Dávila

Já se passaram alguns dias depois que a Bárbara foi embora. Dias esses que me fizeram refletir bastantes coisas que eu não percebi antes. Meu relacionamento com a Bárbara foi rápido demais, não que eu me arrependa disso, porém parece que a pessoa ajuizada aqui sou eu. Ela é uma garota frágil demais e sensível, parece não lidar tão bem em certas situações, e eu sei que a amo, porém se a vida toda for desse jeito eu não irei aguentar. Se continuar com idas e voltas, se continuar com brigas sem motivos concretos, se continuar com ciúmes sem fundamento eu sinceramente abafo esse amor e vivo sozinha como estava aprendendo a viver antes de encontrá-la.

Estava perdida em meus pensamentos e nem percebi meu Pai falando.

-- Dávila

Já é a terceira vez que te chamo, está na hora de ir pra casa então vamos?

 

-- vamos Pai, desculpa.

Estava distraída

 

-- desde que a menina Bárbara foi embora você não está mais aqui.

Percebi que não está se alimentando bem, e tá com uma cara péssima filha.

Além de viver agora aqui dentro, dia e noite você só trabalha.

Não acha que isso tá errado?

 

-- Pai não vai tocar nesse assunto novamente.

Já lhe falei que não quero mais falar disso.

 

-- Dávila, pelo menos tenta sair dessa e se cuidar.

Escute seu velho pai.

 

-- tá bom meu pai, irei tentar...

Vamos pra casa logo...

 

Meu pai estava certo, desde que ela se foi eu perdi o foco, o rumo da minha vida.

Tudo era pra ela, e ela acabou nem pensando na possibilidade de eu não saber reagir com a sua partida. Pra bárbara tudo parece ser fácil demais.

Pelo menos o trabalho está me ocupando a cabeça, mudei até de quarto só pra não vê as coisas dela que ainda estão lá.

Sei que uma hora isso passa.

 

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Bárbara

Depois de quase uma semana sem vê a Dávila minha vida tinha voltado a ser de pernas pro ar.

Perdi o sentindo de viver, parece que não encontro mais alegria e sei que isso tudo vêm do amor dela.

Ela que me dá forças pra reagir e sem ela eu não sei mais o que fazer.

Minha mãe está parecendo uma louca, não me deixa sair, nem conversar com os vizinhos.

Não me deixa sequer colocar o pé pra fora.

Graças a deus o Bruno não está vindo aqui, parece que sumiu do mapa e dou graças a deus por isso.

Tudo que queria era você de volta meu amor, tudo que eu mais desejo é estar de novo com você Dávila.

 

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-- minha filha, tá tudo bem?

O que foi?

 

-- nada dinda, só foi uma tontura.

 

--senta menina, e respira um pouco.

Você anda fazendo danação e não está se cuidando.

Por isso já está com cara de doente

 

-- não estou doente e não é nada.

 

-- sei

E eu não te conheço Dávila.

Vou falar com teu pai.

 

 

-- não dinda, nem pense nisso.

Vocês me tratam como uma criança e isso eu já não sou faz tempo.

Me trás só um copo com agua que já estou melhor.

 

-- teimosa

 

Fazia alguns dias que realmente não me sentia bem.

Mais não quero preocupar ninguém, é algo meu então eu tenho que passar por isso.

 

-- tá melhorando filha?

 

-- estou sim dinda, obrigada.

 

-- posso te falar uma coisa?

 

-- depende do que seja.

 

-- menina vai atrás da tua felicidade.

Não é justo você ficar ai morrendo por dentro sem pelo menos tentar.

 

-- dinda, você viu que eu até implorei pra ela não ir e mesmo assim ela foi.

 

-- ela foi porque ficou com medo de te fazerem mal, olha eu mesma vi quando a mãe dela ameaçou fazer algo contra você.

Tinha um rapaz também lá fora que não parecia ser boa pessoa Dávila.

Essa pobre menina deve ter ficado entre a cruz e a espada.

 

-- poderíamos ter resolvido isso juntas.

Não acha?

 

-- se todo mal entendido vocês se separarem realmente nunca vão pra frente.

Eu só insisto vai atrás dela, ela pode tá precisando de você.

Ela e aquela criança que não tem mais ninguém por ela.

É sua filha que tá longe de você, lembra-se disso.

Você aceitou cuidar dela, e eu sei que ela te magoou muito. Porém se você não perdoar e nem falar com ela a vida de vocês pode não ter mais jeito.

Eu sei que você ama essa menina Dávila.

Dávila?

Menina?

 

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Não sei bem o que aconteceu, só sei que a sensação de fraqueza estava sobre meu corpo.

Acordei meio sonolenta e notei que não estava no meu quarto, abri com um pouco de esforço meus olhos e chamei por alguém.

Minha mãe veio imediatamente

 

-- graças a deus filha.

Você acordou meu bem

Como se sente?

 

-- zonza, tonta, e com muita fraqueza mãe.

O que aconteceu? Onde estou?

Eu só lembro que estava tomando uma agua e falando com a dinda.

 

-- você teve uma queda de pressão minha filha, além de estar desidratada.

Por favor, se cuida, sem você a gente não vive.

 

-- quem me trouxe pra cá?

 

-- chamamos um medico e ele trouxe a ambulância.

Você nos deu um grande susto filha.

Agora tenta dormir mais, não vou sair de perto de você.

 

Acabei pegando no sono novamente, meu corpo estava cansado.

 

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-- como está minha menina?

 

-- quando sai ela não havia acordado...

Você é a dinda dela, é da família. Conhece ela mais do que eu que sou o próprio pai.

Diga-me, o que faço pra vê minha filha bem?

-- sendo sincera com você meu velho amigo.

Isso é saudade.

 

-- da mulher dela não é?

Aquela loirinha fisgou minha filha mesmo.

Ainda não sei o que fazer por ela...

 

-- podemos tentar juntá-las novamente

 

-- como conseguimos isso?

 

-- pelo menos uma pista já temos.

 

-- temos?

 

-- peguei o nome da cidade que tinha no taxi que vieram.

A mãe dela já trabalhou na padaria, e se a cidade bater com os dados que ela lhe deu quando foi se empregar já sabemos pelo menos onde ela pode estar.

 

-- ótima ideia

Irei agora mesmo verificar isso, e você vem comigo.

 

-- vamos

 

A busca pela Bárbara não seria fácil, porem não é impossível.

Dávila não está nem sonhando que o Pai e a dinda irão tentar juntá-las novamente, mais e ai será que isso vai funcionar?

 

Depois de checarem o endereço partiram em direção ao interior da Bahia.

Contaram com a sorte ou com o destino pra tentar pelo menos falar com a Bárbara.

 

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Dávila

Sinto-me muito fraca ainda e sem vontade pra nada.

Meu corpo só sente cansaço e vez por outra consigo ficar sobrea.

Às vezes ouço vozes ao meu redor, às vezes ouço o que parece ser minha mãe rezando.

 

 

-- minha menina descansa.

Descansa filha que você precisa ficar bem.

Mamãe está sofrendo tanto só por te vê aqui nessa cama. Eu sei que essa desidratação vai passar e que você vai ficar bem, porém coração de mãe é assim mesmo...

Sei que você não está nem me ouvindo mais fique bem logo.

Mamãe te ama

Não se preocupe que seu Pai está cuidando da Padaria.

E sua dinda está em casa orando por você também.

 

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-- se minha esposa sonhar o que estamos fazendo dinda.

Sinceramente eu nem sei o que vai acontecer.

 

-- nem me fale, porém é por uma boa causa patrão.

Olhe, deve ser aquela casinha ali de taipa.

 

-- qual?

 

-- aquela ultima da rua.

 

-- vamos passar por perto e se for mesmo esse numero a gente bate.

 

-- vamos

 

Conferimos e finalmente encontramos.

A tarde já havia se passado e já era por volta das 18h quando encontramos a casa da Bárbara.

Não tinha quase ninguém na rua e quase todas as casas pareciam fechadas.

 

-- quem vai primeiro?

 

-- dinda fica aqui no carro que eu irei.

 

-- se precisar me chame.

 

 

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Bárbara

A noite já estava caindo e com ela minha solidão novamente.

Minha mãe havia acabado de sair pra comprar algo pra jantarmos e eu estava em uma rede ouvindo um pequeno radio.

Estava tão distraída que nem vi que tinha alguém batendo na porta.

Não contive a surpresa quando abri.

 

-- Ô senhor aqui?

-- Bárbara, boa noite.

Gostaria de conversar um pouco.

 

-- o que aconteceu?

Veio por pedido da Dávila?

 

-- não menina.

Ela nem sabe que estou aqui

 

-- não estou entendendo

 

-- você ama minha filha ou aquilo só foi fogo de palha?

 

-- eu amo sua filha por demais.

Chega a doer aqui dentro.

 

-- e por que você a deixou?

 

-- eu acho que fiz isso por impulso, por medo.

Minha mãe tinha falado que quem pagaria as consequências era ela.

E eu não iria resistir se algo acontecesse com ela.

 

-- sua mãe está?

 

-- não, ela saiu.

Mais por favor, ela volta logo.

 

-- você não quer voltar Bárbara?

 

-- Dávila que te pediu pra vim falar comigo?

Eu conversei com ela

 

-- Menina, você não está entendendo.

Minha filha está internada, passou a semana mal.

Desde o dia que você abandonou-a.

Ela não come mais, não dorme direito.

Só trabalha

E hoje ela passou mal.

A dinda teve a ideia de te trazer de volta, porém vejo que você não quer.

 

-- meu deus como ela esta?

Leva-me pra vê-la agora

 Eu não acredito que meu amor não está bem.

 

-- ela sofreu muito com tua partida.

 

-- eu também sofri, e por fazer as escolhas erradas mais ainda.

Vamos por favor, eu preciso ficar perto dela.

 

Já estava decidida a voltar quando saímos pra fora encontro minha mãe e o bruno que até então não tinha visto novamente.

 

-- pra onde pensa que vai Bárbara?

 

-- vou voltar pra onde não deveria ter saído mãe.

Você não tá bem, parece uma louca.

 

-- Menina entra no carro.

 

Catarina vamos conversar e você também rapaz, vocês foram à minha casa tirar a Bárbara de lá com que pretexto?

Sei que você é a mãe, mas sua filha já é maior de idade. E a minha cuida muito bem dela.

Nossas filhas se amam, é cruel você não entender isso.

 

-- isso que o senhor está falando é uma grande mentira.

Ela veio porque quis.

Esse rapaz é o pai do filho dela.

 

-- muito bem, você quer assumir a criança?

Eu mesmo ajudo com a papelada.

E você pode vê-la quando quiser já que a bárbara ama minha filha.

 

-- coroa, estou fora disso.

Não faço questão dessa garota muito menos desse moleque.

 

-- então porque você foi acompanhando essa senhora?

 

-- quem paga manda...

 

-- pronto rapaz, quem paga manda.

 

--quanto foi o negocio?

 

-- cinco mil.

Vim pegar a outra parte justamente agora.

 

-- te dou quinze mil pra você sumir da vida delas.

E nunca procurar essa criança.

 

-- quem manda paga...

 

-- pronto rapaz.

Vou assinar um chegue e hoje mesmo o dinheiro é seu.

 

-- você que manda patrão.

 

-- isso não é justo bruno.

 

-- para de ser chata Ô velha.

Você tá maluca e logo vai partir dessa pra melhor.

 

-- Catarina sua filha quer voltar, e não vou deixá-la aqui.

Notasse que você não está bem.

Se algum dia quiser chegar em paz,  minha casa está aberta.

Se não, você não é bem vinda.

 

-- vocês vão pagar por tudo isso

Eu ainda vou me vingar.

 

-- passar bem.

 

Bárbara

Entrei no carro e fiquei observando a discursão que estava acontecendo entre meu sogro e minha mãe.

Como ela teve coragem de ainda pagar o bruno pra me intimidar? Que mãe é essa meu deus.

 Eu sei que ela não tá bem, notei nesses dias que fiquei com ela e isso também me dói.

Porém meu amor também não tá bem e eu que provoquei tudo isso.

Se meu sogro não tivesse vindo atrás de mim, não teria como voltar.

 

-- dinda como ela está?

 

-- filha, eu vou ser sincera.

 

-- sim

 

-- ela está magoada.

 

-- mais ela não quis vim atrás de mim?

Eu pensei que...

 

-- ela sofreu muito com teu abandono.

Então entenda o lado dela também.

 

-- tá dinda

Obrigada.

Podemos passar no hospital logo?

 

-- vamos logo pra lá menina.

 

-- ok

 

 

Estava ansiosa e ao mesmo tempo tensa.

Eu não acredito que cai nas chantagens da minha mãe dessa forma e que meu amor se machucou por isso.

Eu não vejo a hora estar com ela novamente.

O caminho parece não ter fim e por volta das 23h estávamos chegando ao hospital.

 

-- menina, você entra e faz o favor de pedir pra mãe dela vim descansar um pouco.

 

-- eu fico com ela, pode deixar.

 

-- tá bom

 

Segui com passos apressados e finalmente encontrei o quarto que meu amor estava.

Bati na porta e encontrei a mãe dela com um terço na mão.

Ela não gostou muito quando me viu.

 

-- o que você faz aqui garota?

 

-- senhora, eu vim ficar com a Dávila.

Pode ir descansar.

 

-- minha filha não quer vê você nem pintada a ouro

 

-- por favor, não diga isso.

-- cadê meu marido?

 

-- ele está lá fora.

 

-- sabia que tinha dedo dele no meio.

Eu já volto.

 

Ela saiu e finalmente pude ficar a sois com meu amor.

Ela parecia um anjinho dormindo.

Partiu-me o coração vê-la assim.

 

-- amor, o que aconteceu?

(falei já com lagrimas nos olhos)

Você tá tão fraquinha minha vida...

Eu voltei Dávi...

Voltei pra você

Peguei em sua mão e tentei entrelaçar nossos dedos.

Mais notei algo diferente

Ela mexeu e não quis fazer isso.

Quando levantei meu rosto encontrei um par de olhos negros ofuscados tristes fixados diretamente em mim.

 

-- Dávi sou eu...

 

-- sai da aqui...

Foi à única coisa que ela conseguiu pronunciar antes de virar o rosto pra mim.

 

-- Amor, eu voltei.

Não me manda embora, por favor.

Eu te amo tanto Dávila.

Fala alguma coisa amor.

Eu não acredito que em uma semana você deixou de me amar, você esqueceu-se de mim e da nossa clara beatriz, Dávila?

 

Ela não falava nada, lagrimas caiam do rosto dela e eu não pude fazer nada.

Não demorou muito para que ela dormisse novamente e eu fiquei ali, do lado dela.

Errei, e agora enxergo isso.

https://www.youtube.com/watch?v=chkclMDAgdM

Teu olho despencou de mim

Não reconheço a tua voz

Não sei mais te chamar de amor

Não ouvirão falar de nós

 

A gente se esqueceu, amor:

Certeza não existe não

E a pressa que você deixou

Não vem em minha direção

 

Continua.

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo