Prólogo
Passava das sete da manhã, horário previsto para que começasse a minha primeira aula na universidade. Eu estava, além de ansiosa, muito empolgada com a nova rotina que teria dali em diante. Há mais de três meses eu já tinha feito dezoito anos, ou seja, já alcançara a minha maioridade civil, mas somente a partir desse dia eu sentiria o peso de já ser dona do meu nariz. Cidade nova, longe da minha mãe, uma casa só minha, faculdade... Todas essas novidades me assustavam um pouco, mas a alegria e a vontade de viver intensamente essa nova fase eram maiores.
Por e-mail, me enviaram o cronograma das aulas, que indicava que a primeira seria a de Teoria Linguística I, com a professora dr.ª Carolina de Sousa Moraes Correia, na sala 05. Me interessei de cara pela disciplina. Na verdade, eu gostei de todas elas pelo mesmo motivo. Escolhi o curso de Letras por pura afinidade mesmo. Fiz o ENEM e passei para a universidade que eu queria. Por ser em tempo integral, o curso não me permitiria trabalhar, mas a minha mãe me assegurou que eu poderia fazê-lo despreocupada, pois ela me bancaria totalmente. De fato, esse não era o único privilégio que teria em minha vida. Filha única, fui criada pela minha mãe, que se separou do meu pai antes mesmo que eu nascesse. Ele, aliás, eu nunca vi. Nem por fotografia. Mas a minha mãe conseguiu suprir perfeitamente essa ausência. Ela graduou-se em Psicologia, mas foi no ramo do turismo que encontrou seu sucesso. Deixou a cidade natal dela, o Rio de Janeiro, com uma filha de cinco meses no colo e um sonho muito latente em seu coração: ter uma pousada no litoral do Ceará. Assim o fez. Hoje, ela tem uma rede de pousadas muito consolidada em Beberibe, Aquiraz e Cascavel, inclusive foi nessa última cidade que decidiu morar, junto comigo, até então. Agora vou morar em Fortaleza.
Enquanto relembrava todas essas coisas, eu nem reparei que a professora já tinha entrado em sala de aula. Muito tranquilamente, ela colocou suas coisas no birô, virou-se e deu um caloroso bom dia, acompanhado de um sorriso radiante. Ela era linda. Aparentava ter uns trinta e poucos anos. Seus cabelos loiros tingidos caíam harmoniosamente sobre a sua camisa azul com bolinhas. Ela tinha um rosto muito bonito e um corpo muito bem desenhado, mas nada artificial. Um corpo natural de uma mulher bonita. Fiquei reparando discretamente a sua beleza, enquanto ela se apresentava e apresentava a disciplina. Nunca fui do tipo que tem sonhos eróticos com professoras, mas também não podia negar que a professora Carolina era muito bonita, então não fazia mal admirá-la. Porém, meu foco mesmo era a aula.
Não foi muito difícil prestar atenção. Ela era muito boa dando aula, fazia com que a turma se interessasse pelo assunto, meus colegas até faziam perguntas e comentários. Eu, ainda procurando conhecer o ambiente, apenas observava-os.
O fim da aula chegou, mas, como ainda não tinha feito amigos, decidi ficar o intervalo na sala mesmo. Assim, todos foram saindo, ficando só eu e a professora, que mexia no celular, demonstrando estar com algum problema com o aparelho.
– Querida, por favor, você poderia me ajudar com esse celular aqui? – disse ela, se aproximando de mim.
– Claro. Qual é o problema? – respondi prontamente, sem encará-la, deixando entrar em ação o meu lado de falsa tímida.
– Os meus dados móveis não estão funcionando.
Chequei e aparentemente tudo estava certo, a menos que...
– Professora, o chip que tem o 3G é o da Claro?
– Não, é o da Tim.
– Ah, então deve ser só isso.
Configurei a operadora e o problema estava resolvido. Clássico caso dos professores que têm doutorado, mas não sabem ligar um data show, pensei.
– Você deve estar pensando que eu sou uma piada com tecnologia telefônica, não é? Mas não é para tanto, eu só esqueci disso porque estou muito aflita. Problemas em casa. Enfim. Muito obrigada – parou como quem quisesse se lembrar do meu nome, que eu havia dito durante a rodada de apresentação da turma.
– Mirela – falei, esboçando um sorriso tímido, mas ainda sem lhe olhar nos olhos.
– Muito obrigada, Mirela.
Então, eu levantei o olhar e apertei sua mão que estava estendida para mim. Quando nossos olhos finalmente se encontraram, alguma coisa dentro de mim se estremeceu completamente. Não era somente aquele rosto, afinal, eu já havia o admirado antes. Talvez fosse por causa do encontro. Do choque. Cara a cara. Sozinhas. Abrimos ao mesmo tempo um sorriso respeitoso e, então, ela disse:
– Até logo, Mirela. Obrigada mais uma vez e bom dia.
Depois, saiu, me deixando feito uma boba pensando no que tinha acontecido. Okay, não aconteceu nada demais, mas o que me deixou tão mexida foi aquela sensação, que se estendia até aquele momento. Uma sensação que eu não sei definir por nada além de boa. Uma sensação boa.
Fim do capítulo
Gente, se puderem, por favor, me passem o feedback, porque isso é fundamental. Logo mais posto o outro.
Beijos!
Comentar este capítulo:
tavaresmarcielly
Em: 29/12/2018
Adorei!!!
Quem não adora um drama clássico de sapatão, né?
Ansiosa pelos próximos!
Resposta do autor:
Quem não, né?
Obrigada!!
<3
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