Capítulo 6
Capítulo 6
Manoela não vira mais Laura aquela tarde, o início do semestre estava lhe ocupando a maior parte do tempo. Recebeu uma mensagem de Mariana no seu horário reclamando de sua ausência. Por mais que a profissão que tinha fosse sua paixão, Manoela estava se sentindo mais cansada que o normal, as salas estavam superlotadas aquele semestre devido à fama que esta tomou com as notas do MEC. Percebera que a agitação não tinha atingido somente ela, nos corredores via-se o movimento intenso e alguns colegas professores andavam mais estressados que o de costume.
O mês de agosto agora estava pela metade, havia pouco mais de 15 dias que Manoela retornara ao trabalho e já sentia saudade das férias. Passara parte do mês de julho na fazenda de Mariana que ficava em Minas Gerais. O contato com a natureza e a calmaria do lugar havia renovado por completo suas forças. Manoela inspirou o ar nos pulmões e por um momento pôde sentir de novo o cheiro de mato que entrava pela janela do quarto pela manhã. Sorriu sozinha diante da papelada que tinha diante de si na sala dos professores. Despertou de seu devaneio quando ouviu passos firmes e a voz já conhecida.
- Desse jeito eu vou enlouquecer! Nathalia acabara de entrar na sala acompanhada por Yara, professora de Educação Física. – É sério! Quando não é esse cronograma ferrado de matérias é essa cambada de aluno burro!
- Minha cabeça está latejando desde o momento que pisei em sala – disse Yara passando a mão pelo rosto que tinha uma expressão caída.
- Nem me falem! Estou tentando criar uma formula mágica de encaixar o trabalho com o tempo disponível e não vou conseguir sem me virar no mínimo em três! Manoela disse com um suspiro cansado.
As três permaneceram ali entre reclamações, teorias e algumas risadas.Havia de fato uma parceria muito grande entre os professores. Eram todos muito amigos e isso ajudava a aliviar a tensão. Manoela estava distraída tentando criar uma planilha manual que mais estava parecendo um jogo da velha quando Nathalia lhe cutucou, levantou os olhos para olhar para a amiga e nem precisou perguntar para entender o motivo da cutucada. Laura acabara de entrar silenciosamente e se sentara sozinha a uma mesa ao canto.
- Você parece uma criança às vezes sabia? Manoela sussurrou revirando os olhos.
- Oi, seu nome é Laura né? Yara chamou a atenção de Laura sem nem perceber os cochichos e risadas de Nathalia. – Venha se sentar aqui com a gente! Completou sorrindo carinhosamente para a nova professora.
- Sim! Laura se levantou e se juntou a mesa das mulheres.
- O que achou do seu primeiro dia? Yara questionou Laura enquanto esta distribuía alguns livros sobre a mesa.
- Foi ótimo! Eu estava com muitas saudades da sala de aula! Por mais que hoje eu não tenha sentado um minuto sequer e o dia tenha sido extremamente cansativo, eu me sinto bastante realizada. Cumpri a missão do dia. Laura soltou um sorriso cansado e abriu um livro que na capa lia-se Anatomia dos Animais Domésticos.
Durante alguns minutos Manoela apenas ouvia Yara e Laura conversando assuntos aleatórios entre intervalos de concentração de ambas. Laura se sentara ao seu lado, porém distante, e vez e outra Manoela a olhava quando ouvia sua risada, e no mesmo instante que seus olhos pousavam nos dela, esta retribuía seu olhar, e então Manoela pousava os olhos novamente em seu caderno de ponto, fingindo interesse em algum nome qualquer. Tudo naquela mulher atraía sua atenção.
- Gente, tô morto! Sandro, professor de Geografia acabara de entrar e colocava sua mochila em cima da mesa. – Vou me sentar com vocês.
Nesse instante Laura se levantou e empurrou sua cadeira para mais perto de Manoela abrindo espaço para que Sandro pudesse se sentar.
- Obrigada querida, disse se sentando e sorrindo para Laura – Laura seu nome né?! Seja bem vinda linda! Como foi o primeiro dia?
As conversas se intensificaram e todos riam e se divertiam. Com a aproximação de Laura, Manoela sentia novamente a tensão. Sentia o cheiro do perfume próximo, e entre acenos de empolgação da conversa os braços se tocavam levemente e quase que imediatamente os olhos se encontravam.
- Oi! Como foi seu dia? Laura agora fazia a pergunta a Manoela enquanto o restante dos professores a mesa davam gargalhadas se lembrando do primeiro dia de Nathalia e que esta ficara presa no elevador.
Manoela encarou os olhos azuis por alguns segundos e os sustentou, por um instante viu neles um brilho triste, como se quisessem chorar.
- Foi cansativo, mas foi bom. Você tá bem? Perguntou a Laura que já não a olhava mais nos olhos, em vez disso mirava um ponto na mesa diante de si.
- Estou, por quê? Pareço não estar? Laura encarou os olhos verdes e desviou quase no mesmo instante.
- Na verdade não sei. Você me parece uma incógnita. Manoela respondeu com um meio sorriso. Sentia-se tensa, Laura havia se aproximado para que a conversa entre as duas ficasse mais reservada e Manoela já começara a sentir a tensão e o calor da aproximação.
O silencio havia se instalado novamente quando Nathalia o interrompeu.
- Bom pessoal, vou nessa! Minha aula começa daqui 10 minutinhos, se eu conseguir sobreviver a esse dia nos encontramos no Gyn Bar mais tarde, pode ser?
- Infelizmente eu não vou poder ir, meu boy quer que eu vá ao aniversário da minha sogra com ele e a velha é um porre. Preferiria mil vezes acompanhar vocês. Disse Sandro que também se levantara e completou: - vou com você amiga, também tenho aula agora à noite.
Ficara somente Laura, Manoela e Yara na sala e a claridade da janela aos poucos estava dando lugar à claridade da Lua Cheia que brilhava na noite. Yara se despediu após alguns minutos quando recebeu a ligação do namorado que a esperava na porta.
- Manu, você tem aulas agora à noite? Laura perguntou fechando o livro diante de si e o colocando dentro da bolsa.
- Não. Não dou aulas a noite, às vezes substituo o Fernando. Estou aqui apenas pra conseguir arrumar a bagunça que meu cronograma está essa semana. Disse tentando organizar a bagunça que fizera nas folhas enquanto esteve distraída. - E você? Manoela perguntou olhando para a bolsa que Laura segurava. De repente se importou se ela fosse embora dali. Queria que Laura continuasse ali.
- Também não darei aulas a noite, bom, pelo menos não até o momento. Sorriu para Manoela e se levantou. – Bom, vou te deixar só aqui. Vou pra casa descansar.
- Já?! Manoela perguntou num impulso se levantando também.
- Sim. Preciso ir mesmo. Tchau Manoela. Boa noite! Após se despedir, Laura se dirigiu a porta com passos largos com a bolsa no ombro e saiu.
Manoela ficou parada de pé por um momento, sentiu uma vontade enorme de ir atrás da mulher, sentia que Laura não estava bem. Alguma coisa estava errada, a impressão que tivera foi que Laura correu. Mas por qual motivo iria atrás dela? Não era nem mesmo sua amiga, pensou. Apenas se sentou e tentou, sem nenhum sucesso, se concentrar na tal planilha que começara a fazer. "Por que não consigo te tirar da cabeça?!" – Que inferno! Disse em voz alta ao mesmo tempo em que jogava sua caneta contra a parede. Nesse instante a luz de seu celular se acendeu e um número que ainda não estava salvo lhe mandou uma mensagem no Whatsapp. Manoela desbloqueou o telefone e abriu o app. Leu a seguinte mensagem: "me perdoe pela forma que saí, eu não estou bem, menti quando disse que estava. Ainda estou parada com o carro aqui na porta pensando em sair para algum bar. Pensei em te convidar, claro, se você quiser ir e isso não lhe causar problemas. Laura."
Por um momento Manoela pensou em recusar o convite, Mariana já havia reclamado sua ausência mais cedo. Mas a ideia de recusar o convite lhe pareceu incogitável. Depois explicaria a Mariana como o dia foi cansativo e ela entenderia que estava precisando de um relaxamento. Levantou-se, pegou a bolsa e respondeu Laura caminhando pelo corredor em direção ao elevador: "está aqui de frente?" Quando a porta do elevador se fechou e este começou a descer uma nova mensagem chegou: "no mesmo lugar daquele dia".
Fim do capítulo
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