Milena reparou que Arthur estava muito estranho com ela. Talvez fosse a ansiedade por ter um contrato novo. Ele nunca tinha tocado naquela balada antes. Ou talvez seja por causa da presença da sua ex namorada. O real motivo ela não sabia, mas reparou em acontecimentos que estavam ocorrendo com frequência: sempre respondia as mensagens dela rápido e agora estava demorando muito, ele dizia estar ensaiando, mas nunca ensaiou tanto como nos últimos dias. Ele disse que sua apresentação foi adiada para um outro final de semana por isso ainda não pôde tocar na Passaport Club. Então ele só ensaiava e estava chegando muito tarde em casa. Já fazia alguns dias que eles não saiam pra lugar nenhum.  Quando eles se encontravam ele parecia estar frio com ela. Ele tratava ela com diferença. E as  dúvidas começaram a surgir na mente de Milena : " será que ele não me ama mais ?".

  Um dia que eles se encontraram, Milena encontrou arranhões nas costas e pescoço de Arthur. E tinha uma marca estranha em seu lábio inferior. Parecia machucado, uma marca de quem usa aparelho. O tempo todo Milena desconfiava que fosse Duda a amante, mas Duda não usa aparelho. Seus dentes são alinhados. Milena achava que estava pirando. Ela sempre foi compulsiva em relação a seu ciúmes e já estava quase conseguindo controlar, mas agora ela sentia que se era pra pirar então ela iria pirar de vez.

       Na faculdade Milena estava sentindo-se aliviada, pois era o último dia de aula e ela acabou de verificar o resultado de suas notas, todas altas e nenhuma D.P.  Ela estava no refeitório olhando as notas pelo notebook.

      Paloma chegou saltitante de alegria:

- Pela sua cara de felicidade, pelo jeito você passou direto em todas as disciplinas, acertei Mi ?

- Acertou amiga, sem nenhum exame pra fazer, nenhuma D.P pra pagar e nenhum pai chato pra reclamar. Mais uma vez estou livre. Você não sabe o quanto estou aliviada. E você está bem alegrinha também hein. Por favor me diz que passou também amiga. 

- Passei sim, graças a você. Obrigada.

- Não tem pra que me agradecer Paloma você sabe que eu te amo e quero sempre o seu bem. Eu sei das suas dificuldades e estou aqui pra ajudar.

 - Ah você é meu anjo amiga. 

      As duas se abraçaram.

- Eu acho que merecemos uma comemoração. Esse final de semana estarei de folga. Vamos sair, beber, extravasar, se arrumar ficar toda linda, flertar com uns carinhas, cair na noitada... O que você acha?

- Ah não sei amiga. Posso pensar. Faz tempo que eu não saio.

 - Por isso mesmo, você nunca sai, tá sempre estudando, você merece um tempo só pra você. Tem que aproveitar mais a vida.

- Aihm amiga, não sei nem se eu estou no clima pra isso. Ando com umas paranoias.

- Ah lá vem, anda me conta tudo.

- Eu estou desconfiada que o Arthur está me traindo, ele está muito estranho.

 - Amiga essa desconfiança não é de hoje né, você sempre foi muito ciumenta. Sempre desconfiou, mas não era nada.

- Pois é Paloma, dessa vez eu sinto que é diferente que não é só paranoia. Antes eu sabia que o problema era eu, por isso eu deixei de pegar no pé dele. Por muitas vezes ele deixou claro que não tinha amante, então passei a confiar totalmente.

- E se ele realmente tiver te traindo o que você vai fazer ?

- Aí eu não sei, depois desse tempo todo juntos. Esses anos de namoro eu nunca o trai, sempre fui fiel até demais. Nem pra outros homens eu nunca olhei.

- Talvez ele esteja diferente por algo que você fez que ele não gostou.

- Mas o que eu fiz? Eu tento ser a namorada perfeita. Eu nem saio de casa, não tenho muitos amigos, tento agradar a mãe dele de todas as formas. E ultimamente não falei nada demais pra ele.

- Talvez você só esteja assim paranoica por causa da ex dele. Como é mesmo o nome dela ? Maria Clara? Alguma coisa assim né?

- Maria Eduarda.

- Isso, como ela é? essa Maria Eduarda? Ela é vagabunda? Por que se ela for uma piranha tentando roubar seu homem, vamos dar uma surra nela para ela aprender, pode contar comigo amiga, eu te ajudo, baixo o cacete nela.

- Para de ser louca Paloma, isso não se faz com ninguém, mas sabe o que é o pior amiga, é que ou eu sou muito cega ou a Duda não tem nada a ver com essa história, por que tudo o que você falou ela é totalmente diferente disso tudo. Ela não tem nada de piranha, ela é educada, gentil, honesta. Ela nem veste roupas sensuais quando está na casa dele. Ela está sempre largada, de pijama como se já fosse de propósito para não seduzir ninguém. E o pior é que até o Felipe pediu para eu não magoar ela. Tipo não ser rude, por que ela é uma pessoa boa.

- Nossa! Eu tinha uma visão totalmente diferente dessa ex dele. Pelo o que você me falava eu imaginava ela uma pilantra que zuou com a vida do seu namorado.

- Pois é. Eu também imaginava. Quem sabe um dia você conhece ela e abre meu olhos, ou concorda com todos e começa a amar ela. Porque pode apostar amiga, ela tem um fã clube imenso.

- Ah amiga, mas não fica assim, vamos comemorar pra você esquecer esses problemas, pensa bem na proposta, o final de semana está chegando, quero uma resposta logo.

- Tá, vou pensar com carinho.

- Hoje tem carona? 

- Hoje não Pah. O carro estava fazendo um barulho meio estranho, deixei ele em casa para ver depois do que se trata.

- Então vamos correr pra pegar o busão que já vai passar.

 - Vamos, vamos logo.

     Milena pegou um ônibus direto para casa de Arthur, ela sentia ele distante, mas sentia falta dele e queria contar que estava de férias. Chegando lá quem abriu a porta foi Duda.    

- Oi, Taurina, boa tarde. - Ela abriu seu sorriso encantador.

- Oi Sagita! Boa tarde, o Arthur está? 

- Sim, lá em cima no quarto.

     Milena reparou que Duda estava um pouco arrumada. Pois não estava com as roupas largas e nem os pijamas que ela costumava usar. Ela estava com uma calça jeans azul meio rasgada e uma regata cavada mostrando o sutiã preto ao lado. Estava bem bonita, estilosa, seu cabelo estava arrumado e pelo jeito ela estava se arrumando para sair. Milena subiu ao quarto de Arthur e ele estava todo arrumado, estava colocando perfume.

- Posso saber onde você vai?

- Meu amor, que surpresa você aqui no meio da semana.

 - É eu vim te contar uma novidade.

- Novidade? Pode contar.

- É. Mas primeiro queria saber onde você vai essa hora?

- Ah, estou indo almoçar com o meu chefe lá da balada Passaport.

- Ah tá! - Ela disse pensativa. - Mas então, vocês almoçam muito juntos né?

- Só de vez em quando. Só quando tem reunião. Agora me conta a novidade.

- Ah não é nada demais só vim te contar que estou de férias.

- Nossa que legal meu amor, parabéns. Agora preciso ir. Fica aqui com a minha mãe. Faz companhia pra ela.

- Acho que ela não precisa de companhia, ela já tem a Duda.

 - Ah, mas acho que a Duda vai sair. Eu reparei que ela estava se arrumando. Vou descer.    

       Ele deu um beijo em seu rosto, desceu, pegou a moto na garagem e partiu. Enquanto isso Milena desceu para a cozinha, para cumprimentar a sua sogra. E Duda foi até a cozinha.

- Dona Andreia será que a senhora poderia me emprestar o seu carro só por alguns instantes? Preciso fazer uma coisa.

- Ah sim meu anjo, pode pegar toma aqui as chaves.

       Milena achou muito estranho os dois saindo juntos, Arthur um pouquinho antes e Duda em seguida. Milena também ficou triste em saber que sua sogra nunca havia emprestado seu carro antes para ela, porém para Duda emprestou. O "amarelinho", era assim que Dona Andreia chamava seu carro, era o xodó dela, um Fusca 69 amarelo da pintura desgastada. E Milena ainda pensou: Se Duda é tão honrosa e certinha como dizem, então porque vai dirigir com a CNH vencida? Milena então resolveu seguir os dois. Em seguida, ligou para Felipe.

- Fê onde você tá? 

- Oi Mi, tô indo correr na praça, por que?

- Vem aqui me buscar na casa do Arthur por favor, preciso fazer uma coisa urgente. Vem de carro por favor e vem logo! 

      Alguns momentos depois, Felipe chegou e Milena entrou no carro.

- Poxa Felipe, tinha que demorar tanto?

- Eu tinha acabado de acordar e estava me arrumando pra ir correr.

- Verdade, esqueci que você não trabalha e acorda às 13h da tarde.

- Ah você também não trabalha bonitinha.

- Mas eu estudo. Enfim vamos parar de discutir, te chamei aqui porque acho que Arthur e Duda estão juntos. O Arthur está me traindo.   

- Mi de novo? Já disse para você tirar isso da sua cabeça. Caso entre os dois nunca vai rolar. O Arthur te ama.

- Como você pode ter tanta certeza assim? Essa hora os dois já devem estar em algum motel. Se você tivesse chegado antes daria pra gente ter seguido ela. 

- Eu tenho certeza porque conheço muito bem os dois. O Arthur disse que iria pra onde?

- Almoçar com o chefe.

- E a Duda?

- Não disse nada, saiu toda misteriosa, estava toda arrumada, bonita e pegou o carro da Dona Andreia emprestado sendo que ela está com a CNH vencida.

- Hum então vamos pensar. A Duda já tinha saído de casa antes?

- Bom desde o dia que ela chegou ainda não vi ela saindo pra lugar nenhum.

- Então vamos calcular os pontos: A Duda saiu toda misteriosa sem falar nada, como se fosse algo secreto, ela é toda certinha, porém está dirigindo com a CNH vencida indo contra seus princípios, ela não tinha saído de casa antes, agora é a primeira vez, ela saiu bonita e arrumada. Ela precisou de um carro então é um pouco longe... Já sei onde ela foi.

- Aonde?

 - Vou te levar. Põe o cinto e se segura.

      Felipe dirigiu durante uns 20 minutos e estacionou o carro na rua mesmo.

- Onde estamos? Não estou vendo nenhum motel por aqui.

- Porque não tem. Estamos só em um bairro próximo. Olha lá. -Ele disse apontando para o "Amarelinho" parado em frente à uma casa.   

      De dentro do carro Felipe e Milena notaram que Duda estava dentro do carro e olhando fixo para alguém. Porém estava um pouco longe como se estivesse escondida vigiando alguém. Idêntica à situação de Milena e Felipe que estavam de longe só observando Duda. Esse alguém que Duda observava era uma mulher muito linda, alta de cabelos negros bem lisos e longos. Ela brincava com uma criança de mais ou menos 5 a 6 anos. A mulher empurrava a criança no balanço em um parquinho numa praça. Eles pareciam bem felizes. O menino estava todo sujo de tanto brincar, porém a mulher só balançava ele e se divertiam muito. Havia mais crianças no parque, todas se divertindo muito.

- Quem é ela Felipe? Você conhece? Por que a Duda está aqui vigiando ela?

- Aquela mulher alí é a Jéssica, uma amiga nossa que estudou conosco. Antes da Duda viajar para Blumenau as duas tiveram uma briga muito feia por culpa do Arthur. Elas eram muito amigas antes da briga.

- Como assim por causa do Arthur? O que ele fez? Brigaram por ele ou por causa dele?

- É uma longa história Mi. Vou precisar tirar ela daqui. Por favor não sai do carro. Fica aí quietinha não estraga tudo.

- Tá bom. Não vou sair, mas volta logo.

      Felipe entrou no "Amarelinho" e ficou sentado olhando pra frente fixo na mulher.

- Isso é muita tortura Duda.

- Eu sei. Mas eu tinha que vim ver como tá a vida dela. 

      Felipe então olhou para o lado e Duda estava chorando. Então escorreu algumas lágrimas do olho de Felipe também.

- Queria tanto te ajudar. Mas agora já é um pouco tarde.

- Como fazer para esquecer tantos momentos juntos?    

- Já faz 5 anos que você foi embora, se você conseguiu viver sem ela esse tempo todo, então você vai conseguir viver muito mais.

 - Pior que se passaram 5 anos e ainda sinto falta dela.

- Eu sei que dói, vocês se amavam demais. Mas as coisas são assim mesmo Duda. As coisas acontecem, separam as pessoas e você não pode simplesmente aparecer do nada depois de 5 anos e achar que tudo vai voltar ao normal que seremos todos amigos de novo. Eu também a amo muito, mas até a minha amizade ela não quer mais. E olha que a briga dela foi com você e não comigo. Eu não tinha nada a ver com a história. Só porque sou melhor amigo do Arthur ela já me tirou da vida dela.

 - Ela está tão linda.

- Está mesmo, mais do que antes.

- Aquele garotinho é o Alex? Está tão grande.

- Sim, mas ela já tem outro filho. Aquele ali. - Falou apontando para outra criança que aparentava ter 2 anos. Estava sentado na grama brincando sozinho porém perto da sua mãe. - É Eduardo o nome dele.

- Eduardo? Que lindo nome. É do mesmo cara?

- Não. Ela largou o Toni pra ficar com outro cara.

- Como você sabe de tudo isso?

- Eu sigo ela no Instagram. E como você descobriu a casa onde ela mora?

- A Fabi me falou.

- Fabi e sua boca grande.

- Como você sabia que eu estaria aqui?

- Não sabia, eu estava correndo. Eu corro por aqui todos os dias aí vi o carro da Andreia parado aqui aí já imaginei que seria você.    

- Ah tá. Queria tanto falar com ela, mas eu não consigo. Melhor deixar como está. Eu nunca vou perdoa-la e ela nunca vai me perdoar e vai ficar assim pra sempre.

 - Não esquece que ela é Leonina. Orgulho puro.

- Não esqueço disso não. Ela nunca vai deixar de ser o que é. E agora vendo sua família eu sei que foi a coisa certa. Tem males que vêm para o bem. Isso só prova que eu estava certa.

- Talvez o futuro fosse diferente, com atitudes diferentes do passado. Eu mesmo me arrependo de não ter feito nada.

- Mas feito o que Lipe? Você era o único que não poderia ter feito nada.

       Felipe abaixou a cabeça deu um abraço muito apertado em Duda e saiu do carro. 

- Bom preciso voltar a correr. Até mais tarde Duda.

- Até! E parabéns por correr e nem suar. 

     Felipe deu uma disfarçada e voltou para o carro onde estava Milena.

- Obrigada por não ter saído do carro.

- Eu quis sair, mas é assunto de vocês não quero me intrometer. Porém queria que você me contasse essa história toda, fiquei curiosa. O que o Arthur fez?

 - Esquece esse assunto Milena, é uma longa história, uma história muito dolorosa. A Duda estava chorando. Ninguém mandou ela ir desenterrar essa história. Se não fosse eu pra impedir poderia ter acontecido uma tragédia se a Duda tivesse saído daquele carro para ir falar com a Jéssica. Só te peço que você esqueça tudo o que te falei hoje, eu falei coisas demais.    

- Tudo bem não quer contar. Não vou obrigar. Já esqueci. Dá raiva de ter um melhor amigo que é melhor amigo de todo mundo.

- Olha o ciúmes hein, agora vamos embora, porque a Duda já foi pra casa também. 

- Tá mais me deixa no meu apartamento. Já está tarde.

- Pelo menos para com a paranoia, agora você sabe que eles não estavam juntos. E deixa a Duda em paz. Isso já é muita obsessão e a Duda não merece isso. 

      À noite Arthur mandou uma mensagem para Milena:" Desculpa se não te dei atenção hoje, é que estou muito animado com o meu novo contrato". Vem dormir aqui em casa hoje." Ela sorriu quando leu e respondeu:" Tudo bem meu amor. Vou sim." 

      Na casa de Arthur quem atendeu a porta para Milena foi Fabiana e Milena estranhou, pois já estava tão acostumada em esperar a porta ser aberta por Duda. Ela entrou e viu Duda sentada no sofá e Fabi voltou para o Sofá sentando do lado de Duda e gritou:

 - A Milena chegou mano!

     E Arthur descendo as escadas:

- Já ouvi maninha.

     Arthur beijou Milena e disse:

- Antes de subir quero fazer um comunicado.

     As 3 garotas ficaram olhando para a cara dele ansiosas para saber do que se tratava.

- Eu consegui 5 vips para Passaport onde vou tocar pela primeira vez esse sábado. Quem quer ir?   

    A Fabi foi a primeira a gritar:

- Eu mano, eu quero, eu quero.

- Eu também Tuco.

    Milena olhou para Duda e depois para Arthur.

- Eu também. 

     Arthur então olhou para cara de Milena surpreso:

 - Tem certeza? Você nunca sai. Ainda mais pra balada.

- Tenho sim, eu já ia sair mesmo esse final de semana. A Paloma e eu íamos comemorar nossas férias. Posso dar vip pra Paloma.

- Ótimo! Então o outro vou dar para o Felipe e podemos ir todos juntos. 

     Todos combinaram. Milena subiu para o quarto de Arthur. Os dois dormiram, mas antes Milena tinha mandado mensagem para sua amiga Paloma, que ficou muito animada com a notícia:

" Tem certeza amiga, que você quer ir mesmo?"

" Certeza, eu não tenho, só sei que não quero nem pensar nessa possibilidade do Arthur estar nessa balada a sós com a ex dele".

" Bom amiga, a sós eles não estarão né, porque a balada estará lotada e ele estará trabalhando, mas tira isso da sua cabeça, para de obsessão com essa garota, vamos ir pra nos divertir, comemorar".

" Você tem razão, boa noite e até amanhã".

 

Fim do capítulo