Capítulo 4 - Triste Despedida
O AMOR TEM CHEIRO DE FLOR -- CAPÍTULO 4
Triste Despedida
Marga seguiu Nicolle, como se estivesse vivendo um sonho. Quando chegaram ao corredor onde ficava o laboratório, a escuridão era tanta que Nicolle precisou lhe dar a mão para ela poder andar.
-- Fique tranquila. Conheço esse lugar como a palma da minha mão.
Finalmente, alguns metros à frente, ela a soltou para abrir uma enorme porta de aço inoxidável e acender as luzes.
-- Entre e fique à vontade -- Nicolle deu duas voltas na chave para ter certeza de ter fechado.
Marga deu alguns passos e parou diante de uma das várias bancadas dispostas na sala, depois se voltou para olhar a chefe.
-- A senhora me trouxe até aqui para mostrar o laboratório? -- ela arregalou os olhos quando Nicolle atravessou a sala e parou à sua frente.
-- Pode me chamar de você -- ela sorriu e balançou a cabeça negativamente, demostrando muito bom humor naqueles faiscantes olhos azuis -- Não, não foi para mostrar o laboratório -- Nicolle ergueu uma das mãos e tocou o queixo dela com as pontas dos dedos -- Você é linda, simpática e inteligente.
-- Será que mereço tudo isso? -- sorriu ela, entre incrédula e lisonjeada.
-- Você está usando Plaisir By Chevalier -- murmurou Nicolle, pegando Marga no colo e sentando-a sobre a bancada -- E uma mulher que usa Plaisir, merece ser chamada de: délicieux.
O calor e a maciez das mãos de Nicolle tocando o seu corpo a excitaram ao extremo.
-- Você é irresistível, Nicolle! -- exclamou ela, jogando a cabeça para trás, deixando exposto o pescoço macio e perfumado.
Marga sentiu Nicolle cheirar seu pescoço e logo em seguida seus lábios macios beijaram a sua pele que estava totalmente sensível e arrepiada. Ficou parada, sentindo o toque gentil da perfumista.
-- Não corremos o risco de alguém entrar?
-- Não se preocupe, mon coeur. A porta está trancada.
-- Os funcionários...
Nicolle a silenciou com um beijo e Marga decidiu deixar a preocupação para mais tarde. Fechando os olhos, ela se entregou a perfumista.
Marga experimentava momentos de puro prazer. Ela tinha ouvido falar de outras mulheres sobre o prazer da relação com Nicolle, mas não imaginava exatamente o quão maravilhoso poderia ser. Ela a tratava de forma tão carinhosa e gentil, ninguém nunca a tinha tocado dessa forma.
-- Te quero, ma chérie -- com a ponta de seus dedos, Nicolle traçou o contorno do seio de Marga.
O toque suave fez com que a moça se arrepiasse. Nicolle segurou seus seios e passou sua língua sobre o mamilo.
-- Você é mais gostosa que chocolate quente -- ela sussurrou no ouvido da moça que balançou a cabeça, sorrindo, fechando os olhos.
-- Ah, Nic -- ela murmurou, passando os dedos lentamente entre os cabelos dourados -- Está tão gostoso -- ela resmungou baixinho, sua boca clamando por outro beijo.
Nicolle roçou a boca na dela, explorando seus lábios sensualmente com a ponta da língua. Então, ela se afastou por um instante para depois unir a sua boca à dela num beijo profundo e sensual.
Fechando os olhos, Marga viajou naquele beijo. Nicolle era mais suave do que ela imaginava. Era maravilhoso estar tão próxima a ela inalando seu perfume. Cheirar Nicolle era como cheirar uma flor.
Ainda beijando-a, Nicolle deslizou a mão para a perna dela, acariciando sua coxa lentamente até a beirada de sua calcinha, onde parou. Apesar do prazer que estava sentindo, Marga estava tensa.
-- Confie em mim -- a perfumista sussurrou no ouvido da moça e ela balançou a cabeça, voltando a fechar os olhos.
A ponta de um dedo brincava levemente na entrada dela, então deslizou para dentro, esfregando devagar e com cuidado.
Marga tremeu surpresa consigo mesma com o quanto ela gostava da sensação de Nicolle dentro dela.
-- Isso, mexe gostoso, ma belle... -- E então, Nicolle parou, virando a cabeça em direção a porta -- Parece que temos visita -- ela falou, afastando-se gentilmente de Marga -- Ouvi alguém me chamar.
Marga desceu da bancada ajeitando a roupa e os cabelos.
-- Deve ser o pessoal retornando do almoço.
-- Estranho! -- o silêncio voltou, mas era uma quietude estranha. O ar estava pesado e a temperatura parecia ter caído uns cinco graus -- Está com frio?
-- Muito pelo contrário, estou pegando fogo -- Marga ainda tentava recuperar a respiração recostada na bancada.
Nicolle deu um beijo rápido na moça e falou:
-- Acho que é hora de voltarmos ao trabalho -- esfregou as mãos uma na outra, como se sentisse frio.
-- Sim -- ela forçou um sorriso tentando esconder o desapontamento.
Nicolle abriu a porta e olhou para todos os lados. Ninguém por perto.
-- Vamos, caminho livre -- antes de sair, Nicolle olhou para trás ainda desconfiada. Não estava louca, ouviu sim, alguém chamando por ela.
Deise entrou no quarto com um potinho cheio de pimentas vermelhas.
-- Aqui está a sua salvação -- disse ela, levantando a vasilha como se fosse um troféu.
Francine olhou fixamente para o pote e fez uma careta.
-- Pimentas? Você só pode estar brincando -- ela sentou na cama, desanimada.
-- Não estou -- Deise colocou o pote sobre a cômoda e tirou uma compressa do bolso -- Agora, deite-se na cama e cubra-se com o cobertor. Eu já volto.
Enquanto Francine ajeitava-se na cama e cobria-se com um cobertor de pena de ganso, Deise foi até a cozinha mergulhou a compressa em uma panela com água quente e voltou depois de alguns minutos.
-- Pronto. Agora coloque essa compressa quente na testa e pressione-a por alguns minutos até a pele ficar quente ao toque.
-- Ai meu Deus, será que isso vai funcionar? -- Francine estava angustiada.
-- Já disse que funcionou comigo. Lembra aquele dia que eu não havia estudado para a prova de Biologia? Pois é, vocês caíram direitinho na minha encenação.
-- Sua malandra! E eu pensando que você estava doente. Quase me matou de preocupação.
Deise pegou uma pimenta do pote e levou até a irmã.
-- Agora, a cereja do bolo, ou melhor, a pimenta do bolo. Coma.
-- Nem pensar! -- Francine empurrou a mão da irmã para longe -- Isso vai me queimar por dentro.
-- Você precisa comer. A pimenta aumenta naturalmente a temperatura do corpo e também faz o nariz escorrer! Quando a Laura vier verificar a temperatura da sua testa, ela vai estar quente, dando a impressão de que você está com febre -- Vamos Fran, larga de ser tansa. Desse jeito você não vai conseguir enganar eles.
Fazendo milhares de caretas, Francine começou a comer a pimenta.
-- Jesus Amado! Estou pegando fogo -- ela comia e abanava a mão -- Vou morrer! Água, água... Aiiiiii... O que é isso?
Deise esborrifou um pouco de água morna diretamente no rosto dela.
-- Você não pediu água? -- ela aproveitou e espalhou alguns lenços na cama e no quarto para ficar mais convincente.
-- Pedi água, mas não desse jeito. Olha só como estou...
-- Está suada, vermelha e quente. Sintomas comuns de um resfriado. Para ser mais convincente também fungue, espirre, tussa. Agora só falta mais um detalhe.
Deise correu até o banheiro, abriu o chuveiro e colocou o termômetro sob a água quente. Para convencer Laura teria que mostrar o termômetro. A irmã mais velha era do tipo: ver para crer.
Desligou o chuveiro, chacoalhou o termômetro pela ponta e sorriu ao conferir que a temperatura estava em 39C°.
-- Uhuuuu!!!... Maravilha! Febre altíssima -- Deise voltou para o quarto segurando o termômetro com cuidado -- Fran, vamos verificar a sua febre.
Francine descobriu a cabeça. Estava vermelha e molhada.
-- Acho que não será preciso fingir. Estou me sentindo um caco.
-- Pare de reclamar e levante o braço -- Deise ajeitou o termômetro e olhou séria para a irmã -- Não me agradeça. Tudo o que estou fazendo é porque a amo muito. Nunca esqueça disso. Pode ser que demore um pouco, mas você será feliz -- ela sorriu, parecendo surpresa com suas próprias palavras -- E por incrível que pareça, ao lado de quem você mais ama. Adeus, mana.
Deise beijou demoradamente a face da irmã. Francine emocionada, deixou cair uma lágrima.
-- Mas...
-- Lauraaa... -- Deise berrou a plenos pulmões -- Corre aqui.
Nicolle parou diante da enorme porta de correr e a abriu, esperou a nova funcionária entrar e a fechou novamente.
-- Este é o laboratório onde você vai trabalhar, Sara. Aqui há bastante espaço, estoques, e os mais modernos equipamentos do mundo.
Sara deu uma olhada ao redor e viu quatro bancadas de trabalho. Em uma antessala, mais bancadas e muitos equipamentos.
-- Por que tantas bancadas?
-- Porque esse setor está dividido em laboratório de desenvolvimento de produtos e laboratório de estabilidade.
-- Será que terei tempo de aprender a lidar com tudo aquilo?
Nicolle sentou-se em uma banqueta e cruzou os braços diante do peito.
-- Por que está dizendo isso, Sara?
A moça deu um meio sorriso.
-- Eu conheço os rumores que correm a respeito da senhora Dominique Chevalier, uma mulher misteriosa e fria, que demite todas as mulheres que se aproximam de sua esposa. Me disseram até que ela tem espiões aqui dentro.
Nicolle deu um sorriso contrariado para si mesma, esticou as pernas e suspirou.
-- Dominique não é misteriosa e nem fria -- disse, sem mostrar ter ficado incomodada com o comentário da moça -- Não se preocupe com ela. Preocupe-se apenas em fazer o seu serviço com competência. O resto deixe comigo.
-- Se a chefe está dizendo, então, vou confiar -- disse com uma súbita seriedade.
Nicolle apenas balançou a cabeça, mudando logo de assunto. Em apenas três meses, Dominique já havia mandado demitir duas secretárias. Então, dessa vez não cometeria o mesmo erro, manteria uma relação estritamente profissional com Sara.
-- Além de todos esses equipamentos o laboratório conta ainda com um reator para produções de lotes-piloto, com capacidade de 30L, com raspadores, agitação turbo e camisa para aquecimento/resfriamento, que permite a produção de diversos tipos de produtos cosméticos.
Sara mal teve tempo de olhar, pois Nicolle foi logo indicando uma outra porta.
-- Essa é a porta da minha Nicaverna. Nunca entre sem pedir permissão -- ela abriu a porta para lhe mostrar pilhas de papeis sobre uma mesa e uma bancada repleta de tubos de ensaio -- Quando precisar entrar, use esse interfone fixado ao lado da porta. Dessa sala só eu tenho a chave.
-- Segredos?
-- O setor de aromas e fragrâncias representa um mercado global multibilionário. Isso justifica o segredo industrial -- Nicolle fechou a porta e guardou a chave no bolso -- "Os homens primitivos costumavam queimar plantas aromáticas para oferecer seu perfume aos deuses. Mais tarde, os egípcios descobriram que plantas maceradas em óleo poderiam transformar-se em unguentos perfumados. O perfume dos tempos modernos tem muito pouco de natural. São produzidos principalmente à base de ingredientes sintéticos (reproduzem os cheiros naturais) e aromáticos (criados em laboratório e inexistentes no ambiente). Dependendo do gosto de seu criador, uma fragrância pode reunir até 300 matérias-primas". Eu não quero isso para a minha criação -- os olhos azuis de Nicolle brilharam intensamente -- Eu quero compor algo diferente. Uma poção mágica. Uma fragrância marcante como uma música ou uma tela.
-- Você já começou a criar esse perfume?
Nicolle encostou-se à porta fechada e inspirou profundamente.
-- Passo os dias à frente de uma balança a medir absolutos e essências e a estudar as moléculas que compunham as fórmulas. Na tentativa de compor a minha obra prima, já criei diversos perfumes de sucesso, mas, estou longe do meu objetivo.
-- O impulsionador da inspiração é o amor.
Nicolle abaixou a cabeça para esconder a fisionomia triste.
-- No meu caso é o ódio.
Vestindo um paletó surrado e uma gravata de mal gosto, Leôncio se encontrava parado ao lado da cama de Francine. De cara fechada, ele observava a filha tossir e fungar.
-- Tem certeza que ela não está em condições de ir ao jantar? -- indagou ele em tom condenatório.
-- Não sou médica, mas uma pessoa com 39° de febre não tem a mínima condição de sair da cama para ir a uma festa -- com o canto do olho, Deise observava a reação do pai.
Leôncio olhou para Laura esperando por sua opinião. A irmã mais velha balançou a cabeça concordando com as palavras da mais nova.
-- Já que não tem jeito, vamos apenas nós três. É uma pena -- Leôncio se virou para o espelho e ajeitou a gravata ridícula -- Deoclésio, o filho mais novo de Geraldo está muito interessado em você, Francine. Ele é um partidão, tem um belo sitio e umas vinte cabeças de gado.
Então, era esse o verdadeiro motivo do jantar! Francine fechou os olhos e agradeceu a Deus por ter dado a ela a oportunidade de fugir a tempo daquele lugar.
-- Não vai faltar oportunidade -- ela disse, em meio a mais um ataque de tosse.
Deise olhou para o relógio de pulso e bateu palminhas.
-- Vamos pai, já estamos atrasados.
Leôncio concordou e saiu do quarto acompanhado de Laura. Deise encarou Francine. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto até cair no chão.
Foi uma triste despedida. Silenciosa, sem abraços, beijos. Somente um olhar melancólico.
Fim do capítulo
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