Juliana olhava displicentemente para o celular a sua frente, mexia sem saber ao certo o que procurar. Seus pensamentos vagavam de um lado para o outro em meio as lembranças e fantasias, desde que conhecera Lea sua concentração e atenção descia ladeira abaixo. Ela trabalhava como programadora de games e qualquer desatenção poderia resultar em um bug* homérico, mas naquele momento só conseguia pensar na nova chefe.

Léa havia chegado pouco mais de 15 dias e mesmo não estando em contato direto com os programadores, Juliana esteve algumas vezes em sua sala para participar de algumas reuniões e foi durante essas reuniões que a jovem nerd de cabelos lilás e óculos se encantou pela maior acionista e dona da empresa de publicação de games Metadados*. Léa assumiu o comando da empresa após o seu irmão gêmeo e criador da empresa ter sido encontrado morto em um hotel, havia especulações sobre a causa da morte e Lea era categórica ao afirma que o irmão não cometeria suicídio, havia algo naquela história que não estava se encaixando.

Juliana sabia que aquele era o momento de mostrar o que sabia fazer de melhor, estavam finalizando um dos jogos de videogame mais esperado do ano e a morte repentina do chefe desnorteou toda a empresa. Lea havia se afastado da Metadados por causa de uma desavença com o irmão, mas com o falecimento deste ela teve que voltar ao comando. Juliana estava totalmente envolvida e atraída pela chefe, mas sabia que não tinha chances com ela: Léa era mais experiente, rica e nem sabia da sua existência. O certo a fazer seria tirá-la da cabeça e entrar de cabeça em seus programas e elaborações, mas não seria tão simples assim, às vezes, a luta entre o cérebro e o coração já está vencida e quase sempre o vencedor não é a razão.

Por mais que tentasse se mostrar indiferente mais abestalhada Juliana se mostrava na presença de Léa. Não conseguia criar frases lógicas, as suas ideias pareciam ter ido tirar férias e no lugar ficou um imenso vazio branco. As palavras não saiam com facilidade e quando saiam era um tal de “caqui – caju- manga’, ou seja, a ligação entre o pensamento e a fala era cortada momentaneamente. As mãos ganhavam vida própria e 90% dos objetos tinham destino certo: o chão. Suas mãos ficavam trêmulas, desorientadas e geladas, seu coração perecia querer galopar saltitante para fora e suas pernas literalmente ficavam bambas. Juliana temia ter um colapso nervoso a qualquer momento, por isso, como o horário de trabalho era flexível e estava de férias da faculdade achou melhor mudar seu horário e assim evitar um problema de saúde mais sério.

Naquele dia ela estava esperando o ônibus passar, chovia muito e a esperança de chegar em casa mais cedo estava diminuindo a cada minuto. Estava ali há mais de 40min e nada do ônibus passar, mexia distraidamente no celular quando sentiu um jato de água acertar seu corpo fazendo com que o celular caísse em uma poça de agua. Não sabia se xingava o motorista idiota ou se lamentava pelo celular, quando abaixou para pegá-lo escutou um carro se aproximando. Não tinha ninguém lhe fazendo companhia naquele momento e o motorista deu ré parando exatamente em frente ao ponto. Seu coração acelerou e quase salta no chão quando o vidro foi abaixado.

-Desculpa o banho – o tom era rouco e suave ao mesmo tempo – eu estava distraída – tentou um sorriso – entre, eu lhe dou uma carona.

- N-não precisa... o ônibus passa daqui a pouco – como se não estivesse ali há quase 1h – E não quero molhar o carro.

- Nada justo para quem lhe deixou ensopada – ergueu a sobrancelha – Entre Juh.

Seus olhos se arregalaram quando Léa chamou o seu nome e ela adorou a forma carinhosa, falando daquele jeito ela entraria em qualquer lugar. Colocou a mochila na cabeça e andou apressadamente até o carro abriu a porta e sentou. Só depois se deu conta que estava dentro de um lugar fechado como a Léa.

- Desculpa o banho – Lea deu um leve sorriso – Só quando eu passei vi o estrago que havia feito – deu um leve tapa no joelho da jovem – Espero que não fique resfriada.

Juliana estava inebriada pelo perfume de Lea e nervosa pela aproximação repentina, ela tremia e batia o os dentes.

- Vou ligar um pouco o aquecedor, você está tremendo.

- Está tudo bem – tentou sorrir, mas o que saiu foi um tilintar de dentes – Não precisa.

- Eu acho que precisa sim – sorriu.

Juliana sentiu como se braços quentes lhe envolvesse quando o aquecedor foi ligado. O congestionamento estava quilométrico o que provavelmente lhe renderia mais alguns minutos como Léa.

- Pode me deixar no terminal mais perto d.Léa, não quero lhe incomodar.

- Irei lhe deixar em um lugar seguro, hoje o trânsito está um caos – disse aborrecida – Posso lhe deixar em casa quando conseguirmos sair daqui.

Juliana observou como Lea estava bastante arrumada, provavelmente iria a alguma festa ou reunião. Estava difícil disfarçar os olhares desejosos e a inquietação.

- Não te vejo mais lá na empresa, aconteceu alguma coisa?

-“meldels do céu! Ela notou a minha ausência, vou enfartar” – Não senhora, não aconteceu nada, apenas mudei o horário.

- Hum, algo específico? Aconteceu algo lá na empresa?

-“Aconteceu que eu quero seu corpo nu” – Não, como eu estou de férias da faculdade posso ir nesse horário – sorriu.

- Estranho, geralmente as pessoas gostam de descansar nas férias, principalmente quem estuda a noite. Mas não quero intrometer na sua vida – olhou para Juliana – Só acho uma pena não tê-la conosco durante o dia, gosto das suas ideias.

- “eu vou morrer agora! Gzuis amado! Socorro” – Obrigada – sorriu tímida – Tenho me esforçado.

- Eu sei disso, não é fácil ser mulher no meio de tantos gamers, nerd e programadores. A testosterona chega a ser palpável – sorriu – Por isso senti sua falta lá, gosto da forma como você trabalha, da sua visão e ideias. E precisamos de novas ideias para esse jogo, a morte do Mark foi um golpe duro.

- Imagino – a sua deusa imaginária estava dando piruetas de felicidade – Deve estar sendo muito difícil.

- Parece que o trânsito andou – sorriu.

- “Que pena” – a deusa murchou.

Aproveitando a oportunidade, Juliana abriu a “torneira” e começou a conversar sobre programação, games, consoles e jogos, não sabia se era empolgação por ter conseguido tomar a atenção da chefe ou excitação por estar ao lado da mulher que desejava.

- Gostaria de jantar comigo? – Léa perguntou sem deixar Juliana terminar o que estava falando.

Continua....

Fim do capítulo