Quase um século depois, cá estou. Quero pedir desculpas caso haja alguém acompanhando esta história. Estive sem internet e arrotando apenas poesia. Agora voltei. De vez.
Capítulo 10 - Então é Natal ( ou seja lá o que seja isso que aconteceu)
As coisas andavam pra lá de melhor na vida das duas pombinhas lésbicas apaixonadas. As festas, uma constante na vida principalmente de Alícia, dera lugar ao sofá e filmes. As vários bocas, deram lugar a melhor de todas as bocas. E o amor parecia se desenvolver a cada desafio superado. Neste embalo, um mês inteiro passou voando. E chegou enfim o Natal.
Laura passaria a data festiva na casa dos seus pais e mil irmãos, enquanto Alícia não sabia ao certo se já estava na hora de passar um momento tão íntimo com a família da namorada.
Mas como diz aquela frase que eu não sei de quem é “se tiver medo, vá com medo mesmo”, e claro, muita chantagem advinda da namorada, acabou por aceitar.
E lá estavam elas. Organizando malas, embrulhando presentes e correndo contra o tempo:
_ Atrasar é uma marca registrada sua, Alícia. Você deveria patentear este tipo de comportamento e ficar rica com isso.
_ Muito engraçada a senhora, Laura. Como se eu tivesse demorado no banheiro quase uma hora.
Apesar de já conhecer os pais de Laura do tempo da escola, Alícia sentia muito nervosismo. Logo ela, a segurança em pessoa, estava receosa de fazer ou dizer algo inadequado. Criada em uma família pra lá de moderna ( para não falar relapsa), ela estava acostumada a passar o Natal em festas ou sozinha no quarto.
Aquele talvez seria o primeiro natal digno que ela passaria. Agora em família.
Quando chegaram na casa de Laura, dava para ouvir da rua os barulhos típicos de festa de natal. Músicas natalinas de algum cd dos anos 90 tocava incessantemente enquanto vozes e risadas desarmonizavam ao fundo.
_ Será que eles já estão brigando? – brincou Laura apenas para ver o pânico na cara da namorada. _ Estou brincando, meu amor. Vamos entrar.
Bateram a campainha e uma senhora de meia idade vestindo um lindo vestido vermelho sorriu de felicidade ao vê-las.
_ Minhas queridas, que bom que chegaram. Espero que não tenham comido nada pelo caminho. Acabou de sair a primeira remessa do churrasco.
Alícia abraçou a pequena senhora e agradeceu a hospitalidade.
_ Imagina, Alícia, lembro de você na barriga da sua mãe. E por falar nisso, como anda Samanta?
_ Muito bem, obrigada.
_ Que bom! Bom, vamos entrar. Todo mundo estava por vocês ainda agorinha.
_ Já andou fazendo fofoca, mãe? _ Laura parecia consternada.
_ Ah, minha filha, até assustamos quando ficamos sabendo que você estava namorando. Um verdadeiro milagre encontrar alguém para agüentar a minha filha linda e chata.
Alícia caiu na risada. Já se sentiu em casa assim que entrou. Cumprimentou a todas as pessoas espalhadas pela casa e quintal e logo já estava com um prato na mão comendo.
Foi aí então que as coisas pesaram. A campainha tocou novamente e para a surpresa de todos, lá estava Laís acompanhada pelo seu marido igualmente metido, Nícolas.
A prima de Laura não conseguiu disfarçar seu olhar durante toda o período da tarde. Alícia começava a se sentir incomodada e dona Marília também.
_ Fizemos algo que desagradou a prima de Laura, senhora Marília?_ as cervejas que bebeu pareciam esquentar o corpo e a mente de Alícia.
_ Ah por favor, minha filha, me chame apenas de Marília. _ ela a puxou para a cozinha e enquanto temperava algumas carnes, contou-lhe: _ Laura não gosta de comentar sobre isso, na verdade ninguém na nossa família gosta de tocar neste assunto. O pai de Laura principalmente, já que Laís é sobrinha dele. Só que quando elas estavam na casa dos avós lá no interior do Espírito Santo, minha sogra flagrou as duas se pegando no quarto. Menina, foi um escarcéu. Tivemos que pegar um avião até lá antes que os irmãos de Arnoldo as matassem. Povo preconceituoso, muito diferente do meu marido, claro. Ele defendeu a filha com unhas e dentes e essa daí teve ainda a audácia de falar que Laura a estava forçando. Tem condição? Desde quando a Laura força alguém a fazer alguma coisa? Mole como ela é!
Alícia sentiu um ciúme gigante lhe subir pela garganta e ao mesmo tempo odiou que Laura não tivesse lhe contado aquela história. Agora ela estava lá, sendo alvo dos olhares tortos daquela garota.
_ Alícia, não fique com raiva de Laura. Ela nunca comenta esta história com ninguém. Na verdade, desde aquele dia este assunto nunca mais foi comentado aqui em casa, entende? Um daqueles grandes tabus de família. Laura ficou muito envergonhada do pai, ele não sabia dela e descobriu da pior forma. Graças a Deus ele a aceitou bem rápido e todos esquecemos esta história de vez.
_ E o que ela faz aqui? _ Alícia sentia o climão entre as duas primas. Elas mal se cumprimentaram e apesar de estarem todos na mesma casa, Laura agia de forma indiferente com eles.
_ Eu estou me perguntando isso desde o momento que saí na porta. Há anos ela não vem aqui e agora aparece assim sem ser convidada. Cara de pau para dizer o mínimo, né? Eu não posso destratar, afinal ela é sobrinha do meu marido. Caso contrário, eu não deixava ela nem entrar.
_ E ela não é lésbica? _ Alícia estava cheia de questões na cabeça.
_ Não sei, acho que ela está tentando enganar a si mesma. Não teve a coragem de Laura para ser o que é e agora vive desfilando com esse cara que também não é lá muito heterossexual.
As duas caíram na gargalhada. Dona Marília possuía um senso de humor maravilhoso. Pensando assim, Alícia voltou para a festa onde Laura conversava animadamente com alguns parentes.
A coisa piorou na parte da noite. Dois banheiros para uma infinidade de pessoas. Deu fila, deu briga, deu até discussão. E foi lá, na fila, que Alícia foi apresentada à Laís.
Laura estava sentada no sofá esperando a sua vez enquanto conversava com Alícia, quando Laís, que também tinha bebido um pouco demais, sentou-se no braço do sofá, quase em cima de Laura:
_ E ai, priminha? Não vai me apresentar a namoradinha nova? _ o tom irônico da garota dava a impressão que Laura trazia todo dia uma mulher nova para casa.
_ Claro, Laís. _ Laura não sabia o que dizer ao certo. Não fazia ideia que Alícia já sabia de tudo._ Esta é minha namorada, Alícia.
_ Prazer. _ Alícia estendeu a mão de forma educada, mão essa desprezada pela mulher.
_ Querida, não precisa agir de forma educada comigo. Eu sei bem que não sou bem vinda nesta casa, na verdade acho que essa família prefere amar a aberração que a Laura sempre foi a gostar de alguém como eu. _ ela começava a falar alto demais e todos observavam a cena temerosos.
_ Eu não sei o que você quis dizer, mas acho melhor você parar. Cadê o seu marido para te levar pra casa? _ Laura estava perdendo a paciência.
_ Eu não vou embora. E ele deve estar terminando de tomar banho. Viemos para ficar e vamos ficar. Quem sabe ficamos todos no mesmo quarto? Assim podemos relembrar um pouco dos velhos tempos em conjunto, não é mesmo? _ Laís já não olhava para Alícia. Laura não sabia como agir.
Sua mãe chegou neste momento na sala, com certeza alertada por alguém preocupado com o desenrolar daquela prosa.
_ Laís, minha filha, toma banho no banheiro do meu quarto. Seu marido já está vestindo roupa.
_ Tia, não tente colocar panos quentes nesta situação. Já estou de saco cheio de tudo isso.
Dito isto Laís pulou em cima de Laura que a empurrou enquanto Alícia a xingava e Dona Marília não sabia o que fazer. Nícolas desceu a tempo que separar as mulheres.
Laís estava aos prantos quando foi levada para o banheiro do quarto de Dona Marília que não sabia aonde enfiar a cara de tanta vergonha. Os parentes todos comentavam a cena novelesca enquanto Alícia chorava no quarto de Laura.
_ Calma, meu amor, aquela garota é louca. Fique calma, por favor.
E assim foi o Natal da família de Laura.
Fim do capítulo
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