Laura ajeitou-se na cama de modo desconfortável enquanto aguardava as possíveis desculpas de sua esposa para o sumiço noturno sem ligações, mensagens ou qualquer coisa que significasse comunicação.

Giuliana olhava aquela mulher em sua frente e sentia-se culpada. Pelo desgaste dos anos, pelo esfriamento da relação, pelas brigas desnecessárias e tantas outras coisas. E esse novo encanto fez com que ela repensasse algumas situações. Pensou se realmente valia a pena deixar uma esposa devotada a quem, de certa forma, amava por um algo incerto.

Reviu também a forma como vinha tratando alguém que esteve ao seu lado em todos os momentos bons e principalmente nos ruins. Alguém que teve a coragem de enfrentar uma das pessoas mais importantes da sua vida em prol desse amor e que agora estava ali em sua frente, temerosa do que lhe aguarda. Pensar nas vezes que a machucou trouxe tristeza e lágrimas.

-Me desculpe. – Saiu de forma embargada. – Não só por ontem, mas pelas brigas, implicâncias e por deixar nossa relação cair em desgaste. Na rotina. – As lágrimas desciam em profusão.

Laura estranhou esse repentino pedido de desculpas. Em sua cabeça, o motivo real desse pedido de conversa séria para comunicar o possível fim de casamento e seu caso com uma mulher qualquer. A verdade é que esse pedido de desculpas desestruturou-a de formas variadas.

-Por que isso agora? Esse pedido de desculpas? – Laura colocou-se na defensiva.

-Eu... – Giuliana respirou fundo antes de prosseguir. – Eu vi e entendi que se o nosso casamento chegou nesse ponto ambas as partes contribuíram. E acabei deixando toda a carga em cima de você como se só você fosse responsável.

-Eu também não fui a melhor esposa que você poderia ter. Confesso que meu ciúme não foi um bom aliado, mas era difícil manter a calma com tantas oferecidas se jogando pra você.

-Isso quer dizer que?

-Que eu também me desculpo por algumas de minhas atitudes.

-Estamos desculpadas. Vamos fazer dar certo.

Abriu os braços em um chamado mudo. Laura aninhou-se neles e ficaram por muito tempo em silêncio. Embora muitos casais fizessem o tão falado e por muitos esperado, sex* de reconciliação. Elas preferiram apenas um abraço.

Era sábado. Nenhuma delas trabalharia. Depois de um banho juntas como a tempos não havia, tomaram café e saíram pela cidade sem destino certo. Foram ao cinema, almoçaram em um restaurante com vista para a praia e assistiram ao pôr do sol. A paz havia se instaurado.

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Ana almoçou em família e isolou-se no escritório da casa dos pais. Rascunhou e digitou alguns poemas, mas sua cabeça dava voltas no jantar e em suas possíveis consequências. Gostaria de dizer que a Fiore Notte era apenas mais uma a quem conquistaria com seu charme, mas sabia não ser assim.

A caixa de e-mail estava aberta e pensava no que escrever. Já havia escrito algumas linhas e apagado, reescrito e apagado novamente. Não sabia o que dizer e só havia sentido algo parecido apaixonou-se por Deolinda. Quando havia tomado coragem e digitava algumas linhas chegou uma atualização de um blog de fofocas do meio artístico que chamaram sua atenção.

Giuliana e Laura - Em Clima de Romance

A artista plástica e pintora Giuliana Vanolli foi clicada em companhia da administradora Laura Martins, sua esposa, em um conhecido shopping da capital baiana e na praia da Ribeira assistindo ao pôr do sol.

Seria essa programação parte das Bodas de Estanho já que recentemente completaram 10 anos de casadas? Seja o que for o Informe News deseja felicidades ao casal.

Após reler mais algumas vezes a reportagem, Ana tomou a decisão de adiantar sua ida a Lisboa. Ligou para o agente e pediu uma passagem para Portugal sem prazo de volta. O homem protestou por estarem as voltas com o livro, mas a mulher garantiu que não atrapalharia o andamento do projeto. Despediu-se dos pais e foi para casa arrumar as malas. Seu voo sairia as 17horas. Lá, no refúgio da sua casa estimada, encontraria o caminho que tanto desejava achar.

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De volta a casa, enquanto Giuliana banhava-se Laura olhava em seu note algumas fotos antigas e viu quando um e-mail chegou. A outra ainda não havia saído do banho. Clicou no e-mail sem pensar. Leu o que havia sido enviado e o removeu para a lixeira antes da esposa voltar.

Saindo do banho, Giuliana ouviu o toque de seu aparelho celular e viu tratar-se de Adelina Amaral. Atendeu e conversaram sobre os últimos detalhes da exposição que faria na Artemisa Galeria. Assim que desligou, procurou a esposa achando-a na varanda do quarto a admirar a lua.

-Bela.

-Eu ou a lua?

-As duas. – Respondeu a italiana sentando ao seu lado.

-Acho que está na hora de procurarmos a clínica e dar início ao seu sonho. Falei com meu ginecologista e ele disse que pode nos auxiliar no tratamento.

-Que esplêndido. Obrigada por aceitar fazer parte desse sonho comigo.

-Nunca esqueça que te amo e faço tudo pela nossa família. Família essa que irá crescer em breve. – Beijaram-se selando o começo de uma nova etapa.

Fim do capítulo