ter interesse algum em ir até lá.

Entramos no banheiro e várias alunas estavam ali. Algumas retocavam a maquiagem, outras apenas conversavam encostadas próximo ao espelho verificando se suas roupas estavam melhores do que as das outras. Detalhe: todas patricinhas.

Minha amiga entrou em uma cabine vazia enquanto eu sentei na tampa do vaso de outra que estava vazia, ao seu lado. Levei o maior susto do mundo quando, surgindo do nada, a guria terrivelmente sedutora e, não teria como usar outra expressão, ninja, apareceu dentro do reservado em que eu estava e fechou a porta atrás de si.

— Você... você... como? Eu... – Confesso que não conseguia concatenar as palavras naquele momento.

— Xiiiiu! Fica calada. – Dizendo isso, a garota que não era nem um pouco fria, beijou os meus lábios de uma forma arrebatadora.

Que beijo meu Deus! Não que eu fosse superexperiente. Longe disso, mas que adrenalina ficar com a garota mais cobiçada da facul, terrivelmente sedutora e de quebra descobrir que além de não ser nem um pouco fria, a guria era extremamente carinhosa. Ficamos nos encarando após aquele beijo, até que fomos interrompidas.

— Vamos? Já terminei. A próxima aula começa em cinco minutos. – Minha amiga inconveniente e sem noção, tentava me tirar do momento mais perfeito da minha vida.

— Vai indo meu bem, não estou me sentindo muito bem... – antes que ela perguntasse o que eu tinha, disse: — Já, já te encontro na sala. – Pedi aos céus que ela simplesmente fosse embora. Ela resmungou alguma coisa do lado de fora, mas se foi.

Voltei a encarar a garota a minha frente e esta sorriu pra mim. Prontamente retribui seu gestou. O beijo tornou a acontecer, mas dessa vez com mais intensidade e mais carinho.

— Ah, não posso esquecer de uma coisa. – Ela disse e colocou a mão no bolso da frente do seu jeans.

— O quê? Me dá mais um beijo antes... – Tá bom, acho que meu foco tava muito bem direcionado a algo que verdadeiramente me interessava: aquela boca linda que beijava divinamente bem.

Ela finalmente encontrou o que procurava. “Que bolso grande” eu pensava, já que ela demorou “horas” pra encontrar.

— Queria te dar isso!

Nem acreditei quando ela pegou um quadradinho de chocolate e olhando para meus olhos, disse:

— Posso te dar?

Balancei a cabeça afirmativamente. Agora ela encarava a minha boca e depositou vagarosamente aquele pedacinho de chocolate nela. Nem sei de onde tirei coragem de fazer aquilo, mas quando ela ameaçou retirar a mão, eu a segurei e suguei lentamente seus dedos, que nem estavam tão cheios de chocolate assim, mas tinham algo ainda melhor: o gosto dela.

Quando terminei de sugá-los, ela me puxou e voltamos a nos beijar. Infelizmente o sinal tocou naquele momento e tivemos que nos separar. Nossa despedida foi silenciosa. Trocamos um selinho e um sorriso singelo.

Voltei para a sala e de uma coisa eu tinha certeza: passaria as próximas aulas flutuando.

E como previsto, passei a aula toda desligada do mundo, apenas relembrando o que tinha acontecido mais cedo, naquele banheiro. Fechava os olhos e lembrava da guria invadindo o gabinete onde eu estava e me beijando daquela forma.

— Hei você, dá pra ser menos desligada? – Senti minha amiga me cutucar. Quando percebi, já estava sorrindo novamente, quase babando na cadeira ao lado.

— Foi mals! – Olhei para ela sorrindo, que apenas balançou a cabeça.

Nem liguei. Voltei para as minhas divagações e assim fui até aquela aula chata acabar. Detalhe, a moça não entrou na turma depois daquele intervalo, reparei logo de início e isso me deixou levemente chateada.

Quando minha amiga e eu, estávamos indo em direção ao carro, onde o babão do meu irmão nos aguardava, ela me olhou de lado perguntando.

— O que aconteceu com você hoje?

— Em que sentindo. – Olhei sorrindo para ela, que apenas balançou a cabeça dizendo rindo:

— Esquece, por um minuto esqueci com quem estava falando.

Dei de ombros e nos aproximamos de meu irmão. Dei um beijo em seu rosto e ele puxou a namorada para seus braços a beijando, fiz careta dizendo:

— Vocês precisam fazer isso na minha frente?

Eles nem ligaram para mim, sorri olhando em volta. Para minha surpresa, lá estava aquela guria que havia tirado toda a minha atenção hoje, sorriu discreta, porque eu sabia que tinha me aberto toda em sorriso. Levantou a mão e com o dedo me chamou.

Sem pensar uma segunda vez, fui em direção a ela, uma brisa suave bateu, arrepiou meu corpo. Enfiei a mão nos bolsos da jaqueta e me aproximei dela dizendo:

— Olá, de novo! – Sorri e recebi um sorriso lindo de volta, pegou minha jaqueta e me puxou para ela, aproximou de meu ouvido e sussurrou sedutoramente:

— Quer terminar o que começamos mais cedo? – Nem preciso dizer como aquilo me atingiu, sorri, ela se afastou, tirei uma das mãos do bolso e coloquei no carro encostando mais nossos corpos, me aproximei mais dizendo:

— Eu até queria, mas iria causar certo transtorno, aqui está cheio de gente e, apesar de ser um fetiche meu fazer amor em um estacionamento lotado, não quero terminar o dia sendo presa por atentando ao pudor. – Sorri, ela me olhou e jogou a cabeça pra trás gargalhando, empurrou meu ombro de leve, dei dois passos para trás e ela disse:

— Não sabia que era tão boba.

— Deveria ter percebido, esse é um sinal bem comum em mim. – Sorri, ela retribuiu o sorriso, mas ficou entre a seriedade e a graça.

— Não respondeu a minha pergunta.

— Só estava lhe dando a chance de reconsiderar, afinal, precisava ver como eu era antes.

— Boba? – Concordei, sorriu discretamente agora. — Não tenho intenção de voltar atrás.

— Nesse caso, só irei me despedir do pessoal e dizer que não irei com eles.

— Ótimo, te espero no carro...

Dei um passo para trás, ela entrou no carro, corri de volta para onde o casal maravilha estava. Me despedi deles sem explicar muita coisa, o que eles nem ligaram, em se tratando de mim, voltei para o carro da guria e entrei. Ela deu partida e seguimos

Não conversamos muito, apesar da troca de olhares intensos, sentia o desejo emanar do corpo dela e isso me causava arrepios de ansiedade.

Vinte minutos depois, chegamos a uma casa grande, linda a meu ver, ela entrou com o carro na garagem, saí dizendo:

— Bela casa!

— Obrigada, mas essa é de meus avós. – Olhei para ela que apontou dizendo. — Moro nos fundo, em uma kitnet, onde, por acaso, também é meu ateliê.

— Surpresas sendo reveladas... – Sorri, ela esticou a mão, que prontamente aceitei e me guiou pelo corredor até os fundos.

Abriu a porta, me convidou, entrei sem fazer cerimônia. Olhei em volta, várias telas espalhadas, quadros nas paredes. Me aproximei de um em específico, achando lindo o trabalho dela, sorri dizendo:

— Você tem magia nas mãos... – Mas a minha frase não se completou. Seus lábios tomaram os meus, dois passos para trás e minhas costas encostaram na parede, sorri entre o beijo, ela se afastou apenas para dizer:

— Podemos conversar mais tarde?

— Como quiser, senhorita...

Meus lábios foram tomados novamente... Suas mãos percorriam o meu corpo. Claramente foi um convite para explorar o corpo dela também. Senti seus dedos deslizarem pela minha barriga, alcançar os botões de minha calça e o zíper abaixar, gemi ao sentir sua mão gelada adentrar minha pele e alcançar...

Não, não narrarei o que aconteceu... Mas uma coisa eu digo: foi MARAVILHOSO! Lamento por vocês, mas ficarão apenas na imaginação...

Fim

Fim do capítulo