Mudanças - Capítulo 18
Melissa adaptou todo o apartamento para que Annie tivesse uma boa locomoção e pudesse se adaptar facilmente. Estava sendo uma mudança não apenas em sua casa, mas em sua vida de um modo geral. Estava reaprendendo a ter uma pessoa em sua casa e em seu coração e Annie foi fundamental nessa transição. Amava Annie, mas ainda não havia se libertado totalmente do que havia acontecido era um processo lento e grandes passos tinham sido dados. Uma coisa tinha certeza: o amor que sentia por Annie iria curar todas as dores.
Após o casamento elas viajaram e foi um momento muito importante para as duas, pois passaram a se conhecer melhor. Apesar de ser cega Annie era extremamente independente graças a sua sensibilidade, guia e sentidos apurados e isso encantava Melissa. Annie era uma pessoa muito especial e a completava de uma forma que não achava ser possível, era maravilhoso tê-la por perto. Os dias que passaram foram inesquecíveis e Melissa mostrou-se muito romântica, atenciosa e cheia de amor. A felicidade estava presente no olhar, nos gestos, no sorriso aberto, nos apertos de mãos... tudo irradiava felicidade, tudo era amor e cada dia que passava elas tinham certeza que o amor havia chegado para ficar.
Mas nem tudo são flores.... nem sempre o mar está calmo e tranqüilo... e os problemas começaram aparecer logo após o primeiro ano de casamento. Talvez pelo trauma vivido Melissa sentia um medo exagerado de perder Annie e travava uma luta interior enorme para não parecer possessiva e sufocar Annie com seus cuidados.
- Amor, porque você não vende a sua casa? – perguntou enquanto tomavam café da manhã.
- Mel... esse assunto outra vez? Nós já conversamos sobre isso inúmeras vezes.
- Eu só não entendo porque você quer manter aquela casa enquanto mora aqui. Poderia vender fazer um bom investimento ou fazer algo com o dinheiro.
- Mel, eu não irei vender a casa porque ela é minha e eu não vejo necessidade de fazer isso. Não estou precisando do dinheiro e não quero fazer outra coisa.
- Annie, não precisa ficar irritada... eu só...
- Você tem medo que eu saia daqui não é mesmo? Que eu te deixe por algum motivo. Mel, preste bem atenção em uma coisa... não é uma casa ou a falta dela que me fará ficar aqui e com você. Eu te amo e isso é mais do que o suficiente, vendendo a casa não é garantia que eu irei ficar aqui. A casa é minha eu gosto de lá, foi um presente dos meus pais e se não tiver um motivo de extrema necessidade eu não tenho intenção nenhuma de me desfazer dela. Eu sei que você se preocupa comigo, mas não precisa ficar insegura você me faz muito feliz – sorriu.
- Eu sei que tenho exagerado – disse triste – mas a impressão que tenho é que a qualquer momento eu não te terei mais aqui e isso me apavora.
- Não precisa – procurou as mãos de Melissa – Eu estou aqui com você meu amor.... e não irei te deixar ou você acha que eu deixarei a minha delegada gostosa livre para qualquer uma? – gargalhou – Pare com isso está bem? A minha casa tem valor sentimental e essas coisas a gente não se desfaz... tranquilize o seu coração meu amor... eu te amo.
Melissa levantou-se e aproximou-se de Annie passou as mãos no rosto dela e a beijou suavemente, amava tanto aquela mulher à sua frente e queria tanto fazê-la feliz. O medo de perdê-la era enorme e ao mesmo tempo sabia que não poderia protegê-la de todos os perigos do mundo, mas faria tudo que estivesse ao seu alcance para que nada de ruim acontecesse a ela.
- Eu tenho medo de te afastar com o meu jeito protetor demais... eu tenho medo que você perceba que eu não tenho sido uma boa esposa ou que eu tenha te sufocado demais... tenho medo dessas coisas.
- Não precisa me proteger tanto Mel... eu sei me cuidar e sempre fiz isso muito bem. Não irei sair dessa casa nem da sua vida, pois você não me deu motivos para isso... apenas seja você Melissa e pelo nosso bem, deixe o seu instinto de delegada da porta da nossa casa para fora... não traga para dentro do nosso lar.
- Está bem meu amor – a beijou – Eu irei controlar o meu lado delegada – sorriu tímida.
- Muito bem – sorriu – Mas assim...você pode deixá-lo.... quando estivermos na cama – gargalhou.
- Eu te amo – Melissa sorriu – Preciso ir trabalhar e você está atrasada para as aulas – a beijou outra vez – Nos vemos mais tarde.
Annie ia aos poucos lapidando o lado protetor de Melissa e Jaqueline foi fundamental nesse processo, pois era a pessoa que mais conhecia Melissa e conversava muito com ela acerca desse sentimento que surgiu com a morte de Liz. Apesar de alguns problemas tão normais em todo relacionamento elas estavam felizes. Nos dias de folga de Melissa elas passeavam, iam a lugares diferentes, saiam para jantar. O convívio em casa também era harmonioso e Annie fazia de tudo para ajudar Melissa nas atividades domésticas.
- Nunca imaginei que você fosse uma boa dona de casa – sorriu para Melissa.
- E posso saber por quê?
- Ah! Você não tem jeito – sorriu – Toda durona do jeito que é... pensei que quebraria todos os pratos ao tentar lavar.
- Fique sabendo que eu sou uma ótima dona de casa e ótima na cozinha.
- Eu sei disse meu amor – sorriu divertida – Você tem me dado provas disso... principalmente na cozinha – gargalhou.
- Não estou vendo essa ajuda que você diz querer dar – falou séria.
- Hummmm ficou brava,foi? Você na cozinha é uma delicia amor – sorriu.
Melissa olhou para Annie em sua frente e deu um sorriso nada inocente, adorou vê-la usando camiseta branca e short, o cabelo preso em um coque desarrumado a deixava mais atraente e a forma de sorrir meio moleca a encantava.
- Sou uma delícia na cozinha é? – a puxou pela cintura.
- Sim... muito – passou o braços pelo pescoço de Melissa.
- Sabia que a cozinha pode ser um lugar muuuuito bom para outras coisas? – beijou o pescoço de Annie.
- É mesmo?
- Sim – mordeu de leve a orelha – muuuito bom.
- Me mostre – as mãos percorreram as costas de Melissa.
- Você vai adorar – mordeu de leve o lábio inferior e puxou – A cozinha é um lugar de comidas....
- E qual o prato principal?
- Você – puxou o corpo de Annie – Você é meu prato principal – a beijou com desejo.
Aos poucos as diferenças iam sendo superadas e respeitadas elas eram bem diferentes, mas isso parecia uni-las mais ainda. Melissa aprendia muito com Annie e com a forma leve como ela vivia, não sabia o que era, mas havia feito algo muito bom para receber um presente tão lindo como a Annie... a vida tinha as suas surpresas e ela estava aprendendo a recebê-las.
Mas a surpresa maior ainda estava por chegar.... veio em uma manhã ensolarada e de céu sem nenhuma nuvem, havia tido uma deliciosa noite de amor e seu corpo ainda estava um pouco dolorido, Annie deslizava a mão ao redor do seu corpo e ela sorriu satisfeita.
- Bom dia amor – disse com a voz sonolenta – Já acordada?
- Sim – sorriu.
- Dorme mais um pouco – a puxou para si – Não dormimos nada na madrugada – sorriu.
- Estou sem sono Amor... na verdade estou me sentindo elétrica....
- Aconteceu alguma coisa? – virou-se para Annie
- Não... mas pode acontecer...
- Como assim Annie? - ergueu o corpo e sentou-se.
- Mel... eu tenho pensado muito em uma coisa.... na verdade eu tenho pensado bastante... mas não sei como você irá reagir... e eu não estou mais aguentando.
- Annie, você está me deixando aflita o que está acontecendo?
- Quero que saiba que eu pensei muito, muito, muito acerca disso.
- Diga de uma vez por todas o que está acontecendo – disse áspera – Não gosto de rodeios.
- Eu quero um filho Melissa, eu quero um filho nosso!
Melissa ficou em silêncio e sentiu como se algo dentro dela bloqueasse as palavras de Annie. O coração acelerou e sentiu as mãos gelarem.
- Mel – disse após alguns segundos – Eu sei que nesses dois anos não tocamos nesse assunto e que de certa forma é algo que te traz lembranças ruins... mas eu quero tanto Mel...
- Um filho? – saiu baixo
- Sim Mel – segurou as mãos de Melissa – Um filho nosso meu amor...
- Annie..
- Eu sei que você tem medo pelo que aconteceu, mas a vida continua Melissa e estamos em um relacionamento diferente, eu sou outra pessoa e as coisas não acontecem da mesma forma. Você está comigo agora e temos que pensar no futuro.
- Annie... eu preciso pensar sobre isso – disse séria – Preciso acostumar com essa possibilidade não é algo que deve ser feito no auge da emoção ou simplesmente porque uma pessoa quer. Eu preciso querer também... então eu lhe peço um tempo para pensar e para decidir juntamente com você o que iremos fazer.
- Mel... você seria uma mãe maravilhosa... sinto o carinho que você tem pelo seus sobrinhos, a forma como se diverte com eles, o carinho com outras crianças... fico imaginando como seria com nossos filhos...
- Uma coisa são os filhos dos outros Annie e outra completamente diferente é quando o filho é nosso.
- Tenho certeza que será muito melhor – aproximou de Melissa abraçando-a – Por favor, meu amor pense com carinho... Eu quero muito ter um bebê com você.
- Conversaremos sobre isso depois – levantou-se – Preciso me arrumar para o trabalho.
Enquanto tomava banho várias coisas passaram em sua cabeça e sentiu uma angústia muito grande em seu coração. Não sabia se estava preparada para reviver tudo aquilo, passar por todas as etapas e ter a certeza que tudo ocorreu bem. Não sabia se queria viver aquilo outra vez.. era tão difícil imaginar-se mãe outra vez. Foi difícil perder a Liz e o seu bebê de uma única vez. Tomou banho, arrumou-se, deixou Annie na associação e foi para a delegacia estava precisando pensar com calma.
Annie sentiu algo diferente em Melissa após ela falar do desejo de ter um filho com a delegada, tentou agir naturalmente mas estava triste com o comportamento da esposa. Sabia que ela sofreu no passado e compreendia perfeitamente a questão era que agora elas estavam casadas e o passado deveria ser deixado para trás. Melissa estava distante, quieta, conversava com ela, mas estava muito diferente.
- Não quero que fique assim – disse após deitar e abraçar Melissa por trás.
- Assim como?
- Distante de mim... fria e diferente... sinto sua falta.
Após alguns segundos em silêncio Melissa vira-se para Annie e a puxou para bem perto do seu corpo.
- Desculpe meu amor – disse respirando fundo – sei que estou distante...
- Não quero isso Mel... e se continuar assim acho melhor a gente não falar mais sobre gravidez e bebê... é melhor esquecer isso.
- Ei... – deslizou as mãos pelo rosto de Annie – Já disse que você é maravilhosa? E que eu te amo muito?
- Não....
- Eu te amo – a abraçou mais – E vamos sim falar sobre o bebê... eu só preciso de um pouco de tempo... prometo que iremos ver isso.
- Não quero te afastar de mim – disse triste.
- Eu não vou afastar meu amor... é impossível para mim cogitar essa possibilidade.
- Eu te amo – disse um pouco sonolenta.
- Eu te amo mais.
- Eu te amo muito, muito, muito mais.
- Eu amo e pronto! E você está com muito sono – sorriu – dorme meu amor... eu te amo tanto... – a abraçou com carinho.
- O que está pegando? – Jaqueline encarou Melissa.
- Nada – disse olhando uns papéis.
- Melissa...
- Nada Jaque.
- Melissa!
- A Annie quer um bebê! Está bom para você?
- E você?
- Eu o que?
- Você quer um filho? Um filho com ela?
- É claro que quero tudo com ela Jaque... só que...
- Você tem medo...
- Sim.
- Melissa, pare com isso, você tem todo o direito de não querer um filho e a Annie terá que entender isso, não querer pelo fato disso não ser um desejo íntimo seu. Mas se você quer e tem medo por causa de uma experiência que teve é inadmissível. Supere de uma vez pode tudo o que aconteceu.
- Eu fiquei sem reação quando ela falou... me deu uma sensação de pânico... eu não sei.
- Você decidiu construir uma história nova com Annie, uma família e é claro que ela iria em algum momento ter um filho. O que tem que ficar bem claro para você é: Você não quer esse filho porque não é um desejo seu, porque não gosto de crianças, porque não quer mesmo? Ou esse medo, essa sensação ruim foi pelo que você viveu com a Liz? Foi por ter perdido naquele acidente o filho que ela esperava? O que você realmente quer Mel? Não é justo a Annie pagar por algo que aconteceu a você, não é justo com ela e não é justo com você também. Será um bebê tão lindo.... – sorriu – Reflita Mel... eu adoraria ter um afilhado...
- E porque você acha que será a madrinha do meu filho?
- Ahhhhhhhhhhhh! Agora eu tenho plena certeza que serei eu – sorriu.
- Como assim?
- Amiga, você está louca para ser mamãe- sorriu – Você disse: “E porque você acha que será a madrinha do meu filho?” percebeu? Você afirmou que será mamãe – sorriu – Pare com essas ideias malucas e diga de uma vez que você concorda!
- Você viaja tanto Jaqueline... Preciso trabalhar!
- Só digo a verdade amiga! Bom, vou deixar a mamãe do ano pensando em seu futuro baby – sorriu – Até mais querida.
Melissa chegou mais cedo em casa adiantou bastante as atividades na delegacia e saiu antes do horário previsto. Quando chegou Annie já estava em casa e havia preparado sopa para elas, tomou banho, vestiu algo bem leve e deitou no sofá para assistir filme. Annie tinha acabado de sair do banho e passou por ela.
- Senta aqui comigo amor.
- Você está assistindo não quero incomodar.
- Você nunca faz isso... vem, deita aqui comigo – disse com voz suave.
- Você está querendo algo – sorriu.
- Sim... quero que a minha mulher deite aqui comigo.
Annie sentou-se e Melissa deu espaço para que ela pudesse acomodar-se em seus braços.
- Você é tão cheirosa meu amor – beijou o pescoço de Annie – Adoro isso.
- Eu gosto também – sorriu – Que bom que chegou mais cedo hoje... é ruim quando não te recebo ao chegar...
- Eu também não gosto meu amor, mas esse é meu trabalho... Annie – fez uma pausa – Eu pensei bastante... muito mesmo... e – respirou – fundo – e acho que está na hora dessa casa receber mais uma pessoa... da nossa família ganhar um novo membro...
- Você está querendo dizer que? – Annie sentou-se no sofá.
- Que teremos o nosso bebê Annie- sorriu - Teremos o nosso filho.
Fim do capítulo
Olá, queridas, boa noite!
Desejo que estejam gostando da história! Quinta-feira tem outro cap e... talvez teremos um extra essa semana ainda :)
Abraço a todas!
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