Pietra

Já era tarde quando cheguei ao meu quarto, estava um pouco cansada emocionalmente, por todos os acontecimentos do jantar: pedido de noivado, o beijo, principalmente o beijo! Preciso falar urgentemente com Andréia...olhei para o relógio no meu pulso, marcava duas da manhã, fiz a conta em relação ao fuso horário do Brasil...22:00 horas, minha amiga ainda estava acordada! Peguei o celular e disquei, 3 toques depois ouvi a sua voz.

- Quem é vivo sempre aparece! – falou debochada.

- Pelo menos não interrompi nada dessa vez! – respondi espetando-a.

- Cara de pau você, dona Pietra! – Andréia me xingou com voz de riso.

- Déia, é sério, muitas coisas aconteceram hoje no jantar e meus pensamentos estão a mil!

- Huuum....sou toda ouvidos! Desembucha! – Andréia.

- Quanta sensibilidade em uma pessoa só – reclamei botando bico.

- Não enrola, Pietra! Fala logo, sabe que não sou nem um pouco curiosa! – a mandona ordenou.

- Com certeza, nem um pouco! Amiga, pedi Bianca em casamento nesse jantar. Antes que pergunte...ela aceitou – falei séria.

- Essa é a minha garota! – gritou no meu ouvido.

- Não foi só isso....- falei num fio de voz.

- Como? – perguntou Andréia

- Não foi só isso! – aumentei o tom da minha voz para respondê-la

- Por que você não fala logo tudo de uma vez?! – perguntou com um toque de impaciência

- Eu beijei Bianca....de língua!!! -  Disse exasperada.

Ouvi a gargalhada de minha amiga.

- Pode rir, pois não foi com você! – franzi o cenho zangada

- Ah com certeza – continuou rindo Andreia – se fosse comigo, gostosinha, eu aproveitava e terminaria o beijo entre os lençóis.

Fiquei calada

- Você gostou do beijo! – afirmou minha amiga – por isso tá desse jeito!

- Lá vem você com suas conclusões estapafúrdias – falei

- Falando difícil, é? Está nervosa... Se tá nervosa, gostou muito do beijo! Te conheço, conheço suas reações...que enganar a quem? Você? - despejou em mim – Amiga, sabe que te amo e quero o seu bem e sua felicidade; Então vai um conselho de irmã: “deixa acontecer”, não feche a porta para algo que pode ser bom, sei que não é por preconceito, mas por receio de se machucar! Se isso acontecer, use nosso lema de adolescência” Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Esqueceu disso? – perguntou Deia com carinho.

- Não, não esqueci! - Suspirei profundamente e respondi com um sorriso - Você tem razão!

- Sempre tenho razão, bobona! – respondeu a metida.

- Amo você! – falei sincera - Agora vou dormir porque aqui já é muito tarde!

- Amo você também e se cuide! – respondeu minha amiga.

Segui em direção ao banheiro me sentindo muito mais leve.

- Ela tem razão... – confabulei comigo mesma – Realmente eu gostei do beijo e... Que se dane; vou deixar acontecer!

Bianca

Deitei olhando meu anel de noivado.

Um sorriso pairava em meus lábios sem cessar desde o momento do noivado. O Pietro a cada dia subia em meu conceito como pessoa. E... Não podia negar que estava meio que atraída pelo homem carinhoso, atencioso e romântico que era ele.

Toquei nos lábios pensando no beijo. Meu corpo sentiu um arrepio, lembrando do calor dos seus beijos... Suspirei deleitada!

- Ele é um bom homem, bebê – toquei meu ventre conversando pela vez com aquele pequeno ser que crescia dentro de mim – Ofereceu-se para primeira cuidar de nós, ser um verdadeiro pai pra você! E sabe bebê? Eu acreditei na palavra dele...

Fechei o olho feliz, crendo que teria um bom casamento com o brasiliano.

- Vai dar tudo certo, viu bebê? Mamãe tá cuidando de tudo! – murmurei entrando no sono

Pietra

O dia foi corrido. Pela manhã fui com o Sr. Matteo acompanhar os procedimentos industrializados da feitura do espumante deles. Foi um dia proveitoso; ele me apresentou a alguns amigos com voz de orgulho como seu genro.

Voltamos pra o castelo quase no horário de almoço, eu procurei Bianca ao entrar; mas Antonia contou que ela tinha ido pra sua empresa ver seus negócios.

Eu estava ansiosa por vê-la! Banhei-me, me vesti com esmero e desci... Ao chegar à sala, vi Sr. Matteo conversando alegre com a Gabriela e Bianca.

Bianca me recebeu com um sorriso lindo e eu correspondi, saudei a todos e fui na direção dela; que estava sentada num sofá de dois lugares.

Assentei-me ao seu lado e inclinei-me em sua direção depositando um selinho carinhoso em seus lábios.

- Buon pomeriggio la mia fidanzata.- Bianca falou ofegante depois que afastou os lábios dos meus.

Eu derreti com o jeito carinhoso dela e respondi com a mesma saudação que recebi.

- Boa tarde minha noiva! – sorri tocando-lhe o rosto – Como foi sua manhã?

Antes que Bianca respondesse, Gabriela brincou espetando nós duas.

- Senhor Matteo, não sei se vou ter apetite para o almoço depois de tanto mel assim – piscou em nossa direção nos deixando sem graça – Vamos casal, vamos almoçar porque eu não vivo de amor, como vocês parecem viver!

Ela estendeu a mão pra uma Bianca enrubescida que sem me olhar aceitou e foi alavancada do meu lado e puxada para sala onde o almoço já estava servido.

As segui sorrindo e acompanhada pelo meu sogro que satisfeito com minha intimidade com sua filha, dava palmadinhas em meu ombro.

- Estou gostando de ver ragazzo! – falou sorridente – Está conquistando minha figlia! Muito bom... Sì, molto bene!!!!

Após o almoço fomos para a varanda, eu e Bianca, para conversarmos.

Sentei-me de frente para a de olhos castanhos.

Antonia nos serviu duas generosas porções de tiramissu.

- Antonia, por favor, traga o moscato d´Asti para Pietro beber com a sobremesa – pediu a italianinha.

Neste momento Gabriela se aproxima...

- Bianca vou a cidade, quer alguma coisa de lá? – perguntou.

- Grazi, Biela, mas não quero nada! – respondeu a italiana.

- Comendo tiramissu, Pietro? -– Perguntou Biela dando uma risadinha -

Bianca lhe contou a história desse famoso doce?

Ergui os olhos para Bianca que estava um pouco corada...

- Biela!!! – Bianca fuzilou a amiga com o olhar.

Gabriela soltou uma gargalhada, andando em direção ao interior do castelo.

Antonia voltou com o vinho e me serviu uma taça. Agradeci e, assim que ela nos deixou a sós, voltei-me curiosa para a italianinha.

- Qual a história do tiramissu?  - perguntei.

- Bobagem - deu de ombros Bianca, visivelmente constrangida.

- Fiquei curioso - implorei - por favor, me conta vai!

Bianca me olhou por um instante.

- Tudo bem – suspirou fundo e falou- Tem uma teoria que diz que foi criado em bordéis para dar energia às prostitutas da época que tinham bastante trabalho.  Dizem também que as venezianas tinham o hábito de preparar o doce para os seus amantes ao cair da noite. Graças à combinação entre café e chocolate, considerados estimulantes, o tiramissu ganhou fama de afrodisíaco e começou a ser consumido antes de encontros amorosos.

Não me contive e gargalhei

- Está rindo do quê, posso saber?! – perguntou Bianca com o semblante fechado

- Scusa! Lembrei do jeito de Gabriela quando me perguntou se eu conhecia a história do doce. – balancei a cabeça ainda sorrindo - Ela queria lhe deixar constrangida.

- Sciocco...- a italianinha soltou botando um biquinho contrariado.

- Traduz, por favor – pedi rindo feliz.

- Bobo! – traduziu encarando-me.

- Com licença, senhorita Bianca – uma voz masculina nos interrompeu.

- Pois não, Francesco – Bianca.

- Tem um senhor querendo conversar com a senhorita – Informou sério e um pouco tenso - Ele está esperando em frente a porta principal, os seguranças não o deixaram entrar.

A italiana franziu as sobrancelhas.

- Grazi! Por favor, diga que já estou indo - pediu ela.

Bianca pegou o guardanapo que até então descansava em seu colo, limpando os cantos da boca, dispensando-o em seguida ao lado do prato.

- Pietro, volto já – levantou-se devagar.

- Vou lhe acompanhar até a porta da frente – disse já me levantando.

- Não precisa se incomodar – respondeu tocando em meu braço.

 - Não é... – comecei a falar.

Fui interrompida pela voz suave, mas firme de Bianca.

- Continue apreciando a sobremesa e o vinho, não demoro! – garantiu ela.

- Tudo bem – falei voltando a me sentar na cadeira

A morena saiu me deixando com um leve sorriso.

Fiquei ali bebericando o vinho e esperando-a; os minutos foram escoando e me mexi impaciente na poltrona.

- Achei Francesco tenso ao chamar Bianca– resmunguei mal-humorada – E porque esse homem, não entrou?

Levantei-me um pouco incomodada.

- Quer saber, ela é minha noiva! Vou ver o quem é que está com ela.

Entrei no castelo e dirigi-me a porta dianteira e segui para onde Bianca estava, passando pelos dois seguranças, ao me aproximar pude enxergar direito o que acontecia a poucos metros a minha frente; meu coração disparou e meu sangue ferveu explodindo em minha cabeça! Andei rápido em direção a minha noiva sem pensar em mais nada, ouvindo os passos dos seguranças atrás de mim...

Fim do capítulo