O RENASCER DE UM ANTIGO AMOR

Cap 16 - Um Convite Para o Passado

-- Oi meu amor… -- Isabel se aproximou tentando abraçá-la e sendo repelida imediatamente. -- Aconteceu alguma coisa? -- Perguntou receosa.

-- Você some e aparece fingindo que não aconteceu nada?

-- Fernanda, foi só uma noite.

-- Uma noite fazendo o que hein? Com quem?

Isabel se aproximou tocando de leve o rosto da morena. -- Ei, porque você tá assim comigo?

Fernanda fechou os olhos, porque estava agindo daquela forma? Não fazia a menor ideia. -- Porque… Porque eu não aceito ser feita de trouxa.

-- Eu não estou te fazendo de trouxa… -- Isabel suspirou brincando com uma mecha do cabelo da namorada. -- Eu acabei saindo pra beber ontem e… Acho que bebi demais e meus amigos me levaram pra casa. -- Disse observando o semblante desconfiado da outra. -- Mas juro que foi só isso meu bem.

Fernanda refletiu por alguns segundos e depois se ergueu na ponta dos pés abraçando Isabel. Sentiu toda a tensão de seu corpo se esvair quando aqueles dois braços tatuados envolveram sua cintura.

-- Tá tudo bem… Eu tô aqui. -- Isabel disse beijando o topo da cabeça de Fernanda. -- Desculpa não ter dado notícias… É que toda essa coisa da minha irmã ter acordado…

-- Eu sei, eu sei… Deve tá sendo uma loucura pra você e pra tua família né? -- Disse se sentindo culpada por cobrar tanto em um momento como aquele.

-- É… -- Isabel resmungou passando a mão direita pelos cabelos negros. -- Mas logo tudo vai entrar nos eixos, tenho certeza.

-- Vai sim. -- Fernanda disse segurando a mão da namorada com carinho. -- Você quer entrar? Tá um tédio total aqui hoje… -- Disse olhando-a de cima com um sorriso bobo no rosto.

Isabel riu achando graça da tentativa de sedução barata, mas aceitou o convite, era difícil recusar alguma coisa para Fernanda.

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Mariana observou o amontoado de gente que bebia e comia na sala de estar da casa de seus pais, parecia que a cidade inteira havia sido convidada, porém era apenas sua família mesmo, estavam todos muito empolgados em ver sua irmã acordada novamente.

-- A gente tem que fazer um churrascão hoje a noite, né Tia Regina? -- Ricardo propôs animado, era muito próximo da família no passado, mas hoje morava fora do país e havia voltado especialmente para a ocasião. -- Aí eu podia trazer minha esposa pra conhecerem vocês.

-- Qual é Ricky, você só tá querendo exibir sua gringa. -- Ezequiel debochou.

-- Fala isso porque não tem ninguém pra apresentar pra família. -- Ricardo rebateu. -- E você Mari? Vai trazer alguém ou ainda não desencalhou?

Mariana revirou os olhos, seus parentes eram simplesmente os seres mais inconvenientes da face da terra.

-- Vai cuidar da tua esposa Ricardo, e me deixa em paz.

-- Ih...Pelo jeito tá encalhada ainda. -- Disse soltando uma gargalhada.

-- A Isabel tá sempre solteira e vocês nunca falam dela. -- Débora, irmã de Ezequiel comentou na tentativa de defender Mariana.

-- Queria eu ser solteiro igual a Isa. -- Ezequiel soltou. -- Cada dia com uma gata diferente.

-- Certeza que ela traz uma deusa pra esse churrasco hoje, nem que seja pra se aparecer. -- Ricardo falou. -- Ei Vic! -- Gritou para Vitória que estava no sofá tentando ser simpática com suas tias. -- E a Fernanda vai vir ou não?

Assim que as palavras ecoaram pelo ambiente tudo ficou em silêncio.

-- Puta merd* Ricardo! Você não dá uma dentro… A gente nem sabe se elas ainda estão juntas…  -- Ezequiel falou baixinho puxando o primo pelo braço.

-- Olha do que eu me lembro a Fernanda vivia naquele hospital, só se a Vic terminou com ela depois que acordou. -- Débora concluiu.

-- Ela vem sim. -- Victória disse como se aquilo não lhe afetasse e Mariana lançou um olhar de interrogação.

-- Ah então parece que é só a Mari que continua pra titia.

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Isabel passou a ponta do nariz pela pele suave do pescoço de Fernanda. Ela cheirava a hidratante de frutas e algo a mais, que a deixava zonza vez e outra.

-- Você tá um pouco quieta hoje… Tá chateada comigo ainda? -- Falou se aconchegando no corpo da namorada.

-- Não… É só que… -- Ia falar sobre as coisas que encontrou, mas se perguntou se Isabel não ficaria chateada com a possível existência de outra pessoa em seu passado. -- Não é nada, só tô entediada de ficar aqui o dia todo.

-- Você pode ficar lá no estúdio comigo… -- Isabel sugeriu apoiando a cabeça no braço direito.

-- Sério? Sempre quis te ver trabalhando. -- Fernanda se levantou empolgada e Isabel riu.

-- Então a gente vai lá, só fica mais um pouquinho aqui comigo. -- Disse puxando a morena de volta para a cama. -- Nem deu pra namorar direito. -- Deu um selinho rápido e em seguida tomou-a em um beijo envolvente.

Fernanda arqueou a coluna ao sentir o corpo de Isabel sobre o seu e a mão firme, porém delicada que descia por suas coxas incitando um desejo que a descontrolava todas as vezes que a tatuadora estava por perto. Puxou-a pela blusa para tomar seus lábios outras vez, porém o beijo foi interrompido pelo toque do telefone na sala de estar.

-- Preciso atender, talvez seja alguém querendo falar com o papai. -- Disse a morena se levantando da cama.

O telefone ficava na mesinha de centro, a sala estava começando a ficar escura pelo fim de tarde e a telinha do aparelho brilhava no semi-breu.

Fernanda parou abruptamente e sentiu seus pés e mãos formigarem como se estivessem paralisados, um chiado insuportável ecoou por seus ouvidos e em alguns segundos viu tudo a sua volta escurecer.

6 meses atrás

Eram aproximadamente 22h da noite, havia acabado de chegar do trabalho. Já fazia anos que ficava o máximo de tempo possível na empresa para fugir da realidade, mergulhada nos projetos e sonhos de outras pessoas, enquanto via sua vida passar em câmera lenta.

Ouviu o telefone tocar insistentemente na sala, não queria atender, não atendia nem seu celular caso não fosse trabalho, mas resolveu se levantar e ver o que era. Em meio a casa totalmente escura, o visor verde brilhante e a janela que exibia um possível temporal eram as únicas coisas que podiam ser vistas.

Atendeu. Ouviu a voz hesitante de sua cunhada do outro lado e cada palavra dita na voz embargada de Mariana fazia sua boca secar. Seu coração não sabia se disparava ou parava de vez. Mas de uma coisa tinha certeza.

Uma parte de si queria morrer naquele instante.

Não disse nada, abriu a boca na tentativa de dizer algo mas as palavras não saíram. Desligou o telefone e se sentou no sofá atônita. Morte cerebral? Assim? Do nada?

Olhou para as próprias mãos que tremiam e notou que lágrimas molhavam seus dedos, nem tinha percebido que estava chorando.

-- O que eu vou fazer da minha vida sem você Vic? -- Falou quase num sussurro. Abaixou a cabeça e seu mundo parecia girar, correu para o banheiro e vomitou o pouco que tinha conseguido comer naquele dia. Escorada na parede fria de azulejos se encolheu e deixou que todas as lágrimas caíssem.

Para Oscar, encontrar sua filha naquela cena desoladora havia sido a pior dor daqueles últimos anos. Havia voltado correndo para casa quando recebeu a fatídica notícia. Agradeceu ao céus por Fernanda estar apenas dormindo e a colocou na cama.

Isabel franziu a testa estranhando a demora e o telefone que continuava a tocar. -- Nanda? -- Foi atrás da namorada e a encontrou abaixada no chão com as mãos na cabeça. -- Meu amor o que aconteceu?

Fernanda olhou para Isabel, confusa. Se apoiou na namorada que a ajudou a se levantar. -- Eu não sei… Minha pressão caiu eu acho. -- Olhou apreensiva para o telefone que havia parado de tocar e Isabel notou.

-- O que foi?

-- Não sei… Foi uma sensação ruim. -- Disse abraçando Isabel e afundando o rosto em seu ombro.

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Mariana balançou a cabeça negativamente depois de ouvir o que Victória havia pedido.

-- Nem pensar Vic, eu não quero mais saber dessa treta de vocês duas.

-- Então você tá do lado da Isabel?

-- Eu não estou do lado de nenhuma das duas, mas eu não posso fazer isso com a Isa.

-- Eu só preciso que você convide as duas e mantenha a Isabel afastada por uns dez minutinhos.

-- Só? Você acha pouco? Quer que eu jogue a Fernanda no seu colo também?

Victória sorriu. A verdade é que queria sim, mas Mariana não parecia muito animada em ajudar. Ajeitou o óculos de grau sobre o rosto e pigarreou conformada.

-- Então só convida e deixa que eu me resolvo.

Mariana suspirou, tinha certeza de que Isabel inventaria alguma desculpa para evitar o encontro com Victória, principalmente um encontro que envolvesse Fernanda também. Pegou o telefone e buscou pelo número da irmã mais velha.

No terceiro toque foi atendida.

-- Fala Mari. -- Isabel disse do outro lado da linha enquanto passava os dedos por entre os fios castanhos de Fernanda que estava deitada em seu colo.

Fim do capítulo