Capítulo 1Carmen Montero Garcez e Elisandra Carvalho Romero
Martínez Garcez, nascido em Santiago no Chile, mudou-se ainda jovem para o Brasil, onde viera trabalhar para uma família de fazendeiros, também chilenos. Martínez era capataz em uma grande fazenda localizada em Bonito, Mato Grosso do Sul, onde conheceu Teresa Montero com quem se casou e teve uma única filha, chamada Carmen Montero Garcez. O patrão de Martínez, era um homem muito rico, apesar de jovem era o único herdeiro não só da fazenda onde ele vivia, mas também de diversas outras propriedades espalhadas pela região. Sr. Joan Sebastian Romero, conheceu uma linda mulher chamada Júlia Carvalho, em uma curta viagem ao Rio Grande do Sul. Desse relacionamento relâmpago, nasceu Elisandra Carvalho.
Sr. Joan, casou-se alguns anos depois da viagem ao RS, com a filha de um amigo do seu falecido pai, nesse relacionamento teve dois filhos que para sua alegria, eram homens, Juanes e Ernesto .
Elisandra nasceu e cresceu no RS, por sorte sua mãe era de uma família de classe média, e não teve dificuldades em criá-la com a ajuda dos pais. Lisa(como era conhecida), nunca soube ao certo quem era seu pai, sua mãe apenas lhe contou que ele fora um aventureiro que conheceu em um dia qualquer, e que jamais ficara sabendo quem ele era realmente, e por isso ele nunca soube da existência da filha.
Martínez e Teresa criaram a filha na fazenda do Sr. Joan onde trabalhavam, e por ser filha única apesar de ser mulher, era companhia do pai no trabalho, aprendendo assim a fazer tão bem ou melhor, todo o trabalho que o pai fazia na grande fazenda.
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Os anos se passaram e com ele a vida ia mudando, Martínez faleceu devido a um AVC que sofrera, apesar de ainda ser jovem na opinião da filha. E com isso, Carmen passou a tomar conta da fazenda, passou a ser o "capataz" de Sr. Joan, seu "homem de confiança", seu braço direito.
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Já no RS, Elisandra formou-se em administração de empresas para orgulho da mãe e da irmã mais nova, estava radiante com o leque de oportunidades que apareciam todos os dias de crescer e se tornar uma profissional renomada. Porém, seus dias de sossego estavam contados, sua vida mudaria radicalmente em pouco tempo.
* * * *
Certo dia, Joan e Madalena (sua esposa), saíram para cavalgar próximo as pequenas colinas rochosas que existiam em sua propriedade, perto de uma linda cachoeira, porém, aquele parecia não ser um bom dia para tal passeio. O tempo fechou de repente, a chuva forte caiu castigando as terras da fazenda, pegando Joan e sua esposa de surpresa nas colinas, não havia onde esconderem-se da chuva então, tentaram voltar o mais rápido possível para fazenda, erro fatal.
Na tentativa de fugir da tempestade, Joan e Madalena montaram apenas um dos cavalos, e durante a perigosa descida da colina veio a queda. Foram cerca de dez metros de queda, por entre pedras, galhos e árvores, Madalena não acordou dessa queda, mas Joan desesperado não aceitou essa situação e apesar da perna fraturada, permaneceu ali com o corpo da esposa em seu colo, pedindo socorro aos céus, até que a ajuda chegasse.
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O enterro da Sra. Madalena Muñiz Romero, foi ali mesmo na fazenda no cemitério particular, onde toda família Romero estava enterrada. Joan além dos ferimentos causados pela queda, teve uma forte pneumonia devido ao tempo que ficou exposto a tempestade esperando pelo resgate, e se não bastasse tudo isso, seu estado emocional estava muito abalado, não saberia viver sem sua amada esposa, e menos ainda, terminar de criar os filhos que ainda eram jovens, Juanes de 16 e Ernesto de 12 anos.
Portanto, dois dias depois do enterro de sua esposa, Joan requisitou em seus aposentos, a presença da pessoa que mais confiava, Carmen.
(A partir daqui, narrarei a história como Carmen e Elisandra)
Após bater de leve na porta, eu entrei, sentando-me ao lado de Joan que definhava aos poucos na cama. Olhando encarecidamente nos olhos do homem a quem tanto respeitava, me pronunciei.
--Mandou me chamar Joan? Estou aqui...
--Minha filha... minha filha do coração...estou morrendo...
--Não! Não diga isso...o Sr. vai ficar bem...
--Não minha filha...nós dois sabemos que não vou...meu corpo não quer mais viver...e minha alma também não...
--Não pode pensar assim Joan, não pode desistir...pense nos meninos...
--E por estar pensando neles que chamei você aqui...eles tem você, a quem admiram mais do que a mim, mas agora eles estão desamparados, eles não vão saber lidar com a perda da mãe...e do pai...
--Joan pare...
--Apenas escute Carmen...escute. é muito tempo, quando você era uma garotinha ainda...eu fiz uma viagem...estive no RS...um sonho que tinha desde garoto era conhecer uma mulher gaúcha...pois são consideradas as mais lindas do mundo não é?! (rs)
--Sim (rs)...
--Pois é...quando vi que os negócios estavam bem...nos eixos...resolvi viver essa aventura que me consumiu desde a juventude...fui ao RS...e estive com uma gaúcha de beleza incomparável, por uma semana...vive loucuras com Júlia...ela era bem mais jovem que eu e me deixei levar por sua beleza, seu carisma, seu jeito alegre de ser...quando percebi que aquela menina estava me fazendo ir longe demais, voltei pra casa, a deixei sem nenhuma explicação, nenhum aviso...
Eu escutava tudo calada, esperando pacientemente pelo desfecho daquela história, que Joan me contava em meio a tosses e espirros.
--Não havia dado meu endereço a ela...nem sequer disse em que parte do país eu vivia...mas eu tinha o seu endereço...seu telefone também...passei anos vivendo a vida de forma inconseqüente...libertina eu diria, procurei em todas as mulheres possíveis encontrar o que só havia visto em Júlia...até conhecer Madalena...me apaixonei, me encantei, vi nela aquela mesma garotinha por qual eu havia me encantado no Brasil...então, pouco antes de me casar com ela, eu liguei pra Júlia...
Interessante, jamais imaginava que aquele homem incrivelmente sério e apaixonado pela esposa, pela família, poderia ter vivido tão louco romance.
--E quando consegui finalmente falar com ela...ela me contou algo que me perturbou e me encheu de remorso, por todos os dias da minha vida...
Pela primeira vez na minha vida, havia visto aquele homem chorar, apesar da dor e do desespero que demostrou ao perder Madalena, essa era a primeira vez que chorava.
--Tive uma filha com ela Carmen...eu fugi do que sentia por Júlia, fugi dela...fugi de nossa filha...mesmo que involuntariamente...tive uma filha e so fiquei sabendo disso, cinco anos depois que ela havia nascido...
Mais uma pausa para tosses.
--Eu não conheci a minha filha Carmen...Júlia me disse naquele telefonema que eu jamais veria minha filha, que ela não permitiria, mas que queria que eu vivesse com essa culpa...pois eu a abandonei...antes mesmo dela nascer...e sabe o que mais me dói Carmen? O que mais me arrependo?
--Não Senhor, não sei...
--Eu obedeci...eu acatei o que Júlia disse...mais uma vez eu abri mão de algo importante por medo...eu nunca procurei minha filha, não porque Júlia tivesse dito que não permitiria, mas porque eu não fui homem o suficiente pra assumir pra minha noiva o meu passado...
Deixei que ele se recuperasse da tosse, e do estado que se encontrava que era lamentável.
--Minha filha...sei que posso confiar em você...posso confiar a vida dos meus filhos...mas não quero partir sem me retratar com meu passado...sem pedir perdão...sem ver minha filha mesmo que uma única vez...Carmen...quero unir os meus filhos, os três, os quatro...porque você é como uma filha também, a mais forte...a que mais confio...Carmen...traga minha filha até mim, antes que eu parta dessa encarnação...
Fim do capítulo
Agradeço a compreensão de todas, e espero que gostem. Beijos
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Alessandra Nascimento
Em: 12/12/2023
Campo, fazenda já me chamam atenção.... pelo que li já fiquei curiosa com o enredo.
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