Capítulo único
O carro parou na frente do quartel e a garota fardada despediu-se rapidamente de seu irmão, com um beijo no rosto.
— Desculpe a pressa, tô mega atrasada.
— Corre lá, mana! — Brincou o garoto, logo dando partida no carro, porque também estava atrasado.
O dia começara com um sermão de seu superior, por conta do atraso, mas logo animou-se quando soube que teriam uma missão de reconhecimento à tarde.
Disseram que seu nome era uma homenagem ao local de origem de sua família, Denver, nos extintos Estados Unidos. A jovem Denver em seus 19 anos de vida nunca pisara nesta terra do outro lado da linha do Equador, mas lidava agora com uma ameaça terrorista em sua terra natal: San Paolo, Nova Capital.
Seu pelotão era formado por vinte soldados ultra paramentados, todos com equipamentos modernos que iam desde implantes de geolocalização até vocalizadores presos em seus pescoços. Máscara pesada, armas leves e altas doses de energia juvenil em defesa de sua pátria. Debaixo daquela armadura, uma garota um tanto apavorada e muito determinada, recém-formada na academia militar, batalhando na prática há apenas três semanas.
Era para ser uma missão de reconhecimento num local com poucas chances de hostilidade, porém o pelotão foi recepcionado por dezenas de homens encapuzados e com artilharia variada, desde metralhadoras a facas e punhos. Havia também civis naqueles casebres, por onde Denver desbravava no intuito de eliminar o maior numero possível de ameaças.
Sua bota versus a frágil porta, e um elemento grandalhão surgiu, lhe esmurrando o rosto várias vezes. Denver reagiu no susto, disparando mais de trinta tiros. Sabia que era apenas o primeiro massacre naquela tarde violenta.
Seu capacete, mal ajustado, havia perdido parte dos instrumentos nesse ataque, mas continuava com o sinal de áudio em seu ouvido. A ordem era prosseguir, seu comandante bradava intempestivamente. Os cabelos castanhos suados, os olhos verdes assustados, a arma em punho e a caçada prosseguia. Encontrou dois colegas, que pareciam mais experientes e calmos, resolveu acompanhá-los, até chegar no que parecia um grande celeiro. Invadiram o local e atiraram contra os quatro homens armados e de rosto coberto por camisas, que não tiveram chance de reagir. O trio seguiu até uma escadaria, lá em cima havia uma grande abertura na parede de madeira e uma rampa por onde outrora grãos eram despachados para caminhões.
Seu colega descreveu a cena para o comandante, que repassou as ordens aos três recrutas. Denver não conseguiu compreender as ordens por completo, seus colegas a abandonaram, a garota insistiu em perguntar as orientações, mas seu vocalizador não estava operante, ouviu novamente o comandante, e resolveu agiu conforme as ordens, atirando uma granada em um dos caminhões, que tinha uma capota de lona preta.
Imediatamente pode ouvir gritos e algumas pessoas se arrastando para fora do caminhão, que estava repleto de civis acuados e escondidos. Largou a arma e desceu pela rampa até o local, de perto pode ver corpos mutilados, alguns agonizantes, inclusive de crianças. O ar lhe faltou, os gritos de socorro foram sendo substituídos aos poucos pelos gritos de seu comandante e colegas.
— Abortar missão!! — Gritou o Major Fonseca.
Rapidamente retirou o capacete de realidade virtual, ainda buscando ar. A camiseta branca ensopada de suor, o ferimento real no lábio e na testa, o labirinto de mentirinha repleto de códigos e sinalizadores que faziam parte daquela missão de treinamento.
— Porr*, Denver, você fodeu tudo! — Gritou um de seus colegas, todos também já estavam sem seus respectivos capacetes.
— Por hoje chega, pelotão! — O major, um baixinho tremendamente forte, ordenou. — Nossa recruta aqui acabou de matar oito civis e terminou com a brincadeira. De volta ao alojamento agora!!
Aos poucos os soldados iam deixando o campo de treinamento, lançando olhares de recriminação para a jovem.
— Você fica. — Ordenou o chefe.
— Me desculpe, major, eu não compreendi suas ordens, quer dizer... Eu achei que tinha entendido, mas não entendi, perguntei duas vezes, mas continuei não obtendo uma resposta clara, então fiz o que havia compreendido.
— Perguntou através do que? Pombo correio?? Você havia perdido parte de seu equipamento, inclusive o microfone, de onde você tirou que pode tacar granada onde bem entender?
— Eu sinto muito, senhor. — Disse agora cabisbaixa. — Isso não se repetirá.
— Volta pra escola, mimadinha! — Gritou um colega, ao longe.
— Mimadinha é teu cu, idiota! — Retrucou.
— Denver!! — Bradou o major. — Eu não vou te dar mais nenhum sermão, eu vou...
— Me desculpe, foi mal, prometo não pisar mais na bola.
— Como eu ia dizendo, não te darei sermão, saia daqui agora, tome um banho e vá direto para o comando.
— Que?? Não, não me manda pra lá, por favor. — Apavorou-se.
— Não tenho poder para te aplicar sanções, mas meus superiores podem. Vá até a sala do comando receber suas sanções. Está suspensa até amanhã.
O major saiu trotando e Denver esfregou as mãos pelo rosto ainda suado. Tudo havia saído da pior forma possível e as coisas podiam ainda piorar naquele dia. Tomou seu banho e seguiu conforme às ordens. Chegando no comando do quartel, anunciou sua presença para o assistente, que liberou o acesso à sala da chefia.
A garota caminhou até lá e parou na porta, onde pode ler “Coronel Samantha Cooper-Archer”. Suspirou profundamente e deu umas batidinhas, a voz lá de dentro ordenou que entrasse.
Cabisaixa, com as mãos às costas, sua voz saiu falhando.
— Foi Major Fonseca que me mandou aqui.
— Eu sei, já soube de tudo. Sente-se.
A coronel ajeitou seu impecável uniforme azul marinho após espojar-se na cadeira.
Exasperou antes de falar.
— Já? Três semanas e já te mandaram pra cá?
— Foi um problema de comunicação, foi só isso. — A garota disse esfregando as mãos.
— Se machucou?
— Não. — Respondeu passando os dedos pelo ferimento no lábio. — Vou ser expulsa da corporação?
— Por conta de um erro em um treinamento? Esse é justamente o momento de errar, você tem um ano de academia e só três semanas no campo, ainda vai errar muito, vai tomar péssimas decisões, tudo isso faz parte. Mas tenho que te pedir para não falar de forma agressiva na frente de seus superiores.
— Eu não falei...
— Você não respondeu nada quando o Lopes te chamou de mimadinha?
Denver baixou a cabeça.
— Respondi, foi mal. Desculpe, mãe.
Samantha saiu de sua cadeira e sentou-se na beirada da mesa, de frente para a filha. Com dois dedos ergueu o queixo dela.
— Nunca baixe a cabeça, meu bem. Não é isso que sua outra mãe sempre fala? Ela sabe das coisas. Errar faz parte do aprendizado, mantenha a cabeça erguida.
— Você vai contar pra ela?
— Acho melhor você contar. Ela vai entender.
— É que eu não quero decepcionar vocês, e hoje fui só decepção.
— Não, não foi. Temos um orgulho imenso por você e seu irmão. — Arrancou um leve sorrir torto da filha. — E então, vai passar a vir e voltar comigo? Todo mundo já sabe que você é minha filha. — Disse apontando para a insígnia onde dizia “Cooper-Archer” no peito da jovem.
— Sim, Daniel é muito enrolado, não dá mais pra vir de carona com ele.
— Então vamos, no caminho te conto uma história parecida com o que você fez hoje, só que comigo não foi treinamento, e me rendeu quatro meses de prisão.
— Sério?
— Na Sibéria! Era gelado, e tinha neonazistas e mafiosas da máfia russa... Bom, essa fase da prisão é melhor sua mãe te contar. E não mencione a máfia russa. Ah, e você vai ter que lavar o chão do alojamento por uma semana.
— Sério??
— Achou que ia escapar da sanção?
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Fim do capítulo
Caramba, que saudade desse povo de 2121...
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Angel 1001
Em: 13/01/2023
Estou relendo esses contos e fico pensando q uma história sobre a filha delas seria uma ótima pedida sinto q ainda tereia tanto pra explorar e a Sam é a Theo tem um espaço guardado no meu coração já q foi um dos primeiros contos q li então POR FAVOR AUTORA FACA MAIS DESSE spin off DESSE CONTO COM A FILHA DELAS PFFVVVVVV
Zaha
Em: 12/05/2019
Oieeeeea
Ahhhhhhh, morriiiiiii!! Ameiii muito !!! Que fodástica!!!!
Saudades é pouco!!!
Denver, amei o nome!! Respondona ela..que familiar, não?!
Ela meteu granada sem saber quem tava dentro..doidona!! Kkkk. Parece comigo dizendo q escutou algo, n entendeu e achou qbera outra coisa é toma decisões assim rsrs
Sam, linda de Coronel!!:)
Bora voltar????
Vc escreve tao bem, eu n tenho mais elogios, mas sei q vc ama!! Quando ler vai ficar sorrindo feito boba!! HahahahaahahaHahaha Ainda lembro dessa frase como resposta ao meu comentário na sua primeira estória, que por sinal, estou relendo!!!! ??’–
Beijãoooo e vamos por mais!!!
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NAGILA
Em: 17/01/2020
Bom, eu já tinha ouvido falar bastante de 2121 mas faltava coragem pra iniciar a leitura, uma pq eu sabia que era grande e outra pq eu não sou muito fã de distopia... Porém, isso acabou de mudar... Depois de muita resistência eu li A Lince e a Raposa e simplesmente me apaixonei, então me animei pra vir ler 2121 e agora estou extasiada... Emendei um capítulo no outro, um livro no outro, só parando praticamente pra comer e dormir, (já de madrugada, vencida pelo sono)... Sério, estou totalmente viciada em Sam&Theo... Que bom que eu não acompanhei na época da postagem, tendo que esperar alguns dias para saber o que ia acontecer com as nossas meninas, hoje sei que foi melhor assim, meu coração não ia aguentar!
Parabéns Cris pela sua escrita, nunca li nada parecido, eu achava que tinha livros e autoras favoritas, mas vc acaba de desestruturar minha lista... Muito obrigada por isso... Nesses últimos dias eu chorei e sorri, senti, vivi intensas emoções, quis matar algumas pessoas e pegar outras no colo...
Não tenho mais palavras, ainda estou emocionada e já querendo reler do início pra matar a saudade que já brota no meu peito...
Sensacional!!!
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Freyya
Em: 13/05/2019
Caramba, que saudade que deu de 2121!!
Eu parei de acompanhar em algum momento, acredito que quando a Sam foi capturada tentando ajudar uma amiga, e fiquei com medo de voltar a ler e ficar muito triste (perceba a maturidade e fragilidade que a pessoa se encontrava).
Esse conto deu um gás para voltar a ler, acho que vou mergulhar mais uma vez em 2121.
Você escreve maravilhosamente bem! Parabéns!
É sempre gostoso ler algo seu.
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Sem cadastro
Em: 12/05/2019
Oieeeeea
Ahhhhhhh, morriiiiiii!! Ameiii muito !!! Que fodástica!!!!
Saudades é pouco!!!
Denver, amei o nome!! Respondona ela..que familiar, não?!
Ela meteu granada sem saber quem tava dentro..doidona!! Kkkk. Parece comigo dizendo q escutou algo, n entendeu e achou qbera outra coisa é toma decisões assim rsrs
Sam, linda de Coronel!!:)
Bora voltar????
Vc escreve tao bem, eu n tenho mais elogios, mas sei q vc ama!! Quando ler vai ficar sorrindo feito boba!! HahahahaahahaHahaha Ainda lembro dessa frase como resposta ao meu comentário na sua primeira estória, que por sinal, estou relendo!!!! ??’–
Beijãoooo e vamos por mais!!!
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Ana Formighieri
Em: 11/05/2019
Uall arrasou!!! Não li 2121 mas fique curiosa!
Parabéns pela escrita adorei o capítulo.
Beijos Ana
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Leoa da Estrela
Em: 11/05/2019
Fantástico, brutal que capítulo incrível!! Fui eu quem deu a ideia e olha lá que me vou achar muito porque foi muito muito bom!! Adorei viu, é sempre bom relembrar os bons velhos tempos de 2121!! Muito Parabéns está incrível!! Nunca pares de escrever porque a tua escrita faz muita gente feliz e sem dúvida que tens muito talento Cristiane. Obrigada por este docinho de conto fantástico!! Beijinhos
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HelOliveira
Em: 10/05/2019
Muito obrigada por nos dar o prazer de reviver um pouquinho dessa história maravilhosa. 2121 marcou demais.
Por favor uma continuação seria perfeita
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Luzia S de Assis
Em: 10/05/2019
Nossa, quando eu ouvi a palavra "mãe" deu uma coisinha no coração.
Muito lindo a Sam com a filha.
Sem perder a pegada feminista dos outros contos, com a Denver falando palavrão pro colega rsrs
Muito bom.
Amei
Beijos
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MellMaia
Em: 10/05/2019
Chris.
Nossa, eu não tenho nem palavras para descrever o que senti lendo este conto. Sabe aquele afago no peiro qur sentimos quando reencontramos alguem que gostamos muito ? Foi o que senti quando vi o nome Samantha cooper-archer . Eu amo 2121 é o tipo de história que sempre tem algo pra acontecer. Eu amei conhecer a denver e saber que ela puxou as mães na coragem e bom coração. Como sempre suas histórias sempre deixam umgosto de quero mais essa em especial jamais sera esquecida e sempre deixara em meu coracaoeternas saudades.
Muito obrigada por este presentesdds demais delas . Queria ter visto theo tbm mas so a mensao ja me causou alegria em saber que elas estao bem .
Espero muito em breve ver mais delas.
Obrigada e parabens arrasou !!
??????‘???????‘?????????????
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Aurelia
Em: 10/05/2019
Olá, não podia deixar de comentar. Terminei de reler antes de ontem todas as duas estórias, as vezes relembro algum capítulo, aff ler capítulo único foi maldoso, sou encantada com as duas estórias e quando terminei, pensei: Bem que ela poderia fazer uma continuação, o desenvolvimento da gravidez, as lutas diárias das duas, um castigo no pai da Sam pq até hoje não me desce a sacanagem que ele fez . Nossa seria FANTÁSTICO. Uns ciúmes básicos mas nada drástico, Enfim acho que todas que leram 2121 vão amar uma continuação e olha que nem sou muito fã de continuação mas a sua continuação foi PERFEITA. Bjos
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Bruna DX
Em: 10/05/2019
AI MEU DEUS!
Se você sentiu saudades, imagina nós, pobre mortais. Sério, não imagina o tamanho da mimha euforia ao ler Cooper-Archer! Dru uma saudade tão grande. Vou ate ler 2121 de novo, só por causa disso.
Mas oh, devo dizer que "De volta a San Paolo" foi um pouquinho de maldade, porque: Como assim? Como vamos ficar depois de Samantha voltar a nos visitar? E Denver? Ah eu fiquei muito curiosa, queria muito um pouquinho desse casal maravilhoso, e que agora é composto por Denver e Daniel. QUE SAUDADE!
No início, não imaginei que fosse encontrar nenhuma ligação com o MEU CASAL de 2121, mas você fez a mágica de ligar os fatos e as pessoas. Denver me lembrou muito Samantha no início da história, muito mesmo. E achei legal a relação das duas.
Ai, meu coração ficou miúdo, oh! Bem que poderíamos ter uma continuação dessa aventura maravilhosa que foi 2121, né? Quem sabe uma outra historia? Uma continuação agora contada por Denver, mas envolvendo tudo (relação com as mamães, com o trabalho - que obviamente não é tão leve quanto poderia ser, a relação com o irmão e claro, um romance no ar). Hein? O que acha? Por favorzinho...
Adorei! Mesmo ficando cheia de saudades. Você se garante demais mulher!
Beijos
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