CapÃtulo 7
A expressão da morena estava extremamente séria, os joelhos estavam já doloridos pelo tempo em que estava ali ajoelhada no chão de seu banheiro, havia chego em casa a pouco mais de trinta minutos e desde então dera-se o trabalho de tentar ocupar a sua mente arrumando o seu banheiro. Havia quebrado algumas coisas com seu pequeno ataque de raiva de anteriormente, ela não sabia explicar, mas sentia mais raiva de si mesma do que sentia quando saiu de casa. Em sua mente as palavras de Amélia ainda soavam sem parar, “Por que eu?”, como iria responder aquela pergunta? Por mero capricho? Pra se satisfazer? Sentia-se de certa forma ridicularizada por aquela pergunta tão simples e os motivos pelos quais havia escolhido Mia de repente se tornaram absurdamente fúteis.
— Talvez a Aly esteja certa, Vadia. — os olhos dourados foram de encontro a gata sentada em cima da tampa do vaso sanitário enquanto lambia-se calmamente sem se dar conta das palavras de Helena. A Artista soltou um suspiro pesado enquanto apoiava as mãos nas coxas desnudas, havia se livrado da cinta liga, mas ainda usava a lingerie. Em sua frente o lixeiro e um balde com água e um pano. — Eu preciso voltar para a terapia. — falou novamente e olhou para a gata mais uma vez como se esperasse algum tipo de resposta, balançou a cabeça de forma negativa enquanto desviava o olhar, definitivamente estava ficando louca. Naquela noite no bar e com a pergunta de Mia, percebera que ela não se importava em nada com o sentimento dos outros contanto que conseguisse o que queria. Aquilo não era ela. Quando terminou de pegar todos os produtos do chão e coletar todo os cacos de vidro começou a limpar com o pano molhado sem muita pressa. Tinha a expressão extremamente séria ainda e sentia-se tão incomodada com aquela sensação que estava a ponto de chorar. — Não deixe ela saber disso. — falou novamente e suspirou enquanto se ajeitava um pouco para continuar limpando.
A morena só parou o que fazia quando teve a certeza que estava tudo limpo em seu banheiro, não queria olhar para nada sujo ali dentro e lembrar do que havia acontecido mais cedo. Assim que guardou as coisas que havia usado finalmente pode se livrar das peças íntimas que usava e fora diretamente para baixo do chuveiro, tomou um banho quente e realmente demorado, passou mais tempo parada embaixo da água quente apenas pensando na própria vida do que realmente tomando banho. Quando separou-se de Trevor, seu ex marido, imaginou que a sua vida ficaria melhor e realmente ficou, mas agora, parando para pensar direito em tudo o que andava fazendo, era claro que vivia ainda na sombra de seu agressor. Isso a devastava.
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O dia já havia amanhecido há algumas horas, Mia se sentia completamente exausta, mas isso não a impediu de tomar um banho gelado, um café forte e se arrumar de forma impecável como sempre fazia, os olhos azuis focaram-se no celular em cima da mesinha enquanto terminava de colocar os brincos, 8h45 da manhã, Hernando havia saído mais cedo por ter uma reunião as 7, ela recusou-se a sair de casa tão cedo quando não precisava, aproveitou para dormir, ou tentar fazer isso, por mais uma horinha após a saída do amigo, mas não conseguiu. Tudo o que não havia conseguido fazer naquela madrugada fora isso: Dormir. Em sua mente ainda estava vívido os sentimentos da madrugada, que aquela dançarina havia lhe causado, seu corpo despertava se pensasse demais. Era como uma droga na qual estava viciada, tentava de tudo para manter distância, mas a necessidade de pensar era maior.
Em pouco tempo já estava dentro de seu carro a caminho de sua empresa, dirigiu sem muita pressa, só tinha coisas oficiais a partir das 10 da manhã, usaria o tempo antes disso para organizar-se. O carro fora estacionado ao lado do carro de Hernando no estacionamento como sempre fazia, afinal, ambas as vagas eram exclusivamente destinadas a eles, assim como as duas vagas ao lado eram destinadas aos dois engenheiros que trabalhavam naquele lugar. Assim que entrou no elevador encostou-se nos fundos do mesmo, os olhos azuis focando-se no próprio reflexo na parede metálica e espelhada, soltou um suspiro, apesar de continuar sendo exatamente da mesma forma ela sentia que algo havia mudado, ela não conseguia simplesmente se ver como a mesma mulher de antes e isso realmente a incomodava de uma forma sem igual. Assim que o elevador parou e as portas se abriram, voltou a andar a passos lentos, os olhos se encontrando aos olhos de Rose, a secretária que dividia com Hernando. Sorriu para a amiga enquanto ia se aproximando e logo inclinou-se sobre o balcão e estalou um beijo em seu rosto.
— Bom dia, Rose. – falou de forma calorosa, um sorriso mais largo aparecendo em seus lábios enquanto a secretária sorria da mesma forma.
— Bom dia, Mia. Aquele cliente chato ligou novamente perguntando sobre o prazo. — a garota foi direto ao ponto, afinal mesmo que as duas fossem amigas, ela não era incompetente. Mia rolou os olhos claramente incomodada com a situação e se afastou do balcão já fazendo menção de ir andando para a sua sala.
— Meu Deus, eu dou o prazo de duas semanas, ele quer que esteja pronto em menos de uma. — reclamou de forma irritada enquanto levava a mão a própria testa de forma impaciente. — Eu vou resolver isso agora, obrigada, Rose. — falou em tom baixo e saiu andando a passos mais largos desta vez, a expressão voltando a ficar séria ao lembrar-se do quão paciente ela tinha que ser com alguns clientes e paciência não era algo que ela andava tendo.
Caminhou pelo corredor que dava até a sua sala de forma rápida e adentrou enfim seu lugar, fora diretamente para a sua mesa, a bolsa colocada sobre qualquer lugar do móvel enquanto já largava seu corpo na poltrona bem confortável. Apertou o botão para iniciar o computador enquanto puxava para perto a agenda que mantinha tudo escrito e foi folheando devagar a procura do número de seu cliente. Queria resolver isso o quanto antes, afinal, sabia muito bem que clientes como aquele não paravam de ligar até ter o que queriam.
Fora no meio da ligação que ouviu batidas na porta e em seguida viu a figura de Hernando aparecendo devagar enquanto a porta era aberta, olhou para o amigo que claramente hesitava em apenas entrar e acenou de forma positiva com a cabeça dando a permissão para que ele entrasse.
— Senhor Mendes, eu sei que o senhor está com pressa, mas eu não posso fazer milagres, essas coisas realmente demoram, eu posso dar um jeito para que tudo esteja pronto em pelo menos... — olhou na agenda onde mantinha tudo anotado sobre seus clientes e procurou rapidamente as informações sobre o prazo da restauração de alguns móveis. — Quatro dias, é melhor que mais uma semana. — tentou, inconscientemente mordeu o lábio inferior enquanto olhava para a própria letra escrita no papel. Sentia a presença de Hernando e sabia que ele apenas aguardando o fim da ligação. O suspiro aliviado fora claro quando teve a concordância de seu cliente, mas não sorriu, apenas agradeceu a compreensão antes de encerrar a ligação colocando o telefone no gancho.
— Olha essa carinha de brava, alguém está de mal humor hoje. — ergueu os olhos para Hernando quando o ouviu e arqueou ambas as sobrancelhas de forma um tanto debochada enquanto cruzava as pernas e apoiava as costas no encosto da poltrona. — Não me olhe com essa cara. — o arquiteto reclamou enquanto se aproximava da mesa, tinha algo em mãos, algo que Amélia só havia notado agora. Antes de sentar-se em uma das poltronas em frente a mesa, o homem estendeu o envelope diferente a Mia.
— O que é isso? — perguntou enquanto segurava o envelope, ela o olhou, era diferente, vermelho e preto, ambas as cores levemente borradas, o envelope era fechado por um cordão preto, o tirou calmamente e o abriu, mas para sua surpresa o envelope se desfez, era na verdade uma carta dobrada em forma de envelope do tipo papel cartão.
“Querido, Hernando.
Gostaria de te agradecer mais uma vez por seu trabalho incrível na Galeria. Com uma forma de mostrar não só o seu trabalho como principalmente o de Helena, estamos contando com a sua presença em uma Exposição das obras da Artista já Renomada, contamos com a sua presença no dia, garanto que não se arrependerá quando entrar no mundo que as artes de Helena irá te levar. De antemão aguardamos também a presença de seu namorado e também de sua colega de trabalho, Amélia, não esquecemos que a qualquer momento ela pode nos ajudar, ela também será bem vinda. Contamos com a presença de vocês.”
Logo abaixo do texto escrito a mão estava a data, o endereço e o horário assim como a assinatura de Alyson e outra que quase parecia um desenho de tão perfeita, Helena.
— Uau. Eu não esperava ter meu nome aqui. — falou e acabou dando uma pequena risada enquanto olhava melhor para aquela arte bonita do envelope, o olhou completamente e voltou a focar os olhos na assinatura de Helena.
— Isso vai ser incrível, a Helena não tem cara de ser uma Artista normal, tipo aqueles quadros abstratos onde você não entende nada. — o rapaz foi falando e quanto cruzava as pernas, os olhos ainda focados em Mia que já ia tentando dobrar o envelope novamente da mesma forma de antes.
— Você a conhece melhor que eu, mas vai ser interessante sair da mesmice de feiras de negócio, baladas e é isto. — brincou enquanto voltava a entregar o envelope a Hernando, aquela havia sido a confirmação do rapaz de que teria também a companhia de Mia no dia da exposição. Os dois ficaram em silêncio por um momento, os olhos se encontrando de maneira cúmplice como se a realidade dos acontecimentos da madrugada estivesse caindo entre eles. — Você conseguiu dormir bem? — indagou de forma serena.
Mia negou com um aceno de cabeça.
— Estava com muita coisa na cabeça. — falou em tom baixo e quanto apoiava os cotovelos sobre a própria mesa e respirava fundo enquanto olhava para baixo, estava se sentindo tão tensa, definitivamente precisava relaxar.
— Agora eu realmente entendo por que ela não sai da sua cabeça. — mesmo estando sério, Mia notava um tom de diversão na voz de Hernando, isso a fez rolar os olhos enquanto voltava a olhar para o amigo. — Não, mas é sério, Mia. O Fred te contou que ela não trabalha lá, só aparece quando quer. É suspeito. Aparece quando quer, usa máscara, será que ela é tipo uma mulher casada com vida dupla? Ou uma mulher importante que não pode revelar seus gostos peculiares...
— Ou uma louca sem dinheiro que só tá ali pra isso. — reclamou de maneira mau humorada levando Hernando a rolar os olhos.
— Ou isso. — concordou mesmo a contragosto, por mais que imaginasse as milhares de possibilidades que aquela situação poderia levar, Mia não parecia tão contente com isso. — Eu não sei o que te aconselhar nessa situação. — confessou de forma claramente desapontada. Mia apenas deu de ombros, sentia uma irritação tão grande com toda aquela situação que tudo o que desejava apenas era esquecer.
— Aconselhe que eu esqueça toda essa merd* e siga em frente. — reclamou, no mesmo momento o telefone da sala tocou e ela não perdeu tempo ao pegar o mesmo de forma um tanto bruta. Ouviu a voz de Rose e logo em seguida agradeceu antes de ir já levantando enquanto colocava o telefone no gancho.
Hernando entendeu que ela tinha trabalhado e levantou junto, nada comentou sobre o que ela havia falado, afinal, não queria irrita-la mais antes de ela se encontrar com clientes. Saiu da sala ao lado da morena em silêncio e separou-se dela quando ela foi cumprimentar os clientes de forma simpática antes de levá-los para a sua sala. Hernando parou na recepção enquanto seguia a morena com os olhos até ela sumir de seu campo de visão.
— Sua expressão grita preocupação. — Rose falou. Tinha o queixo apoiado em cima da própria mão enquanto mantinha os olhos fixos no amigo e chefe, mas tinha uma expressão entediada no rosto como se estivesse ansiando por fofocas.
— Eu vi a dançarina ontem, a que beijou a Mia. Ela usou a Mia novamente. Entendi por que ela mexeu tanto com a Mia. Mexeu até comigo!! — ele reclamou enquanto se apoiava no balcão de forma confortável e soltava um suspiro cansado. — Mas isso tá mais do que claro que tá acabando com a Mia. Ontem foi... Insano. O que ela fez com a Mia foi insano. E eu sei que ela tá se sentindo um lixo, mas eu definitivamente não sei o que fazer. Não é como se eu pudesse falar pra Mia ir enfrentar o problema quando sequer sabemos quem é. — Hernando parecia claramente perdido com a situação e imaginava como Mia deveria estar se sentindo, sabia a confusão que devia estar instalada na mente da amiga.
— Eu tô começando a ficar com inveja da Mia, eu daria muito para uma dançarina gostosa me escolher assim do nada para dançar no meu colo. — Rose falou de forma simples, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Hernando rolou os olhos.
— Não é de se surpreender. — o arquiteto rebateu, as sobrancelhas arqueadas como se dissessem “afinal você é uma vadia” e Rose claramente entendeu isso quando deu uma risada com a expressão de Hernando.
— De um tempo a ela, Nando. Ela precisa primeiro digerir tudo o que anda acontecendo com ela, depois ela vai se acostumar e vai ficar bem. Você não pode esperar que ela fique normal como era antes quando todos os conceitos dela estão sendo levados a prova. É difícil. — a secretária foi falando de forma calma enquanto olhava para Hernando de forma um tanto entediada. O Arquiteto acabou respirando fundo, mas foi se afastando do balcão, precisava voltar ao trabalho ou realmente era capaz de passar o dia ali apenas conversando com Rose.
— É apenas preocupação. — justificou o rapaz antes de dar de ombros e enfim saiu andando a passos calmos de volta para a sua sala por mais que sua mente só estivesse focada nos problemas de Amélia.
Surpreendentemente o dia se passou voando, no meio da tarde Mia já não tinha mais nada a se fazer na empresa, passou seu tempo sentada em sua poltrona com o celular na mão conversando com Charlie, precisava ocupar a mente de alguma forma e o rapaz parecia ser a melhor solução para aquele momento, tinha que tirar aquela dançarina da cabeça de alguma forma e agora era por questão de orgulho e o seu estava completamente ferido após a noite anterior. Saiu do trabalho sem avisar a Hernando, apenas desejou um bom dia a Rose e partiu, já que não tinha mais nada a fazer naquele dia em relação a trabalho iria aproveita-lo de uma forma melhor.
O relógio no painel do carro marcava 15h25 quando a morena estacionou o carro em frente a um condomínio de classe média baixa, em um bairro até um tanto distante do seu, mas sabia que não era perigoso. Adentrou o prédio descuidado sem muita pressa e foi direto para as escadas após ler o aviso claro que estava colado na porta do elevador, “quebrado”. Subiu até o terceiro andar antes de enfim bater na porta do apartamento 32. As mãos enfi*ram-se dentro dos bolsos traseiros da calça enquanto olhava para o chão e apenas esperava ser atendida, quando ouviu o barulho da porta sendo aberta, ergueu a cabeça.
— Pois não, o que deseja? — a voz educada e grave do rapaz louro soou séria, por mais que ele tivesse vontade de rir naquele momento. Charlie logo apoiou o braço direito na soleira da porta enquanto segurava a mesma com a mão esquerda. Fingia não conhecer a morena.
— Oh, desculpe. Eu estava procurando um homem que de conta de mim. Devo ter batido no apartamento errado, desculpe, senhor. — acenou com a cabeça de forma falsamente educada quando entrou na brincadeira do rapaz e então deu meia volta e saiu andando. Sequer deu dois passos quando sentiu os braços fortes envolvendo sua cintura e a tirando do chão com facilidade.
— Ah miserável, eu vou te mostrar como eu dou conta de você. — ele falou entredentes de forma claramente divertida enquanto dava meia volta e voltava para dentro do próprio apartamento com Mia em seus braços. A morena gargalhava com a reação do rapaz enquanto era carregada a força para dentro do apartamento por mais que não demonstrasse qualquer indício de resistência. Fora colocada no chão assim que atravessaram a porta.
— Ah como é frágil a masculinidade de um homem. — ironizou enquanto via o rapaz trancar a porta. O sorriso divertido se tornando sacana enquanto largava a bolsa em qualquer lugar, os olhos azuis faiscando ao se encontrarem com os de Charlie. Ambos já haviam conversando por mensagem antes, Charlie estava a sua espera e ele sabia muito bem o por que de ela estar ali, não tinha a intenção de perder tempo.
Charlie foi a passos lentos em direção de Amélia, cada passo que ele dava era seguido de um passo para trás que Amélia também dava o que resultou na morena encurralada contra a parede com o louro avançando em silêncio com aquele olhar predatório. Ele então se aproximou e a mão grande já chegou agarrando o pescoço delicado de Mia com demasiada força, a morena ergueu o queixo como se estivesse prestes a enfrenta-lo, mas o aperto que dificultou um pouco a sua respiração a desarmou e automaticamente levou uma mão ao pulso de Charlie.
— Chega cheia de atitude quando na verdade deveria chegar implorando pelo que veio. — o louro falou em tom firme, sedutor, enquanto ia se aproximando mais da morena, seu rosto ficou rente ao dela, as respirações se misturaram, a de Mia muito mais acelerada do que a do rapaz. O coração da morena batia rápido dentro de seu peito, a adrenalina corria em suas veias e se desmanchava perante aquela brutalidade de Charlie. Ela precisava daquilo para esquecer toda a merd* que andava acontecendo em sua vida. Mas ainda não era o suficiente. Fechou os olhos e engoliu com certa dificuldade a própria saliva, o aperto em seu pescoço ainda era extremamente presente. — O que está esperando? — o rapaz perguntou e Mia arfou quando sentiu o aperto aumentar em seu pescoço, tentou puxar o próprio ar e conseguiu com mais dificuldade do que anteriormente, mas nada falou, os olhos azuis focaram-se nos de Charlie de maneira desafiadora, ela não iria implorar por sex*.
Charlie arqueou uma sobrancelha ao ver que a morena estava arredia, não iria ceder tão fácil a ele, mas isso nem de longe o incomodou, muito pelo contrário, o sorriso sacana, quase sádico, surgiu nos lábios do rapaz quando ele viu aquele olhar tão desafiador vindo de Mia e a vontade de deixar a morena a ponto de obedecer o que for que ele pedisse, o dominou. Soltou o pescoço da morena e as mãos firmes praticamente voaram até sua blusa, agarrou a gola com ambas as mãos e no segundo seguinte tudo que se ouviu fora o grito surpreso de Mia em conjunto com o barulho do tecido rasgando de forma violenta e sendo arrancado de seu corpo. A surpresa estava estampada em seus olhos.
— Filho da p... — outro grito interrompeu a sua fala quando seu rosto virou de forma bruta, o estalo do rapaz ecoou pela sala e seu rosto queimou, sequer teve tempo para digerir aquele tapa e já sentiu a fisgada em seus cabelos que arrancou-lhe um gemid* de dor, no segundo seguinte estava sendo empurrada de frente para a parede, cerrou os dentes, os olhos encheram-se de lágrimas com a dor e seu ventre contraiu-se com a sensação, ainda mais quando recebeu a encoxada firme de Charlie. Aquilo definitivamente havia roubado o seu ar, a respiração acelerada era bem audível, mas no fundo, aquilo causou-lhe uma satisfação imensa. Era aquilo que queria. Queria se sentir viva, queria ter sua mente completamente ocupada pela dor e pelo prazer que Charlie lhe causa naquelas horas, precisava daquela válvula de escape completamente diferente de sua vida. Soltou um grito novamente quando os cabelos foram puxados com mais força e ela foi forçada a pender a cabeça para trás, seu corpo inteiro se arrepiou com a respiração ao pé de seu ouvido.
— Eu mandei implorar, Mia. — ele rosnou de maneira raivosa contra o ouvido da morena e ela sentiu uma pontada em seu ego ao mesmo tempo em que também sentia em seu íntimo.
Charlie era um cara maravilhoso, ele a respeitava sempre, ele a tratava muito bem e fazia basicamente tudo o que ela queria quando os dois estavam juntos, mas às vezes, no sex*, o respeito acabava e ele se tornava aquele cara bruto que era louco por controle e que Mia simplesmente adorava. Era, definitivamente, a sua válvula de escape todas as vezes que precisava fugir da própria realidade.
— Por favor...
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Eram quase quatro da tarde quando Alyson empurrou a porta da galeria com cuidado, levemente distraída, teve sua atenção totalmente chamada quando a música um tanto alta chegou aos seus ouvidos, o cenho franziu-se um pouco enquanto fechava a porta atrás de si e ia andando a passos calmos procurando Helena em seu campo de visão, os passos cessaram-se no momento em que os olhos se focaram na amiga. Era claro o estado de espírito da Artista, estava perturbada, com raiva e isso transparecia em suas ações, em sua forma principalmente de pensar, mas também, acima de tudo, dava-lhe uma criatividade sem igual, afinal, ela descontava toda a raiva na pintura. As pinceladas eram fortes, rápidas, impacientes e o semblante extremamente sério, Helena estava presa em sua própria bolha de sentimentos e Aly percebia, percebia tanto que sequer falou qualquer coisa, sabia que tirar a morena daquele estado era um verdadeiro erro, ela precisava extravasar. A ruiva caminhou devagar até a mesa que sempre ficava e em cima da mesma colocou a sacola de papelão com o lanche que havia trago para Helena, colocou ali também a sua bolsa e sentou-se de forma confortável, a música a incomodava, mas não iria intervir nisso, apenas sentou, puxou o seu ipad de dentro da bolsa e se distraiu.
Uma gota de suor escorria pelo pescoço de Helena, estava tão frenética e pintando com tanta raiva, que seu corpo estava quente, se mexia rápido demais, a tela em sua frente era grande, tinha quase dois metros de altura e um e meio de largura, tinha que pintar em pé, havia o começado logo pela manhã, os outros haviam ficado temporariamente em escanteio até que extravasasse a raiva naquele quadro, estava fazendo toda a parte grossa, o fundo, os detalhes viriam depois, mas era claro o fundo distopico, um vermelho escuro predominando em meio a pontos mesclados ao preto, era superficial o esboço feito antes com carvão vegetal de todo o desenho, mas ainda assim, provavelmente ainda ninguém conseguiria entender a arte que tinha naquele quadro, ao menos não ainda.
Se passou pouco mais de quarenta minutos até enfim Alyson ver Helena ceder e ajoelhar-se ao chão, via a forma como ela respirava, era puro sinal de cansaço, isso fez a ruiva respirar realmente fundo, mas nada vez ainda, até ver Helena erguer a mão, tinha um pequeno controle em mãos, no segundo seguinte a galeria ficou em um silêncio absoluto. Alyson agradeceu mentalmente, estava ficando com dor de cabeça devido a música alta. A ruiva ajeitou-se, cruzou as pernas de forma confortável enquanto mantinha os olhos fixos em Helena.
— Melhor? — perguntou alto o suficiente para que a morena ouvisse. A artista a olhou rapidamente sendo momentaneamente pega de surpresa pela presença da amiga, os olhos dourados focaram-se na ruiva e acabou suspirando.
— Há quanto tempo está ai? — a voz saiu cansada, sentia alguns músculos de seu corpo doloridos, estava exausta, tanto pela falta de descanso – não havia dormido -, quanto pela intensidade toda que havia usado para pintar naquele dia. Estava suada, naquele dia vestia um macacão jeans curto parcialmente manchado por tinta, era velho.
— Tempo o suficiente para ver que quão merd* você está. — Alyson respondeu com calma enquanto voltava o seu olhar para o ipad apoiado em sua coxa, voltou a deslizar o dedo pela tela de forma completamente paciente enquanto lia algumas coisas.
Helena soltou um suspiro pesado enquanto apoiava as mãos nas próprias coxas, olhou para cima, os olhos focando-se no novo quadro, precisava que a tinta secasse um pouco para continuar, havia usado terebina e um agente de secagem rápida na tinta a óleo para que o processo fosse mais rápido, aquilo ao menos havia ajudado a aliviar toda a tensão que estava sentindo quando saiu de casa, era de fato a melhor terapia que podia existir para ela. Ela ergueu-se do chão logo em seguida, com calma, sentia as pernas doloridas, havia ficado em pé o dia inteiro. Levou as mãos aos cabelos e os ajeitou logo voltando a amarrá-los em um coque alto para sentir o ar tocar a nuca quente, precisava disso. Sumiu por um momento ao entrar em uma das salas indo direto para o banheiro, lavou as mãos, o rosto e a nuca antes de voltar para o ambiente em que Alyson estava e foi diretamente para a sacola de papel que estava em cima da mesa, a puxou para perto e a abriu, sorriu fraco ao ver a marmita e logo enfiou a mão dentro da sacola e retirou a marmita de dentro com calma, era, claramente, comida caseira e com toda certeza feita pela própria Alyson.
— Eu adoro quando você cozinha. — expressou os próprios pensamentos enquanto finalmente sentava, todo o seu corpo agradeceu pelo momento de descanso, em especial as pernas. Pegou os talheres antes de retirar a tampa da marmita para poder começar a comer, não sentia fome antes daquilo, mas o cheiro daquela comida definitivamente, abriu o seu apetite.
— Você não dormiu novamente não é? — Alyson indagou, finalmente erguendo o olhar para encarar Helena que já começava a comer, os olhos de ambas encontraram-se por um momento e eram claras as olheiras abaixo dos olhos de Helena, sequer tinha como ela mentir, então, apenas deu de ombros. — Por que dessa vez, Helena? Você foi novamente para o bar?
— Eu sonhei com ele. — falou enquanto tinha a ponta do garfo dentro da boca, deu de ombros mais uma vez em seguida enquanto voltava a mexer na comida com o garfo. — Foi mais real do que eu gostaria. Acabei indo sim ao bar e posso ter feito merd*. — sabia que não precisava dizer o nome do ex marido, Alyson sabia muito bem de quem Helena estava falando, afinal, fora ela que ajudou Helena a sair daquele relacionamento e foi ela que levou Helena ao hospital da última vez. A morena logo levou mais um pouco de comida a boca antes de olhar para Alyson. A ruiva tinha uma expressão quase incrédula no rosto por Helena falar aquilo de forma tão simples, “Posso ter feito merd*”, ela não tinha noção das consequências das coisas que fazia? — Não me olhe com essa cara, por favor, Aly. — Helena dessa vez não estava a repreendendo, na verdade, pedia de uma forma que deixava claro que aquela situação a deixava tão incomodada quanto deixava Alyson e isso definitivamente era mais uma coisa alarmante para a ruiva.
— O que você fez? — Alyson tentou ser mais compreensiva, afinal, facilmente notava que a amiga não estava bem, tinha algo de diferente nela, ainda mais lembrando de como ela agiu no dia anterior ao falar do bar.
— A Amelia apareceu lá novamente pra pegar o irmão, ironicamente dessa vez até o Hernando estava. — sorriu sem muito ânimo enquanto voltava a mexer na comida com a ponta do garfo, respirou fundo logo em seguida. — Acabei me aproveitando novamente, posso ter passado dos limites. A levei para palco e... — soltou um suspiro pesado antes de erguer o olhar para Alyson e encarar a ruiva que tinha ambas as sobrancelhas arqueadas. — Sinceramente me sinto apreensiva de encontrá-la no dia da exposição.
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O cheiro gostoso de queijo chegou até suas narinas e a morena remexeu-se na cama devagar, puxou o travesseiro que abraçava para mais perto e o apertou, estava em um sono tão gostoso que se recusava a acordar, bocejou de forma demorada enquanto se encolhia um pouco embaixo das cobertas, estava frio, o cheiro de queijo continuou e alguns barulhos fizeram a morena erguer abrir os olhos mesmo que de forma preguiçosa. O apartamento de Charlie não era grande, era um flat adorável como Mia vivia dizendo, não havia quarto, não havia sala, era tudo exatamente uma coisa só. A cama ficava em um canto perto do guarda roupa, na outra extremidade do lugar, uma TV pregada a parede, logo abaixo um móvel com algumas fotos, um vídeo game e algumas garrafas de bebida bem organizadas. A frente um sofá confortável, a pequena cozinha americana tinha um balcão de mármore preto com dois bancos altos de madeira, o balcão também era usado como mesa. Por isso mesmo, não foi difícil ver Charlie na cozinha quando ergueu um pouco a cabeça, ele a olhou no mesmo momento e sorriu.
— Olha só quem acordou. — ele falou enquanto levava o dedo a boca e ch*pava a ponta para logo voltar a manusear as panelas, no segundo seguinte Mia ouviu o som de algo fritando e junto com o cheiro de queijo, subiu o cheiro de bacon.
— Difícil continuar dormindo com esse cheiro. — falou baixo enquanto se ajeitava na cama e ia erguendo o corpo devagar, bocejou de forma demorada, sentiu-se deliciosamente dolorida e acabou sorrindo com isso, transou com Charlie por mais de hora e caíra no sono logo em seguida de tão cansada que ficara, mas sentia-se completamente satisfeita. — O que está fazendo?
— Tente adivinhar. — o rapaz brincou, um sorriso se desenhando nos lábios do louro enquanto ele apoiava ambas as mãos no balcão e mantinha os olhos em Mia. A morena riu enquanto ia erguendo-se da cama devagar o lençol ainda envolvendo o seu corpo.
— Macarrão com queijo e bacon. — falou com absoluta certeza antes de dar uma pequena risada e ir apanhando seu sutiã, sua calça e sua calcinha no chão para enfim ir andando até o banheiro. — É só isso que você sabe cozinhar, Charlie. — brincou enquanto adentrava o banheiro, soltou o lençol do corpo logo em seguida, colocou suas roupas sob a pia e sentou-se no vaso sanitário.
— É só isso que eu sei cozinhar com perfeição, Mia! Eu sou expert em macarrão com queijo! — o rapaz rebateu, falou um pouco mais alto para que a morena ouvisse bem o que ele havia dito.
Mia apenas riu com as palavras do rapaz antes de erguer-se e ir direto para dentro do Box pequeno, enfiou-se embaixo da água fria e automaticamente dera um pequeno pulo com o choque térmico que recebera, mas logo em seguida suspirou e fechou os olhos por um momento, os problemas voltando a tona para sua mente, mas de certa forma sentia-se melhor, havia conseguido dormir sem sonhar com absolutamente nada e havia descansado muito bem, mas sequer tinha ideia de que horas deveriam ser naquele momento. O banho foi rápido, fora apenas para lavar o corpo, tomaria um melhor quando chegasse em casa. Tivera cuidado para não molhar os cabelos, mas os amarrou em um coque mal feito logo em seguida enquanto ia caminhando para frente ao espelho em cima da pia, olhou o próprio reflexo por um tempo antes de começar a se vestir e só quando o fez completamente lembrou que Charlie havia rasgado sua blusa, rolou os olhos antes de sair do banheiro. Pegou o lençol jogado no chão e o levou de volta para cama.
— Tenho marcas no meu corpo e uma blusa a menos. Eu vou cobrar isso, Charlie. — reclamou enquanto ia andando até o guarda roupa do rapaz sem qualquer receio e começava a procurar algo para vestir. Ouviu a risada do rapaz e mesmo não o olhando no momento, conseguiu visualizar ele dando de ombros enquanto ria.
— Na hora você não reclamou. — ele provocou enquanto ainda sorria e Mia apenas rolou os olhos enquanto puxava um moletom preto e calmamente o vestiu, sentiu-se agradecida por isso, ainda estava com frio. Ficou grande, mas nada exagerado, a deixava confortável.
— Calado. — reclamou enquanto enfi*v* as mãos nos bolsos do moletom e ia andando atrás de sua bolsa, a encontrou no chão, mas não se importou.
— Venha aqui, nem conversamos, você simplesmente apagou. Não tinha dormido antes? — ouviu as palavras do rapaz enquanto colocava a bolsa agora em cima do sofá e tirava de dentro o seu celular, primeiro viu a hora, era pouco mais de oito da noite, haviam algumas mensagens de Hernando e ligações aleatórias. Respondeu as mensagens enquanto ia andando devagar em direção a cozinha e assim que terminou de responder as colocou em cima do balcão antes de ir até o rapaz.
— O que foi? — indagou enquanto focava os olhos no rapaz vestido apenas com uma calça de moletom de cor preta, os braços carinhosamente envolveram a cintura dele e recebeu um beijo estalado nos lábios.
— Não te machuquei não é? Posso ter exagerado na força em algum momento. — a expressão do homem agora era séria enquanto ele segurava o queixo de Mia com calma e a fazia virar a cabeça devagar para lá e para cá a procura de qualquer marca que pudesse indicar que ele havia passado dos limites com sua força. Viu o sorriso desenhar-se nos lábios de Mia, era a resposta que precisava.
— Não se preocupe, você foi perfeito. — falou antes de inclinar-se um pouco para dar um beijo rápido no rosto do homem antes de enfim afastar-se e dar a volta no balcão para poder se sentar em um dos banquinhos e esperar o jantar.
— Aconteceu alguma coisa, Mia? — o louro fora direto enquanto desligava o fogo e olhava para a morena de maneira fixa, viu os olhos da morena se abrirem pela surpresa com a pergunta, quando ela abriu a boca para responder, o rapaz impediu. — Não, não tente mentir. Além de todo o sex* que tem entre nós... Bastante sex*, você é minha amiga. Eu te conheço, marrenta. — ele arqueou ambas as sobrancelhas enquanto falava e no final apontou para a morena com a colher de pau que segurava na mão.
Mia ainda tinha a expressão surpresa com as palavras do rapaz, mas acabou rindo enquanto deixava o corpo ceder e escondeu o rosto entre os braços em cima do balcão, balançou a cabeça de forma negativa logo em seguida, não era uma resposta para o rapaz, apenas se repreendia por não saber esconder bem o que sentia.
— São apenas problemas, Charlie. Não é um assunto apropriado para conversar com você. — a morena foi sincera antes de respirar fundo e ir erguendo o tronco devagar, não teve coragem de olhar para o rapaz, por isso manteve os olhos no balcão.
— Não é um assunto para conversar comigo? O que? É sobre outro cara? — perguntou enquanto franzia o cenho e fingindo estar ofendido, logo balançou a cabeça de forma negativa enquanto se afastava e ia até o armário. — Qual é, Mia. Já conversamos sobre o fato de que isso que a gente tem nunca vai sair disso, também já conversamos sobre o fato de que tu não vai achar alguém que te coma tão gostoso quanto eu, ou que tenha um pau maior e coisa do tipo. Tudo bem, sabemos que você é louca de ir atrás de outro cara, quando tem a mim, mas eu entendo numa boa. Também tenho meus rolos. — o rapaz ia falando com uma naturalidade que fez um sorriso largo e divertido ir surgindo nos lábios da morena.
— Meu Deus, como você é idiota. — ela falou enquanto semicerrava os olhos como se estivesse o julgando. O rapaz sequer se importou com isso, apenas deu de ombros enquanto ia até o fogão com duas tigelas na mão e começou a servi-los. Ficaram em silêncio pelos próprios segundos até o rapaz virar-se de frente para a morena e caminhar até o balcão colocando ambas as tigelas sobre o mesmo, Mia olhou para o macarrão com queijo claramente bem cremoso e os pedaços de bacon frito em cima.
— Eu só quero dizer que você pode contar comigo além de sex*... — ele falou enquanto arqueava uma sobrancelha e deixava sobre o balcão os talheres e dois copos, foi até a geladeira e trouxe consigo a garrafa de suco de laranja para finalmente dar a volta no balcão e sentar-se ao lado de Mia.
A morena havia voltado a ficar séria após aquelas palavras de Charlie, enquanto ele parecia ser a pessoa mais tranquila do mundo naquele momento, ignorando o desconforto da morena como se apenas quisesse aproveitar a presença dela e nada mais que isso. Ela observou ele encher ambos os copos com suco e colocar um deles em sua frente para enfim puxar a tigela para frente e pegar uma das colheres, ele tinha a regra que macarrão com queijo só se come com colher. Ele sequer esperou, parecia não ser afetado pelo silêncio da morena, ele simplesmente continuava a vontade, como se fosse tudo bem se ela não quisesse falar, abocanhou uma colher cheia com macarrão a ponto de deixar as bochechas levemente estufadas enquanto Mia se viu sorrindo fraco com a cena.
— É uma mulher. — as palavras saíram sem que nem percebesse e Charlie franziu o cenho enquanto a olhava.
— Hm? — indagou como se não estivesse entendendo as palavras da morena.
— Não é sobre outro cara, é sobre uma mulher. Me interessei por uma mulher. — sequer se moveu quando falou aquilo, os olhos completamente atentos à reação de Charlie, o estômago revirou-se com o medo que sentiu e o frio que subiu, repentinamente até a sua boca ficou seca, estava com medo de ser julgada? Ela não sabia, mas sabia que a sensação não era boa.
Viu quando ambas as sobrancelhas de Charlie se ergueram e ele então a olhou enquanto ainda terminava de mastigar a comida que tinha na boca e assim que o fez, a risada grave do rapaz começou a ecoar pelo lugar levando Mia a arquear uma sobrancelha enquanto via o rapaz se ajeitar no banco para ficar de frente para Mia.
— Cê ta me zoando! — ele falou de forma claramente divertida, mas Mia tinha a expressão séria e uma sobrancelha arqueada, não precisou falar nada para Charlie para que ele soubesse que não, ela não estava brincando. Então, novamente Charlie riu, de forma estridente, claramente divertida com aquela declaração e ainda mais após ver a expressão de Mia. — Caralh*, eu realmente não sei se fico feliz com a possibilidade de um menajão ou se fico surpreso.
— Vai se foder, Charlie. — a morena ainda tinha a expressão incomodada no rosto, o que logo fez o rapaz perceber que aquela situação não estava agradando a mulher.
— Cara, mas por que você ta assim? É só uma mulher. Mulheres são maravilhosas, bicho ruim, mas são maravilhosas. Não tem motivo pra você ta incomodada com isso. — o rapaz parou com as risadas, tentou de fato ficar sério ao realmente notar que Mia não via graça nenhuma na situação.
— Você acha que não? Até pouco tempo eu era declarada totalmente hetero, Charlie, nunca tinha sentido qualquer atração por mulher. O que acha que vão pensar de mim? — a morena falou com seriedade e o rapaz arqueou as sobrancelhas com os pensamentos que rondavam a cabeça dela. Ele ajeitou-se onde estava e pegou a tigela de macarrão na mão para voltar a comer.
— Não, continua sendo só uma mulher, só uma pessoa. O que vão pensar de você não importa, olha o Hernando, gay assumidão e ninguém fala nada dele, pelo contrário, você mesma me falou que ele é super prestigiado. Ninguém liga pra isso. — o rapaz foi falando enquanto voltava a comer, pouco se importava em falar mesmo de boca cheia em meio as colheradas generosas que dava no macarrão. — Você sabe que não fica a mesma coisa quando esfria. — apontou para a tigela ainda intocada de Mia e arqueou uma sobrancelha quando parou de falar e manteve ainda as sobrancelhas arqueadas como se estivesse esperando ela começar a comer para continuar. Quando a morena não fez menção alguma a acatar, o rapaz insistiu, as sobrancelhas se arquearam mais e apontou novamente para a tigela. A morena rolou os olhos enquanto a pegava com a mão e em seguida pegava a colher. — Então, isso é tudo nóia da sua cabeça. Cê ta com medo de que? De andar pela rua e de ser apedrejada? Gostosa do jeito que é, tu devia andar com medo de outra coisa.
De alguma forma, o jeito completamente despojado de Charlie, a forma como ele falava como se de fato não se importasse nem um pouco e fizesse um completo pouco caso da situação, dava conforto a Mia. E isso realmente era uma sensação que ela andava procurando.
— Como foi que vocês se conheceram?
— Ela é uma stripper.
Charlie engasgou e tossiu algumas vezes enquanto lutava para não tossir mais e acabar cuspindo toda a comida que ainda tinha na boca, levou logo a mão ao balcão pegando o copo de suco em cima do mesmo e assim deu alguns goles generosos antes de franzir o cenho.
— Isso significa Striptease grátis e exclusivo sempre que possível?
E ali, naquele momento, Mia percebeu que independente do que dissesse a Charlie, ele realmente não a julgaria e faria um completo pouco caso da situação como se aquilo fosse algo absurdamente normal para ele, também percebeu que podia estar sendo boba com seu auto preconceito, estava se preocupando demais quando existiam pessoas como aquele cara em sua frente, que sentia mais inveja da mulher ser uma stripper do que qualquer outra coisa. Que deixava Mia completamente à vontade e querendo apenas falar daquilo com o rapaz e foi o que fez. No fim da noite saiu de lá se sentindo muito mais livre do que quando viera mais cedo.
Foi aprendendo a conviver consigo mesma e com o próprio preconceito que se passaram duas semanas na vida de ambas as mulheres, por um lado estava Helena, correndo contra o tempo de terminar alguns quadros e organizar toda a sua exposição e do outro, estava Mia, uma mulher cada vez mais madura e decidida a seguir em frente após todo o alvoroço que aquela dançarina havia causado em sua vida. Não havia mais entrado naquele bar, Hernando a ajudava com isso, afinal, infelizmente, ainda não havia tido a coragem de abandonar o irmão bêbado naquele lugar. A dançarina por sua vez não havia mais dado as caras no lugar, estava ocupada demais com sua outra vida para se dar ao luxo de se satisfazer com seus desejos carnais.
O dia da Exposição de Artes da renomada Artista Plástica havia, enfim, chegado.
Fim do capítulo
Hei, amores! Eu sei que eu demorei demaaaais dessa vez e peço perdão, eu andei tendo problemas com meu sono e isso tava me consumindo mental e fisicamente.
Mas enfim, na cara de pau eu venho pedir uma ajudinha a vocês.
Não sei se todas conhecem o Wattpad, mas estou tentando crescer um pouco lá e queria que você me dessem uma ajuda, também posto lá, no mesmo tempo em que posto aqui inclusive, mas se puderem me ajudar a promover a fanfic lá votando e tudo o mais para que ela ganhe mais alcance, eu realmente iria amar.
Segue então o link: https://www.wattpad.com/story/152977127-striptease
Eu agradeço muito desde já. Espero que gostem e o próximo capítulo promete...
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Jebsk
Em: 02/08/2018
Autora, seu pedido é uma ordem e já acatado com todo prazer!
Entendo perfeitamente teu problema e solidarizo-me com voçê. Sofro de ansiedade e uso a leitura para desvirtiuar meus pensamentos e me cansar mentalmente.
Não foi dessa vez o tão sonhado encontro entre elas.
Fiquei tão envolvida com o alter ego de Helena que por um momento pensei que ela estava usando a Mia, como um capricho, mas então Helena se deu conta da "merda que fez". Me senti péssima por julgar. Helena é um personagem muito complexo com um alter ego muito sedutor e imponente. Deixou-me completamente insana.
Mia possui uma necessidade de aprovação para se aceitar. As roupas que usa para o trabalho é para vender a imagem de hétera?
Interessante esse lado submisso de Mia. Fiquei super curiosa agora: o Alter Ego de Helena é dominador e a própria Helena como deve ser? Submissa ou Dominante?
Desde já deixo meu forte abraço e aguardando a tão sonhada exposição. :-)
Resposta do autor:
Muito obrigada, meu amor! Isso é muito importante pra mim, todo esse feedback de vocês.
O alter ego de Helena infelizmente é completamente impulsivo, ela faz e só pensa muito tempo depois, que no caso seria quando estivesse "normal", como a Artista e não como a dançarina. O Alter ego de Helena é malvado, em meio a toda a sedução, isso pode trazer problemas.
E não, as roupas que usa para o trabalho é apenas o gosto e jeito dela mesmo, até por que não é algo fixo, tanto faz ela ir de saia ou de vestido quanto ir de calça e sapato, ela só tenta ser um pouco mais elegante quando vai para o trabalho apenas para passar a imagem profissional.
Hmmm, a sua pergunta foi MUITO interessante. Mas eu não vou te responder, desculpe, podemos conversar sobre isso novamente quando eu começar a mostrar verdadeiramente quem é Helena.
Angel68
Em: 02/08/2018
Devidamente votada no Whattpad....não gosto muito daquela plataforma, vive dando "pau"....as autoras vivem reclamando lá, histórias que somem, perfis são deletados....o Spirit é uma boa, tenho conta lá há mais de 04 anos, acho show de bola....quanto ao capítulo de hoje....só torço pra que o romance da Helena com a Mia comece logo, porque aguentar ela ir atrás do bofe pra sexo hétero é foda,literalmente....ainda bem que nesse capítulo vc não descreveu a cena, ficou "implicito" , hahahahahaha....quero é ver ela fazer um sexo bem quente e gostoso com a Helena, aí já esquece de vez do Charlie...cara pode ser bacaninha, amiguinho, gostosinho, mas a Helena vai ser o amor de Mia....o duro é a Helena ter tantos traumas e fantasmas na vida dela....não prevejo nada fácil nesse amor....ai meu Deus, o próximo capítulo é a exposição....já tô roendo as unhas !!!
Resposta do autor:
Muuuito, muito obrigada por isso, você não imagina o quão importante isso é pra mim.
ASIUAHUAHSAUSHAUSHAU, sim, eu não escrevi justamente por saber que tem muitas leitoras que não gostam muito de tais cenas, então... Eu preferi guardar a inspiração para o "sexo bem quente e gostoso com a Helena".
E você está prevendo muito bem, não vai ser nada fácil mesmo, as duas tem personalidades muito fortes e Helena tem toda uma bagagem gigante..
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