Bianca

Senti algo me cutucar, abri os olhos lentamente, virei para o lado e percebi Gabriela em pé me fitando com carinho.

- Oi grávida! - me cumprimentou

- Onde está Pietro? – perguntei meio sonolenta, vasculhando o quarto com o olhar

- Espera! Pietro dormiu aqui contigo? – Sorriu maliciosamente.

Levantei-me com cuidado e sentei na cama. Fiz um gesto para que Gabriela se acomodasse ao meu lado.

- Otávio esteve aqui - informei sem rodeio

- Cáspita! o que ele queria? – franziu o cenho irritada

Relatei, minunciosamente, todos os acontecimentos para a minha amiga, sem omitir nada.

- Por esse motivo, Pietro sugeriu que fôssemos logo para o Brasil – segurei a mão de Gabriela, apertando levemente.

- Concordo com ele! É o melhor que tem a fazer – Gabriela preocupada.

- Biela, queria que você passasse um tempo no Brasil comigo - Implorei com o olhar - Por mais que Pietro me trate com carinho e atenção, não ter ninguém da minha família por perto, durante a gravidez, vai me deixar apreensiva.

 

Gabriela me fitou por alguns minutos sem proferir uma palavra, aumentando a minha ansiedade

- Va bene! -assentiu acariciando as minhas costas - Irei contigo, mas não vou ficar sem fazer nada, quero trabalhar, produzir na minha estadia no Brasil.

 

- Seu pedido é uma ordem- confirmei sorrindo para ela.

- Vai acreditando que foi um pedido! – Biela com cara autoritária.

- Fica aí se iludindo, que vou tomar um banho e descer para conversar com papà antes do jantar – com carinha feliz, pisquei para Biela dirigindo-me ao banheiro - com Pietro ao meu lado, é claro!

 

- Mas está muito metida essa minha amiga! – jogando o travesseiro tentando me atingir e errando.

- Péssima de mira, como sempre – provoquei entrando rápido no banheiro fechando a porta.

 

Após o banho, despedi-me de Biela que foi conversar com sua mãe sobre a decisão de ir ao Brasil conosco. Eu estava tranquila quanto à concordância da Antonia em partir conosco para o Brasil... Nós erámos muito unidas e o coração da boa senhora despedaçaria por ficar distantes de nós duas; então era certo ela arrumar ligeiro a bagagem para nos acompanhar.

 

Passei um batom nos lábios e mirei-me no espelho! Estava bem, vestia um short amarelo à altura das coxas, uma camiseta branca soltinha e calçava sandálias rasteiras confortáveis. Dei mais uma escovada nos cabelos deixando-os soltos; borrifei no pescoço, nuca, entre os seios e pulsos o meu perfume predileto.

 

Fui até o quarto do Pietro e bati levemente na porta e aguardei ansiosa.

Ele abriu a porta.

O rapaz vestia aquelas camisetas de meia manga e calças jeans folgadas, seus cabelos estavam arrepiados mostrando que acabara de sair do banho e não os tinha arrumado... Pietro estava muito atraente.

 

Olhei-o de cima a baixo e notei que estava descalço, estranhamente tinha pés não muito masculinos.

- Oi, você acordou... – Pietro sorrindo – Entra.

A voz meio rouca dele ecoou em meus ouvidos me fazendo mirar aquela boca. Percebi então que ele tinha dado um passo pra o lado me dando espaço para entrar; pensei um instante se isso seria certo...

 

- Prometo que não farei nada que não queira – falou abusado, vendo minha relutância em entrar – Acho que mereço um pouquinho de confiança, desde que dormiu em meus braços e acordou intocada... Certo?

 

Sem querer meus lábios abriram num sorriso diante de sua audácia.

- Você é um ragazzo “maltrattato”! – saltei passando por ele dando-lhe um leve empurrão no peito.

Ouvi sua gargalhada junto com o barulho da porta do quarto sendo fechada atrás de mim.

- Um rapaz” Abusado”, eu?!!!! Imagina... – respondeu fingindo-se ofendido enquanto parava em minha frente enlaçando minha cintura e puxando-me para ele - respeitoso, isso sim! Um verdadeiro mártir...

 

- Mártir?! – ergui uma sobrancelha indagadora – Explique-se.

Ele abriu um sorriso largo que me fez sentir algo diferente, enquanto sentia o calor de seu corpo no meu.

- Sofri torturas a noite passada inteira! – falou em meu ouvido – você em meus braços e eu? Um verdadeiro herói, me comportando para ser um rapaz respeitoso e não avançar e ABUSAR de você. E o que ganho diante de tamanho sacrifício para ser um gentleman? Ser ofendido pela dama sendo chamado de “rapaz abusado!” Estou grandemente ofendido aqui...

 

Olhei para o semblante de sofredor e fingidamente indignado dele por longos segundo até que ambos estouramos em gargalhadas. Quando controlamos o riso, eu descontrolei minhas ações e ousadamente num selinho carinhoso rocei meus lábios nos dele que, de olhos arregalados, me fitou surpreendido por minha atitude.

 

Aproveitei sua surpresa para delicadamente sair de seus braços. Sentando-me numa poltrona, e fingindo uma calma que não sentia naquele momento, inseri o assunto que me levara até ali.

 

- Que bom que já está quase pronto – falei vendo-o ajeitar os cabelos com os dedos – Eu vim te buscar para irmos conversar com papà sobre nossa ida antecipada ao Brasil.

 

- Certo, mia sposa! – falou sorridente – Você manda! Deixe-me apenas terminar de me arrumar e já descemos.

 

Fiquei com o coração saltitante ao ouvi-lo me chamar de sua noiva...

Enquanto ele penteava o cabelo e calçava um tênis meus olhos lhe acompanhava cada movimento e eu pensava: - Santo Dio... Eu gosto dele!

 

Encontramos papà no escritório em pleno vapor trabalhando.

- Io passo aí – falava com um funcionário no telefone – Sì, resolveremos logo isso... Até lá.

Ele encerrou a ligação ao nos ver entrar.

 - Ciao, caros! – nos saudou com beijos e abraços – Sentem.

-  papà! – retribui seus beijos e sentei-me ao lado do Pietro que o saudou com abraços.

- Vocês estão com um ar muito sério, que aconteceu?! – papà nos olhando – Não me digam que já brigaram?!

- Não Senhor Matteo – Pietro tomando minha mão entre as suas enquanto falava com papà – Na verdade queremos lhe falar sobre um incidente desagradável ocorrido ontem com o ex-namorado da Bianca...

 

- Come?!! – Papà ergueu-se irritado da cadeira – aquele maledetto driblou minha segurança e entrou em minhas terras?! Vou acabar com ele...

 

- Calma papà... – tentei acalmá-lo – O Senhor não pode se agitar assim, lembre seu coração...

- Come non me agitar, figlia?! – Papà começando a andar agitado pela sala – Será que não vamos nos livrar deste homem nunca? O que ele fez?! Exijo que me contém!

 

- Primeiro quero que sente se acalmando! – Pietro mandão – Estou esperando, mio suocero!

Papá bufou irritado, mais obedeceu meio sorrindo ao ouvir o brasileiro o chamar de “sogro” num italiano sofrido.

Vi meu noivo levantar-se indo no pequeno frigobar do escritório, encher um copo com água e estregar ao papà que embora parecesse contrariado, ficara como eu encantado do cuidado do ragazzo para com ele.

 

-Sì... ele me encanta mais a cada dia... – pensei deleitada com as ações do mio futuro marito, para com o sogro.

- Agora que está mais calmo... – Pietro voltando a sentar e pegar minha mão – Contaremos com fidelidade tudo o que ocorreu, pois temos uma proposta a fazer diante disto.

 

Meu pai recostou-se na cadeira e ouviu todo o relato feito por Pietro sobre como Otávio se portara, das ameaças que nos fizera.

Ao finalizar, papà tinha as mãos entrecruzadas embaixo do queixo processando tudo o que lhe foi dito...

- Maledetto!! – xingou antes de encarar meu noivo – Precisamos proteger Bianca e o mio neto!

- Precisamos proteger o senhor também, suocero! – Pietro sério – Pensando na proteção de todos vocês, eu fiz uma proposta a Bianca ontem; e é esta proposta que viemos trazer ao senhor como solução...

 

- Pois fale ragazzo! – ordenou papà – estou disposto a qualquer ação que impeça aquele maledetto de machucar um dos meus!

Pietro olhou-me incerto e eu apertei sua mão incentivando-o. Ele voltou o olhar para meu pai e esclareceu.

- Queremos sua permissão para antecipar nossa partida para o Brasil e nos casarmos no dia seguinte ao tocar o solo do meus país – ele falou de uma só vez – Queríamos também lhe propor ficar conosco no Brasil por alguns meses para que Bianca não fique preocupada com o senhor sozinho aqui na Itália a mercê daquele canalha! Não se preocupe porque em minhas terras, ou melhor dizendo, nas terras da minha irmã, existe uma casa de hóspedes confortável e ampla onde estaria bem instalado com a Antonia lhe auxiliando como sempre. O que me diz, Senhor Matteo?!

 

Eu prendi a respiração enquanto papà em silêncio parecia ponderar sobre tudo o que Pietro propôs...

Após longos minutos, ele se pronunciou.

-Aceito sua proposta! – falou sério – porém, preciso de dois dias para arrumar os meus negócios aqui, para que meus administradores possam gerir todas as coisas comigo no Brasil. Sei que Bianca já tem tudo arrumado nos seus negócios pessoais porque ela vivia viajando e seus auxiliares tocavam tudo, com ela dando suporte a distancia! Entretanto eu, com minha cabeça dura, resisti a isso porque não viajava para longe assim... Agora terei que botar em prática o esquema que ela implantou nas nossas empresas e eu nunca usei.

 

Levantei me jogando feliz no colo do meu pai.

- Eu te ajudarei papà... – comecei a falar e fui interrompida por ele.

-Não figlia – falou me enchendo de beijos – A regazza que trabalha contigo no setor de informática me auxiliará! quero que aproveite esses dias para levar seu noivo para conhecer Turim.

 

- Mas... – tentei insistir e fui cortada novamente.

- Sem mais! – papà autoritário e fingindo aborrecimento – essa é minha exigência para aceitar a proposta de vocês! Tenho que ganhar alguma coisa para virar minha velha vida de cabeça pra baixo de uma hora para outra. Vocês partem para Turim amanhã cedo, ficam em nossa casa lá. Dois dias depois eu, Antonia e Gabriela os encontraremos e partimos rumo ao Brasil...

 

Neste momento foi minha vez de interrompê-lo.

- Falando em Biela - voltei-me para Pietro – Você se incomoda se a ela for morar conosco no Brasil, senhor mio noivo?

- Não, senhora minha noiva – Pietro brincalhão – Falarei com a Andréia para ceder sua casa de hóspedes para ela, o tempo que precisar.

 

- Ahhhhhhh, mais assim Biela ficará longe! – reclamei chateada – ela poderia ficar com papà e Antonia...

 

- Bianca – Pietro esclareceu – Andréia mora em um terreno ao lado da casa de Pietra, onde iremos residir. Gabriela mora sozinha aqui; então entendo que gostaria de manter sua privacidade; sendo assim, não tem por que a obrigar a renunciar a isto, tendo uma casa livre a menos de 20 passos da nossa, onde ela ficará confortavelmente instalada e tendo preservada a sua liberdade.

 

- Ele está certo figlia! – papà concordando com Pietro.

- Entendi – falei sorridente – É que pensei que era longe o local onde a Biela iria morar. E sua amiga não irá se aborrecer por ceder a casa?

 

- Não se preocupe, Gabriela morará pertinho de nós – Pietro rindo divertido para mim – Andréia não reclamará, ela vai adorar ter uma moça tão bonita... Er... Educada, instalada em sua casa de hóspedes que raramente é ocupada. Vou pedir a Andréia deixar tudo organizado, pra estar a contento quando a nova moradora chegar.

 

- Pietro... – falei sem graça – Eu sei que já é abusar; mas...

- Mas? – Pietro cruzando as pernas elegantemente incentivando-me.

- Mas, você pode ajudar a Biela a arrumar um trabalho no Brasil? – pedi constrangida – Essa foi uma exigência dela: um trabalho no Brasil e aí sim ela decidiria morar lá.

 

- Bem, Gabriela é veterinária, não é? – Pietro.

- Sì – afirmei.

- Então primeira coisa que vou fazer é pedir a Andréia para ajudar com a validação do diploma dela no Brasil e resolver todos os trâmites necessário para que ela possa exercer sua profissão legalmente em solo brasileiro – Pietro pensativo – E, eu acho que a minha irmã e a própria Andréia terão uma proposta inicial de trabalho para sua amiga...

 

- Mesmo? – perguntei interessada – Sua irmã, não tem apenas uma fazenda produtora de frutas?

- Sim – Pietro com os olhinhos brilhando – Mas Pietra tem um haras e deseja ampliar seus negócios com cavalos de raça. Ela e a sócia querem investir também na área de produção de leite e queijo... Estão negociando vacas e sinceramente precisarão de uma veterinária competente as auxiliando! Vislumbro uma belíssima parceria entre as três, se a Gabriela for empreendedora.

 

- A Biela vai enlouquecer com a perspectiva de participar de um negócio! – falei animada.

- E eu invisto na Gabriela o quanto for preciso – Papá afirmou rindo feliz – Dinheiro não será impedimento!

Levantei-me do colo do papà e abracei Pietro animada. Ele rapidamente me colocou em seu colo e continuou conversando sobre as possibilidades de negócios futuros entre Biela, sua irmã e a sócia no Brasil. Notei que papà estava maravilhado com a naturalidade com que Pietro conduzia nossa relação...

 

Pietro me tinha no colo e alisava minha perna carinhosamente sem parecer perceber o que fazia. Eu respirava com uma certa dificuldade sentindo meu corpo aquecer debaixo daquelas inocentes carícias.

Respirei entre alívio e frustração quando Biela botou a cabeça no escritório informando que Antonia já preparara a mesa do jantar e apenas nos aguardava para servir. Sai do colo do Pietro que me olhou meio confuso como que lamentando me perder. Estiquei a mão entrelaçando nossos dedos e o forcei a levantar.

 

- Estou faminta – falei a guisa de desculpa pra ter saltado quase correndo do seu colo – Vamos meninos?!

Sentamo-nos à mesa e contamos a Biela e Antonia a decisão de papà de partirmos dentro de dois dias para o Brasil.

Pietro compartilhou com a Gabriela a necessidade de validação do seu diploma no Brasil para que ela pudesse exercer sua profissão no país; tomou seu e-mail pelo qual Andréia iria enviar as orientações necessárias para que isso fosse resolvido rapidamente com a ajuda de nossos advogados.

 

Gabriela ficou exultando com a possibilidade de participar deste projeto das sócias brasileiras, bem como em ir trabalhar num haras.

Antônia apressada, assim que acabou o café disse que precisaria tomar todas as providências para manter o castelo funcionando em nossa ausência e resolver os próprios problemas de sua casa que ficaria fechada todo o tempo em que estivesse no Brasil.

Gabriela também saiu disparada dizendo ter que pedir demissão da clínica em que trabalhava e visitar seus pacientes fixos os deixando nas boas mãos de um colega experiente. Antes de sair, porém, deu permissão a Pietro para passar seu número do WhatsApp para a sócia de sua irmã, caso esta precisasse comunicar-se rapidamente com ela a respeito da validação do seu diploma.

 

- Vocês dois – papà ordenou assim que ficamos sozinhos – Vão dormir cedo para viajar para Turim no início da manhã.

- Papà ,  tem muito tempo ainda. – Tentei argumentar

- Não! O pobre do mio genro não se divertiu nem um pouco nesta viagem a nostra Itália; - bradou – Leve-o para se divertir nestes dois dias que terão aqui! Corram, vou mandar nossos funcionários, da casa de Turim, aprontar tudo para chegada de vocês.

 

- Nós iremos de carro, pois tenho que entregar o que eu aluguei – Pietro feliz – E vou gostar de conhecer um pouco de Turim com minha noiva.

 

- Oh ragazzo, molto respeito nesta hora, viu? – Papà fazendo sinal de que estava de olho nele – Quartos separados, entenderam?

Eu enrubesci dos pés à cabeça e não foi diferente com o Pietro que sem jeito concordou saindo ligeiro com a desculpa de precisar arrumar suas bagagens.

 

- Papà!!! – vociferei aborrecida – você me mata de vergonha!

- Ma quê? Caspita... – papà reclamando – Io estou cuidando de você...

Deixei-o com uma cara de sorriso na sala e subi contente para arrumar minhas bagagens. Estava começando uma nova etapa de minha vida.

 

- Vai dar tudo certo bebê! – falei tocando meu ventre.

 

O sol mal raiou, despedimos de todos e pegamos estrada em direção a Turim, a viagem foi super agradável. Pietro tinha uma conversa inteligente e interessante! Falamos sobre interesses comuns; verificamos que discordávamos de várias coisas e isso foi bom, pude ver que ele embora divergisse de muitas das minhas opiniões respeitou meu ponto de vista nunca me forçando a pensar como ele pensava. Otávio não era assim; com ele ninguém podia discordar das suas!!

 

Ao chegarmos a Turim, passamos no hotel onde a tripulação do jatinho do Pietro estava hospedada, Ele deu as instruções ao piloto informando que dentro de dois dias partiríamos para o Brasil e que deveria estar tudo pronto.

Fomos a minha casa, de lá Pietro contatou a locadora de carros solicitando que viessem buscar o carro e acertou o pagamento online.

Tomamos um banho e colocamos roupas confortáveis.

 

- Está preparado para conhecer Turim? – gracejei com o Pietro – Vou te dar uma canseira.

- Estou pronto – respondeu ele sorrindo sedutor, lindo do jeito que me desmontava – E totalmente em tuas mãos... Como diz o Roberto Carlos: “Faça de mim o que quiser, eu sou seu homem, minha mulher!” Pode me dar uma “canseira”.

 

Sorri de sua frase espirituosa e de duplo sentido.

- Eu que não posso me cansar, pois estou levando esse pesinho extra aqui – toquei minha barriga com carinho.

- E nem vai! Estarei atento a isso! – disse sorrindo.

 

Quando íamos saindo ele pegou em minha mão entrelaçando nossos dedos, numa clara atitude de posse.  Eu entrei no carro assumindo o volante; enquanto dirigia tive a impressão que, de vez em quando, Pietro secava minhas coxas que estavam expostas na saia que eu vestia. Sorri com aquele aparente interesse.

 

Começamos nosso passeio turístico por Mole Antonelliana, que é o símbolo de Turim, com seus 167,5 metros de altura. Onde também fica o museu do cinema. O elevador panorâmico nos leva até uma altura de 85 metros. Lá de cima é possível desfrutar de um panorama lindíssimo da cidade e dos Alpes.  Depois fomos passear na Piazza Castelo, coração do centro histórico da cidade. Como Pietro me disse que gosta de História, fomos conhecer uma réplica do Santo Sudário na catedral do Palazzo Madama, a seguir visitamos o Museu Egípcio de Turim. O brasileiro estava extasiado com tudo que via. Paramos para almoçar e descansar um pouco no Ristorante Circolo  dei Lettori. Conversamos sobre os mais diversos assunto. Eu me sentia leve e em paz em sua companhia.

 

Após o almoço nos encaminhamos ao Parque do Valentino. As cores do outono estavam fortemente presentes nas folhas das arvores, tornando tudo mais belo. Dentro do parque há uma cópia perfeita de um burgo medieval. Pietro parecia uma criança...estava muito empolgado em presenciar como era o modo de vida das pessoas na Idade Média.

 

Antes de voltarmos para casa passamos para degustar a bebida tradicional do Piemonte: o Bicerin composta somente de três ingredientes: café, chocolate e creme de leite.

 

No dia seguinte, demos um pulinho na Basílica de Superga, subimos de bondinho.

Ao saímos da Basílica, nos dirigimos ao museu do automóvel, afinal Turim é a cidade natal da Fiat. No Museu estão expostos desde o primeiro modelo de carro a vapor até os carros de Fórmula 1 de hoje. Todos eles são caracterizados por cenários que ilustram a época de cada um, o que torna a visita ao museu do automóvel bastante divertida, até para quem não é apaixonado por carros.

 

Terminamos nosso passeio turístico saboreando um maravilhoso gelato, passeando ao longo do Rio Pó.

 

Pietra

Estávamos já no interior do jatinho: Bianca se sentou com o pai, Gabriela com Antonia e eu sozinha em uma poltrona. Coloquei os fones para ouvir uma música e fechei os olhos.

Eu estava nervosa!

Amanhã neste horário eu estaria casada com a Bianca. Os dias que passamos juntas em Turim foram maravilhosos... Conheci um pouco mais da minha futura esposa. Ela era intrigante... Uma mistura de menina-mulher que me deixava sem ar.

Descobri que ela gostava de me tocar... E, que eu amava isso!

Sempre que podia a Bianca encostava seu corpo no meu. Cada vez que isso acontecia eu sentia um bem-estar tremendo como se aquele lugar fosse o meu.

 

Eu não gostava que ela saísse sem segurar minha mão! Não entendia até agora o porquê disto, e sinceramente não queria esmiuçar pra entender; só sei que era assim! Minha mão buscava a dela sempre que estávamos juntas. Desde que conheci a Bianca meus sentimentos e certezas estavam um pouco bagunçados e eu não estava com ânimo de debruçar sobre isto pra descobrir o que se passava dentro de mim...

 

Suspirei incomodada com minha covardia interna; assim, afugentei aqueles pensamentos perturbadores e foquei na música que ouvia...

 

Alguns minutos depois, sinto um toque suave em meu ombro. Abro os olhos e encontro Bianca curvada em minha direção.

-Oi, está sentindo alguma coisa? – indaguei tirando os fones e fitando-a preocupada.

- Não... Só queria me sentar ao seu lado um pouco. Posso ou vou  incomodar? - perguntou Bianca em expectativa.

- Você não incomoda! – respondi tocando o assento ao lado num claro convite.

Bianca se acomodou ao meu lado, depois de alguns segundos voltou-se pra mim.

- O que você está ouvindo? - Olhou-me curiosa.

Achei-a linda toda tímida e sem jeito me encarando. Encaixei uma das cabeças dos meus fones no seu ouvido e a outra permaneceu no meu.

 

https://www.youtube.com/watch?v=XPDZA6yABa4

- Conheço essa música na voz de Dua Lipa – sussurrou

- Tem a versão com Mabel e feat. Nick Minaj e Dua Lipa. Mas prefiro ouvir essa só com Mabel por causa do som do violão.

- Você só gosta de violão ou toca também? – perguntou ainda sussurrando

Suspirei e respondi

- Apenas gosto. Quem toca violão e piano muito bem é Pietra. Na casa dela, onde vamos residir, tem um piano.

- Que coisa boa! Agora, estou mais ansiosa ainda para conhecer a minha cunhada. – disse sorrindo

Meu coração acelerou...

- Vai conhecê-la - decretei

Entrelacei nossos dedos.

 

- Estou nervosa... – Bianca confessou depois de alguns minutos olhando nos meus olhos – Amanhã iremos nos casar, estou muito nervosa!

 

- Eu também estou – fiz um carinho em seu rosto com a mão livre – Mas quero que se acalme, tudo vai dar certo. Eu prometo que vou cuidar de você e do nosso filho; farei tudo pra te fazer feliz Bianca! Apenas peço que confie sempre em mim.

 

Ela ficou com os olhos marejados e mais uma vez me surpreendeu. Pegou meu rosto e levou ao seu; capturou meus lábios num beijo delicioso... Desta vez não foi um simples selinho!

 

Bianca forçou meus lábios e eu sem forças nem vontade de resistir, abri pra ela que invadiu buscando minha língua num beijo tranquilo e gostoso.

 

Meu coração estava disparado e batia tão alto aos meus ouvidos que duvidei se todos dentro do jatinho não o estava escutando também.

 

A mão da italiana estava fazendo carinho em meu couro cabeludo enquanto me invadia a alma através daquele beijo. Meu corpo todo respondeu àquilo... Eu estava desorientada com minhas reações corporais quando o beijo terminou.

 

Com os olhos nublados de confusão encarei a moça... Ela sorriu pra mim e encostando os lábios em meu ouvido sussurrou rouca:

-Eu confio em você Pietro – confessou – E prometo também te fazer feliz neste relacionamento.

Bianca encostou-se a cadeira fechando os olhos, tomou minha mão voltando a entrelaçar nossos dedos enquanto acariciava-os entre os seus.

 

Fiquei ali inundada de sentimentos loucos e pensando em três pontos cruciais:

- Eu nunca antes senti desejo por outra mulher... Como vou fazer pra manter esse casamento? E o que é isso que meu corpo está sentindo a cada toque e beijo da italianinha, meu Deus?!

 

Não conseguindo nenhuma resposta pra estes pontos, fechei os olhos relaxando no calor do carinho dela em minha mão...

- Se não tenho respostas hoje para o amanhã; relaxarei e viverei o amanhã quando ele chegar! – foi meu último pensamento antes de adormecer indo rumo ao Brasil e a uma nova etapa de minha vida.

 

Fim do capítulo