Um divino amor. por SrtaM
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--Atalanta é a leoa de Vênus?!-Exclamaram Julho(Hera), Íris e Mercúrio(Hermes) ao ouvirem o que Diana os disse.
Os três deuses haviam ido encontrar a deusa da caça, pensado que a mesma estivesse com a corredora. Ao invés disso, receberam uma espantosa notícia de Diana. Minerva(Atena) queria ter comparecido, entretanto a deusa do saber teve de acertar os preparativos para tribunal em que julgaria.
--Foi o que eu disse.-Respondeu a caçadora de forma ríspida.
--Diana, seja mais clara! Em um ocorrido como este, tens de ser detalhista!-Advertiu Juno(Hera).
--Tudo bem...-Disse a deusa da caça após um suspiro.-...Atalanta aceitou uma corrida com o asco do Hipomene mesmo sabendo que eu já havia ganhado. Seja lá como, Hipomene conseguiu vencer. Atalanta teve, então, de tornar-se noiva dele por ser uma teimosa. Certo dia, a voz de Vênus apareceu para os dois dizendo que Hipomene não havia prestado agradecimento a ela. Provavelmente ela deve ter influenciado a vitória dele. A deusinha folgada, portanto, mandou seu filho, o Cupido, outro asco, para capturar os dois após ter transformado-os em um casal de leões.
--Quer dizer então que Juno quase matou sua...Aaiiii!-Bradou a deusa mensageira com dor após sentir um forte e sutil chute de Juno(Hera) em sua canela, interrompendo bruscamente sua fala.
--Quase matei sua noiva de carinho!-Completou a deusa do céu com um sorriso amarelo e fingindo uma doçura que pareceu forçada.-Ela é a leoa mais fofa que eu já vi!
--Tem Vênus maltratado-a?-Perguntou Diana.
--De forma alguma.-Começou a dizer Mercúrio(Hermes)-Antes, tem dado a ela tudo do bom e do melhor! Ela nem sequer puxa a carroça de Vênus, apenas Hipomene. Vênus fez até questão de deixar ambos separados.
--Mas olhe só como ele vai em defesa de Vênus.-Comentou Íris sarcasticamente, fazendo o deus franzir o cenho.
--Acho bom mesmo. Se eu descobrir que Vênus fez algo à Atalanta, eu mesma desfigurarei a face dela.-Sentenciou a deusa da caça.
--Isso mesmo, Diana. Dê um jeito em Vênus de forma que ela nunca mais se esqueça.-Incentivou a deusa do céu.
--Diana, tenha calma.-Advertiu o deus mensageiro.
A deusa da caça parecia ponderar todas as possibilidades em seu silêncio. Seu humor não era um dos melhores. Na verdade, era o pior. Sua respiração era pesada. Só pensava na corredora. Estava magoada por Atalanta ter feito aquilo, porém ainda sentia algo ardendo dentro de seu peito. Um amor ardente.
--Então, como pretende resgatá-la?-Perguntou o deus mensageiro.
--Bem, basicamente eu entrarei no lar de Vênus e mandarei ela dar minha leoa, digo , mulher.
--Diana, irás criar uma briga com Vênus?-Perguntou Mercúrio(Hermes) de forma preocupada.
--Acho digno.-Pronunciou-se Juno(Hera) antes que Diana pudesse responder.
--Já era hora de alguém fazer algo do tipo!-Disse Íris.
--Diana, acho melhor furtarmos Atalanta de Vênus.-Propôs o deus mensageiro.
--Furtar? Furtar?! Como ousas falar de furto se foi ela quem furtou Atalanta de mim?!
--Diana, entendestes-me...
--Estás certa, Diana. Chegue lá quebrando tudo!-Incitou a deusa mensageira.
--Concordo com Íris.-Disse Juno(Hera).
--Diana, sabes muito bem o que Minerva falaria em uma situação como esta.-Advertiu Mercúrio(Hermes).
--Ela nem está aqui...-Retrucou a deusa da caça como uma criança birrenta.
--Mas estará para dizer "eu te avisei" quando der errado.-Disse o deus mensageiro falseteando a suposta fala da deusa do saber.
--Vamos furtá-la.-Constatou Diana convencida, pois odiava as repreensões de Minerva(Atena).
--Diana, és muito desajeitada em furtos.-Comentou Mercúrio(Hermes) implicitamente oferecendo-se ao cargo.
--Diana, posso velozmente chegar onde Atalanta está e capturá-la.-Ofereceu-se Íris.-Sou muito discreta.
--De fato, uma maluca com um traje de ouro esquisito correndo em uma ponte brilhante e colorida prestando apresentações aos sete ventos é realmente muito discreto.-Intimou o deus mensageiro de forma sarcástica.-Diana, incuba-me deste ofício e não falharei!
--Ora, seu...Era isso o que querias, não é mesmo? Ter pretextos para encontrar-se com Vênus!-Acusou Íris.
--Não seja boba! Vênus será a última pessoa que poderá me ver na hora, e não preciso de "pretextos" para encontrar-me com ela.-Respondeu Mercúrio(Hermes), fazendo a deusa rival enfurecer-se.
--Acalmem os ânimos os dois e deixe Diana decidir-Interpelou a deusa dos céus.
--Mercúrio, traga Atalanta. Íris, ache algo para transformá-la em uma mulher novamente.-Disse a deusa da caça.
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Por onde a deusa Diana havia passado em seu estado de fúria após saber da verdade, haviam rastros de destruição. Foi em um desses locais destruídos que estavam Nárcis e Tíffani. Ambos examinavam o ambiente. Foram atraídos pelo barulho de grito e estrondos como trovão vindos deste local assim como algumas outras pessoas.
--Mas o que houve aqui?-Questionou Tíffani de forma temerosa.
--Não sei ao certo.-Respondeu Nárcis de forma pensativa e enigmática.
--Parece ser algo perigoso.
--Por certo, foi um urso. Não é a primeira vez que isso acontece. Aliás, acho que podemos usar isso ao nosso favor.-Disse o magnata portando um sorriso malicioso.
--O que planejas?
--E se...Um urso selvagem tivesse matado ambos Hipomene e Atalanta, estando eles já casados.
--Estas a forjar a morte de ambos?
--Sim, minha cara. Precisaremos apenas de um pedaço das vestes de Atalanta e de Hipomene. Asseguraremos que eles nunca mais voltem. Desta forma, apenas o velho Esqueneu estará em nossa frente, um alvo um tanto fácil de ser eliminado. Logo após, Ciros será nossa.-Esquematizou Nárcis para,logo após, rir maliciosamente junto de sua esposa.
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--Então, meu bebê-Começou Vênus a mimar sua leoa como havia acostumado-se a fazer.-Seus pêlos estão bem macios...Olhe, só. Em tão pouco tempo... Enfim, terei de me ausentar por um curto período, mas,logo logo, Cupido chegará. Trarei várias coisas para ti.
Atalanta assentiu com a cabeça e continuou recebendo os mimos da deusa do amor.
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-- "Como raios farei para conseguir transformar Atalanta em sua forma original sem precisar de fazer com que Vênus desfaça o feitiço?"-Questionou Íris em seus pensamentos.-Já sei!
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O calor pairava em solo helênico. Aurora mostrava-se impiedosa. Estava, na verdade, exalando euforia. No entanto, a alegria de uns era motivo para a tensão de outros. Lá estava Esculápio minuciosamente operando um soldado ferido. Maldita hora que o curandeiro fora elevar seus olhos aos céus para suspirar, pois foi quando pôde ver um uma ponte colorida se formando e indo em sua direção.
-- "Ah, não! De novo, não!"-Pensou o jovem Esculápio.
--Saudações, filho de Apolo. Quem põe-se a falar contigo é Íris, filha de Electra. Regozije-se, pois será incumbido a ti o privilégio de auxiliar os deuses.-Anunciou a deusa mensageira com o peito estufado.
--A-Algo aconteceu à Diana?-Preocupou-se o curandeiro.
--Não, porém algo aconteceu com alguém íntimo dela.
--Conte-me.
--Não estamos em um momento propício...-Disse Íris apontando para o oficial ferido com a cabeça de forma sutil.
--Deusa Íris? Filho de Apolo?-Questionava o soldado em grande surpresa.
--Vejo que o tranquilizante que te dei está fazendo efeito a ponto de Morfeu (deus dos sonhos) pregar peças em ti estando acordado. Vamos tratar desse assunto assim que eu acabar de operá-lo.-Disse essa última frase sussurrando ao ouvido da deusa.
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Tárcilis e Linus passavam incontáveis momentos do dia juntos a Esqueneu para consolar uns aos outros. O ambiente ficava em silêncio. Nenhuma palavra precisava ser dita. A dor era a única que ousava se manifestar. Fortes barulhos de batidas na porta, porém, foi o que quebrou tal rito. A jovem ruiva foi quem se levantou para atender quem quer que fosse. Entretanto, sua face tomou uma expressão pesada ao ver de quem se tratava.
--O que quereis?
--Precisamos dar uma notícia a Esqueneu.-Disse Tíffani com a face úmida de falsas lágrimas.
Tárcilis, já com o coração apertado, apenas permitiu a entrada do casal.
--A notícia que trazemos é muito delicada, Esqueneu...-Disse Nárcis ao aproximar-se do magnata.
--T-Tem algo a ver com minha filha?-Perguntou com a voz trêmula.
--Ouvistes um forte barulho ontem?-Perguntou Tíffani
--S-Sim...
--Pois, eu e minha esposa fomos ao local de onde veio o atordoante som, e deparamo-nos com um lugar devastado. Árvores caídas, terra mexida...Ao vasculharmos mais, encontramos isto.-Terminou Nárcis de dizer e expôs pedaços de roupa de Hipomene e de Atalanta, que conseguiram após contratar um ladrão para obtê-la. Ambas as peças estavam ensanguentadas.
--N-Não pode ser!-Exclamou Tárcilis após reconhecer a roupa de sua amiga.
--Q-Quer dizer que...-Disse Esqueneu com o pouco de força que o restava.
--Deve haver algum engano! Talvez não seja de Atalanta!-Exclamou Linus.
--Meu caro, bem sei que é difícil. Também estamos chocados. Não foi apenas Atalanta, mas Hipomene também. Mas, de fato, essa peça pertence a ela, que aliás havia fugido com ele.-Disse Tíffani de forma sentimental.
Tárcilis não tinha forças para amparar Esqueneu , quem começou a romper-se em lágrimas como uma criança. A ruiva estava paralisada. Não podia perder seu amor assim. Não sabia o que fazer.
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--Conte-me em que posso-lhe ser útil?-Perguntou Esculápio à deusa mensageira após guiá-la a um lugar afastado.
--Bem, a história em si é longa, mas preciso que você faça com que uma leoa que já foi mulher volte a sua forma original.
--O que?! O que pensas que eu sou??? Sou curandeiro, não um deus!
--Ora, pois, fizestes milagres, certo?!
--Sim, mas eram para curar enfermos!
--Mas já ressucitastes até mortos!
--Foi tudo em nome da cura!
--Aaahh...Vejo que me expressei mal...-Começou Íris a maquinar um plano persuasivo.-Essa mulher a qual me refiro padece de uma doença raríssima...
--Uma doença rara?!-Perguntou Esculápio, quem era fascinado em descobrir curas para doenças desconhecidas.
--É o primeiro relato dessa doença em toda história!-Exclamou sorrindo após perceber que sua isca havia sido fisgada.-Acontece que a bela mulher que tem portado essa enfermidade começou a apresentar sintomas raros e estranhos!
--E quais são eles?
--Sua pele foi coberta por uma pelugem da cor do milho. Seus ossos movimentaram-se de lugar de forma que não consegue manter-se de pé. Seus dentes foram alongados e seu nariz modificados. A forma que sua boca tomou não a permite falar. Algo em sua parte posterior surgiu e assemelha-se a uma calda.
--Incrível! Realmente, algo inimaginável!
--Então? Pode nos ajudar? É para hoje.
--Creio que sim, porém receio não poder entregar o antídoto a tempo e Diana acabar ceifando minha vida...-Disse Esculápio já suando de preocupação.
--Não precisa se preocupar com os castigos que Diana poderá lhe aplicar se falhar, pois, caso não entregue a cura na hora, eu mesma te matarei.
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Diana se mantinha sentada sobre uma pedra. Corpo rigido e olhar fixo para o horizonte. foi de repente que Íris surgiu, porém a caçadora pareceu não levar um susto. Parecia pensativa. Após pigarrear, a deusa mensageira começou a falar:
--Com licença, grande deusa Diana, exímia na arte da ca...
--E então? Conseguiu o que lhe pedi?-Perguntou a deusa com uma expressão ansiosa. Era notório que seu estômago estava embrulhado.
--Aqui está!-Respondeu Íris exibindo orgulhosamente um certo frasco em sua mão.
Diana esboçava nenhuma expressão tamanha a surpresa. Apenas conseguiu apertar firmemente os ombros da outra e olhar em seus olhos fixamente. Logo após esse ato, um grande abraço apertado deu na mensageira, quem não estava acostumada com essa espécie de agradecimento, acabando por ficar com a face rubra.
--F-Foi um prazer...
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Muito tempo devia ter passado, pois já estava anoitecendo, e Atalanta rondava a luxuosa casa quando se deparou com um deus que a olhava. Sabia que era Mercúrio(Hermes), pois havia visto Vênus(Afrodite) falando com o mesmo. Em um piscar de olhos, a leoa se viu dentro de uma grande sacola de pano, e, em outro piscar de olhos, se viu dentro de uma floresta escura.
Era capaz de ouvir os barulhos misteriosos que a floresta permitia soar às noites. A neblina fina vinha como um sussurro. Para Atalanta ela sussurrava:"Estás desprotegida" e isso a assustava imensamente. Podia sentir seu corpo tremer. Sua vontade de correr para todos os lado fazia com que a leoa não saísse do lugar.
Sentiu algo pingar em seu corpo, porém, ao virar-se, não encontrou ninguém. Voltou seu corpo à posição inicial e pode ver uma figura perante si. A neblina fazia da silhueta um mistério, mas logo pode identificar. Era a caçadora imprudente! Ela, porém possuía um olhar diferente, um olhar prepotente e julgador. Olhava-a de forma julgadora e avaliativa.
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Diana olhava a mulher à sua frente com um olhar de superioridade. Sua respiração pesada caia sobre o corpo desnudo da corredora. A deusa tirara um pouco o pesar de sua expressão ao passear seu olhar pelo belo corpo de Atalanta enquanto arqueava uma de suas sobrancelhas.
A bela mortal não entendera o porquê da caçadora não ter fugido, visto que era supostamente uma leoa. Foi, então, ao olhar para suas mãos, que Atalanta percebeu que estava em sua forma original. Por um curto tempo, a corredora pode perceber que a corredora admirava seu corpo com um leve esboço de sorriso no canto dos lábios. Foi, porém, com o movimento brusco de Atalanta para cobrir seu corpo que a deusa saiu de seu transe e voltou com sua pose rígida.
--Cubra-se.-Disse Diana ao jogar sua pele de ursa sobre o corpo da corredora.
--O-O quê? C-Como assim? Como tu...
--Levante-se.
--Olha, eu não sei bem o que está acontecendo. Acho que entrei em estado de insanidade. Não sei como vim parar aqui. Eu...
--Ande logo.-Disse a caçadora Interrompendo Atalanta, quem cuspia palavras, enquanto a puxava pelo braço apressadamente.
--Espere! Não vou a lugar algum contigo! Nem bem te conheço!
--Apenas ande!
--Primeiro me responda o que estás fazendo aqui e para onde estás a me levar.
--Então terei de te levar à força.-Disse a deusa de forma calma enquanto paradoxalmente puxava brutalmente a corredora pela coleira extravagante que estava em seu pescoço.
Atalanta gelou o corpo ao perceber que estava com a coleira: não era uma alucinação.
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Tárcilis e Linus tiveram de deixar de fazer companhia a Esqueneu e rumaram à casa da ruiva. Precisavam caçar para ajudar a cidade, pois o melhor caçador estava em falta.
--Por Júpiter, Tárcilis! Quantos ornamentos diferentes em sua casa!-Exclamou Linus surpreso enquanto olhava as decorações nórdicas do interior da casa de sua amiga.-São tão...-Hesitou ao cautelar-se na procura da palavra mais adequada.
--Bárbaros? Sim, eu sei.-Disse a ruiva enquanto olhava para o chão.
--M-Me desculpa, eu...
--Tudo bem. Não sou helênica. Não precisa fingir que sou. Meus cabelos logo me delatam.-Respondeu Tárcilis com um fraco sorriso.
--Não há problema algum nisso! Eu apenas achei diferente. Aliás, um pouco depois da metade da tarde, é da cor dos teus cabelos que fica o cabelo de Aurora.
--Eu a deixei parti sem saber de minha origem...-Disse a ruiva de forma melancólica enquanto se lembrava de Atalanta.-O que será que ela falaria se soubesse? Ela me chamaria de mentirosa? Barbara? Farsante?
--Pare com isso Tárcilis! Ela não acharia ruim! Se nem com deuses Atalante se importa, o que dirá com o lugar de que viestes...
--Sinto tanta falta.-Disse a jovem enquanto mergulhava sua face no peito de seu amigo, quem tentava se manter forte.
--Calma...Vai passar...-Disse acariciando os cabelos ruivos de sua amiga.
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Com o tempo, Atalanta percebera que a caçadora não estava sendo mais tão bruta ao conduzí-la. Atalanta também reconhecera o local: Círos.
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Esqueneu mantinha-se encolhido no grande salão. Não tinha forças para mover-se. Seus estômago estava embrulhado. Como era triste para um pai perder sua filha. Sentia-se culpado por tudo isso. Não cuidou o bastante dela. Havia falhado. Havia falhado como pai. Já havia chorado tanto que suas lágrimas tornaram-se banais. Não havia uma forma para expressar sua dor com exatidão.
De repente, o velho homem pode ouvir barulho de batidas na porta. Não queria atender. Estava sem vontade alguma. As batidas continuavam, fazendo o velho homem encolher-se entre as pernas e tampar os ouvidos. Foi então que ouviu um barulho mais forte ainda: a porta havia sido arrombada. Olhou em sua direção e ficou sem reação perante o que via: Diana arrastando Atalanta pelos braços e praticamente a lançando em sua direção.
--Está entregue.-Estatou a deusa com voz ríspida.
--Como és bruta!-Exclamou a corredora enquanto massageava o braço que havia sido fortemente agarrado.
--Eu não posso crer! Minha filha Atalanta!-Exclamou Esqueneu com a face coberta por lágrimas enquanto agarrava e beijava a face de sua filha. Estava para explodir em felicidade e virou-se para a deusa-Muito obrigado, minha deusa Diana! Muito obrigado! Louvada seja eternamente! Não sei como agradecer! Farei uma grande festa e um grande sacrifício em tua homenagem!
Atalanta, ao ouvir a forma como seu pai tratou a caçadora, paralisou-se. Não poderia ser possível! A mulher quem havia conhecido era a deusa da caça! E se fosse, por que não havia a matado? Visto que sempre zombava dos deuses. Como isso poderia estar acontecendo? A corredora nada conseguiu dizer, apenas se encolheu nos braços de seu pai.
--Eu disse que cuidaria dela e pretendo continuar fazendo isso.-Disse a deusa enquanto pousava seu cortante olhar sobre Atalanta. Parecia despir a corredora com os olhos. Esqueneu tão extasiado não pode ver que o olhar da deusa transbordava desejo.-A questão é que tua filha não pode continuar vivendo aqui.
--Mas por que, minha deusa?-Perguntou o homem.
--Ainda perguntas o porquê?! És insano! A previsão era clara: Atalanta seria atingida por uma grande desgraça caso se unisse a um homem. Tu, irresponsavelmente, arranjas uma grande corrida para o casamento de tua própria filha. Essa, por sua vez, teimosamente aceita correr contra um asco trapaceiro e perde a corrida tendo de se casar com o mesmo, e tu ainda me perguntas o porquê?!-Indagou a deusa de forma alterada, suspirando após terminar sua fala.
--Espera, por que nunca me falaras sobre essa previsão?-Perguntou Atalanta ao seu pai de forma desapontada.
--Eu queria te poupar de viver uma tristeza sabendo que haveria de passar a vida sozinha...
--Tristeza? E como acha que estou me sentindo agora?! Prefiro viver sozinha do que viver uma mentira!
Diana observou a corredora em sua fala. Parecia tão valente e determinada, mas, ainda sim, tão frágil e vulnerável. Queria cuidar dela e dar todo o amor que ela merecia. Queria acariciar sua face e envolvê-la em seus braços, protegendo ela de tudo que poderia causar mal. Queria-a para si. Queria amar cada parte de seu corpo e fazê-la se sentir como a deusa que deveria ser.
--Ela voltará comigo.-Sentenciou a deusa pegando ambos pai e filha de surpresa
--O que?!
--Eu não vou a lugar algum!
--Não tens escolha.-Disse Diana.
--Mas, minha deusa, não haveria outra saída?!-Insistiu Esqueneu .
--Não. Tua filha provavelmente será caçada.
--Por que?-Perguntou o homem.
--Vênus havia a transformado em sua leoa particular junto de Hipomene. Não duvido que daqui a alguns dias ela venha a procura de Atalanta.
--Pensei que minha filha e Hipomene tivessem sido pegos por uma fera.
--"Levando em consideração que se trata de Vênus, não deixa de ser uma verdade"-Pensou Diana-A fonte de tua informação estava errada.
--E-Eu não irei!-Constatou Atalanta com peito firme procurando a coragem que lhe fazia falta.
--E o que farás para impedir uma deusa como eu?-Perguntou a caçadora divertindo-se com a situação.
--Mate-me!-Bradou a corredora, fazendo Diana arquear uma de suas sobrancelhas.
--Minha filha, não diga tolices!
--Mortais...Sempre usando sua mortalidade como fim para tudo.
--Se o problema é eu acabar envolvendo-me com um homem, mate-me agora e acabemos com esta situação!-Estava decidida.
--Tua coragem é louvável...-Começou Diana a dizer enquanto aproximava-se da corredora, fazendo a mesma recuar seus passos-...Porém suponho que estejas a esquecer-se de algo muito importante...Pelos menos, para mim...-Olhava fixamente para a jovem mulher a sua frente, quem, com o corpo, a temia.
--Do que estás a falar?-Perguntou um desorientado Esqueneu.
--Tua filha irá se casar comigo.
--O que?!-Espantou-se o homem.
--Fui a primeira a vencer a corrida. Corri com ela após os outros, como estava permitido nas regras.
--N-Não pode ser! Então Atalanta terá de se casar com uma mulher?!
--Deusa.-Corrigiu Diana claramente incomodada com a desaprovação de Esqueneu .
--Mas há de haver outro jeito. Eu posso...
--Chega!-Bradou a deusa já irritada com o magnata.-Então prefere tua filha à mercê de um mortal que pode trazer-lhe a desgraça a deixá-la casar-se com uma deusa que a protegerá de qualquer perigo? Mas que tipo de pai és a final?-A deusa da caça estava bem alterada.
--Não foi isso o que quis dizer, minha deusa...-Disse Esqueneu, quem se curvava perante a deusa para falar.-...Eu apenas acho que Atalanta não se sentirá confortável e feliz ao lado de uma desconhecida.-Quanto mais o homem tentava melhorar, mais piorava a situação.
--Ah, mas com certeza ela se sentiria bem mais confortável e feliz ao lado de qualquer um daqueles infelizes que ganhasse aquela maldita corrida, não é mesmo?!
--Papai, levante-se. O que está feito está feito.-Disse Atalanta reconhecendo sua derrota na corrida e a injustiça que fizera contra a caçadora por desconsiderar sua vitória. Também estava a sentir vergonha alheia de seu pai, quem se humilhava inutilmente por sua causa.
--Mas...
--Sem mas, papai. Enquanto a ti...-Disse olhando fixamente para a caçadora.-Dê-me um dia para despedir-me de todos.
--Eu não sei...É melhor irmos agora já que todos aceitaram tua suposta morte.
--E-Eu, mesmo não tendo muitos vínculos com o povo daqui, tenho duas pessoas das quais não posso deixar de despedir ou deixá-los achando que eu morri.-Disse a corredora com um pesar nos olhos tão pesado que pesava em sua face, fazendo-a mante o olhar para baixo.
A expressão séria de Diana abrandou-se ao ver Atalanta naquele estado. O olhar da bela jovem parecia ter lavado o alma da deusa, deixando nenhuma marca de seriedade, deixando seu peito mais leve de forma que a fez respirar fundo, sugando o ar libertamente. Agora o peito da caçadora estava cheio de ternura e compaixão. A vontade de tomar a corredora para si só aumentava, porém sabia que tinha que manter a calma.
--Tudo bem.-Disse Diana tentando resgatar sua seriedade.-Será neste mesmo momento do anoitecer de amanhã que virei buscá-la.
Após dizer essas palavras a deusa saiu pela grande porta do salão, deixando Esqueneu e sua filha. Os dois se olharam e se abraçaram bem forte. A saudade ainda queimava no peito de ambos.
--Pensei que havia te perdido...-Disse o homem entre lágrimas.
--Jamais, papai, jamais...
--Não queria que fosses embora.
--Por hora, vamos deixar assim. Daremos um jeito.
Fim do capítulo
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