Aos poucos íamos nos recuperando, passamos apenas três dias no hospital. Ao voltarmos pra casa fomos recebidas com sorrisos e abraços, o primeiro foi da Samanta depois da Aline e Glória, Sofia veio depois. 


-Amor melhor se deitar.


- Não, chega de deitar, estou muito bem pra quatro meses. 


- Só estou cuidando de vocês, apenas isso. 


Ela se aproximou e fez um leve afago em meu rosto.


-Cuida muito bem.


E me beijou em seguida, ficamos na sala com a Samanta assistindo Moana, que por sinal e bem divertido. 


-Preciso sair, volto logo. 


Sofia passou por nós e deixou a mansão, Glória me contou que as coisas estavam estranhas entre ela e o avô. 

Conhecia a minha filha muito bem, sei que não é de guardar rancor. 


Enquanto dirigia procurava as palavras que sempre guardei pra este dia, embora elas quiseram desaparecer logo agora. 


Ao chegar suspirei lentamente, e segurando nas mãos um pequeno gesto que talvez nem vale-se. 


Me aproximei lentamente, o lugar vazio e o tempo frio não ajudava muito. 


Ao chegar mais  perto, seu olhar baixo e entristecidos se encontrou  com o meu, apertei aquelas flores com força tentando conter qualquer furia passada. 


Ficamos um de cada lado olhando a lápide, presos em nossos pensamentos. 


-Ele foi uma boa pessoa quando estava com você? 


O olhei vagarozamente, e depois voltei minha atenção pra lápide.


-Foi, apesar de tudo nunca cheguei a ver ele como... como um pai sabe de verdade, estava com raiva e tudo aconteceu tão rápido, com a gravidez da Gabriela pensei que a família que a minha mãe sempre sonhou iria se concretizar. 


-Ele não te viu andar pela primeira vez, ou ver seus dentinhos crescer...Sou apenas um mordomo e...


-Você é o meu pai, Antônio.


O encarei de frente, enquanto o homem mais velhos teimava em esconder as lágrimas com o lenço. E o abracei forte talvez como nunca antes tinha feito, nessa hora toda a minha magoa e tristeza misturado com raiva foram lavados pelas minhas lágrimas. 


Ao nos afastamos sorrisos em meio a desgraça que tinham nos afetados. 


-O melhor presente que ele me deu foi conviver ao seu lado... minha menina...


- Não não, menina sério ? Vou me casar, daqui a pouco vai pegar mal me chamando de menina na frente do seu neto. 


Ele se espantou mas tive que acalma-lo isso demoraria um bom tempo, pra acontecer. 


-Acabei pegando esse costume com o tempo, minha neta. 


-Agora sim, vem vamos embora. 


Deixamos aquele lugar tenebroso e fomos tomar um café, passei tanto tempo ao lado do meu avô e pensava que sabia de tudo ao seu respeito, mas estava enganada, mas horas de folga costuma construir barcos de madeira. 


Ao voltarmos pra casa todos estavam se preparando pra almoçar, ao nos ver abraçados sorriam, principalmente minha mãe que veio nos abraçar. 


A empregada serviu o almoço, enquanto os outros estavam se preparando pra almoçar, eu e meu avô voltávamos do Jardim. 


-Colhi umas rosas pra enfeitar a mesa.


-Essa minha noiva e muito romântica. 


- Estou aprendendo com o meu avô. 


Ao me sentar notei que ele não se aproximou, me levantei chamando a atenção de todos. 


-O quê houve agora ? 


-Nada, esperando vocês almoçarem.


-Se não se sentar não vou almoçar.


-Antônio e sua neta que está pedindo, vai negar isso a ela ? 


Sorri por dentro minha mãe estava me dando a maior força. 


-Tudo bem.


Nos sentamos e almoçamos, em meio a um monte de planos futuros. 


A tarde subimos e ficamos no quarto, estava me olhando no espelho e tentando melhorar meu visual. 


-Deveria está usando uma peruca.

Gabriela me abraçou por trás e sorriu.


-Você está linda com esse lenço chiquérrimo, em sua homenagem vou até usar. 


-Nem pensar!


Fechei a caixa a abraçando e a pegando no colo levando -a pra varanda.

-Essa vista e linda.


-Mas não se compara a sua beleza.


Sussurei em seu ouvido, a fazendo se arrepiar e ruborizar. 


- Sua sensualidade me embebeda, mas não vai rolar. 


Desta vez foi minha vez de sorrir, e pousar meu queixo em seu ombro, enquanto olhávamos a tarde cair. 


-Também quando ele nascer, não te darei descanso. 


-Nossa até me arrepiei. 


Estávamos mergulhadas em uma imensidão de cumplicidade e erótismo, que não percebemos a fogueira que estava sendo montada no Jardim. 


- Eu acho melhor a gente descer. 


Ainda estava presa em seus olhos, enquanto sua boca se movia lentamente. 


-Por que...


Rocei meu nariz no seu, sentindo o mesmo cheirinho que me impregnou no início. 


-Porque se não descemos a casa vai pegar fogo. 


-Tá bom dona Villela. 


Descemos e estava rolando uma social aconchegante com vinho queijos e música, Sofia trouxe seu violão e se acomodou tocando pra futura esposa, que se deleitou com a sua cantora particular. 


Gabriela teve que ficar no suco de maçã feita pelo Antônio, só o cheiro da safra a deixa com uma nostalgia enorme. 


Estávamos deitadas apreciando a música a companhia de todos e a noite com poucos estrelas, mas as mais especiais. 


No dia seguinte levei Gabriela até a médica, na ida me intimou a procurar a Gardênia, não seria nada fácil, liguei pra Gomes pra me ajudar. 


Na médica ouviamos o coração do Ângelo que batia acelerado, estava tudo bem com ele e com ela. 


Na saída fomos numa dessas lanchonetes de rua pra tomar açaí, desejos de Gabriela. 


Na volta pra casa comecei a trabalhar, demorou um mês pra encontrar a Gardênia.

A casa já estava enfeitada pro Natal, Samanta ajudava a mãe a arrumar a árvore de Natal. 


Estava conversando com Gomes sobre um suposto livro, quando a campainha tocou.


A porta se abriu era Antônio revelando que Gardênia estava aqui.


Me levantei e pedi pra ela entrar, ao entrar me fitou com seu olhar firme e analítico. 


-Que  bom que você veio. 


-E uma honra está aqui. 


-Gomes meu amigo.


- Como vai Gardênia? 


O cumprimentou formalmente, Gardênia estendeu a mão, no fundo ela me lembrava uma Rafaela que não existe mais, porém mais sofisticada e atenta. 


Sofia entrou no escritório e me perguntou o que queria, falei o motivo da Gardênia estar entre nós.


Sofia entendeu seriamente tudo, e concordou em convida-la pro casamento. 


Ao deixarmos do escritório Gardênia avistou Gabriela, e a cumprimentou com um beijo na mão. 


-Está se sentindo bem meu amor!


-Sim, mas está chutando mais que o normal. 


-Quantos meses ? 


Perguntou se aproximando, fiquei ao lado da Gabriela encarando a mulher a minha frente. 


-Sete meses, sua joalheria deu certo ? 


-Sim, quando quiser uma joia será bem vinda. 


-Iremos!


-Claro, preciso ir. 


António a acompanhou até a saída, enquanto Gabriela ria da minha situação. 


-Ciumenta!


-Ciumes não cuidadosa.


-O cuidadosa já está com a roupa pronta, posso ser uma Villela, mas eles não vão esperar por mim. 


-Sim, está pronto. 


A noite chegou e fomos em dois carros, prestigiar a formatura da minha esposa. 


Sua barriguinha estava aparente, mas a beca cobria um pouco. 


Sentamos na primeira fileira e esperamos tudo acontecer, Samanta dormia em meu colo, mas ao chamar o nome da Gabriela todos se levantaram e começaram a aplaudir, Samanta acordou e a peguei no colo. 


Depois do nosso sequestro, e das campanhas contra a violência contra a mulher, no trabalho e na faculdade. Todos começaram a ver não apenas o nome da família e sim que somos pessoas como qualquer outra, que a persistência em meio às desavenças nos tornaram mais fortes, e que não somos uma ilha. 



Ao receber o diploma Gabriela fez um pequeno discurso. 


-Muito do dinheiro que usei pra pagar essa faculdade foi do suor do meu trabalho, não me envergonho e não me escondo do que fui um dia, sei que a mudança depende apenas da nossa força de vontade. E que podemos tudo se acreditarmos em Deus e encontrar pessoas que apesar de suas dores e tribulações ainda conseguem terem fé e força pra sorrir. Obrigada .


Todos aplaudiram enquanto ela descia a abracei e beijei na frente de todos. 


Alguns dias depois a linha de cosméticos em spray pros atletas já estavam na loja, e estava tendo um grande sucesso. 


Estava lendo o jornal quando escutei um grito da Gabriela, subi as escadas correndo ela estava de pé no meio do quarto e a bolsa havia estourado. 


-Vai  nascer.... Ângelo vai nascer!


A peguei no colo e desci as escadas correndo, passando por Antônio pedi pra ele pegar a bolsa. 


-Devagar Rafaela, não está carregando batatas. 


- Estou indo mais devagar possível.


A coloquei no carro e arranquei, cheguei no hospital afobada e nervosa, a colocaram na cadeira e a levaram. 


Minutos depois entrei na sala de parto, e fiquei ao seu lado segurando sua mão. 


-Faça força pra baixo, meu amor.


Gabriela gritava e apertava minha mão, as vezes jogava a cabeça pra trás molhada de suor. 


- Eu não estou aguentando...


-Seja forte meu amor, ele já está quase nascendo. 


-Respira força!! De novo, vai!!



-AAAHHHHHHHH!!

Ouvimos seu choro agudo e forte, o obstetra o levantou nos amostrando, cabeludo e gordinho.


Sorrimos


-Ele é lindo.


Cuidei da Gabriela que não estava muito bem, perdeu todas as forças naquela mesa. 


A enfermeira me entregou ele, minhas pernas estavam trêmulas. 


Eu tinha mais medo dele do que ele de mim, o peguei no colo e foquei em seus dedos pequenos. 


O levei até a mamãe que sorriu e beijou sua testa. 


-Meu filho esperado e amado. 


Três dias depois  fui até a floricultura e comprei uns balões, entrando em seu quarto e tendo a melhor visão do mundo.

Gabriela o amamentando, me aproximei com cuidado. 


-Ele está com muita fome.


-Sortudo. 


-Rafaela! Se comporte. 


-Sim minha Amanda. 


Samanta se aproximou e trouxe um presentinho. 


Bichinho de pelucia do procurando Nemo. 


- Só não destrói.


-Ele é muito pequeno princesa, mas acredito que ele capitou seu pedido. 


A porta foi aberta e a enfermeira se afastou, mostrando a presença da mãe da Gabriela. 


- Mãe ?


- Eu não podia perder essa chance de conhecer meu neto.


Ela se aproximou um pouco acanhada vendo o neto ainda sendo amamentado. 


Gabriela estava muito emocionada e resolvemos deixa-las a sós.


-Qual o nome ?


-Ângelo, isso sim foi uma surpresa, ter a senhora aqui.


- Eu devia ter vindo antes... quando soube do seu sequestro...


- Eu sei mãe, eu sei está tudo bem agora. 


-Sim agora está. 


O Natal chegou e não havia melhor presente que ter todos reunidos a mesa. 


Os preparativos pro casamento da Sofia com a glória estava chegando, tiveram que compra tudo aqui e levar na viagem. 


Um mês depois estávamos nas ilhas seychelles África, um lugar deslumbrante e quente. Protegiam os o Ângelo do sol a todo custo. 


O casamento ia ser no fim de tarde na praia.


Procurei por Sofia e a encontrei atarefada com a gravata. 


-Vem cá deixa que te ajudo. 


-Estou nervosa mãe.


- Eu sei o pior já passou, que foi reconhecer seus erros e pedi-la em casamento, pronto. 


Terno com suspensórios e gravata borboleta minha filha estava linda. 


Encontrei com Gabriela no corredor disse que estava tudo pronto. 


Sem isso de se atrasar, Antônio ainda foi tentar acalmar a neta enquanto seguimos rumo a praia. 


Ao chegarmos Gardênia Gomes Aline já estavam nos esperando, o lugar estava lindo uma tenda com tecidos brancos e velas enfeitando o caminho, as ondas batendo suavemente contras as pedras. 


Os violinistas já estavam preparados, o romantismo da minha filha levava a outro nível. 


Assim começou a cerimônia, Samanta veio na frente com um vestido rosa jogando pétalas  de rosas, quando enquanto a noiva se preparava pra entrar com Antônio.


O som do violino dava início a sua entrada, linda seu vestido curto com manga comprida de renda com as costas abertas, em cor de pêssego. 


-Ela está muito bonita. 


-Pior que tive que convencê-la a não usar branco.


- Em vez de um casamento, estaríamos no nosso lar.


Ângelo fez menção em chora, mas o peguei no colo ajeitando sua ch*peta. 


Meu coração estava acelerado, ver Glória desse jeito me fez ama-la ainda mais, meu pai me entrou e me desejou felicidades. 


Sua mãos estava gelada e pensávamos quase a mesma coisa, seus olhos me transmitiam tanto amor. 


-Sofia seu votos 


Me virei pra adimira-la mais ainda.


- Eu poderia vim aqui e falar qualquer poema famoso, mas eles não chegam aos seus pés, por muitos anos me perdi na escuridão e aos poucos fui encontrando o caminho de volta, e esse caminho não foi fácil, e não será fácil daqui em diante, porque eu não quero nem posso ficar nem um centímetro longe do seu carinho dedicação atenção e do seu amor. 


A voz embargada de Glória a impediu de começar, mas não precisava de palavras apenas de sentimentos naquela tarde. 


- Eu nunca pensei que isso um dia poderia acontecer, sabe essas coisas só vimos em filmes de vez em quando em revista de fofoca, mas você estava tão perto ali diante de mim que meu coração se acostumou com sua delicadeza e maneira de ver o mundo, obrigada por me deixar participar e me tornar única na sua vida. 


-Sim!


-Sim!


Eu declaro vocês oficialmente casadas, pode beijar a noiva. 


-Finalmente!


A envolvi nos braços e dei aquele clássico beijo de cinema, na minha esposa que quase caiu. 



A noite fomos pra festa não muito longe dali, Aline quis cuidar do Ângelo nos dando umas horas de folga. 


Fomos pra pista eu Gabriela Sofia e Glória. 


Era uma música lenta, a noite não estava muito amiga. 


-Acho que vai chover a qualquer momento.


-Virou apresentadora do tempo agora,  Rafaela. 


Ela ria debochadamente enquanto a envolvia em meus braços.


-E só um palpite. 


Gabriela se aproximou do meu ouvido e sussurrou. 


-Aqui fora pode até chover, mas lá no quarto vai pegar fogo!


Sorri sendo cúmplice daquele sorriso indomável, nos beijamos quando a chuva nos atingiu. 


-Essa é só mais uma fase de nossas vidas, muitas mais viram ?

Fim do capítulo