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  • Capítulo 15 - ÚLTIMO CAPÍTULO

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Ah... Se todas fossem Sandra! por Diedra Roiz e Jennyfer Hunter

Ver comentários: 6

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Palavras: 9842
Acessos: 3077   |  Postado em: 06/02/2019

Notas iniciais:

O ÚLTIMO CAPÍTULO É DIVIDIDO EM DUAS PARTES, AS DUAS FORAM POSTADAS JUNTAS HOJE, ESPERAMOS QUE VCS GOSTEM!

Capítulo 15 - ÚLTIMO CAPÍTULO

Músicas que embalam a 1ª PARTE DO CAPÍTULO:

Lianne Las Havas:

https://www.youtube.com/watch?v=lyrEsJLQa-c 

Paralamas do Sucesso e Fernanda Abreu:

https://www.youtube.com/watch?v=u2TEYd9RoJI 

Jorja Smith: 

https://www.youtube.com/watch?v=IpNk7tmEmyA 

Jorge Vercilo:

https://www.youtube.com/watch?v=jtoznxewwds 

 

Sunny -  Jennyfer Hunter

Admirava o corpo nu deitado de bruços relaxadamente em minha cama, apenas coberto por um lençol que adornava a pelve dela. Deitada ao seu lado, apoiada no meu braço direito, e com a outra mão livre acariciava e percorria sutilmente suas costas firmes... gravando a textura daquela pele nas minhas digitais. Ela se mexeu... soltou um gemidinho... abriu seus olhos... sorriu e me falou com aquela voz dengosa: 

- Que delicia essa mão... 

- Você gosta dela nas suas costas, é?  

- Eu gosto dela em meu corpo inteiro... você sabe. 

- Eu sei... mas preciso ouvir sempre para não esquecer... 

Demos uns selinhos estalados. Ela virou, ficando de lado para mim... acariciou meu rosto... quando sua mão chegou na altura da minha boca, a beijei.

- Posso te fazer uma pergunta, Sunny? 

De repente, ela ficou séria. 

- Claro que pode, Gabi. Aconteceu alguma coisa?  

- Não, nada... é que a gente não conversou sobre o que aconteceu entre você e a Camila direito ontem. 

- Ué... te falei o que aconteceu. O que mais você quer saber? 

Ela fez uma pausa antes de continuar. 

- Queria só ... eu queria saber se... se o caminho tá livre mesmo... sabe? 

O olhar e a voz dela continha uma fragilidade que achei muito fofo e encantador. 

Gabi não fazia ideia do quanto aparecer na minha vida havia sido importante. 

E mais... me permitir conhecê-la. Camila sempre teria um lugar especial no meu coração, pois foi com ela que tudo começou. Mas a verdade é que eu não nutria amor por ela. Achava que era. Mas não... era apenas uma apaixonite nova de verão que me pegou de jeito. Mas Gabi... ah! Gabi! 

Com certeza ela não era e não seria um lance passageiro. Eu queria estar com ela; eu queria saber mais sobre ela... descobrir seus gostos, seus desejos, suas manias... a cada dia que passava, mais e mais eu me encantava por ela, e desejava que esse sentimento se transformasse a ponto de se tornar amor. Era só uma questão de consistência ao longo do tempo.

Olhando-a enquanto acariciava seu a curvinha do seu ombro, respondi com pura sinceridade: 

- Gabi... eu te contei que ela me ligou e que iríamos conversar, não contei? Você não acha que se eu ainda quisesse algo com ela, eu iria te contar que nos encontraríamos? 

- Imagino que não. 

- Essa semana tem sido tudo tão intenso entre nós. Temos nos curtindo tanto. Eu fico pensando em você o tempo todo. E você nem pode falar que é mentira porque nosso celular não me deixa mentir. 

Ela riu enquanto concordava. Eu continuei. 

- Quando eu aceitei conversar com a Camila, eu não sabia ao certo o que ela queria. Eu até imaginava. Mas eu já sabia o que eu queria. E mesmo que ela tentasse algo, eu estava convicta de que era com você que eu queria ficar, estar e ser ... definitivamente sua, lembra?  

- Definitivamente minha? 

Ela repetiu a fala e me abraçou forte.  Falei quase sem ar...  

- Totalmente. 

Quando me soltou, ela iluminou aquele quarto com um sorriso tão lindo. 

Era impossível não me fascinar a cada vez que me dava um igual aquele. 

Nos beijamos docemente... deixando o desejo comandar nossos corpos, que queriam se explorar mais e mais, até nos levar a mais uma exaustão de repetidos momentos de êxtases.  



Mais uma semana foi passando tranquilamente. Eu fazia os trabalhos em casa, fui até a casa da minha mãe três vezes naquela semana. Voltava à tardinha, pois quando dava por volta de quatro ou cinco horas eu me encontrava com Gabi. Ela estava indo lá para minha casa. Quando ela chegava, eu cozinhava pra ela enquanto conversávamos e bebíamos ou cerveja ou vinho. 

Fazíamos amor... deliciosa e incansavelmente... todos os dias. E a cada amanhecer ficava mais difícil de nos separarmos. Ela saia para ir pra empresa, da qual era socia com o pai, e eu ia fazer outras coisas. 



Na quarta passei na barraca das minhas amigas Ive e Lú. As duas ficaram muito animadas quando contei que eu e a loira estávamos nos curtindo naqueles últimos dias, e que eu me encantava por ela ainda mais. Lú disse que a adorava e que torcia para que tudo desse certo entre nós. Comentei com elas que eu tinha prometido levar Gabi pra dançar na sexta. Iríamos lá no Pub de novo. Elas se animaram na hora. Combinamos um horário, me despedi e no caminho, enquanto voltava pra casa a pé, liguei pro Chocolate. 

- Oie! 

- Meu amor, tá viva? 

- Estou muito viva, meu amigo!!! E você, como está? 

- Ótimo!  Olha... você não me contou, sua amiga desnaturada, mas eu já estou sabendo que você e Gabi estão ficando.  

- Nossa! Como esse povinho é rápido, né? Eu ia te contar, mas estava enrolada e sem tempo pra falar contigo com calma. 

- Sei... enrolada naqueles cabelos longos, que eu sei... 

A conversa flui por uns dez pares de minutos, atualizando-o dos últimos acontecimentos. Por fim, perguntei se ele e Nando não queriam ir ao PUB conosco na sexta? Em resposta me disse: 

- É fato que estaremos lá, ginirinha. Não perco por nada ver esse casal sapatônico junto, baby. 

Falamos mais algumas coisas e voltei para casa para me arrumar e ir para a casa da Gabi, pois tínhamos combinado que aquele dia eu iria para lá. Onde nos amamos e passamos momentos de muito tesão, prazer, carinho e apego.  



Deixei as meninas e Nando dançando com Gabi e fui até o bar pegar mais uma bebida. Chocolate fez sinal de que iria me acompanhar até lá. Pedi uma Aperol e ele foi de cerveja mesmo. Brindamos quando meu drink me foi servido. 

- Ao amor? 

- Ao amor! 

Repeti batendo minha taça no corpo da garrafa dele. Após o primeiro gole, nos viramos e ficamos admirando nossos respectivos no meio da pista... felizes, soltos, dançando e se divertindo. Ele suspirou, seguido de mim... se virou para mim e depois de tomar mais um gole me falou:  

- To apaixonado, amiga. De quatro pelo Nando... 

- To vendo... Ele é uma graça. Gosto dele. 

- É, mocinha? E eu to vendo a forma como você olha pra ela... que mulher, viu? 

- Ela é demais... em todos os sentidos. 

Levamos nossas bebidas à boca mais uma vez... 

Fiquei apreciando Gabi enquanto ela arrasava naquela pista com tanta sensualidade. 

- Sabe o que é mais engraçado, Nego? 

- Hum.. o que? 

- É que quando estou com ela, parece que nos conhecemos há tanto tempo, sabe? Nossa sintonia é tão boa... ela sabe dos meus gostos, escuta as músicas que gosto... somos tão próximas em tantas coisas. 

- Ué, mas vocês se conhecem, ora. 

- Sim... mas só das festinha em que a via. Eu nunca tinha olhado para uma mulher com outras intenções. Apenas a achava bonita e só. Como ela nunca foi uma concorrência pra mim, não me importava com sua presença. 

- Verdade. Ela sempre curtiu meninas. Desde a época do colégio, lembra? 

Aquela frase me causou uma certa inquietação, pois continha alguma informação que eu não tinha conseguido captar. Ou havia sim, mas não queria acreditar naquilo. Quando ele disse “época do colégio”, gelei e emudeci, quase paralisei. Chocolate percebendo isso, me perguntou: 

- Amiga... não to acreditando que você não se lembra dela? 

Balancei a cabeça negativamente... e tentando puxar na mente, não vinha ninguém que se enquadrasse na forma da Gabi. Fui lembrando dos rostos femininos e eliminando cada um deles, mas ela nem entrava na lista para que eu pudesse apenas cogitar a possibilidade. Continuava balançando a cabeça... a confusão era clara e meu amigo, percebendo o prenuncio de um desespero, me deu uma ajudinha. 

- Como é a pegada dela lá na hora H? Ela te imobiliza com facilidade? 

Não entendi nada daquela indagação sem aplicação para o momento. 

Onde ele queria chegar com aquilo? Mas mesmo assim respondi: 

- É forte. Ela me imobiliza com facilidade. Parece até que tem técnica nisso... 

Rimos juntos. 

- Pois é... você lembra que eu fazia judô lá no colégio? 

- Chocolate! Não to te entendendo... 

- ... Não faz a esquecida, baby. 

Pedi mais um drink ao barman e ainda disse que precisava urgentemente. Precisava beber mais. Ele também pediu mais uma cerveja e continuou a tortura. 

- Vou te dar umas boas dicas, ok? Se você não lembrar depois disso, vai ter que pagar todas as minhas bebidas, topa? 

- Viado... você é foda. Fala logo, Sérgio! 

- Minha noooossa!!! Chamou de Sérgio. Fiquei até preocupado... 

Ele abriu a long, sorveu o liquido gelado... olhou para o centro do salão... e depois para mim. E meio incrédulo com minha falta de memória e insensibilidade para perceber nuances no pretérito, ainda insistiu: 

- É sério? Nadinha? 

A simples perspectiva de ter conhecido Gabi há anos e não a reconhecer, me deixava desnorteada. Estava ficando tão irritada que bati a taça no balcão, derramando um pouco do liquido alaranjado...enquanto ameaçava a sair dali. Mas ele me segurou pelo braço e soltou: 

- Calma, Sunny... vou te falar... são dicas fáceis para você não ter desculpa de não lembrar, tá? Vamos lá:  Ela fazia judô comigo e era da turma 1302. 

Silencio entre nós... 

- E aí? 

A última dica soou e penetrou na minha memória, acarretando novamente no surgimento de todos os rostos femininos que eu já havia pensado... mas daquela vez, o dela apareceu. Era o único em que eu ainda não havia pensado. E tudo batia... ela fazia judô e era daquela turma. Lembrei da pegada forte... e dela me imobilizar com técnica. 

Era ela!!! 

E então, em pura epifania, várias imagens dela brotaram... a gente se esbarrava no recreio; quando eu ia esperar o Chocolate sair do treino ela estava lá com ele; era com ela que ele dizia que ia estudar português e inglês em época de exames. Eu ficava possessa porque ele me abandonava. Ela estava lá por quase toda a parte, mas só trocamos algumas frases algumas poucas vezes, porque ela era tímida demais. 

E somente depois de pensar nisso é que percebi que eu não dava atenção pra ela porque, na verdade, eu sentia ciúmes da amizade dos dois. 

Chocolate deu dois tapinhas na minha cara para me tirar daquele transe. Pisquei repetidas vezes e ainda boquiaberta com a descoberta soltei: 

- Essa Gabi era... aquela? Não pode ser! 

- Não só pode ser, como é. 

- Não estou acreditando nisso... 

- Acredite, mulher! Aquela garota magricela, com a cara cheia de espinhas e de aparelho nos dentes virou aquela gata maravilhosa que tá alí. 

Ele falava e eu já não o escutava mais...só queria saber como ela podia ter se transformado tanto e eu nunca ter lembrando que essa Gabi e a outra podiam ser as mesmas pessoas. Agora tudo fazia sentido!!! 

Lembrei dela no último dia das turmas do terceiro ano e das frases que ela me soltava do tipo: 

“ – Sempre quis isso... eu te conheço... “ 

E diante de mais uma perplexidade pensada, olhei pro meu amigo e o indaguei: 

- Vai me dizer que ela... 

Não fui capaz de continuar, pois ele já sabia o que eu queria perguntar. 

- Sim, morena. Sempre gostou em silêncio. Eu era o único que sabia. Ela não tinha coragem de te falar. E no dia que ela tentou, você deu perda total.  

Outro estarrecimento! 

Era muita informação pra minha cabeça. 

Poucas vezes eu havia ficado muito ruim por causa de bebidas. Mas na festa da nossa formatura... Eu realmente havia passado dos meus limites quando, após beber bastante champanhe, tomei uns shots de vodca. Decadência iminente me acompanhou durante a festa. A tal ponto de ter ido parar no posto médico. Quando despertei, lá estava ela sentada ao lado da minha mãe e do Chocolate, esperando notícias minhas. Me lembro de que, totalmente envergonhada, agradeci aos dois, me despedi deles e fui embora pra casa com minha mãe, que estava com o rosto inchado de tanto ter chorado de preocupação.

Depois daquele dia, eu nunca mais havia encontrado com ela. Um tempo depois eu perguntei por ela, e ele me disse que Gabi tinha passado em uma universidade federal em São Paulo. Que eles se falavam sempre que dava. Aos poucos, com o passar dos anos da faculdade, ele não falava tanto dela. E mesmo depois dela ter voltado pro Sul, ele nunca havia falado nada daquela nossa festa. Nem quando a gente estava nos mesmos eventos. Sempre achei que, como eu nunca tinha comentado sobre aquela noite terrível, ele preferia não tocar no assunto para não me chatear. Talvez imaginasse que minha vergonha fosse tão grande e com isso não quisesse me aborrecer, me dando liberdade para tocar no assunto quando eu me sentisse a vontade. 

Curiosa com os fatos, tive de indagá-lo: 

- Amigo... porque você nunca me comentou nada mesmo tendo passado oito anos daquela noite? Porque não me contou que ela era a Gabi do colégio assim que a gente começou a sair ou lá no aniversário dela? 

- E que diferença ia fazer pra você, Sunny? Você não iria sair com ela naquela época.  

Ele tinha razão. Não teria diferença alguma. 



Do nada, Nando e Gabi pararam na nossa frente... suados após terem dançado tanto. Ela já veio logo perguntando, enquanto pegava a cerveja da mão do Chocolate, e me olhando... 

- O que não ia fazer diferença? 

Sérgio pigarreou, deu uma desculpa e saiu puxando Fernando pelo Pub a dentro. 



Ficamos somente nos duas ali... ela bebia aquela cerveja sem tirar os olhos de mim... e como se pudesse ler meus pensamentos, soltou enquanto se encaixava entre minhas pernas... 

- Hey! O que o Serginho te falou pra você ficar com essa carinha, hein?

Me deu um beijo e pediu mais uma bebida pra ela e mais um drink pra mim. 

Aquela expressão de curiosidade me encantava... aliás, tudo me encantava nela. Pensei em esconder, mudar de assunto, pois tinha medo do rumo daquela conversa, mas eu queria saber mais. 

Antes de falar, bebemos um pouco das bebidas que haviam sido entregues... ela me beijou deliciosamente, me pedindo para falar logo. 

Então respirei fundo e perguntei:  

- Gabi, quantas vezes eu dei pt contigo por perto? 

Ela riu meio que de nervoso... levou a cevada até a boca... sentiu a bebida descer... e proferiu com a ironia que era pertencente a ela: 

- Você não me reconheceu até ele te contar, né? 

Mordeu o canto da boca deliciosamente sensual... – Gostou da transformação? 

Agarrando-a pela cintura... bocas quase que coladas, continuamos: 

- Se gostei? Mais linda não poderia estar! 

- Ah é? 

Veio um beijo... 

- Aham... você está tão diferente que se ninguém me contasse, iria morrer sem saber. 

- Ainda bem que tá vivinha... assim pode morrer daquele jeito que eu adoro. 

Ela estava toda se insinuando pra mim... me enchendo de beijos ardentes e carinhos inflamados... Se eu não quisesse tanto me lembrar de mais detalhes, teria sugerido uma fuga libertina. 

Depois de corresponder aqueles estímulos perigosos, respirar um pouco e focar no que era preciso, perguntei sobre o detalhe que faltava:

- Quando eu fui liberada pelo médico lá na formatura, eu me lembro de ter te visto com minha mãe e com o nosso amigo. O que você estava fazendo lá com uma festa daquelas rolando e se nem era minha amiga?  

Gabi fez um gesto como se tivesse que fazer uma força para lembrar-se daquele dia... e depois da ceninha teatral, me contou: 


“- Então... eu nutria uma paixão por você naquela época. Te via no corredor ou no recreio e ficava te admirando, mas não passava disso. Como eu e Sérgio fomo ficando mais amigos, teve um dia que ele me contou que gostava de um carinha do Judô, mas que não podia se declarar porque o rapaz era brucutu e homofóbico. E foi aí que abri o jogo pra ele e falei sobre você. Só que, apesar dele me falar que você era hétero porque não tinha experimentado da fruta ainda, mesmo assim eu não tinha a coragem e atitude que tenho hoje...” 


- Ele falou isso? Que filho da put...

- Já ouviu a frase: Gambá cheira a Gambá? Ele sempre sentiu... 

Ela riu e continuou a contar: 


“ – Aí... Acabou que eu preferi acreditar que aquilo seria apenas um amor platônico. Mas no dia da nossa formatura eu tive um resquício de audácia. Estava te observando a noite toda. Notei que você dava toco em todo carinha que chegava em você...”  


- Verdade. Naquela noite eu queria apenas curtir. Nada de ficar me agarrando com ninguém. Mas continua, vai... tá legal essa história aí... 


“ - Vi que você já tinha bebido demais e fui conversar com o Sérgio. Ele disse que era pra eu não me preocupar, pois eu não ia passar daquilo. Inclusive foi ele que me estimulou a ir até você. Me perguntou se eu não iria te falar nada, já que aquela noite poderia ser a minha última chance. Ele sabia que eu iria me mudar de cidade, e que não tinha nada a perder. Afinal, o não eu já tinha. Foi naquele momento que eu peguei dois shots de vodca. Eu não bebia naquela época, mas se era pra ter mais coragem, então estava valendo. Nem pensei duas vezes. Peguei um dos copos, joguei goela a dentro e fui para o ataque. 

Me aproximei de ti e te ofereci o outro copo.”  


- Caramba! Agora que você tá me contando essas coisas, eu estou me lembrando... 

E foi aí que a cena começou a ser novamente reproduzida na minha mente. 

Contei para ela do que eu estava lembrando...  


“Eu estava louca já, e se bem me lembro, já tinha tomado pelo menos uns 3 shots naquela noite. Depois do último, fui dançar para suar um pouco e expelir a bebida poros. Saí da pista e fui até uma mesa, onde sentei só para ajeitar a porcaria da presilha do sapato. E quando levantei a cabeça, você estava parada lá... sorrindo para mim e segurando um copinho com mais um pouco daquela bebida maldita. Aí me falou, na verdade, mais gagejou do que outra coisa: 

- Oi... oi Sunny. Tud... tudo bem? 

- Oi, Gabriela. Tudo bem sim, e vc? Curtindo a festa? 

Você olhou pra trás buscando a aprovação do amigo... quando me olhou novamente, não me respondeu. Apenas esticou o braço e disse: 

- Toma... eu.... trouxe pra você... 

Naquela hora, eu até pensei que algum cara tinha te usado pra se aproximar de mim, mas logo descartei a ideia porque tu nem falava comigo direito, imagina se iria fazer a cúpida tímida na festa. 

Aceitei o drink, agradeci e brindei contigo. Você estava com uma latinha de refrigerante e deu uma golada na Coca, enquanto eu dava na vodca. 

Depois da careta, protestei da queimação que a bebida causava, e te agradeci novamente. Quando descemos os copos, ficamos nos olhando... 

Você a mexeu a boca alguma vezes, como se ensaiasse antes para falar algo. Fiquei esperando, até que você fechou os olhos e soltou de uma vez, sem respirar: 

- Eu gosto de você. 

Eu teria dito alguma coisa após processar aquela frase, se não fossem os meus amigos aparecendo lá na hora, nos cercando enquanto pulavam, cantavam e falavam para eu voltar para pista, ao mesmo tempo que me empurravam para lá... me recordo das pessoas felizes, com copos de bebidas nas mãos, gargalhando, pulando... as luzes dos strobos criando gifs psicodélicos e estimulando a gente a dançar e só querer alegria naquele momento. A ultima coisa de que me lembro, foi que peguei alguma bebida da mão de alguém e bebi de uma vez só... abaixei a cabeça e... depois vi tudo escuro. E depois disso não me lembro de mais nada." 


Olhei pra ela como uma súplica para ela continuar... e assim ela entendeu e atendeu.   

- Vou refrescar sua memória mais um pouquinho, sua cachaceira... 


“- Serginho estava vendo tudo de longe. Quando ele viu que você estava sendo arrastada para a pista, ele também me puxou pelo braço e me levou para lá. Tentei protestar, mas ele não deixou, me dizendo que eu tinha que me divertir. Naquele clima de festa, você até me abraçou, sabia? Falou para mim que a gente não se falava direito, mas que gostava de mim porque sabia que eu gostava muito do seu amigo. Que era para eu nunca o magoar. E quando você me abraçou, me arrepiei inteira.

E então...você pegou uma bebida da mão de alguém... tomou de uma vez só... começou a pular feito uma louca alucinada... aí parou do nada... abaixou a cabeça... colocou uma das mãos no joelho e com a outra buscou qualquer um, que por coincidência era eu... segurou no meu pulso com força, buscou meu olhar, disse que estava passando mal e ... pronto. Desmaiou quase nos meus braços.” E foi assim o seu primeiro pt comigo. Já o segundo... você sabe... aquela vergonha toda lá na sua casa."

    

Fiquei parada, absorvendo aquela história... Esclarecimentos e revelações tardias ou seriam confidencias, declarações adequadas e oportunas para o momento? 

E importava? O que realmente interessava era que, quisera o destino que nos reencontrássemos, anos depois, bem naquele aniversário, onde de fato, tudo havia começado; onde a centelha iria se tornar uma chama intensa, ardente, envolvente. 

Ela tinha parado de falar e estava apenas esperando que eu me manifestasse depois de ter ouvido tudo aquilo. Dei-lhe um beijo e um abraço e depois me expressei:  

- Pelo visto o destino foi muito bom comigo. 

- Ah é? E por quê? 

- Porque me deu a chance de ter você assim... pra mim. E dessa vez eu não vou mais deixar você passar despercebida na minha vida. 

- E nem eu vou deixar de me fazer notar! 

Clima ficou ainda mais romântico e justamente quando íamos nos beijar, senti mãos me puxando e várias vozes nos chamando para voltarmos para a pista para dançar. Sorrimos junta... e fomos lá nos divertir. 



Estávamos os seis curtindo muito. Eu, ela, Ive, Lú, Chocolate e Nando. Entrava uma música atrás da outra e não conseguíamos parar de dançar. O boy do Chocolate foi até o bar e voltou com um baldinho cheio de cervejas, as quais saiu distribuindo pra gente. O balde ficou vazio rapidinho. Ele se aproximou de mim, dançamos juntos, e aproveitou um momento para pedir que eu cuidasse bem de sua amiga, pois ela era um grande e mensurável tesouro. Sem vacilar respondo que, com certeza, eu iria dar todo o carinho, atenção e amor que ela merecia. 

E foi depois de falar aquilo pra ele é que me dei conta do que eu realmente queria. 

Gabi se aproximou de mim, roçando seus seios em minhas costas e me enlaçando por trás... beijou meu pescoço me fazendo virar de frente pra ela. Tive ainda mais certeza do que eu queria dalí pra frente quando, ao se virar para mim, irradiou minha alma com tanta beleza e graça. Eu queria ter aquilo. 

E lembrando da noite da formatura, só que em posições opostas, a envolvi passando meus braços em sua cintura e exprimi o meu mais puro desejo. 

- Gabriela... 

Ela se espantou com a forma que a chamei... e continuou me olhando.    

- Eu gosto de você! E é muito! 

Ela sorriu ao mesmo tempo que caia uma lagrima por seu rosto... 

- Sunny... 

- Xiii! É minha vez de falar o que sinto... 

Com ela ainda agarrada em mim... movimentando-se no ritmo de uma música romântica produzida por nossos corpos, continuei: 

- Fica comigo? 

- Essa noite? 

Ela demorou um segundo para me responder, não entendendo bem o porquê daquele pedido. E riu... 

Mas tendo eu permanecido séria, aquele sorriso ficou em suspenso. Então, completei pedindo, anunciando o que para mim era mais que certeza: 

- Não somente. Essa noite, amanhã, e depois de amanhã e depois... e depois... 

Tirei as minhas mãos de sua cintura somente para segurar suas mãos, olhá-la no profundo daqueles olhos claros e dizer: 

- Namora comigo, Gabi? 

Da forma mais linda e esplendorosa, ela me iluminou com aquele sorriso e me respondeu: 

- É claro que eu quero!!!  É sim, é Sim!!! 

Nos abraçamos bem forte, trocamos um beijo mais que apaixonado, e dessa vez foi do meu rosto que desceu a lágrima. 

Ela só parou de me beijar para olhar pros amigos e dizer de novo: 

- É sim!! Eu aceito namorar com vocês! 

E todos eles nos abraçaram e comemoraram, celebraram o acontecimento do amor. 


Ah o Amor?

O amor... 

Ele aparece quando menos se espera e vem de onde menos se idealiza. 

Ele sempre vai estar por aí ou quiçá por ali... 

nos cercando por cada canto;  

Pedindo licença pra entrar... anunciando vontade, 

Permeando o coração e enfeitiçando a razão;

Acolhendo e estimulando profundos desejos; 

Permitindo-se permitir; 

Acontecendo no “De repente” e

Subitamente, torna-se. 


 

 ***

Músicas que embalam a 2ª PARTE DO CAPÍTULO:

Camila, Camila - Nenhum de Nós 

http://www.youtube.com/watch?v=AmbO2zbqKYY

Agora só Falta Você – Rita Lee 

http://www.youtube.com/watch?v=UiafBQp6KAg

Chegar em mim – Jorge Du Peixe - versão de Teka Simon: 

https://www.youtube.com/watch?v=Qdfvp7cJI_Y&index=4&list=PLfGAvt2mVgNwfVlzeOgU8KMOGeKrGN58N

That Thing You Do – The Wonders 

http://www.youtube.com/watch?v=ZpErX3KVF60
Muito Estranho - Nando Reis
https://www.youtube.com/watch?v=FCd5tqnYBU8&list=RDFCd5tqnYBU8


Camila -  Diedra Roiz

Assim que o carro dobrou a esquina, foi involuntário, um suspiro aliviado escapou de mim. Estava feito, eu tinha conseguido. Uma história fechada, com um final de verdade. Enfim.

Liguei o rádio e fiquei mudando de estação, procurando algo que eu quisesse escutar. Sorri quando encontrei:

 

“Depois da última noite de festa

Chorando e esperando amanhecer, amanhecer

As coisas aconteciam com alguma explicação

Com alguma explicação...”

 

A conversa com Sunny tinha servido para afastar toda e qualquer incerteza que eu ainda pudesse ter. 

 

“E eu que tinha apenas 17 anos

Baixava minha cabeça pra tudo

Era assim que as coisas aconteciam

Era assim que eu via tudo acontecer”

 

Depois de anos me anulando por e para Sandra, era quase um hábito. Seria fácil continuar igual, se não doesse tanto.

O que Sunny não sabia, o que ela jamais saberia, era que quando a olhei, uma vontade insana de pegá-la pelos cabelos, deixá-la nua e comê-la ali na sala mesmo me atingiu. Coisa que me causou um leve desconforto, por ser assim que eu sempre pensava nela, de forma dura, seca, cruel. Quase cínica. Um efeito de catarse, como se descarregasse tudo, como se nela eu pudesse me vingar do mundo. Me vingar... De Sandra.

E isso era péssimo, pior ainda, fazia eu me sentir a mais podre das criaturas, porque não me agradava a ideia de ter usado uma pessoa, especialmente aquela que, de forma inegável, tinha me tirado do meu antigo estado de torpor. Mesmo que, ao contrário do que pudesse parecer, Sunny não tivesse me mostrado a luz. Na verdade o que ela despertava em mim era outra coisa: ela evidenciava a força que tinha a minha escuridão.

 

“Camila...

Camila, Camila...”

(Camila,Camila – Nenhum de Nós)

 

Não me lembrava de já ter sido tão escrota e filha da puta com alguém como tinha sido com ela. E Sunny não merecia. Claro que não. Ela tinha sido mais do que maravilhosa, tinha sido inacreditavelmente generosa ao facilitar com tanta dignidade aquele término do que sequer havia começado. 

Foi com um carinho quase culpado que pensei: “Ah... Se todas fossem Sunny!”, me incluindo na lista das que não a mereciam.

Um sorriso amargo surgiu nos meus lábios. Eu sabia exatamente como era, já tinha passado por isso e mesmo estando do outro lado dessa vez, eu não queria nem pretendia repetir. Se um dia voltasse a ficar com uma mulher, queria que ela dialogasse, que ouvisse o que eu tinha para dizer, e que, acima de tudo, realmente quisesse me escutar. Mais do que isso: que olhasse para mim e me enxergasse. Como eu sou. De verdade. E me amasse assim, sem querer me mudar. Alguém que não quisesse ser a minha luz do sol, mas com quem eu possa ver o brilho das estrelas. Nada demais. Apenas o que qualquer pessoa deseja. Ou não?

A música terminou e eu voltei a buscar uma que valesse a pena. Quando encontrei, não poderia ser mais perfeito:

 

"Um belo dia resolvi mudar

E fazer tudo o que eu queria fazer

Me libertei daquela vida vulgar

Que eu levava estando junto a você

E em tudo que eu faço

Existe um porquê..."

 

Inevitável que nesse momento meu pensamento se voltasse para Flávia. Era algo que eu precisava resolver. Só não sabia muito bem como. A noite passada com ela tinha me deixado... Não tinha palavras para descrever.

Tudo bem, ela sempre tinha sido quase parte de mim mesma. Mas jamais daquele jeito. Eu nem cogitava a hipótese de... Era minha melhor amiga, não queria perdê-la. No entanto, já tinha perdido. Nunca voltaria a ser igual. Eu não estava pronta para algo mais. Não naquele momento. E quando estivesse, talvez não fosse com ela. Afinal, ela tinha trepado com a minha mulher. Como eu poderia... Não esquecer, esquecer eu nem cogitava, mas perdoar? Não achava possível.

 

“E fui andando sem pensar em voltar

E sem ligar pro que me aconteceu

Um belo dia vou lhe telefonar

Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu...”

 

Estava cansada, muito cansada de esperar, de adiar os meus momentos. Coloquei o celular no viva voz e liguei pra ela. A conversa foi simples e objetiva. Sem muitas palavras. Não havia necessidade:

- Flávia?

- Oi, Camila.

- Estou chegando em Blumenau e queria conversar com você, posso passar aí?

- Eu preferia que não fosse aqui em casa. Pode ser?

- Tudo bem. Aonde então?

- No lugar de sempre? Daqui a uma hora?

- Ok.

 

"No ar que eu respiro,

Eu sinto prazer

De ser quem eu sou

De estar onde estou

Agora só falta você, iê, iê

Agora só falta você..."

(Agora só falta você - Rita Lee)

 

Quando entrei no Centro de Blumenau já tinha escurecido. Estacionei na rua Curt Hering, quase em frente ao “HausBier Bar”, nosso barzinho preferido, cenário de milhares de noites e conversas, algumas banhadas de choro, todas regadas à cerveja, muita cerveja importada, especialidade da casa. Assim que entrei reconheci a cantora: Teka Simon. Ela me acenou com a cabeça, sem parar de dedilhar o violão, sabia quem eu era porque tinha tocado algumas vezes com Sandra. Sentei em uma mesa colada na parede, o garçom veio só confirmar o que já sabia:

- Aquela alemã de trigo?

Assenti e completei:

- Dois copos e aqueles bolinhos maravilhosos de feijoada.

A cerveja chegou, me servi e fui bebendo devagar. A primeira música terminou, veio uma segunda, uma terceira... Quando a quarta canção iniciou comecei a ficar impaciente, ansiosa, não estava acostumada a esperá-la, normalmente quando eu chegava Flávia já estava lá.

“E se ela não viesse?”

Estranho pensamento, que não consegui evitar.

Levantei os olhos em direção à porta no mesmo instante em que Flávia a atravessava. De botas pretas de salto, cano alto, subindo até os joelhos, deixando um pedacinho da meia calça preta à mostra antes de começar a barra do vestido. Sobretudo pendurado no braço e a bolsa no ombro, o pescoço nu, deixado à mostra pelos cabelos presos para cima. Meus olhos encontraram os dela no exato momento em que a voz de Teka entrou:

 

“Acendendo no meu peito

E a fagulha dando um jeito

Que o coração sempre pediu”

 

Caminhou em minha direção sorrindo. E eu... Sorri de volta. Apesar de já tê-la visto milhares de vezes assim, talvez até com aquela mesma roupa, nunca a tinha enxergado de verdade, eu nunca tinha olhado para ela... Daquele jeito... Era a primeira vez.

 

“Eu me enfeito nesse ensejo

E atiço o teu desejo

O perfume chega pra dizer"

 

Parou na minha frente, mas não me tocou, sequer me beijou. Disse apenas:

- Oi.

Num tom que fez meu corpo inteiro ser percorrido por um leve tremor.

Pendurou o sobretudo e a bolsa na cadeira e sentou. Sorriu ao ver a cerveja que eu tinha escolhido e os dois copos. Peguei a garrafa para servi-la e só então percebi que estava vazia. O sorriso de Flávia aumentou:

- Demorei?

Estava lá, escrito nos olhos dela, o profundo significado daquela pergunta. Não fugi, nem menti:

- Talvez... Um pouco.

Ela se inclinou para frente, ficou mais próxima, praticamente sussurrou:

- Me desculpa?

Me deixando sem resposta.

Interrompi o silêncio que se seguiu fazendo sinal para o garçom trazer outra cerveja. Ele trouxe os bolinhos de feijoada recheados de couve junto. Os preferidos dela. Voltou a sorrir, pegou um, mordeu... Acompanhei o movimento dos lábios, da boca, o som de prazer que soltou... Meu coração acelerou.

 

“Eu me enfeito nesse ensejo

E atiço o teu desejo

O perfume chega pra dizer

Se eu fosse você já tinha chegado em mim”

 

Achei graça quando percebi que estava daquele jeito por causa de Flávia. Ela riu comigo, mesmo sem entender:

- Quê?

Sacudi a cabeça negativamente, completei:

- Nada.

 

“Se eu fosse você já tinha chegado em mim”

(Chegar em mim – Jorge Du Peixe versão de Teka Simon)

 

Estendi a mão para pegar a cerveja e, não sei como, a derrubei. O líquido virou todo na mesa, a teria molhado se Flávia não fosse rápida, levantou num reflexo quase felino, pegou alguns guardanapos de papel e começou a secar tudo, eu fiz o mesmo. Rimos juntas de novo, ela brincou:

- Quantas você já bebeu mesmo?

Retruquei no mesmo tom:

- Bem menos que você naquele Carnaval em Floripa...

A recordação veio, quase que em outra versão. Na verdade, uma releitura da forma que ela me agarrou e me puxou enquanto eu a colocava na cama. Tentando me fazer deitar com ela, soprando dentro do meu ouvido, palavras que agora finalmente faziam sentido.

Pensei alto, para mim mesma:

- Você não estava me confundindo com outra. Sabia que era eu.

Não precisava, mas mesmo assim, Flávia confirmou:

- Sim.

Fomos interrompidas pelo garçom, que tirou os guardanapos junto com a toalha molhada, secou tudo, colocou outra limpa e seca e se afastou. Voltamos a sentar.  Lancei à queima roupa:

- Por que você nunca me disse nada?

O sorriso que ela me deu parecia conter uma coletânea de dor:

- Eu te disse. Várias vezes, de várias formas. Você é que nunca escutou. Sequer notou.

Recuei. Encostei as costas na cadeira, muda, sem ter como contestar. Bastava parar um pouco. Comecei a lembrar de uma infinidade de momentos...

Enquanto isso, Flávia chamou o garçom, pediu outra Weiss, comeu mais bolinhos, agora molhados de cerveja, recebeu a garrafa cheia, serviu o copo dela, o meu e só então me chamou:

- Camila?

- Ahn?

- Tudo bem?

Olhei para ela. Flávia. Com quem eu sempre dividia tudo. “Até a mulher”- pensei, morbidamente. 

Impossível não ser sincera:

- Não. Como poderia estar? A impressão que eu tenho é que a minha vida é um castelo de areia. 

Fiz uma pausa. Tomei um gole de cerveja. Ela ficou me olhando e esperando, sem me interromper. 

- Hoje eu estive em Porto Belo, com a Sunny e...

Flávia se retraiu. Foi quase imperceptível, mas eu senti e parei de falar. Teria me calado se ela não dissesse:

- Continua. Estamos aqui pra isso, precisamos conversar. Se bem que... Não sei se eu...

Interrompi, informando rapidamente:

- Não aconteceu nada. Fui lá e demos um ponto final. Só isso.

Ela foi absolutamente perspicaz:

- Você está se justificando pra mim. Por quê?

Sabia que não adiantava, mas mesmo assim, neguei:

- Eu... Não estou.

Ela me olhou profundamente:

- Não? 

Levou o copo aos lábios, bebeu. Acompanhou meu olhar, dos olhos para a boca, da boca para os olhos. Sorriu:

- Camila... Esqueceu que eu te conheço... E muito bem?

Involuntariamente, estremeci. Pisei nos freios do meu auto controle até o fim:

- Então eu não preciso responder.

- Pra eu saber não. Mas adoraria te ouvir dizer.

Cortei-a antes que perdesse o controle em definitivo:

- Me diz você.

- O quê?

Flávia voltou a levar o copo à boca, dessa vez eu mantive os olhos fixos nos dela:

- Sobre você e a Sandra. Eu preciso saber. Quando foi? Como foi? Onde foi? Quem foi que...  De quem foi a... Iniciativa?

Ela não hesitou:

- Foi antes de eu conhecer a Lena. Fazia o quê? Menos de um mês que vocês estavam morando juntas. Encontrei a Sandra no “Butiquin Wollstein”. Ela estava sozinha, eu também. Sentamos juntas e acabamos num motel. Não tenho como te dizer se foi ela ou se fui eu. Não é uma questão de encontrar uma culpada, porque... Quando uma não quer... Entende? Apenas aconteceu. De pleno acordo entre nós duas.

Aquilo me deixou... Numa efervescência por dentro. Um turbilhão que foi crescendo, até transbordar, de um jeito absolutamente incoerente, eu já não sabia de quem eu sentia mais ciúmes:

- Que amor é esse, Flávia? Que você diz que tem por mim? Nunca me disse nada, nunca me tocou, sequer tentou! Mas me trair com a Sandra foi fácil, né? Foi lá, trepou com a minha mulher e depois... Guardaram esse segredinho sujo só entre vocês duas!

Ela parou. Titubeou. Vi perfeitamente o quanto me contar a verdade foi difícil, mas ainda assim, Flávia respirou fundo e disse:

- Eu queria saber o que você via nela. 

Fez outra pausa antes de finalmente completar: 

- Mas não consegui.

Aquilo me atingiu como uma implosão no estômago, abrindo um buraco, uma lacuna, um enorme vazio. Meu corpo todo se contraiu, tentei firmar a vista inutilmente, pequenas luzes piscaram me ofuscando, comecei a suar frio. Fechei os olhos, respirei fundo e fiquei alguns minutos ali encolhida, me acalmando e voltando aos poucos... Ciente de que não era nada além do último espinho sendo arrancado, o último grilhão sendo aberto, a última venda caindo.

Quando voltei a levantar o rosto, me deparei com Flávia absolutamente imóvel, me observando. Com cuidado, atenção, amor... Não havia nada de novo neste olhar. Era o mesmo de sempre. A diferença estava em mim.

Falei sem sentir:

- Eu também já não sei mais.

Os olhos dela adquiriram um novo brilho. Ia falar... Algo que fiquei sem ouvir, pois foi bruscamente interrompida pela loira que se aproximou da mesa como se eu não existisse:

- Oi Flávia...

Não bastando o tom de voz oferecido, ela se inclinou para beijá-la, mirando o canto dos lábios, mas Flávia habilmente virou o rosto e desviou. Manteve os olhos nos meus ao dizer:

- Ana, você conhece a Camila?

Ela virou o rosto em minha direção, mas não me olhou:

- Oi!

Nem me dei ao trabalho de responder, já que a loira rapidamente se voltou para Flávia. Normal, não era novidade. Ela sempre vivia cercada e assediada, dificilmente ficava sozinha. Só que antes, isso nunca tinha me incomodado. 

O olhar de Flávia continuou em mim, mesmo enquanto conversava e dispensava a loira de uma forma bastante delicada e sutil. E isso também não me pareceu estranho. Na verdade, me fez perceber que, mesmo quando ela estava com outras, mantinha a atenção em mim.

O resto da noite foi bem mais tranquilo. A conversa fluiu fácil, leve e divertida. Como sempre. No entanto, não era mais como antes, por mais que eu quisesse, seria impossível negar. Eu estava dolorosamente ciente da diferença.

Não conseguia evitar, a forma com que eu admirava cada movimento dela, cada mudança de tom. Não só de voz, mas de expressão. O olhar dela me  tocando, me queimando por fora e por dentro.

Eu sabia, Flávia sabia, nós duas queríamos. Estava ali, era palpável.

Minha vontade de ir para outro lugar com ela foi crescendo, até se tornar insuportável:

- Vamos?

Ela concordou imediatamente. Enquanto esperávamos a conta, sugeri:

- Vamos chamar um táxi?

- E o seu carro?

Ela tinha visto parado do outro lado da calçada, óbvio.

- Amanhã eu pego.

Não estávamos bêbadas, mas também não estávamos inteiramente sóbrias. De qualquer forma, nós duas tínhamos bebido, nenhuma das duas ia dirigir.

- Então são dois.

Eu a corrigi:

- Não. Um só.

Morávamos em lados opostos da cidade. Minha intenção era clara e Flávia compreendeu de imediato. Mesmo assim, perguntou:

- O que você está me propondo?

- Você não sabe?

- Quero que você me fale, com todas as letras. Nada de joguinhos entre nós, Camila.

Agradeci mentalmente ao garçom que nos interrompeu, trazendo a conta. Como de hábito, a dividimos. Ele pegou o dinheiro, agradeceu, nos deu boa noite, nós também. Levantamos, vesti meu casaco e ela o sobretudo, pegamos as nossas bolsas e saímos. Flávia na frente, eu atrás dela, sem conseguir conter meus olhos, que a percorreram inteira.

Ela parou na calçada, longe o suficiente das pessoas sentadas nas mesinhas do lado de fora, para que só eu ouvisse:

- O que você quer? Trepar comigo?

Não hesitei:

- Sim.

Apesar da palavra “trepar”, naquele momento, me parecer incômoda, errônea, por demais agressiva.

- E depois? 

A pergunta me deixou muda, eu não sabia o que responder. Nem era preciso, Flávia leu nos meus olhos. E completou:

- Na primeira vez você me mandou embora. Na segunda você me deixou. Se houver uma terceira eu quero que você saiba, que tenha certeza... Que não é só sex*. 

Continuei em silêncio. Ela verbalizou o que eu pensei: 

- Dois táxis, então.

 

 

A primeira coisa que fiz no dia seguinte de manhã foi me livrar das coisas de Sandra, que continuavam amontoadas perto da porta do apartamento. Doei tudo sem pena alguma, os instrumentos para a escola de música, onde tinha certeza de que seriam muito bem utilizados.

Deixei a aliança por último. Fazia dias que a tinha tirado do dedo, desde que Flávia tinha me contado sobre Sandra e ela. Racionalmente parecia besteira, era uma joia, eu poderia derreter e fazer outra, mas não era o que eu sentia. Muito menos o que eu queria, porque era o símbolo do meu sentimento por ela, a algema que tinha me aprisionado durante tanto tempo.

Sorri amargamente ao perceber que, com relação à Sandra, eu já não conseguia mais usar a palavra “amor”.

Olhei para o anel na palma da minha mão, pensando no quanto desejei aquilo, durante tantos anos. Como uma forma de reter, como se aquele anel pudesse prendê-la, juntar nossos destinos. Ironicamente, quando o tive nos dedos, não passou de uma alegoria vazia de sentido, acabei tendo um relacionamento com os meus sonhos. E, depois, com o desaparecimento de Sandra, aquela aliança se tornou o peso da minha solidão, das fantasias que se reforçavam e me encarceravam através dele. Um grilhão que eu mesma enchi de força e de peso.

Seguindo não um impulso, mas o meu mais verdadeiro desejo, o lancei no vaso sanitário e dei a descarga. Despachei em água corrente. Enviei para o lugar onde minha relação com Sandra sempre havia estado: no esgoto, no lodo, nos dejetos mais abomináveis.

E assim enterrei Sandra. Junto com todas as minhas ilusões sobre ela.

 

 

A semana se arrastou, beirou o intolerável. Por mais que eu tentasse me ocupar, meu pensamento tinha vontade própria. Não, era a própria vontade. A falta, a saudade que me traíam, me conduziam, sem que eu as conseguisse controlar.  E eu me via inventando desculpas para ligar e Flávia fazia o mesmo, numa reciprocidade que me deixava...

Eu não tinha a palavra.

Era isso e só isso, que me impedia de algo mais. Porque ela tinha deixado claro que o que queria, o que precisava, era a única coisa que eu ainda não tinha para oferecer.

Na sexta feira, no meio de uma ligação feita por mim, ou por ela, para falar sobre algo que eu também não sabia mais, Flávia perguntou:

- Você vai na festa da Lena amanhã?

Nem precisei pensar:

- Claro.

Ela sorriu do outro lado. Sorri de volta. Ia falar, mas ela foi mais rápida:

- Nos vemos lá.

 

 

Assim que cruzei a porta do salão de festas, foi inevitável, meus olhos esquadrinharam todo o perímetro, procurando não pela aniversariante, mas Por Flávia. Avistei-a perto da churrasqueira, conversando com o ex cunhado. No mesmo instante, fui tomada por um desejo insano de que ela me olhasse, que sentisse a minha presença. Mas Lena surgiu do nada:

- Camila! Que bom que você veio!

Terminou a frase com um abraço caloroso. Olhei por cima do ombro dela e encontrei o que buscava. O olhar de Flávia, durante um segundo breve, até Lena me soltar. Entreguei o presente para ela, que o abriu e agradeceu, enquanto Mônica me cumprimentava. 

Durante esse tempo, que pareceu interminável, dividi minha atenção entre as duas - que falaram comigo, coisas que eu não conseguia ouvir direito e respondia de forma monossilábica - e o sorriso de Flávia para mim, enquanto caminhava na minha direção. Parou na minha frente, me olhando de um jeito que ninguém tinha feito antes: como se eu fosse a pessoa mais importante, como se só eu existisse.

Provavelmente, meu olhar era parecido, porque Lena e Mônica balbuciaram algo que eu não entendi e sumiram.

Flávia deu um passo, se aproximando. Pensei que fosse me abraçar, ou quem sabe, beijar. Mas não. 

Estranhei não o sentimento, e sim a força e rapidez com que veio: decepção.

Na mesma hora, brotaram os questionamentos: “Como ela conseguiu, durante tanto tempo?”,“Será que eu aguentaria tanto sofrimento?” e a conclusão também surgiu, evidente: “Eu já aguentei... E suportei... E superei...”

Movida única e exclusivamente pela honestidade que devia a mim mesma, venci a distância entre nós. Passei meus braços ao redor do pescoço de Flávia e, puxando-a para mim, abracei-a com força. Ela correspondeu integralmente, me apertando contra o seu corpo como se tivesse medo de me perder.

Teria ficado ali, ou avançado ainda mais, se o irmão totalmente sem semancol de Lena não gritasse:

- Cadê a minha ajudante? Flávia, eu preciso de você!

Muito contra a vontade, nos separamos. Flávia se desculpando por ele:

- O Lúcio já tá bêbado. Melhor eu ir lá, ou vamos acabar comendo só arroz e maionese de batata...

Virou e se afastou. Acompanhei-a com o olhar, antes de me juntar à Lena, Mônica e outras conhecidas em uma das mesas.

 

 

Não participei muito da conversa, minha atenção estava nela. De vez em quando Flávia me olhava. Assim, de longe. Sorríamos uma para a outra, num flerte suave, gostoso e bem humorado, que me surpreendeu, pois não era muito o estilo dela. Mas eu também nunca a tinha visto ficar perto da churrasqueira. Normalmente, ao invés de ficar ali se enfumaçando ao lado do irmão de Lena, ela já estaria se agarrando, se esfregando ou beijando alguma das convidadas. O pensamento me fez ficar com raiva. Mais ainda quando uma ruiva se aproximou dela e puxou Flávia para dançar. Desviei o olhar, com medo de ver o desfecho. E percebi Lena me observando, com uma expressão que eu não soube definir.

“Será que ela também estava bêbada?”

Foi a primeira coisa que pensei ao ouvi-la me dizer:

- Sabe que eu já te odiei?

Não ousei perguntar: “Quê?”

Na verdade, não precisei.

- Quando eu amava a Flávia e ela só tinha olhos pra você.

Olhei para Lena ainda sem acreditar:

- A Flávia te amou.

Ela deu um grande sorriso antes de responder:

- Amou? Talvez. Mas ela sempre amou muito mais você.

“Todo mundo sabia? Menos eu?”

- Não faz essa cara, Camila. Eu sei que no fundo, você sempre soube. Só fingia que não. Ou melhor: mentia pra você mesma.

Neguei:

- Eu juro que nunca...

Lena me cortou com uma gargalhada antes de dizer:

- O pior é que eu acredito em você. Estava tão obcecada, não enxergava mais nada, nem mais ninguém. Correndo atrás da Sandra durante anos até que finalmente conseguiu tê-la. Pelo menos pensou que teve. A ignorância até pode parecer uma benção... Mas não é. Olha quanto sofrimento teriam te poupado, quantos anos você não teria perdido, se tivessem te contado. Se bem que... Você jamais acreditaria se eu ou outra pessoa falasse. Tinha que ser a Flávia. E por quê?

Falei baixo, muito mais para mim mesma:

- Era a pessoa que eu mais confiava no mundo.

Mas ela ouviu:

- Era? Não é mais?

O que era aquilo? Que conversa era aquela? Misto de interrogatório e tortura. Fosse o que fosse, me fez confessar:

- Não sei. Eu não sei.

Mas nem assim Lena ficou satisfeita. Fez questão de enfiar mais agulhas. Lentamente, uma a uma.

- Um único erro anula todo o resto? Todos os anos de fidelidade quase canina? Todas as vezes que você precisou e ela largou tudo que estava fazendo e saiu correndo pra te atender? 

Tentei protestar, mas ela não permitiu: 

- Ora, Camila... Sempre foi assim: você dizia “Pula!” e a Flávia só perguntava: “Que altura?”. E quanto à sua preciosa Sandra... Você não a conhecia. Não fazia ideia de quem ela era de verdade. Quer saber? A Flávia poderia ter trepado com ela quantas vezes quisesse, ela chegou a propor que nós fizéssemos a três. A Sandra te traiu com todas que conseguiu. Só eu conheço pelo menos umas cinco.

Foi instintivo. Meu olhar se desviou do de Lena, procurando... Não pelas amantes de Sandra, isso não importava mais. Sandra era e sempre foi ela. Eu é que nunca quis ver.

Naquele momento, era outra coisa que eu precisava, queria saber. Logo encontrei. Flávia, dançando, rodeada de mulheres. Mas aquilo não me aborreceu, porque os olhos dela estavam em mim. Sorri sem nem sentir. Na mesma hora, ela veio até a mesa:

- Posso saber o que vocês tanto conversam? 

Lena ficou quieta, eu também. Flávia insistiu, de um jeito absolutamente bem humorado, e nem por isso menos certeiro: 

- Estavam falando de mim? Pra nenhuma das duas me responder...

Do outro lado do salão, Mônica chamou:

- Amor, vem aqui um instante?

E Lena obedeceu quase correndo.

Rimos juntas, sabendo perfeitamente que era para nos deixar a sós de novo. Ficamos apenas nos olhando por um tempo que pareceu ser curto e infinito ao mesmo tempo, até que Flávia sorriu e me puxou:

- Vem. Essa eu preciso dançar com você.

Só então percebi a música que tocava. “That Thing You Do” (The Wonders). Fazia anos que não dançava no estilo “Rockabilly”. Desde os tempos de faculdade. Flávia adorava e tinha me ensinado os passos. Eu ri e tentei negar, sacudindo a cabeça:

- De jeito nenhum! Eu não sei mais...

Mas ela insistiu, sem me soltar:

- É igual a andar de bicicleta. Ah, Camila... Por favor... Por mim, vai? Vamos lá...

Até eu concordar. 

Já estávamos no meio do salão, ela pediu pra Lena:

- Volta a música pro começo?

Lena a atendeu. E realmente, foi fácil. Bastou parar de pensar e me entregar. Começamos a rir. Juntas. Flávia cantando junto com a música:

 

“You doing that thing you do

(Você, fazendo aquilo que você faz)

Breaking my heart into a million pieces

(Partindo meu coração em milhões de pedaços)

Like you always do

(Como você sempre faz)

And you don't mean to be cruel

(E você não pretende ser cruel)

You never even knew about the heartache

(Você nunca nem soube sobre a dor no coração)

I've been going through…”

(Pela qual venho passando)

 

A estrofe seguinte ela cantou olhando diretamente para mim:

 

“And I tried and tried to forget you, girl

(E eu tentei e tentei te esquecer, garota)

But it's just so hard to do…

(Mas isto é tão difícil de fazer)

Everytime you do that thing you do…

(Toda vez que você faz aquilo que você faz)

 

Eu não conseguia tirar os olhos dela.

“Como pude ser tão cega?”

Era só o que eu conseguia pensar.

Como se pudesse ler meus pensamentos, Flávia me puxou e grudou nossos corpos. Continuamos a nos mover, como se a música fosse lenta. Ela sussurrou:

 

“I know all the games you play

(Eu conheço todos os seus jogos)

And I'm gonna find a way to let you know that

(E eu vou achar um caminho para fazer você saber que)

You'll be mine someday

(Você vai ser minha um dia)

Cause we could be happy, can't you see?

(Porque nós podemos ser felizes, você não vê?)

If you'd only let me be the one to hold you

(Se você apenas me deixar ser aquela que te abraça)

And keep you here with me…”

(E te mantêm aqui comigo)

 

Fiquei imóvel, ela também. Quase podia ouvir minha pulsação - ou seria a dela? - no mesmo compasso da percussão da música.

 

“Cause I tried and tried to forget you, girl

(Porque eu tentei e tentei te esquecer, garota)

But it's just so hard to do

(Mas isto é tão difícil de fazer)

Everytime you do that thing you do…”

(Toda vez que você faz aquilo que você faz)

 

Recuei, apenas o suficiente para nossos olhos se encontrarem. Ela brilhava nos meus e eu nos dela, fazendo com que eu sentisse algo que me fez esquecer todo o resto. Segurei o rosto de Flávia entre as mãos, e então, devagar, lentamente, quase em câmera lenta... Aproximei meu rosto e a beijei.

Ela fechou os olhos, estremeceu. Fechei os meus também. Escorreguei minhas mãos por baixo dos cabelos, até chegar na nuca, acariciei. Flávia gem*u baixinho, me puxou pela cintura, colou meu corpo no dela, nossas línguas se encontraram, se buscaram, se mesclaram, embaçando meus pensamentos, me agarrei mais e mais à ela, num arrepio sufocado. O ar que respirávamos era o mesmo. Quente, ardente, urgente.

Me afastei ofegante, em busca de ar. Me aninhei nela, um dos braços passado ao redor do pescoço, o outro nas costas, segurando o ombro, meu rosto colado no dela. Flávia me segurou contra ela com força, e o encaixe se tornou ainda mais perfeito.

Ficamos um tempo dançando juntinhas, sem nem saber se ainda tinha música. Me entreguei integralmente às sensações, ao calor de Flávia, a coxa entre as minhas, uma das mãos em minhas costas, a outra na minha cintura. Roçou os lábios no meu rosto, desceu pelo pescoço, me arrepiando inteira. 

Apertei-a, num gesto involuntário. Suspirei, deliciada com a descoberta de algo que não era novo, muito pelo contrário. Eu conhecia muito bem. A pele, as curvas, o toque, o abraço, o cheiro. Num outro tom, bem diferente. E me pareceu lindo, absolutamente romântico, verdadeiro ao extremo. Reconhecê-la naquele novo jeito.

 

 

Flávia não voltou mais para a churrasqueira.

Sentadas juntas, conversando, rindo, de vez em quando cochichando, éramos as Camila e Flávia de sempre. A novidade estava na necessidade física de contato. Mãos dadas, carícias, beijos... O tempo passando sem que percebêssemos. Só reparei que tinha anoitecido quando todos foram embora, só ficamos Lúcio, Lena, Mônica, Flávia e eu.

- Quer ajuda? - Perguntei para Lena.

- Não precisa, amanhã as faxineiras limpam tudo.

Virei para Flávia:

- Vamos?

Ela fez que sim, levantou, me estendeu a mão. Caminhamos com os dedos entrelaçados até Mônica e Lena, nos despedimos delas, não encontramos Lúcio, Flávia falou:

- Dá um beijo no seu irmão.

Caminhamos devagar pela estradinha de cimento no meio da grama que levava ao portão. Quando chegamos na calçada, fora do prédio, paramos e nos olhamos.

Eu podia sentir a tensão de Flávia, não só na forma com que segurava a minha mão, nos olhos, na expressão facial, no corpo inteiro.

Era um momento decisivo.

E nós duas estávamos plenamente cientes disso.

Ela me fez uma única pergunta:

- Dois táxis?

Respondi já erguendo o braço:

- Um só.

Puxei-a pela mão, para dentro do veículo que parou ao meu sinal, ambas sabendo perfeitamente o que significava.

 

 

Entramos no apartamento dela, fiquei esperando Flávia trancar a porta, encostada na parede do corredor de entrada, o coração acelerado de pura antecipação. Quando ela se virou, puxei-a para mim, minha boca buscando, desejando ter e ser cada inspiração dela. Gemi deliciada com a pressão do corpo de Flávia no meu. Meus dedos tremularam ao arrancarem-lhe as roupas, peça por peça... As minhas caíram no chão com um pouco mais de pressa. Chegamos inteiramente despidas no quarto, deitamos juntas na cama. Ela encaixada, vibrando sobre mim. Ameaçou descer, segurei-a, as duas mãos em seu rosto, olhei bem dentro dos olhos, sussurrei:

- Fica aqui.

Pedido que foi prontamente atendido. 

E mergulhamos juntas, eu e ela, unidas, numa deliciosa asfixia, onde ambas conduziam. Sons sem sentido, arfados, soluçados, gemidos... As costas de Flávia em minhas unhas, a pele derretendo como a minha, numa espiral de pulsação que subia e descia. Ela me chamava:

- Camila... Eu te amo... Camila... Camila...

Minha voz soou exatamente no mesmo tom da de Flávia, como um navio que não está mais à deriva:

- Olha pra mim...

Nossos olhos se encontraram, os dela transbordavam uma certeza absoluta me atingiu: 

- Ah, Flávia... Eu também te amo... Eu te amo...

Beijei-a profundamente. Ela se entregou em meus braços, deixando escapar um som que era... Impossível descrever.

Inevitável acompanhá-la na explosão que se seguiu. 

Caos... Eros... Tanatos... Nossas bocas, corpos e almas integralmente ligados num prazer tão insuportável que beirava a dor. Uma total ausência de espaço, tempo, gravidade... Sem mais saber quem era uma e quem era a outra. O infinito nos atingia, em todo o seu esplendor.

Poderia ter morrido naquele instante. Na verdade eu tinha.

Quando abri os olhos foi como se tivesse queimado e renascido, qual Fênix no meio das cinzas. Flávia ainda estava largada sobre mim, o rosto enfiado em meu ombro. Deixou escapar um último som - na verdade, uma respiração -, aos poucos, foi virando, beijando o meu rosto, me arrepiando, até chegar nos lábios. 

Nos beijamos. O som saiu de mim então. Um suspiro, gemido. Quando afinal nos separamos, Flávia me olhou. Sorrindo, linda... Tão linda... Havia um brilho nela que reconheci. Também estava em mim.

 

Flávia entreabriu os lábios, mas não conseguiu emitir um som. Camila também não disse nada, igualmente silenciada, porque... O sex* precisa de palavras, frases, sentido, direção. O amor, não.  

 

FIM

Fim do capítulo

Notas finais:

Este é um "conto musical", recomenda-se ouvir as músicas indicadas para melhor aproveitamento da leitura dos capítulos.

Sunny por Jennyfer Hunter e Camila por Diedra Roiz 


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Comentários para 15 - Capítulo 15 - ÚLTIMO CAPÍTULO:
Ellen Mateus
Ellen Mateus

Em: 09/07/2019

História muito boa.

Adorei.

Beijos.


Resposta do autor:

Muito obrigada pela sua leitura e pelo seu comentário.
Beijos Cariocas.

Jenny Hunter. 

Responder

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Keilaspm
Keilaspm

Em: 26/04/2019

Meninas que história maravilhosa demorei pra começar a ler mas agora me arrependo deveria ter começado bem antes kkkk parabéns vcs são foda amei 


Resposta do autor:

Minha querida... Muito obrigada pela sua leitura e pelo seu comentário. 
Beijos Cariocas.

 

Ah! Ce tá me devendo hein!! Abandonou BiJu! rsrsrs 

Jenny Hunter. 

Responder

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AMANDA
AMANDA

Em: 29/03/2019

Palavras faltam diante de tantas emoções! Foram tantos sentimentos, que às vezes para a de respirar por alguns segundos, e esse são os efeitos dos contos das autoras! Perfeito!


Resposta do autor:

Querida Amanda, nós ficamos muito felizes pq gostou da história. Esse tipo de comentário nos faz continuar a escrever. Muito obrigada pelo carinho. 

Bjs cariocas. 

 

Jennyfer Hunter. 

 

Responder

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MartaGamaAurelia
MartaGamaAurelia

Em: 26/02/2019

Muito bom!!


Resposta do autor:

Muito obrigada pela sua leitura e pelo seu comentário. 
Beijos Cariocas.

Jenny Hunter. 

Responder

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patty-321
patty-321

Em: 11/02/2019

Lindo demais. Pelamor. Em lágrimas. Ah se toda estória...fosse assim. Gratidão por compartilhar. Bjs de luz.


Resposta do autor:

Menina... mas pq o choro? É de tristeza ou de felicidade hein? rsrsrs 
Gratidão a vc por nos acompanhar! Que vc tenha curtido, se emocionado e gostado da história, pois eu e Di amamos reescreve-la e receber o seu carinho. 

Gratidão mais uma vez e sempre. 

Bjs cariocas. 

Jenny Hunter. 

Responder

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Jennyfer Hunter
Jennyfer Hunter

Em: 07/02/2019

Olá, meninas!!! 

É... Ah Se Todas Fossem Sandra chegou ao seu final. 

Foram momentos de escrita muito prazeirosos. E escrever com minha grande amiga e apresentadora de budismo, nada mais, nada menos do que Diedra Roiz, é sempre um aprendizado e uma satisfação imensa. 


Agradeço a vocês que tiraram um tempinho para ler cada frase, e principalmente agradeço aos comentários que fizeram. Adoramos receber opniões, sugestões, comentários e até pedidos rsrs. 

Obrigada mesmo, meninas!!! É sempre um prazer! 


Agradeço também à(s) idealizadora(s) do site, por podermos ter mais um veiculo para disseminarmos literatura do genero. 


Agradeço à Diedra Roiz que acreditou no meu trabalho e me estimulou a escrever novamente no ano passado. Você não sabe o bem que me fez. Voltar a escrever me causa satisfação e felicidade. É uma descoberta pra mim. Obrigada por essa oportunidade. 


E obrigada ao meu amor (Thaís) que estava a todo o tempo ao meu lado, me cobrando, me estimulando e me incentivando para não mais parar de escrever. Te amo. 


Sem todas vocês, nada disso aconteceria. 


Muito obrigada e grande beijo no coração de todas. 


Com carinho.... J. Hunter. 

jhunter.br@xxx
@jennyferhunter

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