Luiza        

            A banheira cheia de espumas relaxava meus músculos e eu pensava que fazia muito tempo que não me sentia assim. Na verdade, acho que eu nunca me senti desse jeito. Plena. Sim, plena.  Naquela noite eu me entreguei completamente para aquela menina. Me entreguei de corpo e alma. Me entreguei sem rótulos, sem crises, sem pensar no que aquilo acarretaria a minha vida.

            Se eu me arrependo? De jeito nenhum. Se eu estou preocupada com o que virá? Eu estou APAVORADA. Nunca na minha vida eu pensei e quis tanto uma pessoa para mim. Nem mesmo com a Nanda. Engraçado pensar na Nanda. Hoje eu me lembro de tudo que nós passamos e agradeço ela não ter ficado comigo. Agradeço ela não ter me amado. Se fosse diferente eu não estaria vivendo esse momento. A voz da AnaLu veio a minha mente: “Uiiii, quando euuuu estou aquiiiii vivendo esse momento lindooo.” Mesmo a garota não estando presente eu penso nas zueras que ela faria. É... isso está ficando estranho.

            Comecei a rir de mim mesma e lembrei de quando fizemos amor. Como eu me senti. Completamente perdida, apaixonada, ligada... Mas amanhã não sei como será. Eu tenho medo que eu seja apenas uma paixonite de adolescente. Eu tenho medo da reação das minhas amigas a essa relação, afinal as duas são mães... Eu tenho medo de que o preconceito e os problemas que iremos enfrentar sejam muitos para ela. Eu tenho medo de perde-la. Eu tenho medo de envelhecer e ela não querer ficar com alguém muito mais velha. Um barulho no banheiro me fez olhar para a porta e a minha menina entrava com uma garrafa de vinho e duas taças.

— Gata desculpe a demora, mas eu não achei o vinho que você gosta aqui na sua casa. Então fui lã na adega do vovô e roubei esse. Olha... – ela diz me mostrando o rótulo. Aquele vinho custava uns 4 mil reais.

— AnaLu você é louca! Amanhã mesmo vou comprar um e repor para o seu Cadu. Não se faz isso menina!

— Não velho, deixa que eu compro.

— AnaLu você não tem grana...

— Linda... deixa. – AnaLu me olhava com uma expressão de expectativa e eu vi o quanto aquilo era importante para ela. Sei que ela tinha algum dinheiro guardado dos shows que fazia pelos barzinhos, eventos em que ia e pelo canal dela.

— Ok... mas não quero você gastando comigo... – ela sorri, tira a roupa e entra na banheira colando seu corpo nas minhas costas.

— Não posso prometer nada. – ela fala me entregando a taça.

— AnaLu!!! – falei tentando aparentar brabeza.

— Lu... me chama de Ju. Lembra sua Ju. Por que agora você só anda me chamando de AnaLu?

— É que... – fiquei em silêncio e deitei a minha cabeça no seu ombro. Suspirei por sentir seus seios nas minhas costas e me ajeitei entre as suas pernas.

— É por causa da mainha? Lu... eu sei o que você sente por ela e eu não me importo. – ela mordeu meu pescoço me arrepiando. -  Meu sonho é te fazer feliz. Cuidar de você. Ficar com você... estar com você... brincar com você... pareço a Xuxa agora né? Caraca que merd*! – ela começou a rir e eu também não consegui deixar de acompanha-la. Ela tem essa leveza que me encanta.

— Eu não amo mais a Nanda como antes... Ju. – ela abriu um sorriso largo enquanto lambia a minha orelha esquerda. – Ela sempre vai ser a minha melhor amiga. Mas já faz algum tempo que eu não penso nela como se fossemos um casal.

— Lu... – ela virou meu rosto para olha-la – eu não me importo... o que eu me importo é com isso... – sua boca procurou a minha, sua língua pedindo abrigo – com isso... – suas mãos agarraram meus seios e apertaram com vontade – e com isso! – sem deixar de me lamber o pescoço ela espalma meu sex*, dando um leve apertão e iniciando um movimento gostoso com os dedos, me tirando pequenos gemidos. Levantei meu braço direito e agarrei nos seus cabelos compridos apertando sua boca na curva do meu pescoço, com a outra mão arranhava a sua coxa...

— Ju.... – gemi o seu nome e ela sorriu feliz mas sem deixar de tirar os lábios da minha pele.

AnaLu

Na manhã seguinte encontrei Mainha para jogar um futevôlei e aproveitei para perguntar a ela o que achava da minha viagem.

— Sinceramente filha, eu prefiro que você viaje com sua irmã. Ou que até vá com Aline em algumas cidades! Mas vá depois com a AnaBea e sei que ela vai ficar alguns dias com a Lu, aí eu fico mais tranquila. Sua mãe não gosta muito da Aline e, se ela não gosta, algo têm.

            — Você podia sugerir a Lu de me conseguir um estágio com o produtor musical do filme né? – perguntei como quem não quer nada.

            — É uma boa ideia! Vou falar com ela hoje mesmo. – ela olha pra mim maliciosa. – Foi boa a noite eihn? Ou se engalfinhou com uma gata de rua? – eu tinha vários arranhões nas minhas costas, colo e barriga.

— é, pois é. – tentei desconversar.

— Quem é? Conheço? Aline de novo?

— Você não conhece, Mainha mas pode deixar que eu apresento se for sério.

— Não se amarra cedo não, filhota! Não que eu estou me queixando porque eu não me imagino sem a sua mãe. Mas comigo foi tudo diferente. Eu sabia que era ela. Eu não sinto isso em você com ninguém. Então, curte a vida! Pega e não se apega! Agora bora jogar que a gente tem que estar em casa antes do meio-dia porque sua avó chamou todos para um almoço. Acho que vai rolar aquela macarronada que você adora!

            Jogamos por uma hora junto com alguns amigos da Mainha. Eu e ela fazíamos uma dupla e tanto. As duas jogavam bem e se estivéssemos de óculos escuros e boné, só reconheciam pelas tatuagens dela. Minha Mainha teve um passado difícil e foi torturada e as cicatrizes ela cobriu com tatuagens. A que eu mais gosto é uma fênix que cobre todo o abdome dela e tem o meu nome e dos meus irmãos. Eu ainda faço uma igual!

            Luiza

Acordo pela manhã e não vejo AnaLu na cama. Olho para a mesinha de cabeceira e havia um bilhete dizendo que ela tinha combinado de jogar com a Nanda e que me esperava na casa dela depois. Junto ao bilhete havia um copo de suco de cranberry. Sorri ao ver o cuidado da minha menina comigo. Ela sabe que eu tomo um desses toda manhã para evitar a cistite, um problema que eu tenho desde a adolescência.

Bebo o líquido, ainda gelado devido ao gelo, e sorrio pensando na noite anterior. Eu me entreguei completamente para uma menina que tem idade para ser minha filha! Mesmo me sentindo uma velha tarada eu não pude deixar de suspirar lembrando cada detalhe, cada beijo, cada lambida, cada ch*pão...

Enfim me levanto e me arrumo para ir a casa das minhas amigas. Tia Alice, avó de AnaLu, fez questão que eu fosse almoçar lá. Como eu amo essa família! O engraçado é que meus pais também se tornaram da família Alcântara Machado Duarte. É como se fossemos uma grande família. “Ai, que saudade do papai e da mamãe! Desde que eles foram morar com o meu irmão em Seattle a gente se vê muito pouco!”. Alimentei Jurema, a minha gata, e sai pelo quintal. Os pugs vieram e fizeram a festa. Todos me amavam. Mas Sabrino.... esse pug feioso era meu preferido. Quando sua dona não estava ele vinha atrás de mim. Muitas vezes dormia comigo e, se ela estivesse de bom humor, Jurema. A minha gata tinha uma personalidade... peculiar. Ela não gostava de colo, a não ser que pedisse. Não gostava de carinho, a não ser que pedisse. Não gostava de dormir em qualquer lugar e elegeu a escada da minha casa como “dormitório”.

— Tia, cadê Clarinha? Não chegou ainda? – perguntei para tia Alice pegando um pedaço de bolo de fubá que tinha na mesa da cozinha.

— Deve estar chegando! Senta aí na mesa, já tomou café?

— Ainda não tia. – Odete que era a cozinheira da casa ajudava minha tia com a preparação para o almoço. Às vezes, tia Alice gostava de preparar uma refeição para a família e geralmente era aos domingos.

— Quando você viaja, Lu? – Alice me pergunta cortando ingredientes enquanto eu comia meu bolo com um pouco de café recém passado que Odete me deu.

— Semana que vem, tia. Fico por lá uns três meses. Pega o tio Cadu e vai me visitar! Te passo o roteiro das gravações e locações por e-mail, ai a senhora organiza uma lua de mel. O que acha?

— Sabe que talvez eu faça isso mesmo? Filha, vai lá na Clarinha e pede a ela que traga aquele sorvete caseiro que a Mazé ficou de fazer para hoje que ele tem que desinformar e colocar em tacinhas para servir. - Fui para casa das minhas amigas sendo seguida pelo pugs saltitantes.

— Clarinha, cadê você? – berrei já entrando na porta do quintal.

— Na cozinha, estrupício! – Clarinha me ama.

— Fala, loka! Cadê tua esposa magia, aquela gostosa?

— Uhm... tá saidinha, eihn? O que aconteceu que eu não tô sabendo?

— Nada!

— Aham, sei... você não me engana Luiza Nadge. – minha amiga me conhecia mesmo. “PUTA QUE LOS PARIU o que eu falo?”.

— Eu... uhm... conheci alguém...

— Sabia que esse ch*pão no pescoço não era do “espírito santo” – ela riu e eu achei que tinha conseguido disfarçar com maquiagem. – Tá, pode falar....

— Eu quero esperar, ver se dá certo.... ai tô louca pra fazer xixi.

— Vai lá em cima em no meu quarto ou da AnaLu que não dormiu em casa. Os meninos estão dormindo ainda. – fugi correndo pois sabia que ela não deixaria assim. Entrei no quarto da AnaLu sorrindo. Tudo ali era a cara dela. Os quadros, a prancha, as minhas fotos.... pera “minhas fotos???”. No mural dela tinha inúmeras fotos, mas muitas minhas. Eram imagens retiradas de filmes, ensaios fotográficos e reproduções das fotos que Alex tirou para sua exposição em Nova Iorque. Aquela exposição foi um sucesso. Alex captou vários momentos meus, em preto e branco. Momentos rotineiros. Momentos reflexivos. Momentos sexys e “pós-foda”. Eram vários nudes e eu lembro de todos. Uma lágrima corre pelo meu rosto. “Ai, Alex que saudade, meu amor.”

            Eu tenho certeza que a minha esposa está torcendo pela minha felicidade. Ela inúmeras vezes brincou que AnaLu era minha alma gêmea e eu ria dela. Eu nunca acreditei. “Será? Será, Alex que você estava certa?”. Resolvo ir ao banheiro seguida pelos pugs. Sento no vaso e faço xixi com os três me olhando sentadinhos na minha frente.

—Puta que los pariu, pra que tantos pugs? – os três me olharam com cara triste e Sabrino coloca as patinhas na minha perna querendo colo – Tá, gente, desculpe. Também amo vocês, mas vocês precisam saber que existe uma coisa chamada “privacidade”! Sabrino, meu lindo, não rola. Tia Lu não vai te pegar no colo! Tô fazendo xixi!!! – me seco, puxo a descarga e vou lavar as mãos. Estava entretida quando um corpo cheio de areia e suor se junta ao meu.

— Uhmmm que delícia de surpresa.... – a voz da minha menina ao meu ouvido me arrepia.

Fim do capítulo