Capítulo 15: Juliana: DESPEDIDAS DOEM.
Na quarta-feira de cinzas, logo pela manhã o clima de despedida já estava evidente. Acordei com Bia sentada na beira da cama, mãos nos joelhos. Estava cabisbaixa. Eu também estava. Aquele clima de despedidas não era nada agradável, a sensação era de que eu deixaria um pedaço de mim com ela. Ajoelhei-me na cama atrás dela e abracei-a. Que cheiro bom ela tinha. Aspirei fundo o cheiro dos seus cabelos. Beijei de leve o seu pescoço e mordi o lóbulo da sua orelha. Ela sorriu, ficou toda arrepiada, e eu excitada por sentir os meus seios encostarem nas suas costas nuas e quentes.
–Bom dia! – Disse enquanto afagava os seus cabelos e beijava a sua nuca.
– Bom dia. – Quase sussurrou. Abracei-a mais forte. Respire fundo antes de constatar o óbvio:
– Hoje é quarta! –Falei baixinho, com tristeza na voz.
– Não volta pro Rio com eles, Jú! Fica comigo pelo menos até o fim de semana! – Disse virando-se de frente pra mim.
– Não posso. – Fitei-a com o olhar triste. O coração completamente partido. – Volto a trabalhar amanhã, Bia! Do jeito que as coisas estão difíceis no meu trabalho... Se eu faltar logo depois do carnaval, perco meu emprego. – disse sincera, mas com vontade de jogar o trabalho para o alto. Naquele momento, somente ela me interessava, me inspirava, me fazia ter vontade de viver coisas incríveis e, de fato, vivemos. Não sabia como seria daquele dia para frente, mas lembranças não me faltariam para definir o gostinho bom de felicidade.
Bia puxou-me para um abraço.
– Não queria que você fosse embora!
– Eu também não queria ir… – Beijei os seus lábios com carinho – Seus pais voltam quando?
– Hoje à noite… Eu acho…
– Peça desculpa a sua mãe… Pelas rosas que eu assassinei. – Nós rimos. Um sorriso nada natural.
– Ela ia adorar te conhecer!
– Duvido! Eu acabei com o jardim dela…
– Jamais vou esquecer aquele dia – Sorriu, logo ficou pensativa… – Foi a cena mais…
– Ridícula! – Completei, interrompendo-a.
– Eu ia dizer engraçada. – Ficou séria, depois olhou-me profundamente nos olhos. – Foram os melhores dias da minha vida, Jú! – Disse aproximou-se ainda mais de mim, senti o seu coração batendo no mesmo ritmo do meu.
– Os meus também… – Uma lágrima escorreu dos meus olhos e molhou o ombro dela. Quando voltamos a nos olhar de frente, tanto os meus olhos quanto os de Bia, estavam marejados.
A manhã seguiu quieta. Nem os meninos mantinham o vigor dos primeiros dias. A chuva também nos impediu de ficarmos na beira da piscina. Eu sentei-me na varanda até a hora do almoço e fiquei olhando a chuva molhar o jardim da casa. As rosas da mãe da Bia balançavam quando o vento batia nelas. Era lindo. Pareciam dançar em meio à grama de verde acentuado pelas gotas de chuva. Bia estava tão calada e pensativa quanto eu, ela deitou a cabeça no meu colo, e segurou a minha mão direita, enquanto sentia eu afagar os seus cabelos com a mão esquerda livre.
Armandinho e Paulo fizeram o almoço. Dri ficou no quarto boa parte do tempo, e quando saiu, colocou uma capa de chuva amarela e foi levando uma parte das nossas coisas para o carro. Adriana parecia ter pressa de ir embora. Eu queria que o tempo parasse e a realidade não batesse jamais a nossa porta.
Depois do almoço nos sentamos na sala para assistir à apuração das escolas de samba do Rio de Janeiro. O clima ficou mais ameno entre nós, eu e Dri sentamos lado a lado, já era uma tradição. Desde que nos conhecemos assistíamos à apuração das escolas de samba de mãos dadas. Torcíamos incondicionalmente pela Mocidade.
O tempo foi passando. Nós pulávamos do sofá quando nossa escola recebia uma nota dez, mas, perdemos as contas do quanto xingamos os jurados que deram notas inferiores para a nossa escola de samba. Armandinho e Paulo estavam radiantes com a Beija-flor deles, nota baixa ou nota alta eles comemoravam. Bia, bom ela só esboçava algum sorriso maior quando o Salgueiro recebia boas notas.
A Mangueira foi a grande campeã. Se quer saber, eu era boa perdedora. A verde e rosa mereceu ganhar. O enredo foi libertador. Mesmo torcendo para a Mocidade eu tinha que admitir, a Mangueira foi tudo de bom. Ao menos a Mocidade foi para o desfile das campeãs.
Depois que acabou a apuração, aproveitem o momento que estávamos só nós duas na sala e conversamos um pouco. Assim que Dri desceu com o resto das suas coisas, me perguntando se estava tudo pronto, eu subi rapidinho e achei que seria interessante deixar as duas sozinhas. Talvez elas conversassem um pouco.
Não demorou para chegar o momento de voltarmos ao Rio. Dri e os meninos já estavam dentro do carro. Eu e Bia, debaixo de um guarda-chuva que ela segurava, nos despedíamos entre lágrimas e saudade no portão.
– Vai me ver nesse fim de semana? – Perguntei enquanto segurava na mão dela.
– Eu acho que nesse não vai dar, Jú! Mas… No próximo, com certeza!
– Estranho… Já estou sentindo saudades, e ainda nem entrei naquele carro.
Enquanto ainda conversávamos como se não tivesse mais ninguém ali, ouvimos a buzina estridente do carro de Dri, nos despertando para aquela realidade. Respirei fundo. Puxei Bia pelo pescoço beijando-a mais uma vez com muita paixão. Naquele instante o vento levou embora o guarda-chuva que ela segurava e a chuva fina do fim de tarde nos molhava o corpo. A alma estava molhada das lágrimas de saudade que aqueles dias maravilhosos ao lado daquela mulher deixara marcado em mim. Nossos beijos de despedida foram molhados de lágrimas e de chuva. Bia envolveu-me pela cintura enquanto eu apertava com força minhas mãos na sua nuca, puxando o seu pescoço para que nossos lábios não se desgrudassem. A buzina não parava de soar no carro de Dri. Aquele barulho nunca me incomodou tanto quanto naquele momento.
Guardei comigo a promessa de um reencontro. Colamos os nossos lábios mais uma vez. Apenas roçamos um no outro enquanto a chuva e as lágrimas passeavam pela nossa face. Nos despedimos pela milésima vez e eu, enfim, dolorosamente entrei no carro. Parece exagero, mas doía muito deixa-la. A impressão era a de estar deixando um pedaço de mim para trás.
Abri o vidro do carro e dei um último beijo nela. Depois fechei o vidro, pois a chuva estava molhando todo o carro. Dri deu a partida e nós fomos nos distanciando devagar da casa de Bia. Olhei para trás. Ela ainda nos olhava do portão. Tentei acenar, mas não consegui, minhas mãos estavam ocupadas enxugando o meu rosto. Olhei levemente para Dri, vi quando ela balançou a cabeça negativamente.
– Tá toda molhada, vai ficar resfriada, Jú.
– Pega uma blusa na minha mochila, Dinho? – pedi com a voz chorosa. Meu amigo abriu o zíper e começou a fuçar.
– Qualquer uma?
– Qualquer uma. – disse e comecei a chorar. Senti as mãos de Paulo tocarem o meu ombro. Ele estava sentado atrás do meu banco. Olhei para trás e agradeci o carinho.
– Toma essa de pedrinhas, Jú. Vai ficar linda. – Dinho me entregou a peça – Não chora, gatinha. Vocês vão se ver.
– Tira logo essa blusa molhada, Jú! – disse Dri impaciente enquanto acelerava um pouco mais com o carro. Tirei a blusa molhada e vesti a outra.
Ficamos todos em silêncio durante o caminho. Não demorou e pegamos a estrada para o Rio. Eu fechei os olhos enquanto nos distanciávamos de Búzios. Em minha memória reproduzia as lembranças, desde o primeiro dia em que os meus olhos viram Bia até aquele momento fatídico de despedida. O sorriso dela me fazendo sorrir. As mãos dela passeando em meu corpo. As minhas desnudando aquela pele morena. Os lábios macios e apetitosos me fazendo delirar. A voz... o olhar... o cuidado... o carinho que ela tinha por mim. Os olhos dela fitando os meus naquele portão... É! Eu havia mesmo deixado um pedaço de mim naquele lugar. Deixei o meu coração!
Pegamos um trânsito terrível na ponte Rio-Niterói. Era quase meia noite quando deixamos os meninos na casa deles. Dri seguiu para me deixar em casa. Estava cansada. Embora tenha dividido o volante com Armandinho, a viagem havia sido desgastante. Bia estava preocupada e eu tinha ficado de enviar mensagem quando chegasse.
Dri estacionou no portão do prédio em que eu morava. Desligou o carro e segurou a minha mão, impedindo que eu entrasse no whatsapp.
– Eu mal estacionei e você já vai mandar mensagem pra Bia?
– Ela tá preocupada. Olha quantas horas ficamos na estrada.
– E eu tô cansada.
Guardei o celular no bolso do short e me virei de frente pra ela:
– Quer subir? – apertei o ombro dela – Faço um café, bora?
– É melhor não... – disse colocando a mão sobre a minha que estava em seu ombro – Se eu subir você terá que fazer uma massagem nas minhas costas. Tô toda quebrada desse trânsito.
Eu ri. Ela havia dirigido mais de cinco horas por causa do engarrafamento monstro de volta pra casa.
– Não consigo nem ficar com os olhos abertos, quem dirá fazer massagem.
– Mas aposto que vai ficar horas falando com a Bia.
– Horas não, mas vou falar com ela sim.
– Ah, vai! – puxou o ombro e minha mão caiu no banco – Pega logo a sua mochila e vai falar com seu amorzinho. – ironizou – Quero chegar em casa antes de amanhecer.
– Que exagero! – balancei a cabeça negativamente – Nossa, Dri. De ovo virado você fica insuportável, sabia? – disse e apanhei a minha mochila. Desci do carro, mas parei na porta. Ela abaixou o vidro. – Manda uma mensagem quando chegar em casa, tá?
Dri bateu continência e saiu com o carro. Eu tirei o telefone do bolso do short e liguei para Bia imediatamente. Ela atendeu com aquela voz rouca. Devia estar deitada.
– Demorou, amor. – disse do outro lado.
– Cheguei agora. – falei enquanto cumprimentava o porteiro e subia as escadas. – Tô morrendo de saudades.
– Eu também. Você foi embora e deixou a casa muito vazia.
– Seus pais chegaram bem?
– Sim. Minha mãe teve um surto com as rosas quebradas, disse que se eu tivesse menos de dezoito anos eu ficaria de castigo por pelo menos duas gerações, mas eu sobrevivi.
– Sério? Ela ficou tão brava assim? – disse enquanto abria a porta de casa e tirava os sapatos para não fazer barulho e incomodar o vizinho do andar de baixo.
– Brincadeira. Minha mãe só quis saber o porquê de eu estar tão triste. Falei que tinha a ver com uma garota que tinha passado feito um furacão na minha vida.
– Um furacão? – brinquei enquanto trocava o celular de mão para tirar a outra manga da blusa – Tava indo bem na declaração, mas furacão pôs tudo a perder.
– Furacão sim... – disse com a voz ainda mais sexy – Me destruiu na cama, arrebentou com a minha sanidade e ainda derrubou todas as minhas expectativas ruins sobre o amor.
– Que linda. – sussurrei – Sabe o que eu queria nesse momento?
– Diz...
– Queria que você estivesse na minha frente porque eu acabei de tirar toda a minha roupa...
– Ah, é? Conta mais.
– Tô olhando pra minha cama e imaginando você nela. – um minuto de silêncio. Passei as mãos nos lençóis. – Você nua deitada de bruços, com as pernas semiabertas... – Fechei os olhos para ouvir a respiração ofegante do outro lado da linha – Eu passaria as minhas mãos pelas suas pernas, acariciaria o seu sex* para sentir a sua umidade... Me deitaria lentamente sobre você e beijaria a sua nuca, depois morderia o seu pescoço. Com os meus lábios molhados desceria pelas suas costas, morderia a sua bundinha e afastaria ainda mais as suas pernas pra te beber inteira.
– Nossa, Jú! – falou com a voz entrecortada – Você me deixa toda molhada, sabia?
– Eu sei, você me deixa igual.
O restinho da semana passou e Bia e eu nos falamos em todos os segundinhos que sobravam nos intervalos do trabalho. Era sábado, mas como as coisas estavam atrasadas por causa do feriado de carnaval e a minha chefe estava surtando com todo mundo no escritório, tivemos que fazer plantão. Com toda a correria, mal consegui manter a assiduidade das mensagens que estava trocando com Bia durante o restinho da semana.
Quando o meu expediente terminou, o meu telefone tocou, atendi às pressas achando que era a Bia, mas na verdade era a Dri. Desanimei quando olhei o visor do telefone e me senti culpada porque a Dri não tinha culpa pela minha frustração.
– Oi, miga! – eu disse.
– Oi. Que voz triste.
– Tô cansada, só isso.
– Seguinte, vou encontrar a nossa galerinha na Farme pra tomar alguma coisa e jogar conversa fora. Você vai, né? – eu não respondi e ela continuou – Sabadão, Jú! Não vou te deixar ir pra casa.
– Não estou muito no clima.
– Fala sério! Sacanagem você não ir. Eu não vou aceitar desculpinhas, pode dar seus pulos. Vamos tomar uma cerveja e tá acabado!
Ela falou, falou... Bom, tomar uma cerveja e conversar um pouco com o pessoal talvez fosse legal para que desencanar um pouco daquela tristeza e saudade que eu estava sentido da Bia. Infelizmente ela tinha um jantar de família e não poderia vir me encontrar.
– Tá bom, eu vou passar em casa, tomar um banho e depois te encontro lá. – disse, nos despedimos e eu desliguei.
Fiquei esperando a Bia me ligar, como disse que faria, mas nem sinal dela. Controlei a minha vontade de ligar para ela e controlei mais ainda os meus pensamentos por ser sábado, e saber que em Búzios as noites de sábado eram bem agitadas. No entanto, para onde eu ia também tinha muita agitação. Embora eu quisesse somente estar com ela. E se eu soubesse, pudesse prever o que estaria por vir, teria ficado em casa.
Fim do capítulo
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Val Maria
Em: 19/04/2019
Autoras, tudo bem!
Que a saudade e as dúvidas não deixe as esperanças de ambas acabarem, pois essa chata da Dri vai querer estragar esse namoro.
Só espero que quando a Ju chegar em casa a Bianca esteja lá lhe esperando, e que elas se desliguem do mundo e não atendam o telefone,principalmente da Dri.
A cada capítulo fico ansiosa para o próximo.
Beijos AUTORAS.
Val Castro
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HelOliveira
Em: 19/04/2019
Não creio que a Ju vai fazer isso...que chato ponto pra Dri.
Até o próximo
Bjos
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jake
Em: 19/04/2019
Não acredito que Bia saiu de casa em Búzios para vê
a Ju e ela estava tipo de "divertindo " com a Dri .
Acredito que a Bia vai pensar que foi uma boba em ter saído de tão longe e bater com a cara na porta...
vamos vê oq aconteceu. ...
Boa Páscoa meninas....
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