A Tradutora por Satinne
Capítulo 4 - Saudade
Susan acordou cedo, praticou yoga, conversou com Lucca e foi para sua Clínica. Chegou sorridente, mas uma tristeza consumia seu peito. Pensava nela, claro. Mas daria tempo ao tempo. Atendeu seus pacientes com zelo, almoçou com colegas médicos e trabalhou até mais tarde. Lucca estava com o pai, não tinha motivos para ficar em casa sozinha e, provavelmente, chorando.
Em casa, de banho tomado, vestiu um robe de seda, desceu para o primeiro andar e colocou Norah Jones para tocar enquanto preparava risoto de mignon com shitake para o jantar, acompanhado de vinho Malbec.
A campainha tocou... Mexeu no notebook sobre a ilha da cozinha, verificando as câmeras pelo sistema de segurança. Ficou boquiaberta... Por isso não haviam interfonado da portaria. Ela tinha a entrada liberada… Respirou fundo e abriu a porta.
Cruzaram os olhares por instantes. Desconfiados, magoados… Tanto a dizer… Exteriormente, estavam silenciosas. Internamente, em erupção.
- Será que… Eu posso entrar?
Susan deu espaço e depois fechou a porta. Um olhar percorreu suas costas. Quando virou de frente, Sabrina parecia desconcertada. Como ela não dizia nada...
- Bem, estou na cozinha. Me acompanha?
- Claro.
Nada era dito. Susan retomou o jantar, conjecturando sobre a presença de Sabrina. Não queria pressioná-la, deixaria que ela falasse. Por sua vez, Sabrina observava Susan manipulando os alimentos e utensílios… Suas mãos de dedos longos, as unhas bem cuidadas...
Durante o jantar, pouco foi dito. Sabrina perguntou por Lucca então soube que ele estava na fazenda da família paterna, passando o feriado prolongado. Susan mostrou uma foto atual dele, enchendo Sabrina de saudade. Conversavam amenidades no sofá, até que Sabrina falou:
- Ester comentou que seu livro é um sucesso - Ester é…
- A moça da livraria que adoooora você - Susan disse - Sei quem é, já fomos apresentadas.
Sabrina olhou-a com curiosidade pelo comentário sobre Ester, mas não questionou.
- Prefiro não saber do livro… - Susan revelou.
- Por quê?? - Alarmou-se.
- Por causa dele, perdi sua amizade! - olhou-a magoada - Não me arrependo das cartas. Mas… - as lágrimas sobrepuseram-se à voz e Sabrina também chorou. Aproximou-se de Susan, estava sufocando de saudades. Choraram juntas.
- Bri, quero muito conversar... Reitero tudo que disse nas cartas, cada palavra… Amo você demais - precisava expor... Simultaneamente, Sabrina acariciava seu rosto.
- Também quero, Su… Mas me diga, você já tinha interesse por mulheres antes?
- Tive algumas experiências rasas, na época da faculdade, sem envolvimento emocional, apenas curiosidade…
- E por mim, quando você começou a sentir… Como foi...? - Sabrina perguntou, envergonhada e Susan inspirou profundamente antes de responder.
- Estudamos juntas quando crianças, mas depois nos afastamos. Quando nos reencontramos, nossa amizade foi meteórica. Fazíamos tudo juntas, nos falávamos sempre, éramos confidentes. Mas comecei a sentir algo a mais nas nossas longas conversas, trocas de olhares, abraços intermináveis, carinhos antes de dormir… Tínhamos uma amizade bem íntima e eu senti que estava acontecendo em flerte entre nós. Com o tempo, eu já estava apaixonada, mas não sabia se você sentia o mesmo. Quis me declarar e marcamos certa noite em um bar. Você estava maravilhosamente linda e quando pensei em falar, você falou que havia conhecido o Christian e eu fiquei arrasada - estavam sentadas de frente uma para a outra - Logo vocês iniciaram um relacionamento e eu atribuí o flerte a devaneios da minha cabeça. Depois disso, fiz de tudo para sufocar meus sentimentos em prol da nossa amizade.
Sabrina ouvia tudo sem interrupções.
- Então, o Ivan... Exercemos a mesma profissão, temos amigos em comum e desde o início, fui sincera sobre meus sentimentos por outra pessoa, mas ele se propôs a me conquistar e eu aceitei. Tivemos um relacionamento bom, brigamos poucas vezes e hoje temos o Lucca. Mas contrariamente ao que imaginei, meus sentimentos por você só aumentaram… Não era justo comigo, menos ainda com ele, continuarmos a relação. Nos divorciamos e decidi contar tudo a você - olhou para cima, os olhos marejados - Eu tive tanto medo! Medo do que você iria pensar, medo de você se afastar de mim… Eu tinha as cartas e confidenciei meus sentimento sobre você a uma amiga que por acaso é editora e, bem…O resto você já sabe… - não conteve mais as lágrimas - O que eu mais temia, aconteceu. Você me enxotou da sua vida! Eu me senti um nada… Eu sou uma mulher, saberia compreender se você não me quisesse, mas não precisava ter terminado a amizade. O que eu fiz não foi no intuito de seduzir você com as cartas, tampouco tive a intenção de brincar com a sua vida pessoal e profissional. Eu apenas quis que você traduzisse as letras impressas no meu coração... - Susan chorava, Sabrina também, mas não sabia o que dizer. Abraçou-a em lágrimas e encontraram conforto uma na outra.
- Me perdoa, Su… Me perdoa por ter agido dessa maneira cruel com você… - Tentou limpar as lágrimas - Eu retiro o que disse na ponte, eu amei as cartas, reli todas elas várias vezes depois de descobrir que era você e fiquei imaginando-a em cada situação… Você tem razão…
Susan a olhou sem entender e Sabrina continuou.
- Houve um flerte entre nós, da minha sorte também… Mas eu tive medo desses sentimentos e do que eles significavam… Eu quis fugir do que poderia acontecer entre nós… Conheci o Christian, me dediquei ao relacionamento com ele, gostei muito dele, de verdade, quis casar… E deixei no passado qualquer resquício do que pudesse ter ocorrido entre a gente. Talvez por medo ou preconceito… Mas agora, depois de tudo, depois do livro… Das cartas… Você foi tão corajosa e eu não soube lidar, não consegui concatenar tudo tão rápido. Estava emocionalmente envolvida com Francis, a pessoa perfeita para mim, e descobrir que ele é você… Eu me afastei por medo do turbilhão que havia me atingido…
- Turbilhão? - Susan inquiriu, não poderia estar mais surpresa com as revelações.
- Sim… Nem consigo nomear tantos sentimentos. Eu sofri também, senti demais a sua falta e percebi que não consigo ficar longe… Agora que já sei o que se passa no seu coração, quer descobrir o que se passa no meu? - pegou a mão de Susan, nem percebera que estavam conversando de mãos dadas, e levou-a até seu peito, para sentir a agitação - Será que ainda há lugar na sua vida para mim?
Olharam-se intensamente e os olhos de Susan brilharam, ao que respondeu:
- Há um posto maravilhoso na minha vida que só pode ser preenchido por você. Basta você querer… E se permitir…
Sabrina levou a mão de Susan aos lábios, beijando-a suavemente.
- Su… Quero muito continuar nossa conversa, mas está tarde. Você tem seu trabalho, eu também tenho trabalho a fazer, preciso ir para casa… Posso ligar para você amanhã? - fez carinho na mão dela.
- Acho melhor você passar a noite aqui, Bri... Bebemos vinho, não é seguro dirigir. Posso arrumar o quarto de hóspedes, não quero deixá-la desconfortável… Estou pensando na sua segurança.
- Não será necessário. Sempre dividimos a cama, Su, não precisamos mudar isso, não ficarei desconfortável.
No quarto, deitaram de frente para a outra, Sabrina com um pijama emprestado de Susan.
- Su? - chamou baixinho.
- Hummmm... ? - mal estava acordada.
- Sem perguntas, ok… Quem é a garota da moto? Uma loira… Quem é ela?
Susan sequer abriu os olhos para responder:
- Amiga… Colega de trabalho… - murmurou.
- Só isso mesmo?
- Uhumm… - bocejou.
Sabrina virou de costas. Minutos depois, pegou a mão de Susan, atrás do seu corpo, e trouxe-a para pousar em seu próprio quadril. Esperou um pouco mais e empurrou o corpo para trás, aconchegando-se em Susan. Estava com o coração agitado, sentia a respiração dela em sua nuca. A mão de Susan ganhou vida em seu quadril, apertando. As respirações estavam alteradas e Sabrina aproximou-se mais, fazendo as nádegas encontrarem o quadril de Susan, que levou a mão até sua barriga, por dentro da blusa, próximo à borda, acariciando e arranhando levemente sua pele. Sentiu a mão de Sabrina sobre a sua, incentivando o contato. Beijou seus ombros, costas, nuca… Sentia Sabrina lhe puxando mais para si. Ela havia decidido permitir-se…
Não negaria mais, queria senti-la, queria aqueles lábios nos seus. Virou de frente, subiu as mãos por dentro dos cabelos de Susan e a puxou, tomando sua boca com paixão. O beijo foi intenso, não queriam desgrudar-se. Susan estava realizada, beijaria Sabrina para sempre se possível, mas queria explorar mais do corpo dela... Após longos beijos nos lábios, desceu beijando-a toda… As mãos, braços, colo... Sabrina suspirava de prazer… Susan despiu-lhe da blusa e beijou seus seios, fazendo Sabrina sentir ondas de desejo. Tirou-lhe a roupa toda e também a camisola que vestia, tocando toda sua nudez. Sabrina também a tocava, sentia a maciez de seu corpo. Susan esticou a mão sobre a cabeceira e ligou o abajur.
- Quero ver todo o seu corpo… Vira pra mim.
Sabrina obedeceu, virou de costas. Susan desceu por elas beijando, massageando, arranhando levemente… Não teve pressa... Tocou com a língua toda a linha da coluna até as nádegas. Mordeu-as, beijou-as, notando Sabrina arrebitar levemente o quadril e abrir mais as pernas.
Beijou-lhe os pés, as partes de trás dos joelhos, a parte interna das coxas e Sabrina segurou firme nos lençóis, gem*ndo e sibilando de tesão, a umidade escorrendo pelo colchão. Susan parecia ter um mapa de seu corpo, estava lhe deixando em êxtase…
Virou Sabrina de frente, apoiando travesseiros sob suas costas. Desceu pelo corpo, beijando os seios, a barriga, mordendo, e Sabrina afastou as pernas, oferecendo, já não aguentava esperar... Susan posicionou-se entre suas coxas, segurando-as por baixo com as mãos e encarado-lhe nos olhos, desceu a boca, deslizando a língua por toda extensão de seu sex*, de baixo para cima.
- Deliciosa… - sussurrou, mantendo o contato ocular.
Desceu novamente e Sabrina foi tomada por sua boca, por seus dedos, entregando-se, rebol*ndo o quadril para ela, segurando em seus cabelos. Queria prolongar aquela sensação o máximo possível, mas não aguentou mais, seu ventre contraía-se tamanho o desejo que sentia. Quando não foi mais possível segurar, gem*u alto, gritou, chamando o nome de Susan, entregando a ela todo o seu prazer. Sentiu seu corpo ficar mole e Susan logo subiu, lhe beijando o corpo e abraçando… Sequer conseguia falar…
Em seguida, sentiu Susan movimentando-se, posicionando-se entre suas pernas, com as suas encaixadas. Achou tão sexy aquela posição, Susan sobre seu corpo, encaixada entre suas pernas. Não precisavam dizer nada, conectavam-se pelos olhares, pelos toque. Segurou o quadril de Susan e juntas conduziram movimentos com os quadris que pareciam uma dança que as levou-as juntas pelos caminhos do prazer.
Ao sentir o corpo de Susan tombar satisfeito sobre o seu, esperou um tempo para recuperarem-se e inverteu a posição, tomando-lhe a boca mais uma vez, beijando seu pescoço, descendo em beijos e toques por todo o corpo. Susan sorriu entendendo o que Sabrina queria e logo sentiu a língua dela lhe buscando, a boca lhe devorando em seu ponto mais íntimo… Sabrina nunca havia feito aquilo, mas seguiu seus instintos e Susan moveu o quadril conforme seu prazer, gem*ndo alto até atingir o clímax.
Após a noite de amor, dormiram abraçadas, entre carinhos. Foi a melhor noite de amor para ambas, as palavras eram dispensáveis. Passaram os próximos dias juntas, fizeram amor pela casa inteira, trocaram juras, promessas, comprometeram-se… Susan conversou com Lucca a respeito do relacionamento que ambas estavam assumindo e o menino comemorou. Se a mãe estava feliz, ficava feliz também.
Para Susan, acordar todos os dias e ver sua Chérie deitada na cama, ainda dormindo, sendo banhada pela luz do dia era excepcional como ver o nascer do sol do alto de uma montanha. Gostava de velar o sono dela, beijar suas costas, acordá-la com beijos e receber seus carinhos. Sabrina trouxe Lupi consigo, sua mudança foi natural e logo amigos e familiares já estavam cientes da relação delas. Amavam-se muito, não havia mais sentimentos represados, as águas seguiram seu curso e o mar encontrou sua lua em um lugar onde poderiam infinitamente completar-se.
Fim do capítulo
Quero agradecer a todas que leram e acompanharam até aqui. Essa é primeira história completa que publico, dentre um universo de enredos que tenho em mente. Estou muito feliz e só posso agradecer. Penso em voltar em breve, com novas histórias, e também continuar um conto que escrevi para o primeiro desafio (Feliz Ano Novo). Tenho várias ideias e adoraria compartilhar. Eu também desenho e eventualmente deixarei um link das imagens que fiz para cada história. Agradeço pelos feedbacks, me deixaram imensamente feliz.
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