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Striptease por Patty Shepard

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Palavras: 8862
Acessos: 8221   |  Postado em: 16/07/2018

Capítulo 5

O sol do amanhecer entrava ainda timidamente pela janela descoberta pelas cortinas e quase chegava a acalentar a pele macia da morena adormecida entre as cobertas. Aquilo ajudava a aquecer o seu corpo naquela manhã fria. A luminosidade e o calor gostoso do sol ainda frio e tímido, não eram o suficiente para tirar-lhe do sono pesado, era o tipo de pessoa que dormia em qualquer lugar e que sentia-se confortável de forma extremamente rápida em qualquer ambiente. Era uma mulher adaptável, como gostava de dizer.

Um miado baixo quebrou o silêncio absoluto que fazia no quarto, a morena deitada na cama sequer se moveu, o sono profundo continuava pesado, mas isso não durou tanto tempo. Mais um miado e desta vez seguido de uma movimentação na cama, mas não da mulher e sim do felino que pulara na cama de maneira delicada, esfregou-se em sua dona na intenção de acorda-la e mais uma vez miou. O miado preguiçoso soou mais uma vez enquanto esfregava toda a pelagem no corpo da dona e ia subindo devagar até deixar o corpo gordinho e peludo cair preguiçosamente ao lado da mulher, esticou-se inteiramente e miou mais uma vez, estava claramente fazendo manha.

O sorriso preguiçoso surgiu nos lábios da morena, sequer abriu os olhos, mas sabia o que estava fazendo. A gatinha de pelagem densa e completamente preta estava com fome. Ajeitou-se um pouco, erguendo um pouco do cobertor que cobria o seu corpo e cobriu a gata passando o braço por cima do corpo pequeno do animal de estimação, encolheu-se e deu um beijo carinhoso e demorado na cabeça da gatinha.

— Você precisa ter um senso de horário, vadia. — falou baixinho, a voz rouca pelo sono, já era naturalmente rouca, mas naquele momento ficava ainda mais. Vadia, a gata preta, apenas esticou-se mais, como se apreciasse o carinho que recebia da dona e Helena, assim que abriu os olhos, encarou a gata por quem nutria um sentimento de carinho imenso e sorriu de forma completamente carinhosa. Por mais que quisesse dormir mais, adorava ser acordada daquela forma. — Está com fome? — indagou baixinho e tudo o que recebeu em troca fora um miado enquanto a gata se mexia e tentava se desvencilhar do abraço da morena.

Helena espreguiçou-se pouco depois, sentindo o corpo inteiro tremer suavemente de forma gostosa antes de sentar-se na cama devagar, bocejou e sentiu todos os pelos de seu corpo arrepiarem-se e os seios desnudos despontarem com o frio que tomou conta de seu corpo de maneira repentina, era de fato uma manhã fria. Talvez por isso o sol estivesse tão tímido. Olhou para grande janela que ficava no canto direito de seu quarto, teve uma boa visão do sol tentando aparecer entre as nuvens e então olhou para o relógio em sua cabeceira. 5h43 da manhã. Olhou para Vadia como se a culpasse por ter acordado tão cedo, mas ergueu-se da cama logo em seguida, os pés descalços sentindo a leve frieza no piso de madeira enquanto ia andando devagar até o banheiro, fora direto para o Box do chuveiro e deixou que a água quente esquentasse o seu corpo e despertasse de uma vez a sua mente.

Seu corpo voltou a arrepiar-se e o frio veio com mais intensidade, por isso mesmo encolheu-se um pouco enquanto baixava a cabeça e apenas ficava lá, embaixo da água. Havia dormido pouco menos de três horas, estava cansada, mas tinha um dia longo pela frente. Os olhos dourados abriram-se algum tempo depois e focaram a parede a sua frente, sua cabeça estava cheia, pouco havia dormido, mas havia sido uma noite repleta de sonhos desagradáveis. Quando despertou de seus próprios pensamentos, ergueu a cabeça e olhou para a prateleira onde ficavam seus produtos para o banho, já havia despertado.

O resto do banho não foi muito demorado, em pouco tempo já estava em frente a pia do banheiro com o secador em mãos secando os cabelos castanhos escuros de maneira calma, um pequeno sorriso nos lábios por ter rido quando Vadia correra com medo do barulho do secador, não secou os cabelos completamente, apenas tirou o excesso de água para também não sentir mais frio do que já sentia. Quando saiu do banheiro minutos depois já saiu puxando a toalha que cobria o corpo nu, a jogou sobre a cama antes de parar em frente ao armário de roupas, rapidamente vestiu uma calcinha qualquer para em seguida pegar um dos vestidos que sempre usava e pacientemente o vestiu, o mesmo de uma cor vermelho claro, puxado para o alaranjado, era de modelo ombro a ombro com alguns babados. Longo, com a saia bem solta que balançava à medida que andava, vivia usando vestidos longos como aquele. Caminhou devagar até a frente do espelho e sentiu Vadia enroscar-se em seus pés mais uma vez e começar a brincar com a barra de seu vestido, sequer se importou.

— Recatada e do lar. — falou baixinho ao ver a sua própria imagem no espelho e acabou dando uma risada, um tanto debochada, de si mesma enquanto jogava seus cabelos para o lado direito como sempre fazia, os ombros estavam completamente a mostra devido ao modelo do vestido, assim também como parte de seu torso. Logo voltou a andar, a gata avançou a sua frente, correndo diretamente para a cozinha já que sabia que agora ia ganhar o que tanto queria: sua ração.

Assim, logo após servir a comida de Vadia, Helena fez um rápido café da manhã, o suficiente para mantê-la de pé facilmente até o almoço, mesmo sabendo que conseguiria ficar sem comer o dia inteiro, mas não podia fazer isso. A casa era bem arrumada, uma simples casa de um único andar, com um belíssimo jardim, que dava para, perfeitamente, uma família morar. A cozinha americana tinha uma boa vista para a sala bem decorada e colorida, as paredes com alguns quadros, em especial uma que tinha um quadro de quase dois metros tomando conta e chamando atenção de todos que chegassem ali, o quadro ousado, onde as cores vermelha e preto prevaleciam na paleta, retratava uma mulher nua a frente de um pole dance e ao redor uma plateia de homens com rostos distorcidos, todo o quadro era um pouco distorcido, assim sendo impossível ver as feições da mulher ou até, nitidamente, suas partes intimas.

— Se comporte, se você quebrar qualquer coisinha da casa como fez da última vez, você ficará sem sachê por uma semana, vadia. — bronqueou a gatinha, que calmamente lambia-se sentada no sofá, sequer deu atenção a dona, Helena rolou os olhos e inclinou-se sobre o sofá e deu um beijo terno nos pelos negros da gata antes de sair andando, com uma pequena bolsa em mãos e as chaves da casa em outra, na porta calçou os chinelos que mais gostava e saiu, trancou a porta atrás de si e respirou fundo quando sentiu o calor do sol aquecer o seu corpo. Na varanda da casa foi até a bicicleta parada e presa em um canto, a libertou do cadeado e assim que desceu os três degraus que davam a varanda, ajeitou sua bolsa no cesto da bicicleta e subiu na mesma sem muita pressa, ajeitou o vestido, o subindo até ficar preso em suas coxas e então, saiu pedalando.

Por mais que tivesse condições de ter um carro, ela simplesmente adorava sair pela manhã para trabalhar em sua bicicleta, de alguma forma aquilo lhe passava uma sensação de liberdade sem igual, além de, é claro, não ter que enfrentar a tensão do trânsito. Cumprimentava algumas pessoas à medida que ia pedalando, o vestido balançava, assim como os babados do mesmo e seus cabelos, mas pouco se importava com isso. Aquela era a sua rotina, absolutamente todos os dias era a mesma coisa, não precisava de despertador quando tinha sua gata que acordava todas as manhãs atrás de comida, então, tomava o seu banho, seu café da manhã e ia direto para a sua Galeria e Atelier. Helena era uma Artista Plástica que vinha ganhando cada vez mais reconhecimento com a força e ousadia de seus quadros, desenhos e esculturas, fazia pouco tempo que havia inaugurado a sua Galeria, antes pintava seus quadros na garagem da própria casa.

Freou a bicicleta assim que subiu na calçada de seus estabelecimentos, a Galeria era claramente um espaço extremamente amplo, os nomes bem colocados acima do local diziam em Espanhol “El Arte de una Vida”. Desceu da bicicleta e a encostou na parede antes de pegar a chave em sua bolsa e abrir as portas do lugar, a primeira coisa que fez fora ir diretamente para os fundos, uma sala um tampo ampla onde só ela tinha acesso, haviam pinturas que ela não mostrava a ninguém, era também onde ela fazia novas telas e também algumas molduras, guardou a sua bicicleta ali dentro antes de voltar para a galeria, ligou todas as luzes, o espaço amplo ainda estava um tanto vazio, não haviam tantas pinturas expostas quanto gostaria, o que logo mudaria com a exposição que estava planejando junto com a sua amiga e Agente, Alyson. Deixou os chinelos de lado e foi caminhando descalça de maneira lenta, olhando ao redor pelas paredes de cores bem vivas. Pilastras grossas dividiam as sessões, duas, lado a lado como se formassem uma parede, ao total, seis. Assim, três espaços amplos, um para pinturas, outro para esculturas e outro para desenhos. Caminhou devagar entre as pilastras, os dedos passando lentamente pelo concreto que cobria a pilastra, aquilo ainda era como um sonho realizado, sorriu de forma graciosa até ouvir o barulho da sineta da porta e olhou em direção a mesma.

— Está sonhando novamente, Helena? — a voz conhecida de Alyson fez a mexicana rir de maneira faceira e deu de ombros enquanto abria os braços.

— Definitivamente sim. Esse lugar é incrível, Aly. Eu ainda não acredito que consegui conquistar isso sozinha. — a morena falou de maneira claramente boba levando Alyson a rir enquanto caminhava até a mesa que tinha em uma espécie de recepção. Assim que se passava pela grande porta de madeira dava de cara com essa parte da Galeria onde havia uma mesa redonda de madeira com três poltronas bem confortáveis ao redor, haviam mais duas poltronas contra a parede em outra parte e um belíssimo quadro na parede logo atrás da mesa, era o quadro de “Boas Vindas” como Helena dissera assim que o colocou. Afinal, era a primeira obra vista por qualquer pessoa que chegava em sua galeria.

— Parcialmente sozinha, se não fosse por mim você não teria vendido tão bem suas obras. — arqueou uma sobrancelha enquanto deixava a bolsa sobre a mesa e então puxava uma das poltronas para enfim sentar-se de maneira confortável para então cruzar as pernas. Alyson era uma belíssima ruiva natural que conhecia Helena há alguns anos. A ruiva era formada em administração e quando convenceu Helena a investir naquele dom que ela tinha, começou a cuidar de toda a vida financeira da Artista e cuidava de todos os detalhes para que ela continuasse crescendo. — Artista Plástica revoluciona o mundo da arte com suas pinturas ousadas que criticam o atual mundo machista. Sobrevivente de um casamento violento e abusivo, Helena conta através de seus quadros o sofrimento que passou pelas mãos de um homem. — Alyson tinha as mãos abertas no ar como se estivesse estampando aquela frase em algum outdoor ou coisa do tipo, parecia sonhar com aquilo. Helena apenas rolou os olhos enquanto ia andando devagar passando por frente a mesa em que Alyson estava.

— Seria triste se não fosse cômico você querendo ganhar dinheiro sobre a desgraça da minha vida. — a morena falou enquanto segurava a maçaneta de uma porta no cantinho da parede e assim foi a puxando devagar, a porta corrediça foi abrindo completamente, de fato, se não prestassem bem atenção apenas imaginariam que aquela porta era na verdade uma parede e a galeria acabava ali, mas não era o caso. Assim que abriu completamente a porta a Galeria ficou ainda maior agora deixando a mostra o Atelier amplo de pintura, mesmo sendo bem amplo ele estava completamente repleto de telas, algumas parcialmente terminadas, outras que sequer davam para entender o que era, outras ainda em branco. Várias obras também acabadas, penduradas pelas paredes ou empilhadas em um canto. Havia também alguns cavaletes com desenhos inacabados assim como uma escultura parcialmente terminada de argila que retratava o corpo de tamanho real de uma mulher nua, em pé, os braços erguidos acima da cabeça, era como se estivesse... Dançando, se exibindo talvez? Os detalhes da escultura eram impressionantes, precisos, tão realistas que era de deixar qualquer um de queixo caído. Mas o rosto ainda não estava terminado.

— Quer que eu divulgue que parte então? A que você dança em um bar de Strippers quando quer? — a pergunta de Alyson fez Helena arquear uma sobrancelha, mas acabou sorrindo de maneira fraca enquanto deixava os chinelos no canto de seu atelier e ia andando descalça pelo mesmo passando pelo meio de suas obras de maneira lenta, respirou fundo, sentindo aquela maravilhosa sensação de estar em casa, no meio de algo que a deixava completamente confortável, ali era seu mundo, seu refúgio.

— Não seja rude, Aly. — bronqueou de maneira paciente, quase terna, sequer parecia uma bronca, mas Alyson sabia que era. A ruiva tinha os olhos fixos nos movimentos de Helena, na leveza que ela tinha andando por aquele lugar, muitas vezes se sentia incomodada quando estava com Helena ali naquela galeria, afinal, a Artista era tão silenciosa e calma no que fazia que Aly as vezes tinha a sensação de que ela sequer estava ali, então, sentia-se absurdamente sozinha. — E você sabe muito bem que eu não tenho tanto controle sobre essa parte da minha vida. — Helena falava como se aquilo fosse o assunto mais normal do mundo, ou fosse apenas um problema corriqueiro no dia a dia de qualquer mulher. Helena segurou a saia de seu vestido devagar e a puxou para cima até parte de suas coxas ficarem a mostra e então sentou-se de forma confortável no banquinho e ajeitou-se, sentando sobre um dos próprios pés e o outro apoiou no banco, deixando a perna flexionada e o joelho bem a sua frente, mas a posição não incomodava, muito pelo contrário, sentia-se confortável. Esticou-se só um pouco para pegar ao seu lado a paleta toda suja com tinta seca e algumas ainda úmidas já que usou no dia anterior. Puxou para perto uma espécie de carrinho com duas cestinhas repletas de tintas a óleo e pincéis de todos os tipos. Era tanta coisa que ela simplesmente não conseguia ser tão bem organizada, mas isso não queria dizer que seus pincéis não eram todos completamente limpos e sempre bem cuidados. A tela relativamente grande apoiada no cavalete em sua frente não mostrava muita coisa, havia sido criada a pouco e ainda começava a tomar forma.

— Céus, você tem que entender o quão prejudicial isso pode ser, Helena e isso também não é bom pra você, aquele lugar não é bom pra você. — Alyson insistiu enquanto erguia-se da poltrona e ia andando devagar até o atelier adentrando o mesmo sem nem ao menos pestanejar, adorava ver as obras de Helena, por mais que realmente não tivesse qualquer influência em nenhuma parte, nem ao menos para escolher quais ficavam em exibição. — E se algum maníaco souber quem é você? E te seguir? — Alyson insistiu enquanto colocava as mãos na cintura e olhava para Helena que parecia concentrada demais em retomar aquela pintura. A ruiva respirou fundo enquanto olhava para a Artista, mas recebeu nada além de silêncio como resposta, sabia que ela havia ouvido muito bem as suas palavras, só estava as ignorando por que não queria conversar sobre. Deu-se por derrotada e ignorou a morena enquanto balançava a cabeça de forma negativa. — Quando vai me contar o que aconteceu entre você e Designer que trabalha com o Hernando? — isso pareceu chamar a atenção de Helena, a morena olhou para Alyson por canto de olho, mas voltou à atenção para o quando logo em seguida, dava pinceladas calmas quando falou:

— Eu a beijei. — falou de maneira direta e parou um pouco o que fazia para olhar diretamente para Alyson como se esperasse pela reação da amiga e agente. — E dancei pra ela. — os olhos de Alyson já estavam um tanto arregalados com a revelação de Helena, apenas ficaram ainda mais quando ela complementou com aquelas palavras, arqueou ambas as sobrancelhas logo em seguida, estava claramente sem saber o que falar. — Eu sei. Eu já vi ela lá algumas vezes, ela sempre aparece para buscar um cara, eu não sei o que ele é dela. E ela sempre aparece, claramente mal humorada e de nariz empinado como se sentisse superior aquele lugar. — falou baixinho, os olhos ainda fixos em Alyson enquanto falava, mas depois disso os desviou e voltou a sua atenção para o quadro, respirou fundo enquanto misturava duas tintas sobre a paleta para conseguir uma coloração melhor e assim voltou a pintar devagar. — Então eu tive uma vontade imensa de tirar aquele jeito superior dela, por que, de certa forma, eu me sentia ridicularizada sobre seu olhar, mesmo que ela tenha me olhado de um jeito bem interessante. — Alyson viu quando um sorriso de canto apareceu nos lábios da morena, como se ela estivesse lembrando de alguma coisa e gostasse do que tinha lembrado. — Claramente eu não contava com a parte de gostar tanto e com o fato de que o gosto da boca dela ainda não sumiu da minha. — confessou quase em um sussurro. Helena nunca foi o tipo de mulher que enrolava para dizer seus sentimentos ou o que a incomodava, ela falava com uma simplicidade que sequer parecia incomodá-la.

— E desde então, você a desenha e a pinta. — Alyson concluiu, uma sobrancelha arqueada ainda, definitivamente não sabia nem ao menos o que pensar das atitudes de Helena. Era inacreditável que a Artista, uma mulher que parecia tão simples, tão recatada e calma, às vezes gostava de ser uma stripper e de se exibir para os homens à noite. — Você precisa voltar para as sessões com a psicóloga, Helena, definitivamente, só Deus sabe o que você vai ser capaz de fazer numa próxima vez.  — Alyson respirou fundo enquanto levava ambas as mãos ao rosto e o esfregava rapidamente antes de deslizar as mãos para cima pelos cabelos ruivos, suspirou e colocou as mãos na cintura logo em seguida, ela conhecia Helena a bons anos por que eram quase vizinhas, havia acompanhado toda a trágica história da Artista e a ajudado várias vezes, mas às vezes simplesmente não a entendia.

— Você está acostumada demais, Alyson. Com o padrão de mulheres que foi estabelecido pela sociedade, ainda mais mulheres como eu. O que você queria que eu fizesse? Que depois que eu superei aquela fase miserável da minha vida eu deveria viver pacificamente uma vida de dona de casa que só vive para a sua galeria de artes? — Helena parou o que fazia para encarar a amiga de maneira séria, havia perdida um pouco da paciência que tinha de sobra com o caminho que aquele assunto havia tomado. — Eu vivia em um relacionamento abusivo, Alyson, eu não tinha vida, ele me impedia de pintar, me impedia de viver, me espancava quase todos os dias, me tirou do México me prometendo uma vida de rainha e me deu uma prisão. E depois que eu me liberto disso você quer que eu viva dentro dos padrões que todo mundo impõe? — perguntou, o tom levemente indignado enquanto os olhos dourados estavam completamente fixos na ruiva, ambas sustentavam o olhar uma da outra. — Então você me diz que eu devo voltar para a psicóloga, à mulher que dizia que o que eu faço é um distúrbio, que eu provavelmente tenho dupla personalidade, eu ia bem pra lá e voltava me sentindo um lixo. — irritou-se ainda mais ao falar sobre isso e o sentimento estava bem nítido na expressão séria que sustentava em seu rosto. — Sim, Aly, eu gosto de ser a mulher que se transforma em puta a noite e vai dançar em um bar para se exibir para os homens. E sim, Aly, eu beijei uma mulher de forma completamente impulsiva por que eu tive vontade e por que me senti atraída por ela. Mas isso significa mesmo que estou enlouquecendo e que irei fazer coisa pior? Ou é só você que não aceita que eu posso me sentir bem com tudo isso? E tudo isso é a inspiração que me fez ganhar todo o dinheiro para estar onde eu estou agora? — finalizou em um tom completamente duro, acabou aumentando um pouco o tom de voz algumas vezes deixando que seus sentimentos falassem mais alto por ela.

Alyson fora calada pelas palavras de Helena, ainda tinha o semblante sério, os braços cruzados e os olhos fixos nos de Helena. A ruiva era o tipo de mulher que nunca baixava o olhar mesmo quando estava errada e Helena mais do que ninguém sabia disso, convivia com ela há anos e aquela nem de longe era a primeira briga que as duas tinham uma briga séria. As duas se conheciam desde a época que Helena era a casada, pouco depois de sair do México e vir para aquela cidade, Alyson foi à primeira amizade que fez ali.

— Eu ainda não concordo com tudo isso, Helena e você sabe, mas é por que eu realmente me preocupo com você. Eu vou respeitar suas decisões por enquanto, mas se eu ver que está ultrapassando os limites e prestes a fazer merd*, Helena, eu juro que vou intervir. — Alyson ainda tinha um tom de voz duro, estava irritada e isso era mais do que claro, mas Helena parecia não se importar muito com isso, era só mais um dia em que ambas batiam de frente uma com a outra.

Helena não falou nada, apenas desviou os olhos da ruiva e focou em continuar a sua pintura, nada mais foi dito e Alyson apenas entendeu que o assunto havia morrido ali, por isso mesmo saiu andando a passos mais calmos, um suspiro longo e carregado saiu de sua boca enquanto voltava para a mesa onde estava a algum tempo, sua mente ainda cheia com as coisas que Helena havia dito, realmente estava preocupada com ela e não era pouco, jamais imaginou que sua amiga iria acabar em um bar de strippers dançando para homens nojentos, mas sabia que poderia falar o que bem quisesse para fazê-la mudar de ideia e jamais conseguiria, não era fácil aceitar, mas a verdade é que desde que Helena havia se separado, ela havia se transformado em outra pessoa.

©

A tarde já tomava rumo para o seu fim quando Alyson foi caminhando devagar pela calçada onde ficava a Galeria de Helena, onde também trabalhava, saiu de lá a algumas horas para resolver algumas questões que estavam se acumulando e também para terminar a organização da exposição das obras de Helena que estava planejando desde a abertura daquela nova galeria a pouco tempo atrás. Em uma das mãos tinha uma sacola de papel bem fechada e na outra tinha um copo mediano de chá gelado, adentrou a Galeria sem muita delicadeza ouvindo a sineta balançar em cima da porta.

— Deixa eu adivinhar, você se empolgou demais pintando e esqueceu de comer. — falou antes mesmo de qualquer saudação enquanto caminhava em direção à mesa, deixou sobre ela a sacola e o chá para então levar as mãos a sacola e começar a abrir a mesma devagar antes de enfiar a mão dentro. — Eu trouxe chá gelado e o seu tão amado burrito bem apimentado. — a ruiva ia falando enquanto ia tirando o burrito de dentro da sacola com cuidado. Havia saído pouco depois da briga que ambas tiveram e só voltou naquela hora, mas conhecia Helena bem o suficiente para saber que quando ela se concentrava demais em suas obras sequer sentia fome.

— Está tentando se redimir pela briga de mais cedo, Aly? — foi direta, um sorriso divertido surgindo no canto dos lábios da morena. Desviou os olhos da escultura que terminava e olhou para a miga por um momento. Helena agora tinha os cabelos amarrados em um coque mal feito, havia deixado a pintura de lado por um momento e se concentrava na escultura que faltava pouquíssimo para ser terminada. As mãos estavam sujas pela argila que usara anteriormente para moldar algumas partes que achou necessário, mas nas mãos agora tinha utensílios próprios para se fazer os mínimos detalhes, que raspavam ou cortavam a argila, se concentrava no rosto da escultura, a única parte que faltava detalhes.

— Levantando a bandeira da paz, de uma forma que você não recusaria é claro. — Aly arqueou uma sobrancelha enquanto cruzava os braços, um sorriso satisfeito surgindo nos lábios da ruiva enquanto encostava o quadril na mesa ao seu lado, os olhos azuis focados em Helena.

— Odeio quando você acerta em cheio. — Helena reclamou enquanto desviava os olhos de Aly para voltar à atenção para a escultura de tamanho real a sua frente, devido a base em que a mesma ficava, a Artista precisava ficar em cima de um pequeno banquinho para ficar na altura perfeita e não cansar seus braços deixando-os erguidos para alcançar o rosto inacabado.

— Vamos, venha comer, preciso conversar com você sobre questões da exposição. — era como se a briga que tiveram pela manhã de fato sequer tivesse existido, mesmo que tirassem sarro com isso de alguma forma, mas Alysson ainda lembrava muito bem das palavras ditas por Helena, provavelmente custaria a esquecer, mas tentaria ao máximo não continuar se metendo nessa parte da vida da amiga.

Helena apenas acenou de forma positiva com a cabeça, mas não deu qualquer indício de que iria parar para acatar o pedido de Alyson, estava tão concentrada em terminar um último detalhe do olho da escultura que por um breve momento perdeu-se em seu próprio mundo de arte. Alyson por sua vez não se importou, sabia que não era bem assim que conseguia tirar Helena de seu próprio mundo, sabia que quando ela acabasse o que fazia iria vir, por isso não se preocupou, muito pelo contrário, puxou a poltrona colada a mesa e sentou-se de maneira confortável antes de cruzar as pernas, de dentro da bolsa que sempre carregava tirou o Ipad e o desbloqueou começando a procura o aplicativo onde organizava toda a agenda de Helena, ficou nisso por alguns minutos, revendo as coisas quando teve a atenção chamada por Helena sentando-se na poltrona logo a frente.

— Obrigada pela comida. — ela agradeceu de forma sincera enquanto já ia abrindo o papel alumínio que cobria o burrito, logo em seguida pegou o copo com chá gelado e deu um bom gole.

— Te conheço bem o suficiente pra saber que você tem a mania de esquecer de comer. — Alyson falou como se aquilo fosse mais uma bronca, respirou fundo logo em seguida enquanto os olhos azuis voltavam para o ipad, assim, voltou a falar. — A sua exposição é daqui a duas semanas, vai ser em um sábado á noite, eu já resolvi com antecedência uma DJ para tocar músicas ambientes como você disse que seria bacana, contratei uma terceirizada para cuidar da comida e bebida, você disse que queria algo que deixasse todos a vontade, como uma festa dentro de uma exposição, então pensei em colocarmos mesas altas espalhadas pelo ambiente para colocar os copos de bebida e os petiscos que os convidados vão pedir. É aberta ao público, mas temos a nossa própria lista de convidados incluindo grandes críticos, compradores experientes e Artistas como você. Serviremos vinho tinto, vinho branco e Champanhe. Provavelmente você terá que dar entrevista ao jornal local, o que é muito bom. Temos uma estimativa muito boa de compras no dia. — Alyson ia falando tudo calmamente, de forma quase automática enquanto olhava para o ipad, falava cada coisa que havia sido listada ali para que não esquecesse de repassar absolutamente nada para Helena, afinal, por que Helena não soubesse fazer um terço do que Alyson fazia, ela gostava de ficar completamente a par de tudo. — Temos convites para os mais importantes, ou seja, para os artistas, compradores e críticos. Alguém mais que você queira talvez?  — ela desviou o olhar do ipad apenas nesse momento para encontrar uma Helena de boca cheia completamente entretida em comer. A morena ergueu os olhos brevemente encontrando a sobrancelha arqueada de Alyson.

— Eu ouvi tudo, meu bem, não me olhe com essa cara. — Helena rebateu, afinal, sabia que Alyson provavelmente pensava que ela não havia ouvido, estava bem pensativa com as coisas que Aly havia dito e principalmente com a proximidade de sua primeira grande exposição naquele lugar e quando falava grande era de fato muito grande e isso realmente a assustava de alguma forma, precisava separar seus quadros e cuidar das molduras além de também cuidar dos desenhos que já tinha prontos e das esculturas. Tinha muita coisa pronta e guardada, mas isso não tornava as coisas mais simples, ela tinha que saber escolher muito bem para também dar uma identidade a sua exposição, não podia simplesmente pegar todos os quadros prontos e jogá-los para serem expostos dessa forma, mas também pensava em algo em específico. — Naquele dia o Hernando comentou algo sobre um namorado não foi? — Helena perguntou antes de dar uma nova mordida no burrito, os olhos não mais fixos em Aly, parecia ter voltado a ficar pensativa. Aly por sua vez tinha o cenho bem franzido por estar imaginando onde Helena queria chegar com aquilo. — Envie três convites para ele, é essencial a presença dele aqui já que foi ele que projetou esse lugar, mas, peça que o terceiro convite seja destinado a Amélia. — Helena falou, os olhos que antes pareciam pensativos focaram-se em Aly logo em seguida como se esperassem uma reação da amiga.

— Você ta de... — Helena arqueou uma sobrancelha enquanto erguia o dedo como se pedisse para que Alyson parasse.

— Apenas mande, Alyson. — Helena foi mais dura desta vez, sabia que isso serviria para calar qualquer questionamento que Aly estivesse pronta para fazer. A Mexicana ainda achava irônica toda aquela situação, a meses atrás Aly viera falando sobre o Arquiteto perfeito para projetar a sua galeria do jeito que ela quisesse, Aly quem começou o contato com ele e só o viu pessoalmente quando precisou aprovar o projeto que ele havia feito, depois disso só o viu da última vez em que foi em seu escritório para organizar os detalhes que faltavam e também para agradecer o incrível trabalho que ele fez. Em nenhum momento Helena imaginou que a Designer de interiores que trabalhava com Hernando e que inclusive ele havia oferecido os serviços da amiga para a decoração interior do lugar, era a mesma mulher que ela havia seduzido em uma de suas noitadas e que tanto havia chamado sua atenção. Aquilo tudo era tão intrigante que fazia a morena ter vontade de rir ao mesmo tempo em que sentia-se completamente instigada pela situação.

O assunto correu normalmente após isso, com Alyson ignorando e tentando não comentar a decisão de Helena, não sabia onde ela queria chegar com isso, mas percebeu que era um assunto um tanto... Delicado para a amiga, era fácil notar que Helena agia de forma mais dura ou sensível em relação à Amelia e Alyson realmente não entendia o por que, ao menos não ainda. Não lhe surpreendia ela sentindo atração por uma mulher, não era uma novidade, ela já havia se envolvido com outras, mesmo que pouco, mas tinha algo de diferente dessa vez e precisava prestar atenção no que estava acontecendo.

Pouco mais de uma hora depois as duas se despediram, Helena estava cansada, havia dormido demasiadamente pouco, por isso deixou pra lá a ideia de ficar até mais tarde, assim logo foi pedalando calmamente pelas ruas mais vazias no início da noite, o vento gostoso balançando seu vestido e seus cabelos e um friozinho gostoso arrepiava a sua pele, estava sentindo-se tão satisfeita consigo mesma naquela dia que não conseguia deixar de sorrir. Chegou em casa em pouco tempo e pacientemente guardou a sua bicicleta antes de entrar em casa, foi só abrir a porta que o sorriso que tinha no rosto alargou-se assim que viu sua gata aparecer do nada e vir correndo em sua direção.

— Oi, minha vadia. — abaixou-se devagar e pegou a gata preta no colo como quem pega um bebê e deu alguns beijos no pelo denso. Vadia era uma gata extremamente carinhosa e acostumada com os mimos de Helena, por isso pouco importava-se de ser segurada daquela forma ou receber todos os beijos que qualquer gato odiaria. Helena sentia-se extremamente feliz por chegar em casa e ter a pequena Vadia para lhe receber todos os dias, era algo mínimo, mas a fazia feliz. Depois de um tempo com a gata que havia passado o dia sozinha, Helena tomou o banho que merecia, demorado, quente e relaxante antes de sentar-se no sofá da sala com um livro em mãos.

Encolhida e com uma coberta em suas pernas e Vadia bem aconchegada entre elas, Helena não conseguiu prestar atenção no livro, os olhos cor de mel percorreram a sala devagar em meio ao absoluto silêncio que fazia naquela hora da noite, estava com sono, com muito sono, mas enrolava um pouco para dormir e não correr o risco de acordar no meio da madrugada. Suspirou com a ausência de vários portas retratos e lembrou-se da caixa cheia deles no fundo da garagem, deveria ter jogado aquilo no lixo a muito tempo. Balançou a cabeça de forma negativa, estava no auge de sua carreira e de sua vida e de alguma forma não sentia-se realizada. Irritada com os próprios pensamentos jogou o livro na outra extremidade do sofá e levantou logo após retirar Vadia de seu colo, foi direto para seu quarto e não pensou duas vezes antes de cair na cama e enrolar-se na coberta para dormir, acordaria renovada no dia seguinte e se concentraria em suas obras, precisava fazer uma exposição perfeita.

Estava tão cansada que simplesmente apagou sem sentir, dormiu pesado e seu corpo relaxou completamente, sequer sentiu quando Vadia veio lhe fazer companhia no meio da noite, mas isso só a deixava mais confortável ainda, afinal, o calor de Vadia era extremamente bem vindo. Ela não sabia exatamente quanto tempo havia dormido quando ouviu as batidas fortes na porta.

— Helena!!! — o grito raivoso e masculino a fez saltar da cama de maneira repentina, ofegante, olhou em volta pelo quarto escuro e quando olhos assustados olharam em direção a porta viu quando um vulto negro atravessou a mesma e ganhou forma ao subir em cima da cama e montar sobre seu corpo de maneira tão rápida, sentiu a mão grande e o aperto violento contra seu pescoço e tentou gritar enquanto agarrava com ambas as mãos o pulso do homem barbudo e... Ex-marido. — Você acha que eu não sei o que você anda aprontando, sua vagabunda?! — mais um grito, este, diretamente contra a sua cara, fez todo o corpo da morena tremer pelo medo e os olhos encheram-se de lágrimas no mesmo instante, os pés começaram a debater-se na tentativa de escapar das mãos do ex-marido.

— Trevor! Por favor! — tentou gritar para ele, as lágrimas grossas escapando de seus olhos, o coração machucando-lhe por dentro de tão fortes que batia e o ar ficando cada vez mais escasso, arregalou ainda mais os olhos quando viu o punho grande de Trevor fechar-se no alto e vir em direção ao seu rosto.

O grito saiu com toda a força de sua garganta e os olhos abriram-se de maneira rápida enquanto saltava da cama no segundo seguinte acabou caindo no chão quando os pés enrolaram-se na própria coberta, mas estava tão desesperada que se arrastou por ele com rapidez até o interruptor de luz e ainda no chão ligou a luz do quarto com rapidez, tinha os olhos aterrorizados quando olhou em volta pelo quarto vazio, os olhos encheram-se de lágrimas no mesmo momento e ela soluçou ao perceber que havia sido apenas mais um sonho, apoiou as mãos no chão enquanto sentava-se sobre os próprios calcanhares e permitiu-se chorar pelo susto. Seu coração ainda batia desenfreado com o susto daquele pesadelo tão absurdamente vívido. Ouviu um miado baixo e ergueu a cabeça para ver Vadia encolhida em um canto do quarto pelo susto que havia levado e aquilo apenas partiu o coração de Helena por sentir-se completamente culpada. Ergueu-se do chão devagar e caminhou devagar e cuidadosamente até ela, a gata rosnou de maneira repentina o que fez Helena afastar a mão por um momento, hesitante com o medo de ser arranhada.

— Calma, Vadia. — falou baixinho enquanto voltava a aproximar a mão até tocar a cabeça da gata de maneira carinhosa, a acariciou com a ponta dos dedos devagar até vê-la mais calma e assim a pegou no colo devagar. — Me desculpe. — falou baixinho enquanto a aconchegava em seus braços e ia andando devagar até a cama, a colocou sentadinha ali e inclinou-se beijando-lhe a cabeça algumas vezes antes de se afastar e ir andando em direção ao banheiro, apoiou as mãos na pia e olhou o próprio reflexo no espelho, os olhos estavam avermelhados e a expressão cansada, o rosto ainda marcado pelas lágrimas. Abriu a torneira e fez uma concha com as mãos, a encheu com a água corrente enquanto inclinava-se e assim jogou a água em seu rosto, o lavando de maneira abundante. Quando ergueu a cabeça sem se importar com a água escorrendo por seu pescoço, olhou o próprio reflexo novamente, a expressão ficando extremamente séria e as mãos delicadas apertando o azulejo da pia. Estava com raiva de si mesma por novamente permitir-se ter medo dele. Sentia aquela insegurança absurda e uma bola crescendo em sua garganta, irritou-se ainda mais e foi automático quando as mãos passaram com força sobre a área na pia com todos os seus produtos de beleza, o barulho das coisas caindo no chão e algumas quebrando fora alto. Levou as mãos aos cabelos, os olhos queimando novamente pela vontade de chorar, mas não iria.

Parecia uma mulher completamente diferente da mesma Helena que acordou na manhã anterior, que passou o dia esbanjando calmaria e dedicando-se a sua arte, havia uma chama diferente nos olhos daquela Helena no banheiro. Ignorou a bagunça no chão do banheiro e saiu andando a passos pesados do mesmo, foi até a sua cama e sentou-se na beirada da mesma enquanto pegava o celular sobre o criado mudo, rapidamente o destravou e procurou um contato em específico. “Abra uma vaga para mim em uma hora”. Enviou a mensagem e sequer aguardou resposta, apenas jogou o celular para o lado e ergueu-se da cama, levou as mãos a camisa larga que vestia e a puxou retirando e exibindo os seios nus, a calcinha teve o mesmo destino em seguida, ficou nua. Foi andando devagar, viu o próprio reflexo no espelho do quarto, o semblante, o olhar, a forma de agir, de andar, eram completamente diferentes da Artista serena que Helena era.

Estava com tanta raiva dentro de si que ainda sentia o coração batendo mais rápido do que o normal e o seu corpo muito mais quente, quase febril. Abaixou-se em frente à cômoda de roupas e agarrou a maçaneta da última gaveta e a puxou completamente revelando a organização perfeita de diferentes lingeries, perucas... E máscaras. Não demorou muito procurando o que queria, assim vestiu-se de maneira lenta, apreciando cada momento para poder ir para o momento em que sentia-se completamente superior a qualquer homem. Parou em frente ao espelho quando o corpo estava vestido, a lingerie preta e de renda, de alças fininhas deixava a mostra os mamilos dos seios devido a transparência da renda, a cinta-liga delicada estava bem presa a meia ¾ preta, os pés além de cobertos pela meia, ainda estavam descalços, por isso caminhava na ponta dos pés pelo quarto até sentar-se a penteadeira onde estavam suas maquiagens, cruzou as pernas de maneira calma, os olhos intensos focados em sua própria imagem, primeiro atentou-se a prender os cabelos completamente e escondê-los com uma touca preta que ficava bem presa em sua cabeça. Em seguida maquiou-se sem muita pressa e de forma superficial já que a máscara cobria a maior parte de seu rosto, mas fez questão de finalizar com uma cor vibrante e vermelha em seus lábios para finalmente pegar a peruca preta curta e com franja, a ajeitou calmamente com a escova antes de enfim a erguer acima de sua cabeça e devagar a encaixar, a prendeu com cuidado em sua cabeça para que em nenhum momento corresse o risco de cair e assim focou os olhos na mulher completamente diferente no espelho, de sorriso safado, olhar sedutor e cabelos curtos.

Calçou nos pés saltos vermelhos vivos com uma pequena alça que os prendia em seu tornozelo para finalmente caminhar até o próprio armário e abriu uma das portas, retirou cuidadosamente de uma das ombreiras o sobretudo preto e pacientemente o vestiu enquanto ia andando de volta para frente do espelho, ele ia até os seus joelhos, era perfeito, deu um sorriso satisfeito enquanto olhava para o próprio reflexo enquanto amarrava o sobretudo em sua cintura, assim caminhou até o criado mudo, pegou o celular mais uma vez para solicitar um Uber, olhou brevemente os dados do motorista antes de jogar o celular sobre a cama, na primeira gaveta do criado mudo pegou uma caixa de balas de menta, naqueles momentos sempre tinha um gosto amargo na boca e gostava de mascar balas de menta para aliviar, colocou uma na boca e o resto no bolso junto com o dinheiro e enfim pegou o último item que faltava: A máscara.

Saiu de casa sem olhar para trás, indiferente até aos miados de Vadia ou dela se enroscando em seus pés, apenas saiu sem olhar para trás, as mãos se enfiando nos bolsos do sobretudo enquanto caminhava para o carro parado em frente a sua casa, entrou no banco traseiro rapidamente e a viagem correu em um completo silêncio, por mais que o motorista tivesse tentado puxar assunto mais vezes do que Helena gostaria.

— Pare aqui. — mandou após alguns bons minutos de viagem, o homem apenas acenou de forma positiva com a cabeça enquanto manobrava o carro para sair do meio da rua e parar perto a calçada, fora nesse meio tempo que Helena retirou do bolso do sobretudo a máscara negra e pacientemente a encaixou em seu rosto, já tivera experiências o suficiente para descobrir que não era certo entrar no carro de máscara, assustava os motoristas, mas eles não tinham objeções quando ela fazia isso no final. O rosto foi parcialmente coberto, não dava para ver nada dos lábios para cima e o sorriso pequeno desenhou-se nos lábios avermelhados e carnudos quando estendeu para o motorista de olhar surpreso, o dinheiro. — Fique com o troco. — mandou em tom baixo, levemente arrastado antes de abrir a porta do carro, saiu devagar e enfim fechou a porta antes de sair andando a passos mais rápido, as mãos se enfiaram nos bolsos do sobretudo mais uma vez quando começou a caminhar pela calçada, o sorriso de canto prevalecendo em seu lábio inferior por que sentia e como sentia os olhares caindo sobre si.

Precisou andar por cerca de cinco minutos antes de entrar por um beco estreito entre dois estabelecimentos, mas isso sequer a amedrontou, continuou andando sem qualquer receio mesmo quando o lugar ficou mais escuro, no fim do beco encontrou uma bifurcação e virou a direita, a alguns bons metros a frente a saída para a rua, mas logo a sua esquerda uma porta vermelha com detalhes em preto. Parou em frente à mesma e bateu algumas vezes, não precisou esperar muito até ver a porta se abrindo de maneira repentina e um negro um tanto gordo aparecer, ele sequer precisou olhar duas vezes para abrir mais a porta.

— Seja bem vinda de volta. — ele falou arrancando um sorrisinho maior dos lábios da morena, mas ela apenas acenou de forma positiva com a cabeça antes de subir o degrau e adentrar o interior da boate de maneira calma. — Ela está na sala dela. — ele falou mais uma vez, mas Helena desta vez não falou mais nada, apenas foi caminhando devagar pelo corredor longo, os passos calmos, a música já chegava a seus ouvidos, passava pelos camarins destinados as meninas e via algumas se maquiando ou reclamando de algo.

— Hmm, já vi que as coisas vão ficar interessantes hoje. — Helena deu de cara com uma das strippers do lugar e sorriu de maneira safada, completamente cúmplice a garota que usava uma peruca muito parecida com a sua, mas de cor azul.

— Você não imagina o quanto, Katy. — não deixou de falar enquanto ia se aproximando da garota, segurou o seu queixo de maneira calma e inclinou-se brevemente para selar os lábios carnudos da menina em um selo antes de dar uma pequena risada e continuar a andar, deixando a garota para trás. Conhecia bem algumas dançarinas ali, por mais que nenhuma delas nunca tivesse visto sequer o seu rosto. Continuou andando a passos lentos até encontrar mais uma bifurcação, ir em frente até a porta no final sairia no bar, era normalmente por onde as meninas saiam e entravam, a direita com uma escada mediana com o topo coberto por uma cortina vermelha, dava para o palco, era por onde sempre entrava. E para a esquerda, indo rumo a uma escada bem mais longa, ia direto para a sala da mulher que comandava aquele lugar: Seline.

Assim virou a esquerda e foi subindo devagar os degraus até chegar a porta, bateu algumas vezes antes de ouvir a voz permitindo a sua entrada e assim abriu a porta devagar e olhou diretamente para a bela morena sentada em uma poltrona, fechou a porta atrás de si e imediatamente tudo ficou um grande silêncio, a sala era completamente a prova de sons, não era possível ouvir qualquer barulho que vinha da boate. Helena caminhou pacientemente até a grande parte de vidro que dava a bela vista para todo o bar, assim Seline sempre podia ver todo o movimento e ver quem estava e quem não estava trabalhando bem. Quase ninguém sabia que existia aquele lugar ali, afinal, de dentro do bar era impossível notar, o vidro pelo outro lado era completamente escuro e ficava difícil de vê-lo com as poucas luzes do lugar.

— Está maravilhosa. — a voz serena de Seline soou enquanto os olhos de Helena estavam apenas fixos em todo o bar vendo o movimento do mesmo, estava cheio e isso realmente lhe satisfazia. — Helena. — chamou-a, só assim conseguiu a atenção da Dançarina Mascarada que a encarou de forma séria, olhos nos olhos. Seline era uma mulher mais velha, já tinha seus quarenta e tantos anos e já havia trabalhado naquele bar por muito tempo antes de se casar com o dono e começar ela mesma a comandar o lugar. Ela ergueu-se da poltrona deixando de lado a taça de vinho que segurava e foi se aproximando da dançarina sem muita pressa até tocar o queixo delicado da mulher. — Por que não tira essa máscara pra mim?

— Você sabe que eu não faço isso aqui, Seline. — falou em tom baixo enquanto a olhava diretamente nos olhos. Seline era realmente uma belíssima mulher, apesar da idade, ela tinha todo o jeito de ser uma bela cafetina, afinal, Helena sabia muito bem que aquele lugar não era só para danças, sabia que por trás as meninas eram vendidas para noites de sex* com clientes ricos, Seline mesma já havia tentado convencer Helena a passar uma noite com um desses clientes e já havia tentado várias vezes e em todas às vezes havia recebido em troca um “não” duro. Mas deu um passo a frente aproximando mais o seu corpo dela e também os seus lábios e sorriu de canto. — Eu também devo lembrá-la dos direitos que você não tem mais?

— É realmente incrível como você muda toda vez que vem aqui. — Seline falou em um sussurro, a mulher mais velha era simplesmente fascinada por Helena, adorava vê-la dançando naquele palco e lembrar dos momentos que tiveram juntas, a verdade era que as duas se conheceram fora dali e envolveram-se por um tempo antes de Helena descobrir quem Seline verdadeiramente era, mas Helena não julgava o fato de Seline ser a dona daquele lugar e uma Cafetina de primeira.

A mão da mais velha tocou o queixo de Helena enquanto se aproximava e roçava devagar seus lábios nos lábios da morena mais jovem arrancando um sorriso de Helena, um sorriso quase malvado, tanto que ela sequer pensou duas vezes antes de dar um passo a frente e acabar com o espaço entre as duas, a beijou de maneira sedenta, um beijo completamente cheio de desejo e safadeza, como duas amantes que já se conheciam há muito tempo. Mas o beijo fora quebrado pela risada sacana de Helena enquanto se afastava e levava o dedo inferior à própria boca, mordendo a ponta do mesmo para lhe ajudar a conter a vontade.

— Pena que você não muda nada, não é? — perguntou e arqueou uma sobrancelha, por mais que isso não fosse muito visível devido à máscara, riu novamente enquanto escapava das mãos de Seline e voltava para perto da grande janela de vidro e focava seus olhos nas pessoas ali embaixo. — Apague seu fogo com o seu marido, Seline. — Julgava o fato de Seline ser casada e nunca ter dito isso para Helena, descobriu por acaso na época e nunca, nunca mais voltou a tocar na mulher depois da descoberta com exceção de alguns beijos que dava como uma espécie de tortura por que sabia que Seline ficava querendo mais e aquela fora uma das exceções. Inconscientemente pensava o quão diferente aquele beijo era do beijo de Amelia.

A risada de Seline soou no ambiente enquanto a mulher se afastava e voltava para a sua poltrona, sentia-se completamente frustrada com as atitudes de Helena. Chegou a gostar dela na época em que eram amantes, depois que a conheceu bem, que conheceu sua história, sabia que ela jamais aceitava qualquer tipo de traição por ter sido traída várias vezes pelo marido, então, simplesmente continuou escondendo o casamento fracassado com o marido e regado de traições de ambos os lados. Veio tudo por água abaixo quando Helena descobriu pela boca de uma das dançarinas do bar. Ficaram sem se falar por meses até o dia em que Helena apareceu na porta de Seline com um único pedido: Dançar em seu bar.

— Quem é aquele perto do palco? Ele sempre está lá, aquela garota vem buscar ele. O que eles são? — a voz da dançarina soou algum tempo depois enquanto mantinha os olhos fixos na figura que lhe chamou total atenção, o homem já parecia ter passado de seus limites e sequer mantinha-se muito bem sentado em sua cadeira.       

— O Fred? O irmão daquela mulher que você beijou não é? — Seline falou enquanto cruzava as pernas ao ajeitar-se sentada na poltrona e voltou a pegar a sua taça de vinho, Helena desviou os olhos rapidamente da janela e encarou Seline mais uma vez. — Aparentemente ele levou chifres da noiva e afoga suas mágoas quase todas as noites aqui. Os seguranças ligam para a Amelia, irmã dele, ela mesma deu o número quando procurou ele por horas e o encontrou desmaiado aqui em uma tarde, não sabíamos onde ele morava, então deixamos ele dormindo ai até ele ter forças de ir embora, quando ele acordou ele ligou pra ela e ela chegou aqui como um furacão, ameaçou processar todo o lugar. — riu brevemente com as lembranças e deu um gole mais longo no vinho enquanto mantinha os olhos fixos em Helena. — É provável que ela apareça a qualquer momento. Você levou os homens à loucura naquele dia, perguntam sempre quando terá novamente. — completou, um sorriso satisfeito surgindo nos lábios, era quase como se estivesse sugerindo que Helena fizesse novamente.

— Talvez eu os leve novamente hoje. — falou em um sussurro, um sorriso sacana surgindo em seus lábios e os olhos novamente desviando-se de Satine e indo diretamente para Frederick que sequer conseguia se manter sentado na cadeira. De repente, sentiu-se completamente ansiosa por isso.

Fim do capítulo


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Comentários para 5 - Capítulo 5:
NandaSulivan
NandaSulivan

Em: 15/04/2019

Helena já virou o mundo da Mia, agora acho que vai revirar mqos ainda... Já estou amando...

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Nany lupita
Nany lupita

Em: 16/07/2018

A sua história está interessante, tô gostando! Não demore a postar. Please!

 

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sonhadora
sonhadora

Em: 16/07/2018

Completamente apaixonada pela sua escrita moça! Perfeita mesmo! Estou te acompanhando e a história está me envolvendo de um jeito que já estou querendo mais e mais! Parabéns!

Beijos de Luz

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Veka
Veka

Em: 16/07/2018

Estou viciada! E amando sua escrita! E adorando o desenrolar da história.

 

Bj

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