Dávila

12/01/2019

Os dias foram passando carregados de pesares. Minha rotina era de casa ao hospital. Eu praticamente não dormia ou comia como antes. Pelo menos por enquanto eu vou seguindo assim.

Daqui a pouco faz três dias depois do ocorrido e a Bárbara ainda não acordou, ainda não consegui vê-la, na verdade nem minha filha que está na incubadora desde a hora do parto. Eu só ficava pelo os corredores do hospital e às vezes iria ao berçário e via varias crianças pela vidraça, porem não sei qual delas é minha filha, já que não posso vê-la ainda.

Ordem medica e o jeito era acatar.

Estava andando no corredor quando acabei me esbarrando com uma moça

 

-- perdão

Desculpe-me! Não foi a intenção

 

-- Olá, tá tudo bem, não foi nada.

(sorriso)

 

-- obrigada moça

 

Acabei nem dando tanta atenção e segui pelos corredores...

Minha rotina era sempre essa, esperava informação ou até o mesmo o momento em que a Bárbara acordasse.

Ainda não tinha como fazer transferência pra um hospital privado.

O jeito era ir se organizando no publico mesmo.

 

Estava tentando organizar minha vida e não sabia por onde começar.

Quando meu telefone toque percebo que era minha mãe

 

-- oi mãe

Aconteceu alguma coisa?

 

-- Dávila, volta pra casa filha.

Vamos revezar pelo menos.

Eu fico ai um pouco e você vem pra casa.

 

-- obrigada mãe, mais quero ficar aqui.

 

-- filha, você não tem porque está ai.

 

-- minha mulher e minha filha não são motivos suficientes?

 

-- meu bem querer, você tem que fazer alguma coisa...

Quando chegar quero conversar contigo

 

-- Beijo mãe...

 

Já estava irritada com mãe insistindo, eu não vou sair de perto delas nem um minuto...

 

-- Dávila!

 

-- Pois não, doutor!

Como estão meus amores?

 

-- Sua filha está reagindo bem nesses três dias de vida...

Ainda está muito fraquinha, mais há esperanças de vida.

 

-- doutor, eu queria saber onde ela está eu olhei mais não a vejo, não há conheço, e isso é angustiante...

-- eu imagino que sim, mais brevemente você poderá vê-la.

 

-- eu espero que sim, realmente espero...

E minha namorada?

 

-- ela já desceu na UTI

Vai pra um quarto, mais não acordou ainda.

 

-- posso vê-la?

Pode, mas tem que ser previamente Dávila.

Não vai poder ainda está com ela integralmente.

 

--  tudo bem doutor, e quando podemos transferir?

 

-- Dávila, eu ainda não estou de acordo com a transferência, pelo menos da criança não.

E penso que você queira as duas juntas não é?

 

--sim doutor...

 

-- então vamos aguardar um pouco mais, a transferência agora pode ser prejudicial a ela.

 

--irei concordar...

Não estava gostando de estar em um hospital publico, porém por enquanto é o que temos.

O que importa mesmo é a saúde da minha filha e da minha mulher.

 

 Fiquei aguardando ainda por alguns minutos e logo veio uma enfermeira pra me ajudar com a roupa que teria que usar pra vê a Bárbara.

Por enquanto teria que entrar com esses procedimentos pela proteção dela mesma.

 

-- tudo bem?

Perguntou-me a enfermeira...

 

Eu só balancei a cabeça e confirmei que sim.

Então ela me guiou até a sala e finalmente eu pude vê meu amor.

 

-- não demore muito, ok? É pela saúde da paciente.

Daqui a alguns minutos eu volto pra te buscar...

 

-- ok

 

Entrei no quarto e percebi meu amor com um semblante sereno e tranquilo.

Parecia que estava dormindo...

 

-- Oi minha loirinha...

(suspiro)

Porque tinha que acontecer tudo isso em? Porque meu amor...

Eu estou sentindo tanta tua falta sabia? Em mim só está um coração vazio...

Sua presença que me aquece e me faz-me sentir viva meu amor.

Olha, nossa neném nasceu sabia? Eu ainda não a vi, mais sei que ela deve ser linda amor igual a você...

Meu coração tá apertado amor, muito apertado...

(falei isso e beijei a mão da minha loirinha)

Mais eu vou seguir por nós e por nossa filha.

 

Notei que a enfermeira já estava me aguardando então tive que me despedir

 

-- te amo, luta por nós...

Por favor...

Apertei de leve a mão dela e sai um pouco emocionada...

Ela se tornou minha vida, e tá me corroendo a alma não puder fazer nada.

 

-- o que a mocinha é sua?

Perguntou-me a enfermeira...

 

-- alguém muito especial...

 

-- desculpe, não queria ser invasiva.

 

-- imagina...

Obrigada por me deixar vê-la.

Sabe como eu posso tentar ver uma criança que está na incubadora?

 

--olha, eu não costumo fazer isso, mas posso tentar te ajudar...

Aceita um café?

E conversamos melhor

 

-- pode ser

 

Não estava afim desse café, mais se for pra vê minha filha eu topo qualquer coisa.

Segui com a enfermeira até a cafeteria e notei que era a mesma moça que tinha me esbarrado mais cedo...

 

-- eu tropecei em ti mais cedo, agora que percebi que era você.

 

-- risos...

Você anda bem distraída, não é?

 

-- bastante...

 

-- então quem você quer vê no berçário?

 

-- Minha filha

 

-- sua?

 

-- sim, minha filha...

 

-- Você é a mãe da garotinha que nasceu de sete meses, é isso?

 

-- sim, sou a outra mãe...

Junto com Bárbara...

 

-- Bárbara é a jovem que acabamos de vê...

 

-- isso mesmo...

Como posso vê minha filha?

É tão angustiante não conhece-la agora que ela esta aqui

 

-- olha, eu não deveria tá fazendo, mais eu vou te ajudar.

Eu já te vi andando por esses corredores e se soubesse que estava nessa situação teria te ajudado mais cedo, mais pra isso eu quero sua total descrição tá bem?

 

-- tá bem!

 

-- Posso saber pelo menos seu nome?

 

-- Desculpe-me eu nem me apresentei.

Dávila, é um prazer...

 

-- Clara...

 

-- você tem o nome da minha filha

 

-- risos

É serio?

 

-- serio, ela se chama Clara Beatriz!

 

-- Que coincidência mais gostosa essa, Dávila...

 

Meio que surgiu um clima estranho no ar...

Então não soube muito bem o que falar...

 

-- Então...

Obrigada por o café...

 

-- imagina, será um prazer te ajudar a vê a minha chara (riso).

Amanha no fim da tarde você me encontra aqui, tá?

Vou pensar em alguma coisa e você vai conhecer sua filha...

 

-- Muito obrigada...

Até me animei um pouco rs...

 

-- fico feliz por isso...

Agora deixa ir minha linda, que o dever me chama...

Foi um imenso prazer Dávila...

 

-- Obrigada, o prazer foi meu!

 

Nos despedimos e eu fiquei ainda sentada na cafeteria, e um pouco mais tranquila...

Vou pelo menos conhecer minha princesinha e mal posso esperar por isso.

Decidi ir pra casa e resolver alguma coisa...

Mal entrei e minha mãe já veio

 

-- graças a deus minha filha

Eu estava preocupada você não sai daquele hospital

 

-- eu a vi hoje mãe...

E amanha vou vê minha filha...

 

-- como ela está?

 

-- ainda em coma...

Mais tenho fé que ela vai sair dessa...

 

-- vai sim minha filha

 

Vai tomar um banho que a mamãe vai preparar algo pra você comer filha...

 

-- obrigada mãe...

Não estou com fome

 

-- mais vai comer tá?

 

-- mãe...

 

 

Segui pro meu quarto e tomei um bom banho demorado, depois desci e fui tomar uma sopa que mamãe fez questão de preparar.

 

-- filha, onde a criança vai ficar?

Não compraram nada ainda

 

-- eu sei mãe...

Tenho que vê isso

 

-- não vai sair daqui né?

 

-- eu quero meu canto mãe...

Minha casa

Então vou procurar um imóvel ainda hoje.

 

-- minha filha

Eu quero ajudar a criar minha neta

 

-- mãe...

Eu quero meu lugar com a Bárbara, tá?

E sempre a bia pode tá aqui...

 

-- posso visita-las sempre?

 

-- logico que pode mamãe...

 

-- então tá bom minha filha

Eu vou te ajudar nisso

 

-- Obrigada mãe

 

Terminei de comer e não queria ficar em casa sem fazer nada.

Resolvi ir e olhar alguns apartamentos visando o melhor pra minha filha.

Passei o resto da tarde escolhendo e tratei de ser rápida na escolha.

Um bom condomínio fechado, com segurança, lazer, e tudo de conforto que elas merecem.

O apartamento já vinha mobiliado, seria um presente dois meus pais.

Então eu só teria que mobiliar o quarto da neném e iria começar a fazer isso o mais rápido possível.

No fim de hoje já sai com a chave do apartamento na mão, com um pouco de prestigio você consegue ter algumas vantagens.

Amanha cedinho eu volto pro centro e compro tudo que encontrar pra minha filha...

Decidi não voltar pra casa agora, lá só tem lembranças da Bárbara...

O cheiro, o jeito, as roupas...

Tudo tem o jeito único dela, só tem ela...

Decidi parar o carro e sentar em um banquinho de uma praça...

Lamentar e esperar o tempo passar era só o que me restava...

 

 

13/01/2019

 

-- minha menina não tá mais com o sorriso no rosto, o que foi em?

 

-- que susto, Dinda...

Bom dia

Preocupação

Só isso

 

-- minha filha vai ficar tudo bem...

 

-- obrigada...

Dinda, eu preciso ir comprar as coisas dá minha filha e não sei o que comprar...

Vamos comigo?

 

-- vamos minha filha, se vai lhe animar...

Podemos ir com todo prazer.

 

-- você me criou e tem mais experiência que eu...

 

Acabei passando a manha com a dinda nas lojas...

Comprei só tudo: Berço anda já, mamadeiras, bolsinhas na cor neutra, roupinhas, sapatinhos, perfumes, e ch*petas, e muitas, muitas e muitas fraldas...

Além do berço que a loja vai entregar, comprei uma caminha e um guarda roupa, a parede do quarto eu estou pensando em decorar toda e terá o nome dela também...

Eu sei que ainda é muito cedo, mais eu já vou encher o quarto de pelúcia, e de brinquedos...

Mais confesso que minha filha vai puder usar e brincar do que quiser...

 

-- minha menina, essa criança vai ser muito feliz aqui sabia?

Eu vejo nos teus olhos o amor quem já tem por ela...

 

-- vai sim, dinda...

Eu vou amar minha filha e da minha vida por ela...

Você gostou do apartamento?

Acha que a Bárbara vai gostar?

 

-- menina, ela vai amar!

Aqui é tudo tão lindo

E não vejo barulho nenhum...

 

-- por isso quis mais afastado, pra ter mais tranquilidade.

Dinda, já estamos conversando demais... Vou te deixar em casa e correr ao hospital que hoje irei vê minha filha...

 

-- tá bom minha menina...

 

O dia passou arrastado e finalmente o fim da tarde chegou.

Já estava com meu coração aos pulos e corri pra cafeteria do hospital.

A enfermeira que iria me ajudar já estava me aguardando.

 

-- Boa tarde Clara...

 

-- Boa tarde meu bem, já estava ansiosa por sua espera...

Vamos vê a pequena?

 

-- por favor...

Vamos

 

Seguimos pelos corredores e tentei ser o mais rápida possível, já que não podiam me vê ali.

Vesti a roupa adequada e finalmente eu pude chegar perto da incubadora que minha filha estava...

 

-- meu deus ela é tão pequeninha...

Falei assim que coloquei meus olhos nela que dormia tranquilamente, ela respirava ainda por aparelhos...

 

-- meu amorzinho sou eu...

A mamãe tá aqui contigo, tá?

(choro)

Olha, você vai ficar bem, sua outra mamãe também e vamos poder sair daqui o mais rápido possível, mamãe tá louca pra te ter nos braços minha pequena...

Fica bem logo, por favor...

 

-- vamos Dávila?

Prometo que depois te trago novamente pra vê a clarinha...

 

-- vamos...

Obrigada

 

Sai da sala onde minha filha tava e agora já sei onde ela se encontra...

Posso ficar vendo pela vidraça quando não puder entrar pra vê-la.

 

-- Dávila, você vai ser uma ótima mãe... Sabia?

 

-- imagina...

 

Eu confesso que já estou ficando sem jeito com os olhares dela...

 

-- bom, minha missão tá cumprida...

Já viu minha chara, agora deixa ir que mais tarde tenho plantão...

Se quiser falar comigo, sempre fico pelo os corredores...

Te cuidas meu bem...

 

-- obrigada Clara...

Não tenho como agradecer por esses minutinhos com minha filha...

 

-- você fica me devendo essa

Risos...

 

Continua...

https://www.youtube.com/watch?v=CMPfnnXzU0U

Volta ligeira que eu to te esperando

Eu te pinto um quadro

Tu me ensina um tango

Mas vem depressa que eu passei café

 

Volta correndo que eu to com saudade

Nem bate na porta

Sinta-se a vontade

Mas vem depressa que eu passei café

 

O que eu estou esperando?

Por que eu corro atrás?

Grande besteira

 

Ela não volta mais

Fim do capítulo