Música do Capítulo: Vagalumes Cegos - Cícero
Capítulo 24 - ALICE!
Maria Luiza
De manhã como era de se esperar, acordei com o corpo cobrindo Alice. Saí devagar para adiantar as coisas sem acordá-lá. Tomei banho e me arrumei rapidamente. Desci preparei um café da manhã pra nós e voltei com uma bandeja para o quarto. A preguiçosa nem tinha se mexido acreditam? Agora eu teria que acordá-la não tinha jeito. Tive uma ideia, acho que isso vai abrandar seu mau humor matinal. Peguei meu violão e comecei a música cantando baixinho.
"Nem sei
Dessa gente toda
Dessa pressa tanta
Desses dias cheios
Meios-dias gastos
Elefantes brancos
Vagalumes cegos
Meio emperrados
Entre o meio e o fim
Meio assim
Nem sei
Dessa pressa toda
Dessa gente tanta
Meios-dias feios
Desses dias chatos
Vagalumes brancos
Elefantes cegos
E o céu engarrafado
Fica por aqui
Vem cuidar de mim
Vamos ver um filme, ter dois filhos
Ir ao parque
Discutir Caetano
Planejar bobagens
E morrer de rir
Fica bem aí
Que essa luz comprida
Ficou tão bonita
Em você daqui
Fica bem aí
Que essa luz comprida
Ficou tão bonita
Em você daqui
Ninguém vai dizer
Que foi por amor
Todos vão chamar de derrota
Vamos esconder nosso cobertor
E vamos viver sem escolta"
Alice ficou quietinha até o fim da música, estava sorrindo então sabia que havia acordado. Quando acabei ela fez algo completamente inesperado pra mim. Ainda de olhos fechados abriu os braços me esperando. Coloquei o violão ao lado da poltrona e fui ver se eu cabia em seu abraço pequenininho. Suas mãos se perderam em meus cabelos e eu senti seu cheiro bom. Ontem quando a ouvi conversar com minha mãe tive um mau pressentimento. Porém a visão de Alice só de lingerie transparente me desconcentrou. Esse sentimento voltou. Como quase sempre ela conseguiu ler minha expressão.
-- Ei, amor. Aconteceu alguma coisa? -- As esmeraldas me encaravam preocupadas esperando resposta.
-- Não, preta. Só estamos com o horário apertado. Pra chegar lá no horário do almoço temos que correr. Mas antes o café. -- Para evitar seus olhos e o assunto, peguei a bandeja e comecei a servir o que ela quis comer. Quase não comi. Isso não passou despercebido, mas Alice nada disse.
Pegamos a estrada e a ida transcorreu sem problemas. Chegamos e o avô de Alice estava nos esperando na varanda. Nos saudou, mas acho que quando Alice disse que levaria alguém ele imaginou outra pessoa. Ainda assim foi bem simpático. Entramos e depois de lavar as mãos fomos logo almoçar. Alice olhou em volta procurando alguém.
-- Sua avó está num spa. Foi passar o fim de semana. Só chega no início da noite. -- Ele sanou suas dúvidas
Os dois conversaram amenidades e o almoço transcorreu normalmente. Acabada a refeição fomos ao escritório. Já que estava a par de tudo, seu Francisco permitiu que eu os acompanhasse. Entramos e ele fechou a porta.
-- Sentem-se. -- Ele disse rodeando a mesa e sentando de frente pra nós. -- Bom, vamos aos negócios. Alice por que me mandou os papéis? Qual sua intenção? -- Ele perguntou sério e quando olhei para minha namorada não vi nada além de determinação.
--- Quero saber se há algo ali que possa trancafiá-lo numa cadeia bem longe daqui. -- A voz de Alice brilhou de tão clara. Não houve hesitação. -- Eu não tenho como puni-lo pelo que me fez, o que fez a minha mãe, mas por algo ele tem que pagar. -- Implacável.
-- E o que ele fez? -- Ele perguntou, mas algo deixou transparecer que já sabia a resposta.
-- Ele é um assassino. E algo dentro de você já havia te dito isso. -- Ela nem respirava. A ferocidade de Alice me assustava. -- Ele acha que matou minha mãe. Mas quem estava comigo naquele dia era minha tia Lívia.
-- Ora, então Lúcia está viva? Você a reencontrou? -- O avô perguntou e Al confirmou.
-- Lúcia morreu naquele dia. Agora ela é Lívia, assumiu a identidade da irmã. Por isso a irmã da minha mãe nunca me procurou, vovô. Medo do seu filho. – Notei que Alice estava perdendo o controle. Essa raiva a faria muito mal. Pus a mão em seu ombro e avisei que pegaria água para ela.
Quando voltei para o escritório com o copo d’água eles falavam sobre os documentos que Alice enviou para o avô. Entreguei o copo a ela. Parecia mais controlada, mas eu sabia que era só a superfície.
-- Obrigada, Luiza. – Ela respondeu com um meio sorriso mais falso que nota de 3 reais. – Então ele está envolvido com prostituição também? – Ela continuou a conversa.
-- Sim, está desviando dinheiro do hotel para uma conta no exterior. Os papéis mostravam isso. Sendo assim, coloquei um detetive na cola dele. Quero descobrir o maior número de coisas sobre ele. Em uma semana descobri o esquema no hotel. Ele tem uma rede de prostitutas de luxo que atendem aos hóspedes do hotel. Ainda preciso de mais provas. Eu não posso passar a mão na cabeça dele mais. – Passou a mão pela barba branca. – Sua vó vai me matar. E você? Tem certeza disso? Ele é seu pai...
-- Isso é o que eu acho mais inteligente. Pois se fosse fazer o que eu quero eu que iria para cadeia. – E assim eu descobri que Alice era cruel também. Pierre despertou algo de maligno nela. Se ele vacilasse ela pisaria em seu pescoço.
-- Shiii, não fala besteiras, Alice! Não se transforme naquilo que mais abomina. – O velho disse bem sério. Depois mudou de assunto. – Sobre a galeria já está tudo certo, sócia. – Sorriu levemente. A expressão de Alice não se abrandou. Continuava grave.
-- Bom, vovõ, temos que ir. Amanhã tenho que trabalhar. Vai me dando notícia sobre Pierre. Eu vou intensificar meus esforços para pegá--lo. – Ela falou do pai como uma caçadora fala da presa. Levantou e foi abracá-lo. – Vai me visitar, vovô. O senhor tem que ir ver a galeria.
-- Boa volta e dirijam com cuidado. Vou sim, Licinha. – Me abraçou também e nos acompanhou até a porta. – Não esquece, Alice. Você é melhor que ele!
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Voltamos no carro conversando sobre isso. Na verdade, eu voltei conjecturando e Alice olhando pela janela. Ainda séria. Combinei de deixa-la em casa e nos encontrarmos amanhã na faculdade. Nos beijamos longamente antes que saísse do carro. Ela desceu e acenou antes de atravessar a rua. Quando chegou na calçada eu vi que tinha esquecido sua bolsa de roupas que foi lá pra casa. Desci do carro para entrega-la no mesmo instante que um carro parou e Alice foi jogada para dentro dele.
Voltei rapidamente para dentro do carro e acelerei atrás dele. De tudo que passava na minha cabeça eu só lembrava de Pierre. Ele descobriu de alguma forma. Dentro do meu desespero, lembrei de ligar para polícia. Ouvi uma voz de mulher. Disse o nome da rua e passei a placa do carro. Meu coração ia pular pela boca. Eu iria até o inferno para buscar Alice. E depois eu mesma mataria Pierre. Ele não a tiraria de mim! Não assim e não agora. Quando chegamos a orla da praia eles desaceleraram um pouco e eu encostei neles. Buzinando e gritando pela janela para alguém parar a porr* do carro. Ninguém entendia, ninguém faria nada. Quando eu estava perdendo a razão a porta do carro abre. Sem que estacionar eles fazem o inimaginável. Vejo o corpo inerte da mulher da minha vida ser arremessado do banco de trás. Sua cabeça bateu no meio-fio. Pisei no freio com toda a minha força, as lágrimas estavam atrapalhando minha visão eu não queria que ninguém se aproximasse dela agora. Saí do carro gritando e esse grito inundado de dor, acredito que pôde ser ouvido do Japão.
-- ALICE!
Fim do capítulo
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