Juh

Estava andando de bicicleta pelo parque distraída quando senti o pneu estourar, encostei descendo dela sussurrando:

– Droga, era só o que me faltava!

– Hei Juh!?

Olhei em volta e vi Diego vindo em minha direção sorrindo, estava correndo e todo suado, me deu um beijo estralado no rosto, sorri perguntando:

– Oi, como você está?

– Bem e você?

– Eu até que estava bem, mas a minha bike resolveu me deixar na mão. – olhou sorrindo logo tirando onda:

– Eu te disse que precisava comprar outra bicicleta.

– Foi só um pneu estourado, devo ter passado em alguma coisa pontiaguda, nada demais. – olhei desanimada para ela e perguntei: – Mas diz aí, quais as novidades?

– Nenhuma que eu saiba, aliás, você se lembra da Vanessa?

– Vanessa?

– Sim, aquela Advogada dos olhos azuis que conhecemos no outro dia?

– Ah sim, o que tem ela?

– Então, esse final de semana nos encontramos em uma social na casa de um amigo em comum, conversamos e acabei convidando-a para sair.

– Sério? – ele confirmava sorridente, bati de leve em suas costas dizendo: – Cara de sorte... Ela é um mulherão...

– Mas respeito minha amiga, porque ela poder ser minha futura esposa!

– Até parece. – olhei de lado para ele que gargalhou.

Balancei a cabeça sorrindo, estava todo empolgado falando na tal da Vanessa e me acompanhou até em casa, primeiro passei em uma bicicletaria para deixar a minha fiel escudeira para uma geral, de fato ela precisava de alguns reparos mesmo. Paguei adiantado prometendo passar na segunda depois do almoço para pegá-la.

Não me apresentei, meu nome é Júlia, tenho vinte e nove anos e atualmente sou Capitã do Corpo de Bombeiro Municipal, juntamente com o meu colega aqui, trabalhávamos a quase sete anos juntos, irmãos de mães diferentes como costumávamos dizer.

Fomos caminhando e conversando, quando chegamos a duas quadras de casa resolvemos fazer uma aposta, ele para se mostrar apostou dinheiro. Brinquei dizendo que ia se dar mal, mas gargalhou se posicionando. Saímos em disparada pela avenida. Mas não foi tão rápido como previa e me alcançou dois minutos depois na varanda de minha casa, onde sorri dizendo:

– Está fora de forma meu amigo, ficou longe do serviço por três semanas e já está assim?

– Deixei você ganhar, sabe disso! Sou um cavalheiro.  – sorri esticando a mão e ele sorriu me dando o dinheiro, deitou no chão recuperando o fôlego, minutos depois abri a porta dizendo:

– Entra aí meu cavaleiro de armadura reluzente, te pago uma cerveja.

– Você é a melhor!

– Eu sei! – sorri entrando em casa chamando: – Mãe?

– Na cozinha amor, – encontrei com ela dando-lhe um beijo na testa dizendo: – Temos visita!

– Quem é? – olhou curiosa, sorri dizendo:

– Meu namorado! – abri a geladeira pegando duas cervejas, ela estava no balcão cortando cebola e nos olhou dizendo irônica:

– Até parece, ele não faz seu tipo minha filha!

– Não faço mesmo dona Helena, para começar não uso saias! – deu um beijo nela perguntando: – Tudo bem com a senhora?

– Está sim meu filho, vocês parecem cansados por que não tomam água antes da cerveja?

Peguei a água nos servindo e depois as latinhas jogando uma para ele e seguimos para a varanda onde me joguei no balanço que tinha lá e ele na escada perguntando:

– Falando em namorado, quando é mesmo que vamos conhecer a sua?

– Você me conhece meu amigo, sabe que estou focada no trabalho ultimamente. – me olhou de canto de olhos e caiu na risada, joguei uma almofada nele que foi dizendo ainda rindo:

– Azar no amor minha amiga?

– Totalmente, não levo jeito para namorar não.

– Não fala besteira que eu sei que seu último namoro durou três anos.

– Sim, e isso foi no colegial. – tomei um gole da minha cerveja e sorri completando: – Muito tempo meu amigo, acho que vou virar Freira.

– O fato de você não estar namorando não quer dizer que seja uma “Santa” minha amiga, sei que a safadeza mora em você.

– Por que está dizendo isso? – arqueei a sobrancelha curiosa, ele entornou o resto da cerveja dizendo:

– Eu sei que você tem uma queda por uma certa Socorrista que as vezes vai visitar o nosso Tenente-Coronel, que aliás, por coincidência é filha dele.

Fiz careta pensando na Layla, lembrando da primeira vez que nos vimos. Uns três meses atrás, tinha acabado de chegar de um chamado e estava toda suja quando saímos do caminhão, o Tenente-Coronel se dirigiu a mim querendo saber tudo o que havia acontecido, expliquei a ele dizendo que o Relatório estaria sobre sua mesa antes do final da tarde. Da minha equipe eu era a Capitã, Diego vinha abaixo como Primeiro-Tenente. Uma turma de doze membros mesclados entre homens e mulheres.

Deixando isso de lado um pouco, nosso Tenente-Coronel se aproximou da moça que até então não sabia que era sua filha, dando um beijo em seu rosto conversando ali perto, foi impossível não ouvir a conversa e ouvir também ela o chamar de pai. Viajei com sua voz doce e suave, me recompus antes que alguém percebesse, devo confessar que ela foi a primeira mulher em anos que atraiu a minha atenção daquela forma. Na ocasião, fiquei sem jeito quando nossos olhares se cruzaram, peguei meu equipamento seguindo para a minha sala.

Em um determinado momento quando passei por eles seguindo para o meu destino, nossos olhos se cruzaram novamente e ela sorriu, me atrapalhei toda, e ela acabou abrindo um sorrindo ainda maior. A curva dos lábios dela eram perfeitos e o olhar mais profundo que eu já tinha visto. Acreditem ou não, desde então ela não me saía da cabeça. Claro que não disse nada a ela, e nem a ninguém, não tive coragem de chegar na garota e falar sobre meus sentimentos. Por dois grandes motivos...

Primeiro... Ela é filha do meu Tenente-Coronel, apesar disso não ser uma desculpa eu o respeitava muito e jamais faria algo que o desagradasse. E segundo... Não queria me aproximar da moça e me encantar ainda mais por ela e descobrir que não temos nada em comum. Senti uma almofada pegar no meu rosto e voltei a realidade com meu amigo dizendo:

– Vou embora viu, preciso urgentemente de um banho e você está aí pensando na “sua morena”.

– Não estou não! – disfarcei me ajeitando no balanço e ele sorriu dizendo:

– Eu entendo você Juh, metade dos nossos companheiros babam a moça quando ela vai visitar o “papai”.

– O que? – agora olhei para ele de verdade, que vendo o meu interesse disse:

– Sabe o jeito que você fica olhando para ela quando aparece lá? – fiquei sem jeito e ele gargalhou seguindo: – Então, os caras também ficam, e arrisco dizer que algumas das garotas também.

Se aproximou me dando um beijo e saiu dizendo que nos encontraríamos mais tarde, tinha uma festa naquela noite o qual seríamos homenageados, concordei e ao vê-lo se afastar fiquei pensando no que havia dito, ficaria de olhos mais aberto. Levantei indo tomar um banho e deitar para descansar um pouco, tinha que aproveitar que estava de folga até segunda-feira.

Sim, eu morava com minha mãe. No começo foi uma condição temporária, mas a minha irmã casou na mesma época e um ano depois perdemos nosso pai, não quis abandonar a minha mãe e meu irmão mais novo, Jonas de treze anos, adolescentes vocês sabem, precisam de pulso firme. Não que nossa mãe não fosse, mas nesse momento ela precisava se distrair um pouco e eu e o garoto nos dávamos super bem. Resumindo, estava completando quatro anos que morava com eles.

Mas, tenho um apto no centro o qual estava em manutenção, pelo menos era essa a desculpa que eu sempre usava para não voltar. Eu mesma estava fazendo alguns dos reparos e ele precisava mesmo de uma pintura geral, tinha combinado com alguns amigos inclusive, de nas minhas férias fazermos um mutirão. Agora era esperar as férias do próximo ano, porque nesse, eu adiei novamente.

Adormeci por quase três horas, quando acordei tomei banho e me arrumei. Precisava ir a caráter naquela festa, por isso, minha mãe havia separado a minha farda. Me arrumei e saímos de casa por volta das seis. A festa estava acontecendo em um salão próximo a prefeitura, todos estavam lá, inclusive as autoridades da cidade e nossos superiores. Minha mãe e Jonas me acompanharam e mais tarde Anny, minha irmã mais velha e o marido Júlio apareceram para me prestigiarem também.

Fim do capítulo