Capítulo 1
Renata sentou-se no banco alto do bar, encontrando a face sorridente do barman.
"Posso ajudar, senhora?" Ele disse em tom simpático.
"Um Amaretto, por favor." Renata respondeu sem retribuir o sorriso.
"Quando foi que virei uma senhora?" Ela começou a divagar sentada sozinha no bar sofisticado do renomado hotel em São Paulo.
"Quando foi que deixei a vida passar por mim e acordei com quase 50?" Foi os anos de dedicação à faculdade, ao escritório? O tempo dedicado ao casamento, aos filhos. As crianças já eram adolescentes agora, envergonhados de serem vistos a menos de 10 metros de distância da mãe. O casamento, bem o casamento era como uma luva velha, serve, mas melhor deixá-lo numa gaveta.
Renata olhou para o relógio e girou a catraca fazendo um barulho estalante, era um dos muitos tiques que tinha quando estava nervosa. 7:17 pm, seu encontro era as 7:30 pm. O quanto cabia naqueles próximos treze minutos.
"Seu Amaretto, senhora." O garçon deixou o copo de cristal com o líquido âmbar sobre o balcão.
Renata levou o copo aos lábios e sentiu o gosto doce do licor de amêndoas. Deixou o líquido percorrer todos os cantos de sua língua, estimulando todas as papilas e enviando sinais elétricos de prazer para seu cérebro.
"Será que o gosto do beijo de uma mulher é diferente? Assim, doce?" Pensou.
Era uma pergunta que ela já havia feito a si mesma inúmeras vezes. A curiosidade de sentir a suavidade da boca de outra mulher tocando a sua, beijo-a lentamente, deixando as línguas explorarem uma a outra sempre foi uma coisa que a instigava, mas ultimamente a curiosidade havia tomado uma proporção muito maior. Desde que havia começado a tomar hormônios para tratar os sintomas da menopausa sentia um fogo genital, uma brasa constantemente incandescente que a mangueira do marido não era capaz de apagar o que levou Renata a re-descobrir os prazeres da masturbação.
Bastava estar sozinha em casa para se entregar aos deleites de se tocar, e sempre, mesmo que tentasse evitar, havia outra mulher em suas fantasias. Era fechar os olhos e ela aparecia, morena de cabelos longos, olhar minado de desejo, pronta para devorar Renata.
Seus beijos vorazes, segurando Renata pelo pescoço, com uma pressão leve da mão em sua garganta que Renata tornava real com a própria mão. Eram também com toques delicados que Renata massageava os próprios seios, segurando ambos em suas palmas e beliscando suavemente os mamilos numa mistura de dor e prazer. Meros minutos de concentração em sua fantasia já eram suficientes para alastrar um desejo incontrolável de dedilhar sua vagin*. Gostava de sentir a umidade escorrendo entre os lábios como um troféu, uma afirmação de sua sexualidade explícita e viva. Adiava tocar seu clit*ris ao máximo, sabia que no segundo que imaginasse os dedos indicador e médio da bela morena acariciando suas partes mais íntimas e tumescestes, explodiria em um orgasmo pulsante, mandando deliciosas ondas de clímax por todo seu corpo. A morena das suas fantasias fazia Renata goz*r dos pés a cabeça.
Quando soube da viagem de negócios, Renata exaltou a possibilidade de um fim de semana sozinha, ela e suas fantasias, ela e sua morena. Mas aquela morena era como uma droga, e após a primeira noite de luxúrias imaginárias, Renata queria mais, muito mais.
Foi a primeira vez que a possibilidade de trair seu marido surgiu e seu lado racional tentou argumentar. Renata não deu ouvidos. Querer que um ser humano passe a maior parte da sua vida restrito as convenções de fidelidade era trágica. Na concepção de Renata, só havia uma maneira de não sentir atração por outras pessoas: aniquilando uma parte primordial do que nos faz mulheres. Enterrando nossos desejos carnais fundo num lugar onde não causem problemas. Renata não queria abdicar de seus desejos, eram o que tinha de mais cru e honesto. Eram o que a faziam Renata uma mulher.
Mas transformar fantasias em realidade era aterrorizante. Ansiosa, Renata recorreu a sua bengala emocional: seus cigarros mentolados. Outro prazer velado que era exímia em esconder de todos. O cheiro da fumaça carcinogênica era um alívio paradoxal, culpa e prazer andando de mãos dadas.
Renata sentiu um toque no seu ombro direito e virou-se para encontrar a visão de uma mulher morena, melhor do que qualquer de suas fantasias poderiam materializar, muito mais linda que as suas fotos que Renata havia visto online. Olhos negros como obsidianas, penetrantes e enigmáticos. A boca pintada de um tom vermelho carnal que imediatamente atiçou todos os sentidos de Renata, acordando uma mulher predadora que nem ela mesmo sabia que existia dentro de si. Naquele momento, Renata queria agarrar aquela mulher e beijá-la e por fim a uma vida de devaneios frustrantes, queria saber como era sentir outra mulher em seu corpo, não só imaginar.
A culpa e o medo eram paralisantes. A voz da razão começou a falar alto, "O que estou fazendo aqui? Fumando, me encontrando com outra mulher? Que crise de meia-idade é essa? Que respeito posso ter por mim mesma se eu seguir com essa loucura?"
Renata sacudiu a cabeça e sorriu para a morena dizendo "Oi, Lívia, eu nem sei como te dizer isso. Você é tudo que eu sempre sonhei. Não acho que vou conseguir para de fantasiar contigo agora que te vi assim, tão perto, mas não vai dar. De repente fantasias são tesouros para serem guardados, não vividos, sabe? Tem muita coisa em jogo, me desculpa?"
A morena olhou com surpresa e riu, quase sem graça antes de franzir a testa e olhar Renata e dizer:
"Desculpe, meu nome não é Lívia, é Mercedes. Eu tinha vindo aqui só para pedir que você apagasse o cigarro." Ela apontou para a placa de "proibido fumar" para o horror e vergonha de Renata, que desconcertada entendeu isso como um sinal e saiu rumo ao elevador, deixando o cigarro e seu fogo apagados no bar.
Fim do capítulo
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Rose SaintClair
Em: 20/08/2018
Fiquei com pena da Renata hehehehehe
ficou muito bom
beijao
Resposta do autor:
vamos ver se ela da mais sorte semana que vem :) obrigada Rose!
Nay Rosario
Em: 20/08/2018
Não tendo Lívia, pode ser Mercedes mesmo.
O importante é não desistir.
Quem sabe um dia Renata encontra sua morena de longos cabelos para sanar os desejos de corpo e alma?!
Resposta do autor:
Ou as duas hein Nay? Vamos ver na peoxima semana o desafio! Beijao
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Cristiane Schwinden
Em: 20/08/2018
Não desista de seus sonhos, Renata! XD
Adorei o clima!
Resposta do autor:
Olha, comentário da “Grande Chefona” deveria valer o dobro hein? Obrigada Cris
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