Luiza

Eu acordei louca de vontade para fazer xixi e corri para o banheiro. AnaLu estava em pé escovando os dentes e sorriu para mim. Sentei no vaso sanitário e dei um suspiro aliviado. Sabrino veio me dar bom dia todo feliz abanando aquele rabo enrolado. Na verdade, ele não abana o rabo. Abana a raba inteira. Abana o popozão! Fiz carinho na sua cabeça e o abusado colocou as duas patinhas nas minhas pernas pedindo colo. Olhei para aqueles olhos saltados e não resisti, dei.

— Linda, assim você vai acostumar mal esse safado e nunca mais vai conseguir usar o banheiro em paz! Toda hora ele vai querer colo!

— Aí, Ju mas olha que fofo ele tá hoje! – Sabrino estava todo trabalhado na beleza, vestido de salva-vidas, mas escrito SALVA GATAS!

— Vish! Deve ter chegado a encomenda da mamãe e da AnaBea, as duas amam fantasiar os bichos! Acharam um site novo que tem um monte de coisas!

— Mas, olha que lindo ele tá!

— Pior que tá mesmo. – ela disse o pegando do meu colo e indo para o quarto.

Após nos arrumarmos, descemos as escadas de mãos dadas e nos sentamos à mesa do café da manhã onde todos estavam presentes menos meu afilhado que havia dormido na casa da namorada.

— Bom dia, família linda do meu coração! – AnaLu fala já me servindo de café enquanto eu pegada um pedaço de melancia e colocava no seu prato. Ela amava essa fruta. – Dormiram bem?

— Dormi sim, filha! – Mazé fala sorrindo e me alcança o pão de queijo quentinho.

— Sério, Mainha? – Nanda fala com um olhar divertido e Clarinha a cutuca. – Sabe que eu demorei um pouquinho...

— Insônia, filha?

— Né não, escutei uma chaleira no fogo apitando e achei que a senhora tinha deixado o fogão ligado. – Nanda recebeu um tapa, AnaBea parou de comer e ficou nos olhando com uma cara divertida e AnaLu deu uma risada. Ué, não entendi.

— Tá ouvindo coisa, Fernanda?

— Não, mainha, até desci né, pequena? Fui até a cozinha.

— Nanda, PÁRA – Clarinha disse.

— Que estranho, filha. Vou lá pegar as panquecas quentinhas que a Edy tá fazendo. – Nanda esperou sua mãe sair e nos olhou.

— Não escutou, Lu?

— Não ouvi nada.

— Era mais ou menos assim: Juuuuuuuuuuuuuu... parecia uma chaleira apitando... – Nanda levou outro tapa na cabeça e eu cuspi o suco que estava tomando na mesa, AnaLu gargalhou e AnaBea ficou vermelha, mas não deixou de rir. – E depois tinha uma gata no cio miando... nossa a miadeira foi forte... mas forte!... achei que tavam até matando a coitadinha...

— AnaLu, mas você não disse que tinha isolamento acústico – falei baixinho pra ela.

— Gata, tem...

— Todos os quartos tem, mas se deixar a varanda aberta não adianta nada, né? – enquanto Nanda e AnaLu gargalhavam eu não sabia onde me enfiar.

AnaLu

— Por favor, vai comigo? – Luiza estava linda na frente do espelho enquanto terminava de se maquiar. Ela iria almoçar com a Cris, mas aquilo estava me deixando completamente louca de ciúmes. Era um sentimento tão irracional que eu não sabia o que fazer e estava com vergonha de mim mesma por estar sentindo isso, desse jeito e nessa intensidade.

— Ju, eu combinei com ela ontem...

— Por favor, amor... eu... eu queria que você fosse comigo. – disse sem saber a razão do pedido. Um sentimento estranho tomava conta de mim cada vez que eu pensava na amiga da minha namorada. Eu iria buscar a moto que havia comprado e queria que ela fosse comigo. Economizei a grana que eu ganhava em pequenos shows e vídeos para web para comprar. O dinheiro com as minhas músicas já começou a entrar aos poucos e, segundo o empresário que cuida disso, em pouco tempo iria ser uma das compositoras mais bem pagas do Brasil. Não que eu me importasse com isso.

— Ainda não sei o porquê de você não ter aceitado a moto que eu te dei ou não ter comprado antes...

— Gata, a grana das ações e investimentos é pro futuro e lógico... pra comprar presentes pra você. – ri de lado para ela...só mexo nas minhas economias pra isso. – E você sabe que se eu quisesse não trabalharia e poderia viver de arte e das coisas que a natureza nos dá, like Milena do enem – sorri pra ela.

— Eu sei, e você também tem que saber que agora... – ela me abraça colocando as mãos no meu pescoço fazendo um carinho leve. – Tá namorando uma coroa rica... – me beija nos lábios brevemente – e que quer te mimar...

— Tu sabe que isso vai sair na imprensa, né? “Luiza Nadge assume novinha.”

— Sei... – ela me olha preocupada. – E você, Ju? Vai ficar bolada com as merd*s que vão inventar?

— Gata, eu to comendo LUIZA NADGE – a agarrei pela bunda colando seu corpo ao meu o que fez com que ela desse um gritinho que foi como música para meus ouvidos. - Foda-se o mundo... isso aqui... – encho a mão na sua bunda e coloco uma perna entre as dela, mostrando bem ao que eu me referia. – é meu, só meu! – mordi seu pescoço e ela deu um gemidinho fraco. – Vem comigo, Lulu...

— Tá bom...

Luiza

— Então, Ana Luiza, me acompanhe até a garagem para pegar a moto. – a loira bunduda que estava a toda hora se esfregando na MINHA namorada, e nem olhava para mim falou. -  A sua mãe prefere ficar aqui? – PUTA QUE LOS PARIU! Ela não me reconheceu. Certo que não. Eu vestia um boné, óculos escuros, uma calça larga e jaqueta de couro. Depois que aceitei vir com a AnaLu acabamos na cama e novo banho. Então optei por uma maquiagem bem discreta.

— A minha NAMORADA vem comigo. – ela fala pegando minha mão e a mulher fez uma cara de cú como se dissesse: “Que desperdício!”.  Tínhamos levado dois capacetes. AnaLu ouvia a ladainha técnica enquanto eu ficava mais reservada atrás olhando para a baranga que ainda estava passando a mão na minha mulher que se esquivava.

— Ju? Vou ao banheiro e já venho. – disse e fui até o pequeno recinto me olhando no espelho. Tá, tudo bem. Eu realmente estava parecendo mais velha, mas não TÃO mais velha. Resolvi me vingar um pouquinho da loira sem sal, peguei minha pequena mochila e vi o que havia trazido.

AnaLu

— Qual a sua idade mesmo?

— 18.

— Eu sou super sua fã! Vai voltar com os vídeos?

— Ainda não sei. – falei seca. Aquela mulher, com aquele perfume doce tinha tratado a minha mulher mal, como se ela não existisse e eu estava com uma raiva tão grande que só não tinha perdido a razão porque a Lu me pediu com seu olhar.

— Qual a idade da sua namorada?

— Vai fazer 42.

— Nossa! E seus pais não ficaram bolados com a relação, tipo uma mulher que tem a idade para ser sua mãe e me desculpe dizer... pelo jeito que ela está se vestindo, cuida bem do seu dinheiro... – eu ia responder, mas ela ficou com a boca aberta paralisada olhando para atrás de mim. Eu ouvi um burburinho e vários mecânicos saiam apressados passando por nós. Me viro e vejo a minha mulher MARAVILHOSA dando autógrafos.

Eu não sei como, mas acho que aquela mochila dela é tipo aquela que tem no Harry Potter que tem uma casa dentro, porque... PUTA QUE PARIU! Ela estava com os cabelos soltos em cascata, batom vermelho, olhos com um delineador, sem jaqueta mostrando a camiseta colada com o decote em “V” salientando os seios, a calça larga caia no quadril deixando ver o umbigo e a marca famosa da calcinha que ela modela.... um mecânico estava carregando suas coisas encantado enquanto ela tirava fotos deles com o celular do homem, uma fila se formava atrás dela...

— Sabe... – conferi seu nome no crachá – Soraia, acho que qualquer pai ou mãe ficaria orgulhoso em ter uma nora dessas, você não acha? Mas pode ficar tranquila que vou ficar de olho no meu dinheiro.

— Oi, qual o assunto? – Luiza chega maravilhosa e a loira não consegue disfarçar.

— Soraia estava preocupada em você usar meu dinheiro...

— Ah... é mesmo? – Luiza deu aquele sorriso maquiavélico. – Soraia posso te dar um conselho? – a mulher confirmou ainda muda. – Não julgue somente pelo que você vê. Não julgue um livro pela capa. Você poderia ter perdido a sua venda hoje, só pelo seu comentário. As pessoas são mais que roupas, jeitos, tatuagens e cortes de cabelo... Vamos, Ju?

Luiza

Agarrada ao corpo da minha namorada eu sentia uma felicidade tomar conta de mim. O vento batia no nosso corpo, a velocidade que ela infringia naquele veículo, o valor do seu corpo junto ao meu...

— Ju, a gente podia fazer uma viagem de moto, o que você acha? -  Chegamos em casa mas queria ficar mais tempo assim com ela.

— Sério, gata? Tu pilha? Nossa, seria um sonho! – ela fala toda feliz.

— Sim!

Jake que nos seguia discretamente todo esse tempo fala que ligaram de casa pedindo que eu vá até lá porque a Cris estava me esperando. Olhei para AnaLu que fechou a cara. Segui até a minha residência e encontrei a minha amiga sentada na sala.

— Lu! Que saudade! – ela me abraça apertado. Cris foi muito importante para mim em várias fases da minha vida e me sinto culpada em usa-la.

— Cris, desculpa... mas foi uma correria. Eu e a AnaLu voltamos, amiga! Eu tô tão feliz! – ela sorri para mim e me abraça.

— Que bom Lu! Eu quero que você seja feliz! Mas eu vim porque quero fazer uma festa de aniversário para você na minha ilha no litoral e não aceito não! Meu resort vai ser fechado para seus convidados! Vai ser meu presente a você.

Fim do capítulo