(Des)encontros - Capítulo 7
Annie estava sentada um pouco distante das salas de aula, gostava de ficar naquele ponto silencioso da associação, faltavam poucos dias para a sua apresentação e não estava totalmente focada na apresentação inevitavelmente seus pensamentos iam até Melissa.
- Posso saber por que a professora estava tão quieta? – foi tirada dos seus pensamentos por um dos seus alunos – me disseram que você estaria aqui.
- Oi João – sorriu – eu estou bem.
- Posso sentar aqui ao seu lado?
- Claro, como está?
- Eu estou ótimo, mas não tenho a mesma impressão sobre você.
- Está tudo bem João.
- Annie querida, sabemos quando uma pessoa não está bem, não precisamos enxergar para perceber.
- Ficarei bem.
- Então há algo – sorriu.
- Você me pegou, hein!
-Apenas disse a verdade, você estava muito estranha na aula sem aquela alegria tão conhecida.
- Não é normal ficar sempre feliz, as vezes acontece da tristeza fazer-nos uma visita.
- Mas cabe a nós deixarmos que ela permaneça ou não. Na minha vida aprendi muitas coisas Annie, entre elas, não deixar que a tristeza leve duas noites de sono embora e o meu sorriso no terceiro dia. Tudo passa, não é isso que falam?
- Estou esperando que tudo passe....
- Sabe o que eu acho?
- O que? – perguntou sorrindo.
- Que essa sua tristeza tem nome, sobrenome, endereço, uma boa conversa...
- E uma risada gostosa!
- Eu sabia que tinha amor nesse meio.
- Não sei bem se é amor.
- Talvez sim, talvez não, mas foi o suficiente para te deixar triste.
- Eu me acostumei tanto com essa pessoa.... me deixava tão feliz...tão leve e confiante.... mas simplesmente sumiu foi embora como uma areia que se desfaz entre os dedos.
- Vocês estavam namorando?
- Não....foi um beijo... um único beijo o suficiente para fazer a pessoa desaparecer...
- Quer minha opinião sincera?
- Claro.
- Se essa pessoa sumiu por causa de um beijo é porque está muito mais envolvida do que imagina.... se um único beijo foi o suficiente para fugir é porque existe algum tipo de sentimento.
- Não creio... a pessoa disse que não significou nada... que foi um erro... e era para ser esquecido...
- E você acreditou nisso? Acreditou de verdade?
- E não era para acreditar?
- Minha querida – disse com carinho – Ninguém sai por aí falando que o beijo teve algum significado ou que é para ser lembrado – sorriu – Se fosse tão sem importância assim a pessoa não teria sumido, vocês continuariam com a amizade mesmo que nos primeiros dias ficasse aquele clima um pouco estranho, mas depois passaria e vocês nem iriam se lembrar mais do tal beijo.... Mas veja como foi diferente Annie, a pessoa não apenas afastou de você como fez questão de falar que não representou nada, minha querida, ninguém fala isso sem realmente importar-se. Tenha certeza que está tão difícil para a pessoa quanto para você.
- Não sei se acredito nisso João... acho tão improvável.
- Improvável o que? Alguém interessar-se por você de verdade? Ora ora menina, cadê a sua auto-estima? Você é apaixonante Annie! Só um louco não apaixonaria por você.
- ...
- Eiii nem faça essa cara que eu sei que está fazendo – gargalhou – Não tenho mais idade para isso – sorriu – E mesmo que tivesse de nada adiantaria, pois esse coraçãozinho aí já foi fisgado. Eu apenas quis dizer que essa sua pessoa pode sim está apaixonada por você, mas o que ela irá fazer disso eu já não sei, mas uma coisa é certa, seria muito burro se deixar uma pessoa tão maravilhosa quanto você escapar.
- As coisas são tão complicadas....
- Nem venha com essa desculpa Annie, não há nada complicado, somos nós quem complicamos a vida demais. Se essa criatura sumiu quem perdeu não foi você! Levante essa cabeça, coloque um sorriso lindo nos lábios, um brilho nos olhos e bola pra frente! Nada de ficar choramingando pelos cantos, estamos entendidos?
- Sim – sorriu – Você é ótimo!
- Sou apenas uma pessoa que sabe um pouco mais da vida do que você e não acha justo você se entregar dessa forma.
-Muito obrigada João, muito obrigada – disse abraçando o senhor de 65 anos.
- Você poderia ser minha neta Annie, e eu não iria permitir que uma neta minha sofresse por alguém que não merece.
Annie sorriu agradecida pelo carinho que estava recebendo e viu como era bom a opinião de uma pessoa mais vivida. Sabia que boa parte do que ele havia dito foi para animá-la, mas foi necessário ouvir e refletir.
- João, você sempre foi cego?
- Não, não... aconteceu um acidente no laboratório em que eu trabalhava e acabei perdendo a visão, mas antes disso eu enxergava perfeitamente bem – sorriu um pouco nostálgico.
- O que você mais sente saudades de ver?
- Tantas coisas Annie.... quando enxergamos não damos valor as coisas ao nosso redor, mas quando perdemos essa capacidade tão maravilhosa passamos a perceber o quanto fomos desatentos, insensíveis. Não paramos para contemplar nada.... aí um belo dia sem aviso tudo é escuridão e apenas na nossa lembrança podemos ver o que por tantos anos esteve a nossa total disposição... e respondendo a sua pergunta.... sinto saudades de olhar para o mar... contemplar aquele mundo enorme de águas, peixes, algas.... de ver o horizonte ao longe quase tocando aquelas águas azuis... é muito lindo Annie...daria minha vida inteira por apenas 10 segundos de contemplação. Mas infelizmente esse meu pedido não será atendido – disse levantado – E agora preciso ir para a próxima aula – sorriu – Está na hora de enxergar com os dedos, não é mesmo?
- É sim – sorriu – Boa aula e mais uma vez muito obrigada.
- E vou querer saber dos próximos capítulos dessa novela – sorriu – Até mais menina.
- Até mais João e eu espero que tenha outros capítulos.... quero muito.
Melissa estava na delegacia quando viu Jaqueline entrar em sua sala, estava com um sorriso maroto nos lábios.
- Bom dia General – sorriu – Como está?
- Eu bem... e o que você está fazendo aqui?
- Não gostou da visita? – perguntou sorrindo.
- Não, não, só estranhei você por aqui.
- Estou de férias querida – sentou-se na cadeira em frente a Melissa – E dei uma passada por aqui. Aquela delegacia estava me deixando maluca – sorriu – precisava tomar uns ares...
- Sei quais os ares que você quer tomar Jaque...
- Sou solteira, livre e desimpedida. Falando nisso, quando eu estava entrando tinha um rapaz lhe procurando para entregar um envelope, como eu estava vindo peguei – entregou a Melissa.
- Hum, obrigada - disse colocando na gaveta.
- E não vai abrir?
- Não deve ser nada importante Jaque, em casa eu vejo.
- Se vai ver em casa pode ver aqui – sorriu.
- Que pessoa curiosa!
- Ande logo com isso Mel!
- Está bem, está bem calma!
Melissa abriu o envelope e o coração disparou quando viu que era a entrada para a apresentação que Annie havia falado.
- Não é nada demais está vendo... só a entrada para uma apresentação que vai ter no Teatro.
- Hummm interessante.... e você deu para receber assim convites na delegacia? – perguntou desconfiada.
- Acontece – não queria demonstrar emoção.
- E quem mandou?
- Deve ser esses eventos que somos convidados, nada em especial.
- Mel... esqueceu que eu sou detetive? Analiso os fatos! Primeiro sinal que você está mentindo: Está fugindo do contato visual. Segundo: Ficou repentinamente calada e séria. Terceiro: Sua respiração ficou acelerada assim como suas mãos estão trêmulas, mesmo você querendo disfarçar. Ou seja, você está querendo tirar a minha atenção e esconder alguma coisa.
- Você é terrível!!!
- Vamos, diga logo do que se trata.
- É a apresentação daquela moça....
- Que moça?
- Você sabe Jaque...
- Ah aquela moça que você deixou sozinha na sala depois de um beijo arrebatador? Não, não lembro!
- Aff, Jaque! É uma apresentação da Annie...será essa semana.
- E você já escolheu a roupa que irá usar? Eu te ajudo!
- Jaque – disse respirando fundo – Eu não vou a essa apresentação.
- Como assim você não vai?
- Não vou, simples assim!
- Melissa, você conversou com essa menina? Deu alguma explicação? Procurou por ela?
- Não. Ela pensa que eu não estou na cidade.
- Mas você está e você vai sim a essa apresentação.
- Jaqueline...
- Apesar de tudo o que você fez ela ainda quer você na vida dela. O que custa você ir?
- Eu não quero aproximação.
- Um beijo sem importância e sem sentido foi capaz de acabar uma amizade? Sinceramente Melissa, se eu fosse ser inimiga de todos os amigos que beijei estava isolada. Pare com isso, se não teve importância não há motivos para fugir dessa forma. E nem faça essa cara de vítima, pois você é uma sacana isso sim! A garota toda gentil e você com essa idiotice.
- Eu não vou.
- Ah vai, mas vai, nem que seja amarrada e eu te puxando!
- Jaque...
- Ou você vai por livre e espontânea vontade ou irá comigo a tiracolo e ainda terá que ir falar com ela. Você escolhe.
- O que você veio fazer aqui justo agora? – disse irritada.
- Escolha – a encarou.
- Ok! Eu vou – revirou os olhos – Mas apenas irei assistir e mando entregar um cartão a ela, bom assim?
- Não!
- Como não?
- Você bateu a cabeça ou que? Esqueceu que é moça é cega? Como você vai mandar um cartão? A não ser que seja em braile ou uma gravação de voz – sorriu vitoriosa.
- Você é terrível! Está bem, está bem...eu vou e darei um jeito dela saber que estive lá... só não irei falar pessoalmente.
- É um progresso – sorriu – Bom, eu passarei em sua casa e te deixo lá.
- Como é que é?
- Te dou uma carona ou você achou que eu acreditei em uma única palavra que você disse? Já sei o dia e horário então passarei 30min antes, certo?
- E tem como eu falar que não?
- Bom assim! E tire essa cara de quem comeu e não gostou, até porque você não comeu ainda.... e olha, acho que quando comer você vai soltar fogos de felicidade – gargalhou.
- Jaqueline vai embora ou vou te deixar um dia presa.
- Já estou indo – sorriu mais ainda – Eu te amo, sabia?
- Quando sair feche a porta, por favor.
Não tinha outro jeito, teria que ir a apresentação de qualquer forma, deu um discreto sorriso seria bom ver Annie outra vez e até já sabia o que iria levar para ela.
Fim do capítulo
Olá queridas,
Postando um capítulo extra para vocês ^ ^
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Mille
Em: 22/02/2019
Jaque deu um sacode na Mel.
João foi um otimo conselheiro, uma opinião de fora que a Anne tem apreço. Quem precisaria ter essa uma conversa com o João é a Melissa.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille,
Jaque sempre trazendo Melissa para a realidade, ela precisa desse movimento para poder sair dessa situação. O João é um fofo e muito assertivo também, realmente, a Mel está precisando ter uma conversa com ele rsrs.
Obrigda pela leitura ^ ^
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annagh
Em: 22/02/2019
Olá minha doce Autora!!!
Obrigada pelo capítulo extra!!!
Linda a conversa de Annie com João. João falando sobre vê o mar lembrei da minha mãe...ela é também deficiente visual...lembrei Da última viagem que fizemos (ela enxergava ainda um pouquinho ) que passamos um bom tempo em frente o mar...ela disse "será que vou ter a oportunidade de ainda vê toda essa perfeição aqui" e eu disse "vai sim mãe ". Isso me emocionou bastante...tenho fé que ela voltará a enxergar.
Bom...Sou fã da Jaque...muito mesmo. To doida pra vê ela dando uns pegas na irmã da Annie...kkkkkkkk...ela sempre convence a Mel né?
Vou finalizar ansiosa por esse reencontro.
Beijo de luz!!!
P. S. Quais são mesmo os dias de postagem? Ou não tem dia certo?
Resposta do autor:
Olá querida, muito obrigada!
Que emocionante o relato da sua mãe, me tocou profundamente, desejo que ela.esteja bem.
A Jaque é uma figura, super alto astral, sou fã :) :) :) Fico feliz por estar gostando da história!
O dia de postagem e terça-feira, mas o extra é surpresa :D
Forte abraço!
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