Indis saiu nervosa da sala após a notícia que recebeu. Então seu povo terá mesmo que lutar entre si? O antigo rei, seu pai, deve estar se revirando no túmulo, seu próprio povo entrando em desgraça! Não sabe precisar em qual momento as raças discordantes declararam guerra, muito menos como controlar essa revolta.

     Foi tirada dos pensamentos sombrios ao ser puxada rapidamente para uma sala vazia. Pollae a sequestrava novamente para matar a saudade depois de semanas longe. Sua noiva era representante do reino e tentava organizar reuniões diplomáticas entre todos os representantes das 7 raças élficas com o intuito de realizar um acordo de paz, passou as últimas semanas se dedicando a isso. Tudo que conseguiu foi convencer 3 clãs a não lutarem, apenas prestarem apoio a serviço da rainha Indis.

– Eu nem acredito que você voltou segura – disse Indis enquanto era colocada contra a parede –, nunca conseguiria me perdoar se algo lhe acontecesse.

     Ela bem que tenta conversar, mas Pollae tem outros desejos e planos para aquele raro momento só delas. Indis pode governar todo um reino, mas entre quatro paredes é Pollae que tem todo o controle da elfo à sua frente.

– Você sempre falando demais, meu amor. Agora só quero te sentir.

     Roupas foram espalhadas, gemidos ecoavam pelo aposento. Ninguém ousaria interromper o amor das duas. Namoravam desde a adolescência, tudo começou com uma amizade curiosa, mas o desejo cresceu a medida que envelheciam, logo se casariam. Não era raro Indis ser sequestrada por Pollae para locais secretos dentro do castelo, era sempre uma aventura nunca saber quando seria o próximo encontro fugaz. Pollae, em toda a sua beleza ruiva que o segundo clã carregava, conquistou a jovem elfa e fazia de tudo para manter o amor aceso, isso incluía encontros inesperados, muita conversa, apoio e noites de amor.

     Ainda nuas, Pollae inicia a conversa sobre sua última viagem e algo preocupante nos rumores que ouviu.

– Eu consegui o apoio de 3 clãs, somando isso ao nosso pessoal do reino, somos maioria. O que me preocupa é que essa revolta pode ser apenas uma cortina de fumaça.

– O que seria maior que lutar contra a própria herdeira do trono? Não bastam todos esses discursos sobre eu não ser capaz de governar apenas por ser mulher?

– Um informante me passou que o interesse maior não é o seu trono, todos sabem que você é capaz disso, mas o Roulan continua inflamando ofensas ao seu respeito, você sabe como consideram aquele cretino.

– Eu não sei se acham que sou mesmo capaz, mas tenha certeza que fui muito bem treinada para isso, não será Roulan soltando mentiras que irá ganhar meu lugar.

– Meu amor, Roulan só está criando o caos para conseguir algo que a muito deseja: a pedra de Goeth. Tendo isso, ele entrará em todos os mundos que desejar, levando toda a sua desgraça. Se limitar ao nosso mundo era algo que o deixava inconformado, foi motivo de grandes discussões com seu pai.

– Eu não entendo como o meu pai deixou pessoas fora do reino cientes dessa pedra.

– Não se deixe enganar, isso não foi dado de bom grado a Roulan, ele deve ter usado algum meio sombrio para tirar isso do seu pai.

– Se é isso que ele planeja conseguir tentando invadir meu reino, irei providenciar para que a pedra não esteja aqui.

– Você sabe que não pode confiar a pedra a ninguém de qualquer clã, ela não estaria segura em parte alguma desse mundo.

– Você disse bem, desse mundo. Acho que já está na hora da minha querida irmã relembrar da nossa existência e tomar alguma responsabilidade para ela. É injusto eu ser a única a carregar todo o fardo. Ninguém sabe da sua existência, será o local perfeito.

– Tem certeza disso, Indis? Ela é alguém de confiança? O poder modifica as pessoas.

– Eu a monitoro desde que soube da sua existência, é alguém de confiança, que acreditará em mim e protegerá a pedra enquanto for necessário. Assim que essa revolta for controlada, acredito que possa retomar aos meus cuidados.

– Você sabe como abrir o portal? Temos que fazer isso o mais rápido possível.

– Farei assim que a noite cair, não quero que ninguém do reino saiba.

***

     Sozinha na clareira, Indis caminhava de um lado para o outro ensaiando o que falar para a irmã no pouco tempo que teria. Teria que explicar tudo de forma rápida, mas de uma forma que ela entendesse a seriedade do que estava lhe entregando, bem como do que estava acontecendo no reino. Respirou fundo e decidiu que era a hora, logo após fazer o ritual, viu uma fresta azul de energia abrindo-se bem na sua frente, aos poucos conseguiu ver o que existia do outro lado. Era a primeira vez que permitiria ser vista pelo outro lado, das outras vezes apenas visualizou o que acontecia na vida da irmã, sem ser notada. Ela era sua cópia exata, a única diferença eram as roupas, as orelhas e os dentes, que não eram tão pontudos quanto os seus. Ah, e a cor do cabelo! Não entendia o motivo da irmã tê-lo pintado. O pessoal desse mundo tem costumes estranhos!

     Após o espanto inicial, a irmã compreendeu bem a situação, sempre soube que era diferente! Um abraço foi dado cheio de saudade do que não viveram, do que poderiam ter sido. Parece que as escolhas do passado sabiam exatamente que esse momento seria necessário. Indis explicou como usar a pedra para acompanhar o que estava acontecendo no reino e entrar em contato, prometendo que tão logo tudo estivesse resolvido ela poderia devolver a pedra e ter todas as suas dúvidas respondidas.

– Com a pedra segura em suas mãos, tenho uma revolta para controlar! Que venham os traidores! Que venham os inconformados! Será uma rainha a controlar e vencer essa guerra!

Fim do capítulo