Olá leitoras!
Bem vindas ao "Flutua", espero que gostem da história.
Músicas que foram mencionadas desse capítulo foram
Preta Pretinha - Novos Baianos
Flutua - Jhonny Hooker feat Liniker (que dá a origem do nome da história)
Boa leitura!
1. Pitú
- Ah que bixiga! Isso lá é hora de chover?! - Disse olhando para o tempo completamente fechado, anunciando que uma tempestade se aproximava.
- Se você for sair mesmo com esse tempo leve um agasalho. - Olhando para mim enquanto arrumava minha sobrancelha que segundo ela, estava desarrumada. - E seu pai deixou a chave do carro pra você. - Sorriu. - Ele quer que fique com você.
- Comigo? - Disse perplexa. - Mas vocês precisam dele mãe. - Segurei com as duas mãos o rosto da minha velha. - Não vai fazer falta pra vocês?
- Não vai! Quando eu for trabalhar lá no salão seu pai me leva na caminhonete antes de ir pra oficina. - Me fitou admirada. - É um presente, por você ter voltado pra gente. A mainha está orgulhosa de você filha. - Me deu um beijo no rosto. - Futura doutora!
Abracei minha mãe. Eu estava emocionada com tanto carinho. Carinho esse que senti tanta falta nos 3 anos dos quais morei em Ribeirão Preto - SP pra estudar na universidade que até então eu sonhava. Porém, o meio acadêmico de um curso considerado de elite me fez querer voltar pra minha cidade. Não é do agrado da maioria dos acadêmicos de medicina ter como destaque acadêmico uma aluna negra, nordestina, assumidamente homossexual que pra completar, que não se prende à feminilidade. Com tantas quebras de padrões, a Universidade de São Paulo acabou se tornando um ambiente hostil pra mim, e foi aí que, após muito tempo resistindo, resolvi me desprender do meu ego acadêmico e pedir transferência para UFRN. Ter de volta a companhia dos meus pais me fez perceber que eu realmente havia feito a escolha certa. Estava no curso que eu era extremamente apaixonada e com as pessoas certas ao meu lado. Eu estava radiante.
- Então, pode deixar que eu vou cuidar dele direitinho. - Dei um beijo na sua testa. - Agora eu vou indo se não eu vou me atrasar.
- Vá com Deus! - Me deu um tapinha no ombro ao sair. - Ahh, me esqueci de falar, tem que colocar gasolina porque o carro já está na reserva.
- Sim senhora. - Dei uma risada debochada. - E... mãe! - Ela olhou para mim. - Eu só vou ser doutora se eu fizer doutorado. - Ela deu um tapinha no meu bumbum e me disse rindo.
- Não me aperreie não menina! Vai logo pro seu compromisso!
Em meio às risadas eu voltei pro meu quarto, peguei meus documentos, dinheiro, me fitei no espelho. Parecia que tudo estava ok. Saí sem muito "emperequetamento", calça jeans, a blusa da última caminhada lésbica que eu tinha participado em Caicó, e uma tradicional camisa xadrez de flanela.
Peguei meu "novo" carro, que era nada mais nada menos do que um Gol GL 1.8 azul de 1992, e segui rumo ao encontro de uma coletiva feminista dentro do campus da UFRN. Chegando próximo ao local eu já ouvia várias vozes amplificadas no microfone, aplausos e gritos de comemoração. Eu estava suando em meio à garoa que caía serena naquele dia. Era a primeira vez que iria reencontrar minhas amigas após a minha volta, que tinha cerca de 3 dias. Entrei na quadra poliesportiva, havia cerca de umas 50 mulheres, mas logo consegui identificar uma que levantou o braço e olhou sorrindo na minha direção fazendo sinal para que eu me sentasse próximo dela. Era Adriana, minha melhor amiga desde a época de colégio, nos descobrimos lésbicas quase que na mesma idade, eu comprei briga com seus pais quando ela me disse que eles não aceitariam uma filha assim. Foram muitos perrengues na vida que só nos fortaleceram, agora ela estava lá, linda mais do que nunca, com aquele estilo hippie.
- Meu Deus eu não acredito que tu ta aqui bichinha. - Disse com a voz embargada enquanto me abraçava afetuosamente. - A cada dia que passa você ta virando um mulherão da porr*. - Falou enquanto me olhava nos olhos.
- E você ta cada dia mais menininha. Vou comprar um caminhão cor de rosa pra te dar! - Debochei enquanto me prendi em mais um abraço quentinho.
Não fizemos muita bagunça, pois estávamos no meio de um debate sobre a ocupação Áurea Coralina, que estava abrigando cerca de 13 famílias de mulheres que saíram de casa após serem vítimas de violência doméstica. O assunto era importante, eu estava realmente prestando atenção até a hora que uma menina tomou a frente da discussão, cheia de argumentos e idéias embasadas. Foi aí que eu perguntei à Adriana.
- Oxe! Mas que pirralhinha é essa aí, botando banca no negócio? - Continuei olhando pra tal menina.
- É a Mariana, ela é uma das líderes da ocupação. Ela é novinha, mas está fazendo um trabalho massa. - Me fitou com um ar de desconfiança. - Que foi? Já ta assanhando toda aí né Toninha...
- Nega, eu só perguntei por perguntar. É que eu achei engraçado ela tão miudinha e tão engajada. - Desvencilhei, mas Adriana continuou me olhando com ar de julgamento. - Não me aperreie não! - Disse envergonhada.
Passaram-se cerca de duas horas e meia desde hora que cheguei até o "encerramento" do encontro. Digo "encerramento" porque ele não acabava ali, após sairmos do campus, todas foram convidadas a ir para o bar copo sujo mais freqüentado de Caicó, o bar do Messias. De 50 mulheres que marcaram presença no evento, apenas 17 foram "tomar uma" e continuar as conversas que sempre acabavam se tornando muito menos formais. Era tradição terminar o encontro em um bar, como eu já sabia que iria ter esse desdobramento já fui logo preparada. Após nossa saída do campus encontrei com mais algumas conhecidas que também foram beber cerveja conosco, dentre elas Maria Eduarda e Fernanda que conheci logo quando entrei para o movimento feminista da cidade, cerca de 5 anos atrás, e também como era de se esperar, Isadora também estava lá. Isa era nada mais nada menos do que a minha ex-namorada que deixei aqui na cidade para estudar na USP.
Graças ao bom Deus eu tinha minha best friend ali na cadeira do meu lado direito. Se não provavelmente iria gerar um certo climão na mesa, já que Isa não tinha aceitado muito a forma como tudo terminou. Do meu outro lado tinha o casal mais fofo que eu tinha notícia, Maria Eduarda e Fernanda, que já moravam juntas a 3 anos mas faziam questão de continuar indo nos pós encontros no bar do Messias, mesmo cientes que sempre alguém acabava se pegando em meio a cervejas, em jogos do eu nunca ou no famoso verdade ou desafio. A verdade nua e crua era que grande parte daquela mesa já havia se beijado, excetuando as meninas novas que eu não conhecia, dentre elas, Mariana.
Eu estava meio acanhada apesar de conhecer a grande maioria daquelas mulheres, 3 anos fora me distanciaram um pouco das novidades e da nova realidade de todas ali. Mas cerveja foi deixando todo mundo mais a vontade quando a tão previsível brincadeira foi anunciada.
- Vamos fazer um "Eu-Nunca"? - Isadora anunciou já embriagada.
-Opaaaa! - Um grito quase coletivo junto com batidas animadas na mesa.
Isadora que iniciou a brincadeira foi a primeira a se manifestar. Estávamos de copos cheios preparadas para beber caso a situação tivesse acontecido conosco.
- Eu nunca... beijei minha melhor amiga!
Como era de se esperar a mesa inteira excetuando Mariana bebeu. Sim, eu também bebi! Eu e Adriana tínhamos um pacto lésbico, quando estivéssemos sozinhas, carentes ou com vontade de ficar com alguém e não achássemos esse alguém, a gente ficava. Por incrível que pareça dava certo, a gente sabia separar as coisas sem criar expectativas.
- Eu nunca... tive crush em uma professora! - Adriana disse.
Mais uma vez todas beberam excetuando Mariana. Chegou a minha vez.
- Eu nunca... fiquei com ninguém dessa mesa! - Provoquei.
Para meu espanto, todas beberam mais uma vez, de menos Mariana. Aquilo já estava me deixando com a pulga atrás da orelha. Será que no meio de tanta sapatão aquela menina que nunca bebia no "eu nunca" era hétero?
Cutuquei Fernanda que estava do meu lado e sussurrei entre os dentes pra ela.
- Faz eu nunca beijei um boy. - Pedi.
Meio sem entender qual era o sentindo daquela afirmação, ela acatou e falou quando chegou na sua vez.
- Eu nunca... beijei um homem!
Todas da mesa olharam assustada para ela meio sem entender o porquê daquela afirmação. Ninguém bebeu dessa vez. Sim! Todas da mesa eram "Golden Stars", um termo usado para lésbicas que nunca ficaram com homens, era raro, mas acontecia.
E a brincadeira perdurou por mais algumas rodadas, paramos pois já havíamos bebido bastante. E com o passar das horas algumas foram embora, eu estava pegando mais leve na bebida pois iria dirigir. Maria e Fernanda se despediram da mesa e seguiram para casa, Isadora fez o mesmo, Adriana queria ir embora mas eu não deixei. Havia restado apenas ela de conhecida.
Com o esvaziamento das mesas, retiramos algumas e ficamos todas mais próximas para conversar. Nesse realocamento acabei me sentando de frente com Mariana. Ela era despojada, de sorriso fácil e conversava com todos da mesa olhando nos olhos. Algo nela me chamava atenção, mas não sabia o que era ao certo. Quando dei por mim, estava eu encarando ela, e ao perceber que eu estava fazendo, me indagou.
- Oi moça que eu não nunca vi por aqui nesse rolê! - E sorriu despretensiosamente.
Senti meu rosto queimar com aquele oi simpático. Dei uma gaguejada.
- E..E...eu? Oi. - Desviei o olhar.
- Ta tudo bem com você? Qual é o seu nome? - Parece que ela se divertia com meu jeito atrapalhado.
- Sim, tudo bem. - Não ta não. - Meu nome é Antônia, o seu é Mariana não é?
Ela sorriu surpresa ao perceber que eu já sabia seu nome.
- Antônia... lindo nome. - Disse sincera. - O que você faz por aqui?
E então com aquela pergunta uma conversa se iniciou, eu meio desajeitada, porém Mariana era tão tranqüila que foi me deixando a vontade. Nem parecia mais aquela menina do debate. Pude notar que ela parecia vivida em vários sentidos, apesar da pouca idade. Dezoito, foi o que ela falou. Ela tinha apenas dezoito anos e estava à frente de um movimento social importantíssimo para aquela cidade. Me fez criar uma admiração repentina por ela. Todas presentes pareciam gostar muito dela e todas estavam observando discretamente a nossa interação. Parecendo que tinha algo que eu não sabia. Ela ascendeu um cigarro, deu uma tragada, sorriu com os olhos pra mim e disse:
- Que bonito você escolher essa profissão, salvar vidas deve ser uma coisa muito mágica. - Confirmei com a cabeça. - Eu não tenho muito saco com hospital, acho que é um lugar sufocante, mas que bom que existem pessoas que gostam de trabalhar num local assim.
- Eu acho que eu sou assim por causa do meu pai. - Dei risada.
- Seu pai é médico? - Perguntou interessada.
- Não to falando do meu pai biológico não. - Dei risada. - Eu sou filha de Omulú. - Disse olhando nos olhos dela.
- Olha que legal você é do candomblé? - Disse surpresa.
- Não, eu sou umbandista. Omulú é um orixá ligado à saúde e a cura, talvez por isso eu tenha familiaridade com a área da saúde. Fui criada em terreiro, e tive que me separar disso quando me mudei pra Ribeirão Preto. - Ela me olhou interessada. - Mas agora eu to de volta e muito feliz por estar na minha terrinha de novo.
- Você saiu de Caicó e foi pra lá, e eu saí de São Paulo pra vir pra cá com meus pais. - Bem que eu havia notado o sotaque carregado de "R" que ela tinha. -
- Por que você saiu de lá? - Perguntei curiosa.
- Meu pai abriu uma empresa de construção civil aqui na cidade. - Disse meio sem jeito. - Ele não estava se dando bem nos negócios lá em Sampa. Agora estamos morando na Soledade.
Parei perplexa com a informação que acabava de ouvir. Mariana morava no mesmo bairro que o meu.
- Oxe! Mas tu é minha vizinha então! - Disse impactada.
Ela me olhou num tom de surpresa, sorriu e disse.
- Orra! Mas esse mundo é mundo é pequeno mesmo. No caso, Caicó. - Demos boas gargalhadas - .
- Se você quiser posso te dar uma carona. - Disse sem segundas intenções-.
E assim continuamos a conversar mais um pouco. Ao sentir que a interação entre Mariana e eu estava fluindo, Adriana aproveitou pra se despedir e ir embora. Já era oito da noite, chovia mansamente. Mariana passou para a cadeira do meu lado que pudéssemos conversar mais de perto. Eu já conseguia olhá-la nos olhos, e olhar para outros lugares também.
Paramos de conversar, o álcool já subia a cabeça, emudecia as nossas bocas. Estávamos apenas ali olhando uma pra outra, percebi que ela olhava fixamente pra minha boca e eu pra dela. Quando de repente fomos tiradas desse estado por uma indagação das outras três meninas que sobraram na mesa.
- Ei, vamos fechar a conta ou vocês pretendem ficar aqui ainda? - Uma delas disse maliciosa -.
Olhei pro meu relógio de pulso e me assustei com a hora.
- Arre égua! Já está tarde, até chegar em casa nessa chuva e no meu estado vai demorar. - Olhei pra Mariana - Eu vou ter que ir... você vem comigo vizinha? - Ela fez que sim com a cabeça. -
Pedimos a conta, nos despedimos de todo mundo, saímos debaixo da chuva que tinha engrossado até chegarmos no carro.
Enquanto eu corria
Assim eu ía
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Lhe chamar!
Enquanto corria a barca
Demos partida cantarolando Novos Baianos entre as ruas chuvosas da cidade. Estávamos alegres e pelo visto, tínhamos o mesmo gosto musical. Eu olhava pro lado e aquele sorriso moleque se destacava no meio daquela escuridão.
Laiá Larará Lararará Larará
Preta, Preta, Pretinha!
Preta, Preta, Pretinha!
Mas como nem tudo nessa vida são flores. Fomos arrancadas abruptamente da nossa Jam Seccion porque eu simplesmente tinha esquecido um detalhe mencionado pela minha mãe ao sair de casa.
- O que pegou mano? - Ela falou assustada. -
- Gasolina... mainha pediu pra que eu colocasse mas eu me esqueci. - Olhei pra ela como quem quer pedir desculpas por aquele papelão. -
- Calma, nós vamos dar um jeito, talvez tenha algum posto por aqui nas redondezas. - Ela olhou pra mim e ficou ansiosa quando percebeu que pela minha expressão não havia nenhum posto por ali. -
-Isso é tudo culpa minha! Odeio ser pisciana! - Ela deu uma gargalhada. - Arre, estou falando sério, sempre acontece essas coisas comigo. - Abaixei a cabeça enquanto ela continuava a gargalhar. -
Eu abaixei ligeiramente o vidro do carro e olhei pra rua. E no mesmo momento me veio um lampejo de esperança. Peguei minha bolsa e abri a porta e sai correndo pro outro lado da rua. Mari a me ver correndo saiu atrás de mim de baixo de um mundaréu de chuva.
- Para onde a gente está se enfiando? - Paramos embaixo do toldo de um estabelecimento. - Você tem alguma idéia?
- A gente ta de frente um supermercado! - Olhei pra ela empolgada. -
- E daí? Agora vende gasosa no supermercado? - Me questionou sem entender ainda. -
Dei risada e puxei-a pela mão e entramos no estabelecimento. Ao perceber que eu tava de mãos dadas com ela, me soltei envergonhada, porém ela continuou segurando firme na minha. Entramos na sessão de bebidas e ela continuou sem entender.
- Você ta pensando em chapar mais enquanto a gente ta aqui sem combustível? - Me questionou. -
- Nós temos aqui o nosso combustível gata. - Abaixei peguei uma garrafa de aguardente, ela me olhou e caiu na gargalhada. - Quem precisa de gasolina quando se tem Pitú!
Saímos do supermercado com cinco garrafas de aguardente, se isso iria funcionar eu não sei. Mas me parecia o mais cabível para aquele momento, já era tarde e eu não queria acordar meus pais e ainda ouvir bronca por não me lembrar de fazer algo que minha mãe havia me dito. Em meio a chuva, levantei a tampa de combustível do carro, fui iluminando com meu celular. Disse pra Mariana que ela poderia ficar no carro enquanto eu tentava fazer aquele plano funcionar. Ela entrou no carro, ligou o rádio em um volume mais alto e veio me ajudar. Eu fiquei sem jeito, disse que não precisava, porém ela continuava sorrindo e dizendo que aquilo estava sendo divertido. Quando abri a última garrafa, brinquei:
- Você aceita um golinho? - Estiquei a garrafa em sua direção.
- Me da aqui! - Pegou a garrafa da minha mão e virou goela abaixo me deixando perplexa. - Tava precisando de mais um golinho pra fechar a noite. - Olhou pra minha cara de espanto e riu. - O que foi?
- Nada, é que eu não pensei que você iria levar a sério. - Sorri sem graça. -
Terminei de virar a cachaça no tanque. Antes de entrar no carro por um instante prestei atenção na música da qual ela colocou no carro.
O que vão dizer de nós?
Seus pais, Deus e coisas tais
Quando ouvirem rumores, do nosso amor
Baby, eu já cansei de me esconder
Entre olhares, sussurros com você
Somos duas mulheres, e nada mais
Ela percebeu que eu estava prestando atenção e ficou me observando com um sorriso nos olhos. Ela se aproximou de mim, senti sua respiração pesada e seu olhar descendo pra minha boca.
Eles não vão vencer
Baby, nada há de ser, em vão
Antes dessa noite acabar
Dance comigo, a nossa canção!
- Que música maravilhosa! De quem é? - Indaguei sem tirar os olhos dela. -
- É do Jhonny Hooker e Liniker. Pessoas maravilhosas. - Ela respondeu estática. -
E flutua, flutua
Ninguém vai poder, querer nos dizer como amar
E flutua, flutua
Ninguém vai poder, querer nos dizer como amar
- É lind... - Fui silenciada por sua boca que tocava a minha em uma voracidade e delicadeza que a muito tempo não experimentava. Correspondi ao beijo. Minha mão enroscou na sua cintura enquanto a outra explorava sua nuca em meio os seus cabelos macios. Ela se dependurou no meu pescoço aprofundando mais ainda o nosso beijo. Puxei seus cabelos pra trás para que seu pescoço ficasse livre para que eu pudesse explorá-lo com a minha boca. Senti seu corpo se retrair num arrepio, quando caiu minha ficha.
- Nós estamos na chuva... - Eu disse em meio a selinhos que ela me dava. - Precisamos ir embora. - Eu olhei pra ela que disse sim com a cabeça.
Entramos no carro meio sem fôlego, ensopadas de tanta chuva. Liguei a chave de ignição do carro e o milagre aconteceu, o carro funcionou. Em meio a vários engasgos e sem acelerar muito conseguimos andar por 3km até encontrarmos um posto de gasolina e abastecer com combustível de verdade. O frentista me olhou encabulado quando contei da nossa peripécia que no final deu certo.
Voltamos em silêncio pelo caminho, o clima estava tão forte que era quase palpável. Ela veio o tempo inteiro com a mão na minha coxa enquanto eu dirigia. Mariana parecia ser uma pessoa carinhosa, coisa que eu sempre admirei nas mulheres das quais eu me relacionei. Estávamos entrando no nosso bairro quando ela falou abruptamente me fazendo assustar.
- Para aqui, por favor! - Segurou minha mão no volante. -
- É aqui que você mora? - A encarei. -
- Você é a primeira pessoa que eu beijei na vida. - O QUÊ???? - Eu não quis falar isso antes por medo de você achar esquisito. - Olhou pra baixo sem jeito. -
- Oxe! Mas por que você ta assim com essa cara triste? - Tentei agir naturalmente quando internamente eu estava chocada com aquela informação. - Ta tudo bem, espero que tenha sido bom pra você, porque pra mim foi. - Disse verdade. - Nem parecia que era a primeira vez. - Brinquei -.
- Foi ótimo, melhor do que eu esperava. - Sorriu se aproximando de mim, fazendo carinho no meu rosto com o dorso da mão. - Tão bom que...
Dessa vez quem tomou iniciativa fui eu. Puxei pela sua nuca para um beijo calmo, delicado, doce. Acho que eu queria aproveitar com calma aquele momento. Senti sua respiração pesar, aproveitei aquele momento e a puxei mais pra próximo do meu corpo, sua língua explorava minha boca de um jeito sedento, sedento por aquela explosão de sensações que estava se apossando de ambas. Sua mão começou a explorar minhas costas, com firmeza e destreza. Separei-me da sua boca para beijar o seu pescoço e ir traçando caminhos até chegar ao seu colo, sentindo aquele perfume floral gostoso, suave, que me fazia querer ficar ali por um bom tempo. Enquanto isso senti suas mãos entrando por dentro da minha camisa encharcada, aquele choque de temperatura da sua mão quente e minha roupa fria me fez estremecer. Vendo minha reação ela começou a subi-la quando me veio um lampejo de juízo.
- A gente não pode fazer isso assim. - Ela olhou pra mim sem entender. - A gente está no meio da rua, dentro de um carro, alguém pode ver e, - A encarei - Você exagerou no Pitú. - Olhei pra ela com carinho - Tem que ser especial nega. - Fiz um carinho no seu rosto -.
Ela se recompôs silenciosamente enquanto eu dava partida no carro.
- Em qual rua você mora? - Perguntei -
- Padre Cícero, 563.
- O quê? Você é minha vizinha mesmo! - Disse perplexa - Eu moro no número 703, é no mesmo quarteirão. -Olhei pra ela surpresa. -
- Orra! É sério? Que coisa linda, a gente vai poder se ver mais vezes.
- Nem da pra dar aquela cantada velha com a música do Charlie Brown Jr. "Menina linda eu quero morar na sua rua". - Arrancando uma gargalhada dela - .
Virando a esquina para entrarmos na nossa rua, fiz o último questionamento de tamanha a minha curiosidade.
- Por que você esperou tanto tempo pra beijar alguém? - Ela olhou pra mim. - Porque você é linda, não é tímida nem nada.
- É uma longa história, a gente precisaria sentar sem pressa para contar. - Sorriu - Acho que chegamos! Moro aqui nessa casa azul.
Meu coração simplesmente gelou na hora que eu reconheci de quem era a casa, em meio a minha gagueira que resolveu atacar, perguntei.
- C.C.Co.Como s.seu pai chama?
- Paulo Sérgio. Por quê? Você o conhece? - Me perguntou confusa. -
Eu tive forças apenas para confirmar com um aceno de cabeça. Eu conhecia bem Paulo Sérgio, inclusive meus pais também.
- Ah que
Fim do capítulo
E aí meninas?
O que acharam do primeiro capítulo?
Aceito sugestões de escrita, vocês acham que eu preciso melhorar algo. Essa é minha primeira história no Lettera.
Quero postar pelo menos um capítulo por semana.
Até mais!!
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Lilly31
Em: 31/12/2018
Quando li Caicó, falei não pode ser, será que é de Caicó mesmo do pedacinho do céu que ela fala, e menina né que tu fala dela mesmo. Bar do messias seria o velho e bom bar do macaco hahaha, o lugarzinho bom de tomar umas geladas.
Resposta do autor:
É sim Caicó! HAHAHA
O que aconteceu foi que, eu queria que a história se passase em um lugar diferente, gosto do RN, gosto do sotaque maravilhoso, as cidades e tudo mais. Mas busquei uma cidade não tão famosinha, fui olhando os câmpus de Medicina no RN e aí achei Caicó, aí falei, é aqui mesmo.
Porém querida leitora, eu sou de Belo Horizonte - MG, nunca nem pisei no estado, apesar de querer muito. Mas pesquisei um pouco sobre Caicó, e criei os ambientes na minha cabeça (que de certa forma é parecido com BH, os bares e a universidade).
Então, se eu descrever algo que não existe por aí, me perdoe hahahahaha, é que eu ainda não tive a oportunidade de ir nessa terrinha linda. Mas quem sabe um dia.
Beijos de luz e até a próxima!
IzaHass
Em: 17/10/2018
Quantas riquezas temáticas pra serem exploradas em uma única estória... Uau!
Sinto muita falta de certas discussões serem mais trabalhadas por aqui e sua estória parece que vai contribuir com algumas delas, como o feminismo, sob o nosso ponto de vista lésbico, os problemas sociais que enfrentamos em nosso dia a dia e as lutas para superá-los, e até esses ciclos de amizade lés que já me fez lembrar TLW, só que numa realidade bem pé no chão, ainda bem.
Sem contar que a sua escrita é muito boa, fluida, um texto mais direto, com um tempo bem perceptível na estória. E ainda trabalha com o gancho do suspense entre capítulos...! Bom demais!
Tenho dificuldade em acompanhar estórias ainda no comecinho, ainda mais quando é a primeira da autora... Mas o título chamou minha atenção, já comecei a cantarolar sem nem saber se tinha relação com Johnny e Liniker, daí fui fisgada. Então, se puder, encurte esse tempo de postagem, moça. E obrigada por compartilhar sua criatividade com a gente.
Resposta do autor:
Poxa Iza,
Me sinto honrada de ler um elogio desses. Muito obrigada pelo depoimento, estou tentando produzir o mais rápido possível, pois eu sou leitora daqui também, então eu sei como a gente fica ansiosa pra novos capítulos serem postados.
Eu estou tentando estudar formas de aproveitar melhor cada tema, porque eu acho que vai ser uma história boa, divertida de se ler, mas com conteúdo também.
É por leitoras e comentários assim que eu me inspiro e me motivo a continuar escrevendo.
Obrigada pelo carinho!
Beijinhos!
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Carol The M
Em: 14/10/2018
Já amei pela temática de engajamento político-social, feminismo, empoderamento, mulheres unidas e resistência, mas o que mais me fez pular de alegria foi a música maravilhosa do Johnny Hooker e da Liniker como título e base para o romance (mesmo com a leve alterada na letra rs)! Sinto que vou gostar muito dessa história!
P.S.: mil perdões a todos que vieram de outras regiões do Brasil aqui para o interior de SP e só encontraram esses playboyzinhos e dondoquinhas lixo, juro que nem todo mundo é bairrista, elitista, preconceituoso e asqueroso assim por aqui tá?
Beijos enormes!
Resposta do autor:
Eii Carol,
Fico super feliz por ter gostado da história,
Eu sei que não existe apenas repressão e coisas negativas em sp e em todos lugares. No desdobramento da história vou contar um pouco mais a fundo de como foram esses 3 anos da Antônia em sp. Sinto muito se eu deixei essa impressão negativa, era só pela carga dramática mesmo hehehehehehe.
Coloquei alteração na letra do Flutua pra se encaixar melhor na história, mas acredito que ela fala para todos os lgbts desse nosso Brasil né? Eu me sinto representada por ela e acredito que muitas de nós também se sinta.
Quero postar um capítulo por semana, mas como eu to na empolgação, talvez eu escreva outro essa semana mesmo!
Gratidão pelo comentário <3
Beijão!
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