Cartas para Cecília
Antes de tudo...
Noturno – Silva
Lego house – Ed Sheeran
Mi sol – Jesse & Joy
Brasil, 12 de dezembro de 2013.
Cecília era uma moça linda, tinha uma energia de dar inveja a qualquer humano e não humano também. Apesar dos seus 17 anos ela tinha uma beleza especial, e isso denunciava que futuramente iria se tornar uma bela mulher. Recentemente se formou no ensino médio e a cada dia que passava se empolgava a procura de um curso que gostasse. Sempre andava com os cabelos bagunçados e isso a deixava mais linda, sua palavra era autoaceitação. Não era perfeita e nem queria ser, afinal cada um tem sua beleza.
- Vá comprar pão e não quero ouvir nenhuma reclamação dona Cecília Boaventura – A mãe dela advertia. Sempre pela manhã era a mesma rotina, a mãe a acordava as 05h30min da manhã para comprar pão e sempre tinha algumas reclamações que Dona Graça tinha que escutar.
- Bem que a gente poderia negociar esse horário, eu poderia acordar às 6 horas – Fez beiço para mãe.
- Nada disso, e vá logo que o café já está pronto. – Ordenou.
- Ninguém merece acordar nesse horário – Pegou sua bicicleta e saiu resmungando.
Cecília pedalava tranquila pelo calçamento cantarolando uma música qualquer. Quis sentir o vento em seus cabelos e acelerou nas pedaladas. Ela não imaginava que um carro em alta velocidade iria passar pelo cruzamento e jogar seu corpo longe.
***
Brasil, um ano depois.
- Doutora, ela não melhora, quero minha menina de volta – Dona Graça se lamentava. Sua rotina agora era ao lado da filha que há um ano estava em coma sem nenhuma mudança. Os médicos tentaram pedir autorização para o desligamento dos aparelhos, porém ela se recusava fielmente. Sabia que aquilo era apenas uma fase ruim.
- Pode me chamar de Melissa, já nos conhecemos há um ano. Não precisa dessa cerimônia toda dona Graça. – Melissa falava com simpatia, tentava dar o seu melhor para o conforto daquela família, tinha se formado há pouco tempo e aquele caso tocou seu coração. - Mês a mês fazemos exames, sua filha não tem nenhum dano no sistema nervoso e todos os ferimentos estão cicatrizados. O que nos resta é esperar ela acordar. – Melissa não aguentou e abraçou a senhora a sua frente quando percebeu suas lagrimas caírem. – Calma, vamos ter fé.
Melissa era uma médica exemplar apesar de ser considerada muito nova entre os colegas de trabalho. Tinha paixão pela medicina e dedicava todo seu tempo ao trabalho. No primeiro dia que chegou ao hospital pegou um caso complicado. Foi muita correria na emergência, uma moça tinha sofrido um grave acidente. Aquilo tudo foi uma prova de fogo, cuidou da moça e com o passar do tempo foi se afeiçoando com a família. Descobriu muitas coisas sobre aquela moça, era apenas ela e sua mãe cuidando de casa. Dona Graça tinha contado praticamente sua vida toda.
- A senhora precisa descansar – Afagou seus cabelos.
- Estou bem, não quero sair de perto dela.
- Fique tranquila, estou aqui para cuidar dela – Sorriu.
Com muita insistência, Melissa conseguiu com que dona Graça fosse para casa.
- Acorda moça linda, tem tanta gente querendo que você acorde – Melissa falava baixinho ao pé da cama. Não sabia definir seus sentimentos, mas algo a prendia aquela garota. Todo dia Mel presenciava visitas de amigos esperançosos para que Cecília acordasse. Porém essas visitas foram diminuindo assim como a esperança de cada um, apenas Graça seguia firme.
***
Brasil, dois anos depois.
- Não a deixe sozinha Melissa. Prometa que vai cuidar dela – Dona Graça estava no quarto ao lado do da filha, a muito não cuidava de sua saúde e há um ano antes descobriu que estava muito doente. Resistiu o quando pode, mas sabia que tinha chegado seu momento de partir.
- Prometo, ela vai acordar, nunca esqueça que sempre vou estar do lado dela. – Melissa falou e viu a senhora partir com olhar sereno.
Melissa cuidou de tudo, tomou aquelas pessoas como sua família. Depois se trancou no quarto de descanso e chorou por horas. Lavou o rosto e foi de encontro a Cecília que parecia um anjo dormindo. Apesar do coma a garota tinha se tornado uma mulher muito bonita. Cecília era a força que Melissa precisava para acordar todos os dias e ter esperanças. Como dona Graça sempre falava: É apenas uma fase ruim.
Algumas semanas depois.
- Acorda linda – Beijou sua testa. Cecília permanecia imóvel. Melissa decidiu escrever para aquela mulher a sua frente, algum dia sabia que ela iria ler. Mel acabou se prendendo a um amor quase impossível. Recusava qualquer convite para sair com os amigos ou qualquer chance de ficar com outras pessoas. Queria e era um prazer cuidar de Cecília.
***
Brasil, 14 de dezembro de 2016.
‘’Querida Cecília,
Estou feliz por estar ao seu lado, você me torna forte. Queria ter te conhecido em uma situação melhor, mas agradeço aos céus por apenas ter conhecido você e não importa como foi. Alegra-me cuidar de você. Acorda logo, desejo muito ver seus olhos e ouvir sua voz, penso nisso todos os dias. Desculpa ir falando assim, sei que você não me conhece e espero que me aceite na sua vida.
Com amor, Melissa. ’’
***
Brasil, 16 de dezembro de 2016.
‘’Querida Cecília,
Hoje o dia foi complicado, tive quatro emergências e peço desculpas pela correria, demorei em te visitar.
Sonhei com você noite passada e foi tão bom, senti seu abraço e seu cheiro é maravilhoso. Acorda logo minha linda.
Com amor, Melissa. ’’
Todos os dias Melissa sentava ao lado da cama onde Cecília estava e escrevia uma carta. No final, beijava seu rosto e falava baixinho em seu ouvido, vez ou outra era possível ver uma lagrima solitária descendo pelo seu rosto.
***
- Amor, pega a chave do carro, por favor – Cecília estava toda atrapalhada procurando sua chave.
- Nem pelo meu avó – Mel sorria para a esposa.
- Porque você sempre diz isso? – Arqueou a sobrancelha.
- Por que favor rima com avó – Fez graça.
- Vem aqui, você é linda sabia? – Puxou a mulher para um beijo apaixonado.
A cada dia ficavam mais apaixonadas, Cecília tinha se recuperado totalmente do acidente. Acordou do coma e juntas conseguiram enfrentar todos os obstáculos. No dia que a mulher acordou e viu Melissa pela primeira vez, foi como se seu coração fosse sair pela boca, sentiu algo tão bom. Foi muito duro saber que sua mãe tinha partido e nem ao menos pode se despedir, mas com algumas consultas ao psicólogo as coisas foram melhorando. Os dias foram passando e acabaram se conhecendo melhor e meses depois já estavam morando juntas.
- Você só não perde a cabeça porque está grudada né – Mel pegou a chave em cima do sofá.
- O que seria de mim sem você? – Deu um selinho na outra – Tenho que ir amor, estou atrasada.
- Vai com cuidado, a noite tenho um presentinho pra você.
- Sexo selvagem? – Olhou com cara safada.
- Você não estava atrasada?
- Eita, é mesmo. Tchau linda – Saiu na correria.
A algumas semanas atrás as duas tinham decidido ter um filho juntas, visitaram algumas clinicas, tentaram duas vezes e não tiveram sucesso. Melissa estava radiante, pois tinha conseguido na terceira tentativa.
***
No final do dia, Cecília chegou em casa, abriu a porta e estranhou, pois tudo estava escuro. Melissa não havia avisado que iria estar de plantão. Sua surpresa foi grande quando as luzes se acenderam e viu um caminho de pétalas vermelhas até o quarto das duas. Foi seguindo e teve uma nova surpresa quando viu um sapatinho de bebê na cor vermelha em cima da cama.
- Parabéns mamãe – Melissa saiu do banheiro com uma rosa na mão que entregou para a esposa.
- É... é sério? – Já chorava de tanta emoção. Mel apenas fez um gesto afirmativo com a cabeça. Sem palavras para definir o que sentia, Cecília abraçou a mulher e beijou sua boca com amor, ajoelhou e beijou a barriga com muito carinho.
- Amor, faz cócegas – Cecília ria e chorava de emoção.
- Quero te amar e comemorar essa nova fase da nossa vida – Disse beijando e conduzindo Mel para cama. Cecília tirou peça por peça da roupa de Mel, fez isso com tanta sensualidade e calma que estava deixando Melissa louca de tesão.
- Amor, faz isso não – Falou dengosa.
- Fazer o que? Isso? – Começou a massagear devagar o ponto de prazer da outra.
- Ai amor, não me tortura – Rebolava no ritmo que Cecília determinava.
- Então pede pra mim – Disse com voz rouca.
- Safa... safada – Mel já tinha dificuldade em articular as palavras – Quero... quero você... dentro de mim – Foi tudo que Cecília queria ouvir, entrou em Melissa devagar e foi acelerando até sentir o corpo do seu amor relaxar. A noite das duas foi regada de muito amor.
***
Brasil, 24 de dezembro de 2016.
‘’Querida Cecília,
Feliz Natal amor, não sei se posso te chamar assim, mas vou arriscar. Hoje foi tão legal aqui no hospital. Fizemos uma festa para os pacientes e tudo foi bem animado. Peço desculpas antecipado, hoje vou tentar dormir ao seu lado, tomara que não brigue comigo.
Amanhã vou sair com meus pais, mas volto logo. Acorda logo linda.
Com amor, Melissa. ’’
***
Brasil, 31 de dezembro de 2016.
‘’Querida Cecília,
Engraçado, sempre acordo escutando sua voz e ela é tão linda. Sinto sua falta Ceci. As pessoas não entendem e querem que eu saia e conheça outras pessoas, mas eu só quero você. Não me importo em ficar aqui te cuidando. Acorda logo linda.
Feliz Ano Novo amor, acorda logo linda.
Com amor, Melissa. ‘’
***
Brasil, dias atuais.
- Gabriela meu amor você vai acabar caindo – Cecília advertia a filha que tinha três anos e tentava descer do sofá.
- Mama – Gabriela falava toda sapeca.
- Cadê minha princesa – Melissa chegou do plantão, pegou Gabriela no colo e encheu de beijo.
- Esqueceu de mim foi? – Cecília falava emburrada.
- Claro que não amor, vem aqui – Deu um beijo na mulher. – Resolveu tudo na empresa?
- Sim, estou pronta para viajarmos.
- Eu também consegui resolver tudo no hospital, agora é só arrumar nossas malas.
Cecília e Melissa estavam casadas há alguns anos e o amor só aumentava, Gabriela veio para alegar mais a vida das duas. Cecília lutou muito para chegar onde estava, conseguiu entrar para faculdade e com a ajuda de Melissa abriu a própria empresa. E depois de muitas semanas planejando, decidiram sair de férias. A primeira viagem da pequena Gabriela. Iriam para o litoral do nordeste e estavam muito animadas.
***
Brasil, 10 de agosto de 2018.
‘’Querida Cecília,
Não haveria presente melhor do que estar ao seu lado amor, hoje meus colegas fizeram um bolo de aniversário e trouxe para comer aqui junto a você. Os dias passam e só consigo ficar mais apaixonada por você. Acorda logo linda. Eu te amo.
Com amor, Melissa. ‘’
Melissa chorou em silencio ao terminar de escrever, até aquele momento tinha sido mais de 590 cartas e Cecília não reagia a nada.
***
Brasil, 28 de setembro de 2018.
‘’Querida Cecília,
Acorda linda, por favor. Não aguento mais passar meus dias sem conhecer seu sorriso, sua voz e seu olhar. Quero tanto sentir seu beijo. Sinto saudades e nem nos conhecemos, é engraçado como tive coragem de te escrever tantas cartas, espero que não ache isso ridículo. Hoje vou me despedir e essa é a última carta que te escrevo. Eu te amo Cecília.
Com amor, Melissa. ‘’
***
Algumas semanas se passaram, Melissa ia visitar Cecília, dava um beijo no seu rosto e antes de sair do quarto para ver outros pacientes sussurrava um eu te amo em seu ouvido. Melissa não queria se render, mas já perdia as esperança.
Brasil, novembro de 2018.
- Alô – Melissa atendeu sonolenta, sempre deixava seu celular ligado caso houvesse uma emergência.
- Doutora a paciente do quarto 201 acordou – O enfermeiro mal terminou de falar, Mel pulou da cama e correu para o hospital.
- Parece até um milagre doutora – O enfermeiro estava eufórico. Melissa pegou o prontuário da mão do colega e entrou no quarto. Ficou surpresa com a pele corada e a energia que Cecília parecia ter, viu outro enfermeiro finalizando um exame e esperou ele sair.
As duas ficaram se olhando por alguns segundos.
- Oi – Foi tudo que Melissa conseguiu pronunciar e se sentiu ridícula por isso.
- Que linda – Cecília pensou em voz alta, estava encantada. – Desculpa, oi Doutora.
- Pode me chamar de Melissa. – Sorriu e se aproximou.
- Conheço você de algum lugar, só não sei de onde é. Estou confusa. – Coçou a cabeça em sinal de confusão.
- Calma, é normal. – Tentou tranquiliza-la.
- Quanto tempo fiquei aqui? Eu pareço estar mais velha. Cadê minha mãe? Eu me lembro que estava na bicicleta e de repente apaguei.
- Calma Cecília, são muitas perguntas – Riu – Vou responder tudo. Fica tranquila. – Pegou em sua mão e sentiram uma coisa boa. O coração de cada uma se aqueceu com uma energia inexplicável.
Melissa com toda delicadeza e calma, contou para Cecília tudo que havia acontecido desde o dia do acidente até aquele momento. As duas choraram juntas e se abraçaram quando foi falado sobre dona Graça. Cecília não sabia o que pensar quando soube que havia se passado seis anos.
Os dias foram passando, Melissa acompanhava Cecília três vezes por semana até o consultório do psicólogo que era seu conhecido dos tempos da faculdade. No inicio Mel teve receio, não queria fazer papel de mãe e sim queria que Cecília a enxergasse como mulher. Não demorou muito para esse pensamento ir embora. Quando Cecília teve alta, Mel ofereceu sua casa e as coisas foram naturalmente acontecendo entre as duas.
***
Cecília observava Melissa dormir, a cada dia ficava mais encantada por aquela linda mulher. Fazia dois dias que tinha terminado de ler todas as cartas e a cada palavra lida, ficava emocionada. Tinha muita sorte por ter aquela mulher só para si. Agradecia todos os dias aos céus por todos os obstáculos ultrapassados. Decidiu fazer uma coisa antes de dormir.
‘’ Querida Melissa,
Obrigada amor, foi por você que voltei. Obrigada por ter me esperado todo esse tempo.
Você estava nos meus sonhos em todos esses anos, e agora sei por que tive a sensação de te conhecer. Quero tudo com você.
Com amor, Cecília. ‘’
Colocou a carta embaixo do travesseiro da namorada.
- Eu te amo – Deu um selinho em Melissa que dormia tranquila, se aconchegou e dormiram de conchinha.
Fim, ou melhor...
Recomeço.
Fim do capítulo
Acredito que devemos aproveitar todas as oportunidades boas, e esse conto veio como um presente.
Nunca escrevi algo tão rápido de se ler.
Espero que cada pessoa que terminou de ler, dê um direcionamento bacana para Melissa e Cecília :)
Cameliaazucenad@gmail.com
@cameliaazucena
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Lea
Em: 09/02/2022
Assim,Querida Camélia, você aqueceu meu coração em cada pedacinho dele! A mãe tinha toda a certeza, esperança e fé que a filha iria acordar e acordou. Melissa se dedicou por amar incondicionalmente, independente de quando a Cecília acordasse não a quisesse como mulher!
Bom, agora você deixou um gostinho de quero mais! Não precisa ser uma estória completa,pode ser mais contos sobre elas. As viagens com a filha,como foram os meses que antecederam o nascimento da Gabriela,algo assim!
Você escreve com a alma e atingiu certeiro a minha alma. Tão delicada com o uso das palavras!
Boa tarde
Bjus
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