Tenham uma boa leitura meninas!
Capítulo 1
- Giulia -
Fazia pouco tempo que eu havia me formado em publicidade e propaganda, eu, com os meus 25 anos, e já formada em designer gráfico, tinha o sonho de trabalhar na agitação de uma Agência de Publicidade, e a partir dali criar uma carreira sólida e ser reconhecida. Assim que sai da faculdade, deixei meu currículo em tudo quanto foi canto, o que eu mais queria naquele momento era um emprego, colocar em prática tudo o que a minha cabeça guardava, queria colocar toda a minha imaginação e criatividade à prova, usar e abusar dela, queria poder me sustentar fazendo o que eu sabia fazer de melhor: criar, convencer, sonhar, imaginar e mirabolar.
-- Giulia fica calma, você vai conseguir o seu tão sonhado emprego, não se desespera agora por favor.
-- Eu tô tentando Victória, mas faz meses que eu ando distribuindo meu currículo por ai, e até agora só me apareceram vagas pra vendedora e pra atendente de lanchonete. – bufei - Não é possível que eu tenha gastado anos e mais anos estudando com afinco para no final dar com os burros n’água!
-- Fica calma que vai dar tudo certo. Mas por garantia não larga o teu emprego na gráfica ainda.
-- Pode deixar que eu não vou fazer essa burrada não. Já imaginou se eu largasse o emprego, como é que você ficaria? Ia pagar todas as contas sozinhas é? Não não, eu estou com os pés no chão, e só saio da Amaral quando eu conseguir o que almejo.
-- Ia ficar complicado com certeza, mas eu conseguiria segurar as pontas por um tempo. Só que eu estou pedindo pra não deixar o seu emprego agora, porque se isso acontecesse ai sim você ficaria desesperada se as coisas demorassem um pouco mais.
-- Que droga! – fiz cara de enfado me jogando no sofá da nossa sala.
Ah, deixe-me explicar um pouco as coisas que eu sei que deve estar confuso. Bom, eu me chamo Giulia Monteiro, tenho 25 anos, e há mais ou menos uns 6 anos moro em São Paulo. Vim pra cá pra estudar, me tornar independente e quem sabe um dia ser reconhecida pelo meu trabalho.
Sou do Ceará, e foi lá que eu conheci a Victória, ela estava na minha cidade de férias, e ficou hospedada justamente na pequena pousada dos meus pais. Ela havia ido sozinha, e passou pouco mais de 1 mês. Costumamos dizer que foi “amizade à primeira vista”, durante a sua estadia ficamos muito próximas, conversávamos muito, e no meio de umas dessas conversas eu comentei que sonhava em morar em São Paulo, queria que meu nome fosse para o mundo a partir de lá, e ela não perdeu tempo, plantou uma sementinha em minha cabeça que passou a me confundir e me deixar totalmente dividida.
Victória, ou Vick como prefere ser chamada, me chamou pra morar com ela dizendo que poderíamos dividir apartamento.
Suas férias acabaram e ela voltou pra São Paulo, mas, a distância não nos fez perder o contato, conversávamos sempre, e ela sempre voltava a me chamar para São Paulo, o que acabou fazendo com que eu me decidisse.
Ela conseguiu, conseguiu me convencer, falei com os meus pais, dei um jeito de transferir a minha faculdade pra lá, e me mudei. Fui para a cidade que nunca dorme, basicamente com a cara e a coragem, sem falar no medo.
No começo foi tudo muito estranho, levei um tempão para me adaptar àquela cidade enorme, aquela constante correria. São Paulo era assustadora, nem parecia a minha cidade, que era pequena a pacata, exceto em período de férias, porque ai, costumávamos fazer parte do roteiro.
Vick me ajudou em tudo o que podia, e insistia em ajudar até mesmo no que não podia. Ela era uma amiga perfeita, sem sombra de dúvidas eu poderia abrir a minha boca para dizer que ela era a minha melhor amiga!
Houve um tempo em que acabamos confundindo as coisas, confundimos uma forte amizade com paixão, quando na verdade era apenas atração. Lembro-me de dessa época, de quase ter surtado quando cheguei a conclusão de que sentia atração pela minha melhor amiga, e não era só o fato de ser a minha melhor amiga que eu estava desejando beijar, e sim porque era “ELA”, eu nunca havia olhado de uma maneira diferente para outra mulher, nunca nenhuma mulher havia me despertado olhares e muito menos desejo.
Dá pra imaginar como foi que ficou a minha cabeça? Lá estava eu me sentindo acuada em uma cidade quase que desconhecida, sem o colo de meus pais, sem ninguém pra conversar, não conhecia ninguém além da amiga com a qual eu dividia apartamento e a mesma amiga que eu desejava beijar!
Mais uma vez lá estava a minha quase irmã, foi Vick, que percebeu o erro que estávamos cometendo, e também foi ela que me ajudou a me descobrir e claro a me aceitar do jeitinho que eu era, que no caso era no mínimo uma bissexual. Aquela foi uma fase de descoberta, mas as descobertas eram apenas minhas, porque Victória já tinha a completa convicção de sua sexualidade, ela gostava de mulheres e pronto, e isso ela nunca me escondeu.
Com o tempo, depois do que Vick me fez sentir, com seus conselhos e apoio, me descobri e me assumi lésbica. Isso mesmo, eu era lésbica e não tinha medo nenhum de afirmar isso pra ninguém.
Eu não escancarava, não saia por ai falando em um megafone “Eu sou lésbica!”, mas não escondo isso de ninguém. As únicas pessoas que me interessavam a opinião eram meus pais e Victória. E deles eu tinha o total apoio.
Meus pais demoraram a entender um pouquinho, mas nunca se opuseram as minhas escolhas e a minha orientação sexual, eles sempre entenderam que apesar de poder realizar o sonho deles de entrar na igreja de véu e grinalda enquanto um noivo me esperava no altar, eu sempre seria a mesma pessoa, a mesma menina que saiu de seus braços e seus cuidados pra se arriscar em busca de um sonho. Então, se as pessoas mais importantes pra mim nesse mundo me apoiavam o resto do mundo que se danasse!
Os pais de Victória, eram empresários, esbanjavam dinheiro, mas ela fazia questão de sobreviver apenas com o seu dinheiro, com aquilo que adquiria com o seu suor e seu sacrifício. Ela sempre foi muito inteligente, e muito dedicada, era concursada e trabalhava em órgão do Estado.
Ela tinha total segurança financeira, e por isso mudamos para um apartamento maior, claro que eu ajudei como podia, participei financeiramente da compra (entrada) com o pouco dinheiro que eu guardava e com a quantia que meus pais fizeram questão que eu trouxesse, e assim demos entrada no apartamento.
Victória era humilde apesar de tudo, vestia-se de um jeito despojado, tinha um bom humor incrível, era super carinhosa, preocupada, protetora, atenciosa, era mega inteligente, super sensível, extrovertida, desinibida, e claro, muito linda. Era dois anos mais velha do que eu, o que a fazia se sentir como a minha irmã mais velha, uma irmã que eu e nem ela nunca tivemos, por isso sempre foi super protetora comigo.
Ela tinha um coração enorme, era muito bondosa com todos, e às vezes se aproveitavam disso. Quando eu percebia que alguém estava se aproveitando de sua bondade e generosidade, uma ira descomunal era despertada em mim, surgia lá do fundo aquele mesmo sentimento de proteção que ela tinha para comigo, e me fazia peitar até mesmo pessoas com o dobro da minha altura, mas com a minha Vick ninguém mexia!
Cuidávamos uma da outra, quase nunca brigamos, sempre nos demos muito bem.
************
Depois de alguns meses procurando, distribuindo currículos e gastando horas e mais horas em frente ao computador olhando todos os sites de vagas de emprego, recorrendo até aquelas vagas que nem me interessavam, eu consegui uma chance em uma Agência de Publicidade.
Enfim! Será que meu sonho ia ser realizado? Eu precisava preparar e entregar um portfólio com alguns de meus trabalhos e alguns trabalhos que eles pediram como teste, além de criar uma campanha que promovesse a venda de uma marca de cosméticos.
Eu e mais 12 pessoas estávamos “disputando” apenas duas vagas. Se meu portfólio fosse escolhido eu passaria para a segunda etapa, onde um cliente falso me pediria um projeto e eu teria que executá-lo num período de mais ou menos uma hora e meia. Isso era pra testar os brios de cada candidato, como cada um se comportava diante da pressão.
Se eu fosse aprovada nessas duas etapas, me restaria apenas mais uma. A entrevista com os três donos da agência, três grandes publicitários que já fizeram projetos para as maiores empresa do país, e eram conhecidos até em território internacional. Aquilo sim era pressão, eu, uma reles publicitária/designer, recém-formada diante de renomados publicitários.
Os três davam nome a empresa: Agência de Publicidade e Propaganda JUMP, que era a junção dos três nomes: Juliano, Marina e Pablo.
Com certo esforço, havia passado para a segunda etapa, agora sim a minha cabeça não poderia me deixar na mão, teria que sair dali uma ótima ideia, que garantisse a minha passagem direto para a terceira etapa.
Eu estava em uma enorme sala, roendo todas as unhas, com os pés inquietos e as mãos soando, esperando o resultado dos testes. No mesmo dia em que todos participavam da segunda fase, seria escolhido os dois publicitários que ficariam na Agência.
Todos seriam sabatinados e testados pelos donos da empresa, e após isso, seria dito quem seriam os novos funcionários da JUMP. Eu estava nervosa, pra falar a verdade eu estava completamente assustada, ficar cara a cara com os três que decidiriam por assim dizer a minha vida, não seria nada fácil, eles poderiam me eliminar por uma colocação mal feita, o mau uso da palavra, ou simplesmente por “não irem com a minha cara”, mesmo sem me darem a chance de mostrar o meu trabalho.
-- Giulia Monteiro? – chamou uma mulher logo após um dos candidatos ter voltado e sentado novamente.
Depois vim a saber que aquela mulher, atendia pelo nome de Verônica, e era a coordenadora e assistente de Marina, uma das donas da JUMP.
-- Sim! – respondi, fazendo-a olhar em minha direção.
Quase não consegui levantar da cadeira quando ouvi o meu nome ser pronunciado por aquela mulher alta e loira (um loiro de tom quase branco), de fisionomia séria, que parecia ter o rosto congelado em uma expressão única. Ela mantinha um olhar que parecia lhe avaliar de cima a baixo como se lhe recriminasse a todo instante, e dissesse “Você é ridícula!”. Isso só fez com que eu ficasse ainda mais nervosa, e minhas pernas fraquejassem. Com muito custo fiz com que minhas pernas me obedecessem e caminhei na direção daquela mulher.
-- Por aqui! – ela disse quando me aproximei.
Quando fiquei bem próxima a ela, senti um perfume muito forte, não sei dizer se meu olfato era sensível demais ou se eu estava sendo fresca, mas aquele perfume irritou completamente meu nariz. Era o tipo de perfume que uma mulher usa pra deixar a marca em seu “homem”, para impregná-lo, demarcando o seu território. Seria capaz de reconhecer aquele perfume em qualquer lugar.
Ela me levou a uma porta bem próxima a sala que eu estava anteriormente, pôs a sua mão na maçaneta da enorme porta, e antes de abri-la, dirigiu o olhar para mim, e com um sorriso que podia jurar ser altamente falso, cínico e com uma pitada de superioridade, me deu passagem para a sala.
-- Boa sorte garota! – disse com um tom tão falso quanto foi o sorriso.
Eu ia agradecer, simplesmente por meus pais terem me educado muito bem, porque de maneira nenhuma ela merecia educação, ela havia sido tão...tão prepotente, tão...nojenta! Não entendia por que ela estava me tratando daquela maneira, eu havia feito algo de errado? Bom, eu ia mesmo responder, mas não tive chance, em milésimos de segundos ela já não estava mais ao meu lado, e uma voz masculina chamava meu nome dentro da sala.
-- Giulia? Pode entrar. – disse um homem totalmente elegante em seu terno riscado, muito simpático com um sorriso que eu só poderia descrever como lindo. Esse era o Pablo.
-- Bom dia. Licença!
Os dois estavam em pé do outro lado da enorme mesa de vidro. Um estava posicionado ao lado direito, e o outro do lado esquerdo de uma cadeira, os dois apoiando um dos braços na mesma. Pablo estava elegantíssimo, vestido no que para ele deveria ser cotidiano, já que estava a frente de uma grande empresa, e em inúmeras reuniões com clientes importantíssimos. Ele vestia um terno preto riscado, uma blusa branca, gravata azul marinho e sapatos que eu poderia jurar que eram italianos. Seria capaz de fazer a minha maquiagem com aquele sapato de tão lustrado que ele estava. Ah, e abotoaduras, tão douradas que poderia enxergá-las no mais completo breu.
Já Juliano vestia uma blusa também branca, uma gravata listrada em diferentes tons de vermelho, calça cinza, sapatos pretos e perfeitamente engraxados. Apesar de Pablo aparentar ser mais descontraído, vestia-se de forma mais séria, diferente de Juliano, que aparentava ser mais sério e centrado, mas vestia-se de maneira mais confortável, não tão formal.
-- Bom dia. Pode sentar-se. – disse Juliano, um pouco mais sério e contido que Pablo.
-- Bom dia Giulia. Tudo bem? – Pablo perguntou.
-- Tudo ótimo. – sorri, não pude evitar, estava me sentindo bem na presença deles dois.
-- Deixe-me fazer as apresentações. Eu me chamo Pablo, e esse cara meio chato aqui se chama Juliano. – nesse instante olhei para Juliano, e para minha surpresa, ele sorria – Somos dois dos sócios proprietários da agência, mas não majoritários. Juliano é responsável pela parte de comunicação e propaganda, eu sou responsável pela parte de marketing, e Marina, a outra sócia, que por sinal detém de 50% da empresa, nossa presidente, é responsável pela parte de criação, que, aliás, é dona desta cadeira aqui. – disse olhando para a cadeira em que ambos tinham os braços apoiados - Cada um de nós supervisiona diretamente cada área da empresa, isso claro, quando o dever não nos chama para fora da empresa, e quando isso acontece o outro toma “conta” – disse fazendo aspas no ar – para o outro que se ausentou. E quando excepcionalmente os três se ausentam, deixamos nas mãos de coordenadores de nossa confiança.
Pra ser bem sincera, eu já conhecia os dois, na verdade os três de tanto que eles saiam em jornais, matérias de revistas famosas, entrevistas televisivas. Eles eram um “ás” no que faziam, e ninguém perdia a oportunidade de ter o nome deles estampado na capa de sua revista, seu jornal ou seu programa.
Eram jovens prodígios, que transformaram uma poça de dinheiro em um mar, se duvidasse, um oceano inteiro. Bem no início da sociedade, eram 4 amigos, Pietro, irmão de Pablo, também fazia parte da sociedade, eram o quarteto fantástico, até Pietro simplesmente desistir de tudo para viver um amor em território Francês, e até hoje não se sabe quem foi a mulher que o fez desistir de tudo.
Sendo assim, Pietro vendeu a sua parte a quem ele julgou merecido, e que sabia ser capaz de fazer a empresa crescer cada vez mais com a sua inteligência e perspicácia: Marina.
-- O Pablo está aqui falando e falando, mas aposto que você deve estar se perguntando pela outra sócia, não é mesmo? – Juliano sorria mais aberto.
-- Na verdade sim. É que fui informada de que passaria por uma entrevista pelos três donos. – disse envergonhada.
Olharam um para o outro e sorriram. Confesso que se eu não tivesse certeza de minha sexualidade poderia me apaixonar por um deles, apesar de serem mais velhos, eles eram verdadeiros deuses gregos, fariam qualquer mulher rastejarem aos seus pés. Juliano de cabelos loiros, olhos de um tom verde e sorriso sedutor, Pablo de cabelos tão negros quanto a noite, olhos cor de mel e um sorriso que só poderia descrever como lindo – novamente - e claro, safado!
-- Isso é verdade, costumamos os três realizarem essa parte final da entrevista. Mas infelizmente Marina teve que viajar a trabalho ontem, e por azar do destino teve o seu vôo cancelado hoje cedo. Mas... – interrompeu-se Juliano.
-- Mas...- continuou Pablo – ela estará aqui para recebê-la na segunda-feira.
-- Como assim segunda? Quer dizer que eu...
-- Isso mesmo Giulia, você está sendo contratada pela JUMP.
Juro que tentei, mas não consegui, não consegui evitar o sorriso que tomou conta do meu rosto, e muito menos o gritinho que me escapou, e o que fez os dois gargalharem.
-- Desculpa. – disse colocando as mãos na boca, mas ainda sim com uma vontade enorme de gritar ainda mais.
-- Não precisa se desculpar. – disse Pablo – Marina foi bem convincente quando disse que lhe queria aqui, e nós dois concordamos. Vimos o seu currículo, seu portfólio é impecável, e você se saiu muito bem na terceira etapa, nos impressionou verdadeiramente, e seria tolice a nossa se não a agarrássemos com unhas e dentes. A sua contratação foi unânime Giulia!
-- Eu não sei o que dizer. Trabalhar em uma agência de publicidade foi o que eu sempre quis, e trabalhar na JUMP então...parece um sonho.
-- Apenas diga que nos encontraremos aqui na segunda. – disse Juliano.
-- Claro! Com toda a certeza nos encontraremos aqui.
-- Parabéns Giulia! – disse Pablo.
-- Seja bem vinda! – falou Juliano.
-- Obrigada pela oportunidade, não vou decepcioná-los. Muito obrigada.
-- Nós sabemos disso. – disse Pablo, e logo após interfonou acreditava eu que para a secretária – Verônica pode vir até a sala da Marina por favor? Obrigada.
Em menos de dois segundos, a mesma loira que havia me levado até aquela sala, adentrava o local.
-- Pois não Sr. Pablo?
-- Por favor, leve a Giulia até o departamento de pessoal para dar entrada na contratação dela, e por gentileza, peça que outro candidato entre.
-- Sim senhor. Acompanhe-me, por favor. – ela se dirigiu a mim com um sorriso totalmente forçado, tentando ser simpática. Era tudo mais falso do que nota de três reais.
-- Até segunda! – Pablo e Juliano disseram quando eu já saia da sala.
Bastou sair da sala, para a Verônica, aquela loira é...é...nojenta, retirar a máscara que havia colocado no instante em que adentrou aquela sala. Pronto! Agora sim estava diante de mim a mesma mulher que havia chamado o meu nome instantes antes naquela enorme sala. A mesma loira alta, de olhar gelado, e nariz empinado.
Desci uns dois andares, e agora estava diante de uma porta com uma plaquinha que dizia “Departamento de Pessoal - JUMP”. A loira aguada havia me deixado ali, e saiu apressadamente, nem mesmo esperou que eu entrasse na sala para se retirar, saiu pisando duro sem falar nem um “a” comigo. Eu estava parada, no mesmo lugar acho que há uns 10 minutos, eu encarava a plaquinha e não conseguia desfazer o enorme sorriso que tomava conta de meu rosto.
Eu havia conseguido, estava realizando o meu sonho, havia conseguido meu almejado emprego, e era melhor do que esperava, melhor do que eu um dia sonhei. Agora eu precisava colocar tijolo por tijolo e construir a minha carreira!
Nesse instante eu lembrei-me de Victória, tinha que dividir isso com ela. Peguei meu celular dentro da bolsa, e quando ia discar o seu número, ouvi uma voz atrás de mim.
-- Moça? Posso ajudar?
-- Am? Não...é que...é...
Me enrolei toda e não consegui dizer nada proveitoso. A menina estava ali parada, olhando pra mim esperando eu abrir a minha boca e dizer algo que prestasse e eu não conseguia. Será que ela estava parada ali a muito tempo, e me viu parada feito uma anta encarando a porta?
-- Está procurando alguém? – ela tentou mais uma vez.
-- Não...quer dizer, sim! Me mandaram aqui pra tratar da minha contratação.
-- Ah sim. Meu nome é Alice, e no caso, você pode falar comigo mesmo, sou do departamento de pessoal. – disse sorrindo e me estendendo a mão em cumprimento. – Prazer!
-- Giulia! O prazer é meu.
-- Vem, entra. – disse tomando a frente e abrindo a porta.
-- Obrigada.
-- Esses aqui são Aurélio e Carina, eles também são do departamento. Sempre que precisar de algo pode falar com eles ou comigo.
Aurélio aparentava ter seus 40 e poucos anos, e Carina, aparentava ter mais ou menos a minha idade, e ela me pareceu muito tímida, um pouco contraditório, já que o cargo dela pedia alguém 100% comunicativo e sem timidez.
Alice, também parecia ter a mesma idade que eu, um pouco mais velha talvez, era muito simpática, toda sorrisos, bem diferente daquela loira aguada. Ela tinha a mesma altura que eu – em torno de 1,70 de altura, era morena – tom de pele, tinha os cabelos pretos, lisos e longos que naquele momento estavam presos em um rabo de cavalo. Ela era muito bonita, e não sei explicar o motivo, mas naquele momento eu imaginei Alice e Victória juntas. Loucura não? Nem a conhecia e já estava querendo dar uma de cupido, com a ideia de juntá-las. Mas devo admitir que elas formariam um belo casal.
-- Giulia? – me chamou me tirando de meus devaneios.
-- Oi.
-- Há quanto tempo estava encarando a porta da minha sala, digo, nossa sala? – perguntou olhando para os outros dois.
Não teve como, fiquei totalmente ruborizada.
-- Tava me olhando há muito tempo?
-- O tempo suficiente pra lhe achar maluquinha.
-- Alice! Isso é jeito de falar com a menina? – Aurélio a repreendeu.
Ele mesmo não aguentou, e todos caímos na gargalhada, inclusive a tímida Carina.
-- Não liga não Giulia, a Alice é assim mesmo. – pela primeira vez ouvi a voz de Carina.
Preenchi toda a minha ficha, me despedi de todos, e sai da sala de Alice, com o meu contrato nas mãos, não tinha jeito, eu agora era uma publicitária, funcionária da renomada Agência de Publicidade JUMP.
Precisava falar com a Victória, eu tinha que dividir isso com ela ou eu explodiria de tanta felicidade. Já na rua tirei meu celular e liguei pra ela. O celular chamou, uma, duas, três, chamou até cair na caixa postal. Tentei novamente, e no quarto toque ela atendeu.
-- Vick?
-- Oi pequena.
-- Está podendo falar? Estou te atrapalhando?
-- Claro que não! Nenhuma mulher no mundo tem mais direito do meu tempo e minha atenção do que você, aliás, ninguém além de você tem direitos sobre mim!
-- Boba! Escuta, você volta tarde hoje? Vai sair pra curtir a sexta em um barzinho ou vem pra casa?
-- Tô meio esgotada hoje. Vou pra casa mesmo, assistir um filminho e curtir a minha caminha.
-- Então eu vou preparar algo bem gostoso para comermos e comemorarmos.
-- Vamos comemorar o que Giulia? Não me diga que...
-- Isso mesmo Vick! Eu fui contratada, FUI CONTRATADA! – gritei a última parte.
-- Au!
--Desculpa, desculpa!
Ela deu uma pequena gargalhada antes de voltar a falar.
-- Tem problema não pequena, hoje você está podendo tudo, até gritar no meu ouvido. Hoje é o seu dia! Vou dar um jeito de sair mais cedo aqui pra curtirmos essa comemoração viu?
-- Tá bom. Mas se não der, tudo bem, tá certo?
-- Ninguém me impede de sair mais cedo daqui hoje! Onde você está?
-- Estou na porta da JUMP, estou indo até a Amaral agora, e depois vou pra casa.
-- Cuidado viu? E prepara meu cumer muier! – podia ouvir o seu riso do outro lado da linha, enquanto imaginava ela dando um tapinha em meu bumbum como costumava fazer.
-- Pode deixar muier, seu cumer vai estar pronto! Beijo.
-- Beijo!
Por sorte, assim que cheguei na parada, um ônibus passou, isso me garantiria o ganho de algum tempo, e não precisaria fazer o jantar as pressas, ainda daria tempo para passar no banco e descontar o cheque que eu receberia da Amaral referente aos meus direitos.
Chegando à Gráfica Amaral foi tudo rápido, consegui um acordo com o meu antigo patrão, e teria que pagá-lo apenas o aviso prévio que eu não cumpriria, consegui uma boa quantia, o que pensei de imediato em dar como entrada na compra de um carrinho pra mim, de segunda mão mesmo, eu não queria luxo e muito menos “ostentar” como andam dizendo por ai, só queria mesmo comodidade e praticidade. Um carro facilitaria e muito a minha vida.
Quando cheguei à agência bancária, senti o meu celular vibrando dentro da bolsa, mas por instantes deixei de lado, queria logo resolver aquele problema, descontar o cheque, tirar apenas uma quantia que precisaria naquele momento, e deixar o restante, não andaria com aquele valor na bolsa, seria um pedido em alto e bom som para ser assaltada.
Passei no mercado, comprei tudo o que precisava pra preparar o prato que Vick amava, macarronada. Sem esquecer é claro da sua amada Coca Cola. Cheguei ao apartamento com os braços cheios de sacolas, a geladeira estava precisando mesmo.
Fui recebida pela Mel, uma poodle toy que ganhei de presente da Vick no meu aniversário de 22 anos. Guardei todas as compras, tomei um bom banho e sentei-me no sofá da sala zapeando os canais, quando senti meu celular vibrar novamente dentro da bolsa que estava em cima do sofá, só ai me lembrei dele.
Ao pegá-lo vi que se tratava de um e-mail, e na pré-visualização tinha o seguinte nome: Marina. O abri apressadamente.
De: Marina
Para: Giulia
Olá,
Boa Tarde Senhorita Giulia,
Não podia deixar de parabenizá-la. Fiquei muito impressionada com o seu trabalho e o resultado de seu teste, você foi impecável. Fico muito contente por saber que teremos uma profissional do seu calibre no nosso quadro de colaboradores, e estou certa de que você foi a escolha mais acertada que fiz. Peço-lhe desculpas por não ter podido comparecer a sua entrevista, foi por motivo de força maior, e apesar de querer muito estar presente, sei que você se saiu muito bem novamente e que fui muito bem representada por meus sócios. Será um prazer enorme ter Giulia Monteiro em minha Agência, um prazer ainda maior se eu puder treiná-la nessa fase inicial. Comprometo-me a recebê-la pessoalmente na agência na segunda-feira.
Até breve!
Um abraço.
Atenciosamente, Marina Amorim.
Para tudo! Eu não estava acreditado no que estava acontecendo. Eu, euzinha estava recebendo um e-mail da Marina? A Marina Amorim, dona de uma das maiores agências de publicidade do Brasil? Porque será que ela se deu ao trabalho de enviar um e-mail para uma reles funcionária? Eu estava boba com isso, mas verdadeiramente encantada.
Ah, eu me esqueci de falar, que eu tenho uma certa admiração por ela. Não só por seu lado profissional, mas também porque ela é uma mulher absurdamente linda. Daquelas que deixa todos os homens, e claro também todas as mulheres de queixo caído. Eu nunca a tinha visto pessoalmente, somente por fotos ou na televisão, e ela me deixava em um estado inexplicável, completamente embasbacada. Vick sempre me fazia o favor de me tirar de meus devaneios e sonhos com a poderosa Marina Amorim. “Pequena, você é linda, e quanto a isso não resta dúvidas, mas essa mulher vive em outro mundo, um completamente diferente do nosso. Em cima de um pedestal, e completamente inalcançável!”
Fim do capítulo
O que acharam?
Até o próximo!
Beijos
Comentar este capítulo:
BlackMoon
Em: 10/07/2018
Oi, autora. Essa história esteve no abcles ou por aqui, já, né?! Confesso que sempre esperei pelo final. Que bom que voltou!!!!
Resposta do autor:
Olá moça!
SIm sim, você tem razão - e uma ótima memória - eu postava essa estória no ABCles, e quando foi retirado do ar, passei a postar aqui. Mas digamos que o que aconteceu me chateoou um pouco, e eu fui perdendo a criatividade para continuar com ela. Mas voltei! Pra levar a estória até o final dessa vez. Editei algumas coisas nela e modifiquei outras, mas a essência dela, é a mesma.
O final agora vem!
Beijos
Miss_Belle
Em: 06/07/2018
Olha só, nunca fui a primeira comentar!! rsrs
Gostei muito do começo, das personagens (da Giulia principalmente), da tua escrita, do enredo...de tudo! rsrs
Espero que continue e muito boa sorte! Talento tu tens.
Até o próximo!
Beijos
Resposta do autor:
Olá Miss!
Lhe agradeço por seu comentário, por ter deixado suas palavras. Obrigada pelo incentivo. E vou coninuar sim, pode acreditar.
Fico feliz que tenha gostado, muito feliz. Vamos continuar!
Ate o próximo
Beijos
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