Elisandra


Chegamos em casa já no fim da tarde e ainda não conseguia acreditar que Carmen havia arriscado sua vida por mim. Mamãe estava na porta a nossa espera, ao ver-nos chegando, veio ao nosso encontro com lágrimas nos olhos.


--Graças a Deus minha filha.


Abraçou-me muito emocionada, retribui na mesma intensidade.


--Não acreditei quando não te encontrei.


--Eu precisava mãe, pela Emília.


--A polícia a encontraria, se arriscou muito.


Mamãe segurava meu rosto entre as mãos, sabia que tinha razão, mas se eu não o tivesse feito, Carmen o faria e eu não podia permitir que se arriscasse por mim.


--Está tudo bem agora mãe, Emília está bem e eu também, graças a Carmen.


Olhei para ela, que estava sorrindo ao meu lado. Ver o sorriso aberto no rosto sério que conheci, ali naquele mesmo lugar a alguns meses, era mágico. Mamãe soltou-me para prender Carmen nos braços.


--Não sei nem o que dizer Carmen, como posso agradecer por ter salvado a minha filha?!


--Não precisa agradecer dona Júlia, sei que ela faria o mesmo por mim.


--Olha só pra você, toda machucada.


Mamãe olhou pra mim nesse instante, percebendo que eu também estava ferida.


--Elisandra o que é isso?! Você está bem? Não me disse que estava ferida.


E assim entramos em casa, mamãe brigando comigo por ter omitido o fato de estar ferida. Emília veio ao meu encontro assim que entrei, abracei-a com todo amor que sentia por ela, verificando seus ferimentos, que graças a Deus eram apenas algumas escoriações nas mãos. Vovó? Abraçou-me com carinho quando me viu, mesmo que aparentemente não tivesse noção do que havia acontecido.


Alguns minutos depois, Carmen pediu licença e saiu pra fora de casa, dizendo que precisava avisar sua mãe que tudo estava bem. Nesse instante resolvi abrir o jogo oficialmente com minha família.


--Então mãe, acho que está na hora de abrir o jogo com vocês.


--Sobre o que minha filha?


--Sei que vocês já sabem mas, quero oficializar, até porque Carmen não se sente segura pra falar sobre isso com vocês, sei lá, ainda não conversamos sobre o futuro e...


--Filha, seja direta.


Foi Moisés quem proferiu, respirei fundo, e disparei.


--Então, antes mesmo de me separar de Fabrício, eu me apaixonei por Carmen. Fiquei muito assustada pelo fato dela ser mulher, falei sobre isso com a Senhora mãe, mas acho que todos vocês mereciam que eu abrisse o jogo.


Moisés novamente manifestou-se.


--Lisa, creio que falo por todos aqui, seus olhos denunciaram sua paixão. Não era necessário sequer que tivéssemos essa conversa, mas já que insiste.


-- Pois é Moisés, eu só queria que vocês soubessem por mim, que estou namorando a Carmen e, e pretendo casar com ela, ter filhos com ela, ser dela da forma que ela quiser, e se ela quiser...


Minutos depois Carmen retornou, sentando-se ao meu lado, abraçando-me carinhosamente, como se quisesse me ter ali o resto de sua vida.


* * * *


Carmen


Após termos chegado à casa dos pais de Lisa, resolvi ligar pra mamãe, ela provavelmente estava preocupada sem notícias, principalmente depois da última vez que nos falamos.


--Alô?!


--Oi mãe...


--Carmenzita minha filha, graças a Deus você está bem.


--Estou sim mãe, Lisa e a irmã também.


--Graças a Deus! A polícia os encontrou?


--Também.


--Também?


--Eu os achei primeiro. Quando a polícia chegou, já tínhamos resolvido tudo.


--Carmen! Você se arriscou de novo?


Sorri, aquela era minha mãe, preocupada comigo como se eu tivesse cinco anos. Conversei com ela mais alguns instantes, despedi-me e resolvi retornar para dentro. No entanto, antes de entrar, ouvi parte da conversa que Lisa estava tendo com sua família, e aquilo mexeu muito comigo, fiquei extremamente feliz, e mais uma vez eu tinha a certeza de que ela era a mulher da minha vida.


Passamos três dias em Gramado, tivemos que comparecer a delegacia algumas vezes, pra dar esclarecimentos do caso Fabrício. Porém, Benjamin e Augusto, fizeram o que estava ao seu alcance, livrando-me de qualquer acusação.


Quando resolvemos voltar pra Bonito, senti a dualidade de sentimentos da parte de Elisandra, ela gostava da vida na fazenda, amava os irmãos, sei que me amava também, mas deixar sua família era complicado. Então, dei a idéia de que convidasse sua família para viver uma temporada conosco na fazenda, com a desculpa de que seria bom para Emília, conviver com os irmãos de Lisa depois de todo o trauma que havia passado. Dona Júlia e Moisés ficaram um pouco pensativos, mas toparam a sugestão.


* * * *


Elisandra


Dois dias depois estávamos de volta a fazenda, Carmen imensamente feliz em rever a mãe, eu tão ou mais feliz em ter meus amados irmãos e minha família toda reunida. Finalmente a paz havia chegado, e dessa vez parecia ser pra ficar. Vovó e dona Teresa andavam juntas pelo casarão, apesar de vovó não estar no seu"juízo perfeito" dona Teresa gostava da sua companhia. Meus irmãos e Emília, divertiam-se juntos pela propriedade, enquanto mamãe e Moisés viviam uma segunda lua de mel na fazenda. Joaquim e Maria estavam radiantes de alegria, pois descobriram que o primeiro filho vinha por ai.


E pra felicidade ser completa, Carmen e eu vivíamos os dias mais perfeitos desde que nos conhecemos, nossas noites sempre quentes, nossos dias regados de amor, carinho e companheirismo.


No dia do meu vigésimo terceiro aniversário, Carmen convidou-me pra jantar fora, sabia que ela não gostava de tais programas mas, fiquei extremamente feliz por fazer aquilo por mim. Vesti-me com o maior esmero para a ocasião, vestido negro a altura dos joelhos, colado no corpo, e salto alto, no entanto Carmen fez-me perder o ar.


Sabia que era uma mulher linda, no entanto desde que a conheci que apenas a tinha visto, de camisa e jeans, mas naquela noite ela resolveu brincar de ser linda. Ela estava vestindo uma calça de social muito justa, camisa branca, sem mencionar os longos cabelos negros que estavam soltos, contrastando com os verdes dos olhos que amava.


Carmen levou-me ao melhor restaurante da cidade, a mesa reservada era numa área onde podíamos ter mais privacidade, o ambiente era magnífico, sem mencionar a música de muito bom gosto.


Após o jantar esplêndido, Carmen convidou-me pra dançar, ao som de Isabella Taviani.


Eu pensei em comprar algumas flores
Só pra chamar mais atenção
Eu sei, já não há mais razão pra solidão
Meu bem, eu tô pedindo a sua mão

Eu pensei em escrever alguns poemas
Só pra tocar seu coração
Eu sei, uma pitada de romance é bom
Meu bem, eu tô pedindo a sua mão


Então case-se comigo numa noite de luar
Ou na manhã de um domingo a beira mar
Diga sim pra mim
Case-se comigo na igreja e no papel
Vestido branco com bouquet e lua de mel
Diga sim pra mim
Haa Sim pra mim

Prometo sempre ser o seu abrigo
Na dor o sofrimento é dividido
Lhe juro ser fiel ao nosso encontro
Na alegria, felicidade vem em dobro
Eu comprei uma casinha tão modesta
Eu sei, você não liga pra essas coisas
Te darei toda a riqueza de uma vida
O meu amor


Então case-se comigo numa noite de luar
Ou na manhã de um domingo a beira mar
Diga sim pra mim
Case-se comigo na igreja e no papel
Vestido branco com bouquet e lua de mel
Diga sim pra mim

Então case-se comigo numa noite de luar
Ou na manhã de um domingo a beira mar
Diga sim pra mim
Case-se comigo na igreja e no papel
Vestido branco com bouquet e lua de mel
Diga sim pra mim
Haa Sim pra mim


Estava me sentindo como uma garotinha vivendo o primeiro amor, com nenhum dos meus antigos namorados tive vontade de me casar, mas com Carmen desde o primeiro dia sonhava com isso, e aquela música estava mexendo comigo.


Então de repente, Carmen soltou-me, ela estava com os olhos marejados e um sorriso enigmático no rosto, deu um passo pra três, ajoelhando-se diante de mim logo em seguida. Fiquei paralisada, com um sorriso bobo no rosto, imaginando o que estava por vir.



Carmen tirou uma caixinha do bolso, abrindo-a logo em seguida, revelando um par de alianças absurdamente lindas. Meu coração dava cambalhotas dentro do peito, e quando Carmen questionou-me, não pude conter as lágrimas.


--Casa comigo?


* * * *


Carmen


Eu estava ali, de joelhos diante de todas aquelas pessoas que não conhecia, pedindo a mulher que amava em casamento, propondo uma vida a duas, uma vida feliz a duas. Mantive-me firme até onde deu, mas quando ela respondeu, minhas lágrimas desceram.


--Sim...


Emocionada, trêmula, pus a aliança em seu dedo, levantando-me para que ela pusesse a outra em mim. Sob aplausos e assovios, daquelas pessoas desconhecidas, beijei carinhosamente os lábios da minha futura esposa.


O que dizer da nossa noite? Não tinha o que dizer, não haviam palavras suficientes para descrever o amor que fizemos naquela noite, o fogo e o carinho que tomaram nossos corpos era surreal.


* * * *


Cinco anos depois


Carmen


Estava sentada na varanda do casarão, a cerca de uma semana que estava longe de casa, tinha passado esses dias fazendo vistorias em propriedades da região, os negócios estavam cada dia melhor graças ao nosso empenho. Ao chegar em casa depois da semana que passei fora, encontrei apenas mamãe, e a avó de Lisa, pois Elisandra havia saído com os irmãos, e seus pais estavam na cidade. Sim, os pais de Elisandra haviam se mudado definitivamente para Bonito.


Então estava ali, enquanto mamãe preparava o chimarrão, costume que havíamos adquirido desde a chegada de Lisa em nossas vidas. Olhei para o bosque, e vi Juanes e Ernesto aproximando-se rapidamente, haviam se tornado dois lindos rapazes, lindos e aventureiros. Juanes veio sorridente ao meu encontro, sendo seguido pelo irmão.


--Cah... Não sabíamos que voltaria hoje.


Abraçou-me fortemente, amava aqueles garotos.


--Queria fazer uma surpresa.


Abracei Ernesto, que me informou.


--Lisa já está chegando ai, ela e Emília ficaram pra trás.


Ao voltar meus olhos pro bosque, Emília vinha a frente, havia se tornado uma linda garota também, apesar de eu achar sua irmã infinitas vezes mais, porém eu era suspeita pra esse assunto. Lisa vinha galopando devagar, absolutamente linda com nosso tesouro entre seus braços.


Desci as escadas e fui ao seu encontro, abracei Emília e então parei ao lado dos meus amores.


--Oi meu bebê, vem cá que eu to morrendo de saudades...


Estendi os braços apanhando a linda garotinha loira de três anos, que Lisa trazia consigo. Logo no primeiro ano de casamento, Elisandra e eu decidimos ter um filho, e da inseminação nasceu Beatriz.


--Mamãe...


--Tava com saudades amor?


--Sim, mamãe também.


Sorri, beijando os loiros cabelinhos de Bia, aproximei-me de Lisa, que estava sorrindo aguardando ao nosso lado. Coloquei Beatriz no chão, que logo foi correndo para junto de Emília, tomando Elisandra nos braços, beijando apaixonadamente aquele lábios que tanto me fizeram falta aquela semana.


--Estava com saudade.


--Ai amor, não sabia mais o que fazer sem você aqui.


--Da próxima vez vocês vão junto, não agüento ficar longe das minhas meninas.


Ela sorriu, me dando um selinho.


--Te amo Carmen.


--Te amo mais Lisa.







FIM

Fim do capítulo