O sol já estava alto no céu e a praia já começava a encher. As ondas começavam a marolar e resolvo ir para casa. Pego uma última onda e chego até a beira. Coloco a prancha fincada na areia e me alongo. “Ahhhh CARALHO! Como eu amo estar em contato com a natureza! A água do mar me acalma demais! Acho que eu ficaria maluca sem poder surfar!”.

— Ô morena gostosa, eihn! Ô la em casa!

— Vish, Neguinho, essa daqui tu não dá conta não. – Jorge chega com aquele jeito alegre dele e me dá um abraço.

— Vocês podem parar de safadeza? To aqui! Hellow! – minha irmã gêmea brinca se fazendo de indignada e meu cunhado a puxa beijando os seus lábios.

— Ah branquinha, você sabe que é brincadeira! Só tenho olhos para você!

— Vou fingir que acredito! — AnaBea estava linda em um biquíni verde. Minha irmã gêmea, ao contrário de mim, é loira e toda gostosinha. Estilo mignon. Eu já puxei a minha Mainha. Na verdade, a galera fala que nós duas sim parecemos gêmeas. Se eu ficar igual a ela na sua idade fico feliz. Na verdade, se ficar igual as minhas duas mães. São gatas demais!

— AnaLu vai pra casa agora? – Summer pergunta com os olhos cheios de expectativa e isso me lembra que eu tenho que terminar de vez o rolo que eu tinha com ela. Além de ser minha prima ela não merecia alguém como eu. Solta na vida. Que se diverte e tem vários e varias peguetes. Ela merece alguém que a ame verdadeiramente e incondicionalmente. Como o amor das minhas mães. E o que eu sinto por.... bem, deixa para lá.

— Vou sim, mas mais tarde vou na Laila. –  sorrio de canto imaginando a morena me esperando nuazinha na sua cama. Aquela menina era um tesão.

— Poxa AnaLu, hoje eu tirei folga no estágio só pra ficar com você... quer dizer... com vocês.

— Vish menina, sei que vocês se pegam não precisa disfarçar. — minha irmã fala enquanto Jorge olha para ela apaixonado. Como são fofos esses dois.

— Meninas a mãe de vocês tá chamando! –  tia Edy chega e a gente fica olhando para ela confusa. Algo muito sério aconteceu.

Fomos direto para casa e encontramos as minhas mães e meus avós na sala. Mamãe estava chorando abraçada a Mainha. João e Sofia estavam sentados de mãos dadas com semblante triste.

— O que foi gente? Que merd* aconteceu? Que cara de enterro!

— AnaLu.... – vovô começa. -  a tia Alex...

— Não mano... não! – Summer me abraça e AnaBea é amparada pelo seu namorado.

O mundo parecia rodar! Cara, não! A tia Alex, a minha madrinha querida... velho a Lu. Eu preciso estar com ela. 

Flashback on

— Tia Alex a pessoa pode casar com menino e menina? – eu e a minha madrinha estávamos fotografando as formigas no pátio. Mesmo com apenas oito anos a tia Alex me deixava usar a sua câmera preferida. 

— Como assim, linda?

— Você é casada com a tia Lu né?

— Sim.

— Vovô com a vovó né?

— Sim.

— Então, eu queria saber se eu posso casar com o Jorge, porque ele me pediu pra casar com ele, mesmo o Jorge sendo fedido depois do futebol, quando você joga futebol e fica fedida a tia Lu te beija que eu já vi, eu queria casar com o Jorge e com a tia Lu, mas você é casada com a tia Lu então não vou poder, e se eu casar com o Jorge eu também vou beijar ele depois do futebol,  mas eu também queria saber se...

— Tá acho que entendi. Você quer saber se uma pessoa pode gostar de meninos e meninas do mesmo jeito?

— É. Pode, tia Alex?

— Claro meu amor. Você pode ser quem você quiser e fazer tudo o que te deixa feliz. Mas sempre pensar nos outros. Ok?

— Tá. Mas ainda quero casar com a tia Lu.

— Quando chegar a hora ela vai estar velha e feia. E você vai ter que cuidar dela. Dar sopinha. Essas coisas de velhinhas. – tia Alex brinca rindo.

— Não me importo, tia Alex. A dinda Lu vai ser a velhinha mais linda do mundo.

Flashback off

Meu Papy é o melhor amigo da tia Lu. Ele que doou o sêmen para mim e a AnaBea nascer. Minhas mães fizeram um bingo. É engraçado pensar nisso. Mas segundo elas alguns óvulos das duas foram fecundados com os espermatozoides do Papy. Então eu e a AnaBea ganhamos o bingo do nascimento porque foram implantados seis embriões na mamãe e só nós duas nascemos. 

Papy enviou o jatinho da minha madrinha para nos pegar. Tomei um banho rápido e coloquei umas roupas aleatórias na mala. Eu só conseguia pensar na dor que a Lu estava sentindo. Minha madrinha Alex tinha uma doença degenerativa. Segundo os médicos foi um milagre ela viver tanto tempo. Lu cuidou dela sempre com tanto amor e carinho. Ajudou nas limitações e, nos últimos dois anos, não trabalhou para ficar sempre com ela.

A tia Lu se faz de forte, usa o humor para esconder quem realmente é, mas eu consigo ver por traz de todas as máscaras o quão maravilhosa ela é. Quando ela sorri parece que tudo fica mais lindo. Só em estar com ela eu me sinto em paz. Quando eu era menor, amava ver ela desenhar as coleções para Masom Domain, a grife de moda dela e da tia Alex. Ou quando ela me levava para as gravações de algum filme. Mesmo faltando aula. Depois eu me fudia pra tentar colocar a matéria em dia e tirar nota boa, porque se não fosse assim as minhas mães não iriam deixar eu acompanha-la. Mas isso valia a pena e eu estudava com alegria.

Sobre meus amores e rolos, a tia Lu nunca gostou muito desse assunto. Quem sempre soube de tudo e me aconselhava era a tia Alex. Claro que minhas mães também, mas a tia Alex era mais minha amiga. Eu podia falar tudo a ela, até mesmo coisas que eu ficava com vergonha de falar para as mamães. 

Foi para a tia Alex que eu corri quando notei que a AnaBea era completamente apaixonada pelo Jorge, que na época era meu namorado. Eu não sabia o que fazer. Ela olhou para mim e disse: “AnaLu se você acordasse amanhã e nunca mais visse ele... o quão triste você ficaria?”. Eu respondi que bastante. “Tem alguma pessoa que se você não visse nunca mais você ficaria completamente arrasada, não teria vontade de fazer nada.... Seria como se a tua vida perdesse o sentido?”. Eu respondi que sim. “É o que você sente pelo Jorge?”. Disse que achava que não. “Vou te dar outro exemplo... o que você sente por ele é a mesmo amor que você vê entre as suas mães?”. Não, nem de longe. Naquele mesmo dia eu terminei com ele e falei para a AnaBea que shippava os dois.

Tia Alex sabia o que eu sinto, mesmo antes de eu me dar conta, mesmo antes de eu quase não conseguir disfarçar. Ela sabia que eu sou completamente apaixonada pela esposa dela.

Flashback on

Como a tia Alex não podia mais viajar de avião eu sempre vinha visita-las. Em todas as férias. Todas datas comemorativas e feriados. Eu dava um jeito. Implorava as minhas mães. Fazia tudo o que pediam. Eu só não conseguia ficar tanto tempo longe delas. Ou melhor da Lu.

Na minha última visita eu e a tia Alex estávamos deitadas no seu quarto vendo “Os Vingadores”. A Luiza tinha saído e voltaria mais perto da hora do jantar. Tia Alex não conseguia mais se locomover sozinha e ficava sempre de cama. Sua memória já não era a mesma e muitas vezes ela me chamava de Nanda, me confundindo com a minha mainha.

O filme terminou e com o auxílio da enfermeira levamos ela até o banheiro para banha-la. 

— Nanda, você sabe que eu to indo, né?

— Para de besteira, tia.

— Quero que você me prometa que vai cuidar da Lou. – ela segura minha mão e olha nos meus olhos fixamente. – Ela merece ser feliz. Eu quero que você a faça feliz. Só você. Ela te ama. – sorrio para ela. Tadinha estava confusa. Achando que eu era a minha mãe. Luiza e Mainha tinham namorado e todo mundo já sabia que ela foi o grande amor da vida da Lu.

— Tia Alex é a AnaLu. Lembra? – seco seu cabelo. Ela parecia uma criança.

— Você promete que vai cuidar dela. Vai amá-la? Vai fazer ela feliz.

— Tia...

— Promete?

— Eu sou a AnaLu tia.

— Eu sei meu amor. Você é a Nanda Jr. Promete que vai fazer a Lu feliz?

Flashback off

“Prometo tia Alex, vou cuidar para que ela seja feliz. Mesmo não sendo comigo, porque tenho certeza que ela me vê apenas como criança. Mas eu juro... Que vou fazer de tudo para achar alguém que a ame do mesmo modo que nós duas!”

Fim do capítulo