AnaLu

            Acordei antes do sol nascer e corri até o jardim da dona Solange. Uma velha chata pra cacete que parece que tinha um tarugo enfiado no cu sempre. Ela não sorria pra nada. Mas as rosas dela eram as mais bonitas. Roubei duas e deixei uma com um bilhete para a minha madrinha. Fiquei admirando aquela mulher que eu tanto amo. Ela tinha uma mania de, quando não dormia com ninguém, ficar de bruços e arrebitar a bunda. O lençol caia de lado e mostrava a coxa grossa.

            Escrevi um bilhete dando boa sorte para ela. Luiza iria hoje falar sobre um papel em um longa e eu queria muito que ela aceitasse. Ela precisa voltar a trabalhar. Sair de casa. Viver novamente. Nem desenhar a nova coleção da Domain, grife que ela herdou da tia Alex, ela quer.

            Deixei a flor e o bilhete no travesseiro que estava ao lado dela. Fiz um carinho na sua cabeça e fui para casa onde tomei um banho e “roubei” a Clarice, Harley-Davidson da Mainha. Ela não se importa, mas não gosta que eu pegue por não ter habilitação ainda.

            Só tô esperando o ano que vem. Quando eu fizer 18 vou comprar uma Triumph estradeira. Sou louca por motos. Mesmo tendo dinheiro porque eu e meus irmãos temos rendimentos das ações dos hospitais e outras empresas dos meus avós, eu to juntando dinheiro dos shows e dos vídeos que eu faço. Quero ganhar o meu dinheiro próprio. Minhas mães desde cedo colocaram essa responsabilidade na gente. Cuidar do dinheiro sem esbanjar, trabalhar como voluntários em causas sociais e tratar todo mundo igual.

            Cheguei na frente da cobertura da minha namorada e estaciono Clarice na garagem que eu já tinha a chave. Peguei a mochila e torci para que a rosa permanecesse intacta. Dei um oi para o seu Zé e subi no elevador. Aline tinha ficado putassa comigo por eu não ter ficado com ela ontem, mas eu estava muito preocupada com a Lu.

            Então hoje resolvi matar aula e vir fazer uma surpresa a ela. Entrei no apartamento e fui para o seu quarto. Aline estava dormindo com um pijaminha curtinho. Que mulher maravilhosa! Me deitei ao seu lado e ela acordou me olhando com uma carinha linda de sono.

            — Oi coisa linda da AnaLu. – falei enchendo-a de beijinhos.

— Ainda tô brava com você.

— Linda, eu tinha que ver como a Lu estava. Você mesmo viu que ela não estava se sentindo bem.

— Vida, você tem que ver que agora nós estamos juntas. Eu não sou de entrar em uma relação pela metade. – olhei seus olhos azuis e vi que realmente ela estava incomodada, e não era birra nem pirraça. Eu entendia o que ela estava tentando me dizer. Eu sabia que precisava me distanciar da minha madrinha.

— Eu sei, linda. Mas quando é a Lu eu perco a noção, só penso em cuidar dela.

— Nalu, eu relutei muito para assumir um compromisso com você. E não é pela diferença de idade, mas principalmente pelo seu amor irracional e pela Luiza. – quando nós estávamos nos conhecendo e apenas ficando, abri meu coração para a Aline e contei tudo o que eu sentia, sobre a Luiza e tudo o que passava no meu coração.

— Me desculpa, Line, eu quero estar 100% dentro da nossa relação. Me ajuda? Eu adoro você... – dei um beijinho – adoro o seu cheiro... – funguei no seu pescoço – adoro o seu gosto – a beijei sugando sua língua – e principalmente, adoro o que você me faz sentir.

— Eu não quero que você não veja mais a sua madrinha ou que deixe de dar carinho a ela. O que eu quero, linda... é que eu seja a sua prioridade. E mês que vem já terminou a sua escola.... quero você viajando o mundo comigo. – ela deita por cima do meu corpo. – Criando, cantando... e nos amando. – ela morde o meu maxilar e eu gemo de dor e prazer. Fecho os olhos e me inebrio com as sensações que aquela mulher me proporciona.

           Após ficarmos a manhã inteira na cama resolvemos tomar banho e ir para o estúdio na casa da Lu. Falei para minha namorada que a minha madrinha tinha viajado e estaríamos sozinhas lá. Paramos em uma padaria no caminho e tomamos um café da manhã misturado com almoço. Mainha ficou puta da vida por eu pegar Clarice sem avisar. Aline também ficou puta e disse que isso é coisa de criança. Só me restou concordar com as duas e prometer não fazer mais isso.

Chegamos na minha casa e deixei a moto na garagem. Passamos na cozinha e dei um beijo em Voinha que fez a Aline sentar e tomar um cafezinho com ela. A minha família amou a minha namorada e só se falava nela no nosso grupo. A única que não emitiu opinião foi a Lu.

Depois de várias tentativas consegui levar Aline para o estúdio que ficava na casa da Lu. Tia Alex tinha feito um estúdio completo para mim. Minha namorada ficou completamente alucinada com o equipamento que tinha ali. Era tudo de primeira linha, desde os instrumentos até mesmo a mesa de som, microfones e câmeras de vídeo.

Ficamos um bom tempo gravando um vídeo para meu canal. Eu fiz questão que ela ficasse ao meu lado no piano e cantava olhando para ela. A minha morena me olhava com desejo e paixão. Eu sei o quanto aquela canção estava mexendo com ela. Com lágrimas nos olhos ela desliga a câmera remotamente e me agarra. Ficamos sem ar rapidamente.

— Vida, eu preciso de você agora.... aqui. – ela fala manhosa e eu a coloco sentada em cima do piano, tiro a sua calça junto com a calcinha e abocanho seu sex* a fazendo gem*r alto. Aline se contorcia na minha boca me deixando louca.

— MAS QUE PORRA É ESSA NA MINHA CASA! – minha madrinha grita na porta do estúdio.

             Aline pula de cima do piano e se veste rapidamente. Eu saio do estúdio puxando a Luiza pelo braço.

— Lu desculpa cara, achei que estávamos sozinhas, achei que tu tinha ido viajar. Vacilei, vacilei feio Lu. Me desculpa. Rolou o clima e foi, mas ai você entrou e me caguei, achei que meu coração ia pular pra fora, tua cara tava como? Parecia aqueles cara de filme de terror que explode a cabeça das pessoas, lembro uma vez que eu assisti um filme assim com a AnaBea e ela gritava e me agarrava o braço que ficou com vários hematomas, mas os filmes de terror não são como antigamente que dava mais medo mesmo e sim...

— Porr*, Ana Luiza, cala a boca! Custava ter trancado a porta?

— Eu... só aconteceu. Desculpe tá? – tentei dar um beijo no rosto dela que me repeliu com cara de nojo.

— Tira essa boca com bafo de xana siliconada de perto de mim. Eu ia ficar essa semana em casa, mas sabe o que mais.... vou pra São Paulo agora mesmo. Preciso ficar longe daqui.

           Deixei ela ainda enfurecida e voltei até o estúdio onde a minha namorada estava com uma cara aflita.

— Vida, deixa eu ir pedir desculpas para a Luiza. Eu ficaria possessa se isso acontecesse comigo na minha casa também.

— Melhor não, ela nem quis me ouvir direito. Quando ela voltar vocês conversam.

 Luiza

Eu olhava pela janela do vigésimo andar do Hotel Renaissance da avenida Paulista. Já faziam três dias que eu estava em São Paulo e havia aceitado o papel. Era uma coprodução Brasil e Inglaterra e eu seria uma viúva que iria procurar sua filha desaparecida na Europa. As gravações seriam dali a dois meses em vários países europeus.

               Suspirei tomando um cálice de vinho. Imagens do que eu vi na minha casa não saiam da minha cabeça. Eu não sei o porquê, mas me sentia traída. O sentimento não tem razão de existir e eu estava uma completa bagunça.

Confiro o celular e vejo notificação. AnaLu havia postado um novo cover. Fui correndo ver pois mesmo estando irritada com ela sempre que a via cantar uma sensação boa me tomava. Principalmente quando eu notava que ela cantava para mim.

             Vou até o computador e abro o aplicativo de vídeos. Sorrio ao ver a cara linda da minha Ju, mas logo o sorriso desaparece por notar a presença da sua namorada ao seu lado. A gravação ocorreu no estúdio da minha casa pois notei que a blusa da tanajura era a mesma daquele dia fatídico.

“Oi gente, hoje comigo está a mulher mais linda do mundo e minha namorada DJ Lyx, ou como eu chamo a minha Aline. Essa música é um pouco antiga, mas fala tudo o que eu quero. Tudo o que eu to sentindo nesse momento!”

              A interação entre as duas estava me deixando enjoada mas eu não conseguia parar de olhar. AnaLu começa a tocar e cantar. Reconheci a música. Lembrei a letra. A tanajura olhava encantada para a mulher maravilhosa que era a AnaLu que cantava para ELA. Só para ela.

(N/A: Ainda Bem – Marisa Monte https://www.youtube.com/watch?v=t7M89YJAPhM)

 ♫Ainda bem

Que agora encontrei você
Eu realmente não sei
O que eu fiz pra merecer
Você

Porque ninguém
Dava nada por mim
Quem dava, eu não 'tava a fim
Até desacreditei
De mim

O meu coração
Já estava acostumado
Com a solidão

Quem diria que ao meu lado
Você iria ficar
Você veio pra ficar
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

O meu coração
Já estava aposentado
Sem nenhuma ilusão

Tinha sido maltratado
Tudo se transformou
Agora você chegou

Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

O meu coração
Já estava acostumado
Com a solidão

Quem diria que ao meu lado
Você iria ficar
Você veio pra ficar
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

O meu coração
Já estava aposentado
Sem nenhuma ilusão

Tinha sido maltratado
Tudo se transformou
Agora você chegou

Você que me faz feliz
Você que me faz cantar
Assim

É, ainda bem♫

             Enfim eu noto. Uma dor gigante atravessa o meu coração. Eu solto um soluço. A minha Ju estava apaixonada... e não era por mim.

Fim do capítulo