Charlotte estava dentro do carro olhando fixamente para mim. Já estava estranhando tudo aquilo, pois pensava que ela já estaria me esperando no aeroporto.

—Acho melhor você entrar. Já estamos atrasadas — Ela passou a olhar para frente e eu engoli em seco.

—Sim — Entrei no carro — Achava que a senhora iria me esperar no aeroporto.

—Às vezes você acha demais, Margareth, e nunca tem certeza de nada.

Nossa! O que foi aquilo? O que Charlotte estava querendo me dizer?

—Não entendi — Falei e o carro começou a se locomover.

—Deixa pra lá — Ela pareceu respirar fundo e passou a ignorar a minha presença ali.

Charlotte estava estranha demais. Poderia tentar adivinhar o que estava se passando com ela, mas resolvi ficar no meu canto. Eu estava bem e disposta a levar o meu namoro com a Mel mais a sério.

—Aquela era sua namorada? — Charlotte perguntou sem ao menos olhar para mim.

Com a pergunta, eu direcionei o meu olhar para ela e tentei entender o porquê daquela pergunta. Ela nem se interessava muito pela vida dos funcionários. Ela achava a gente muito sem importância. Só queria saber que o jornal estava vendendo. Isso era a única coisa que importava para ela, por isso que as pessoas costumavam chamar ela de coração de gelo, pois Charlotte nunca se preocupava com o nosso bem estar.

—É sim — Falei com certa firmeza. Cheguei a achar que aquela viagem pudesse me fazer fraquejar e acabar tentando me aproximar de Charlotte, mas agora tudo estava diferente, eu realmente queria respeitar meu relacionamento. Não podia enganar a pessoa que parecia se importar comigo.

—Parabéns, Margareth, ela é uma bela mulher — Charlotte levou uma de suas mãos até os cabelos e deslizou os seus dedos por entre os fios.

—Obrigada — Fiquei observando alguns de seus movimentos. Tentei achar o motivo que havia me levado a gostar daquela mulher, mas não encontrei. A única coisa que eu sabia era que tudo que sentia por Charlotte havia surgido sem explicação.

Sendo pega no flagra, meu olhar se encontrou com o de Charlotte por alguns segundos. Tempo suficiente para eu perceber que havia agido certo. Nunca que eu iria conseguir chegar no coração de Charlotte. Ela parecia que vivia usando uma grande armadura. Nunca sabia o que ela estava pensando.

Como não deixei aquele contato prolongar, desviei o meu olhar e passei a observar a paisagem fora do carro.

Às 9:00 horas da manhã entramos no avião e algo que eu não esperava aconteceu, Charlotte passou a ficar agitada. Parecia um tanto preocupada. Cheguei a pensar que ela pudesse ter medo de avião, mas isso era impossível, minha chefe era rica. Devia viver viajando, com certeza ela não tinha medo de avião.

— Você poderia se sentar ao lado da janela? — Ela me perguntou.

—Claro, mas você está com algum problema? — Perguntei pois notei que ela sempre olhava para os lados.

—Nenhum — Claro, se ela estivesse com algum problema nunca que ela me falaria.

Dei de ombros e me sentei. Charlotte alguns segundos depois fez o mesmo e notei ela tensa demais.

—Charlotte, tem certeza que tá tudo bem? — Já estava preocupada.

—Sim, Margareth, não precisa se preocupar — Ela respondeu sem olhar para mim.

Depois de sua resposta, eu nem pensei mais na possibilidade dela não estar bem. Tentei relaxar. Comecei a pensar em algumas coisas boas que estavam acontecendo em minha vida e principalmente no encontro dos jornalistas que iria acontecer daqui 2 dias.

Tentei manter a minha mente tranquila e nisso adormeci, só sendo acordada alguns minutos depois, pois Charlotte estava um tanto agitada. Foi nessa hora que percebi que ela tinha medo de viajar de avião

Diante de toda essa agitação de Charlotte, eu fiquei sem saber o que fazer, mas vi algo no olhar dela que ela não costumava mostrar para as pessoas. O seu lado frágil.

Em um gesto impensado, eu dei a minha mão para ela segurar. Pensei que ela iria ignora-la, mas Charlotte segurou forte demonstrando toda a tensão que estava sentindo.

Durante aquele contato ficamos nos olhando nos olhos. Foi neste momento que Charlotte me deixou lhe conhecer intimamente. No seu olhar, eu não vi aquela mulher durona. Ela era alguém que precisava de carinho... Proteção.

Nossos dedos ficaram entrelaçados e percebi que nesse tempo, o corpo de Charlotte relaxou. Poderíamos ter acabado com aquele contato depois disso, mas nos mantivemos assim.

Sabia que estava agindo errado por estar daquela forma com Charlotte, mas não conseguia largar a sua mão. Não, Charlotte não estava me impedindo de nada. Era eu que não conseguia retirar a minha mão, ainda mais porque Charlotte manteve o seu olhar ligado ao meu.

Charlotte estava me permitindo conhecê-la, e eu não podia perder essa oportunidade de saber quem era realmente a minha chefe.

Fim do capítulo