Fiquei alguns minutos esperando a Fellipa enquanto ela ia ver como o irmão estava, pouco depois que ela entrou no hospital meu telefone toca, DDD de Porto Alegre meu primeiro pensamento foi recusar, mas acabei atendendo.

- Alô...

- Oi boa tarde Sra Letícia. Aqui quem fala é o Camilo sou o porteiro do prédio que a senhora morou com seu esposo.

- Desculpe Camilo não estou lembrando, no período que morei aí o porteiro era o Sr. Walter.

- Sim...sim o Sr. Walter da férias.

- Qual o motivo da ligação Camilo?

- É que temos algumas cartas endereçadas a Sra e gostaria de saber para que endereço posso enviar?

- Cartas? Que tipo de cartas?. - Desde que me separei atualizei todos os cadastros mais importantes para o endereço da minha mãe. - Você pode me falar quem é o remetente dessas cartas?

- É que...agora estou não estou próximo a mesa. - Ele gaguejou um pouco na resposta e continuou. - Só preciso saber o endereço para poder enviar para a senhora e para caso chegue alguma correspondência.

- Sr. Camilo vamos combinar assim, peço para uma amiga passar ai e buscar...Ok.

- Posso enviar para a senhora não tem problema.- Insistiu ele.

- Sr. não moro mais em Porto Alegre então não precisa se preocupar, depois envio minha amiga para buscar.

- Não tem problema posso enviar, só me dizer o endereço. - insistiu ele mais uma vez.

- Sr. Camilo não estou entendendo a insistência, mas obrigada pela atenção depois peço para uma amiga ir buscar. Obrigada e boa tarde.

- Mas é que...ok sra boa tarde.

Desliguei o telefone e fiquei pensando qual empresa poderia ter me enviado alguma carta que realmente importasse, todas as minhas contas chegavam no meu email ou bastava eu acessar a internet para consegui-las, não me ocorreu nenhum lugar relevante então não ia me preocupar com isso talvez o rapaz só quisesse mostrar serviço, enfim depois peço para a Julie buscá-las para mim.

Felippa não demorou voltar, quando ela vinha caminhando para o carro parecia ainda mais charmosa e ela vinha com um sorriso no rosto sinal de que estava tudo bem com o irmão.

- Como está seu irmão?- Perguntei assim que ela entrou no carro.

- Ele está bem Graças a Deus, obrigada por perguntar. Agora podemos ir comer e fazer comprar. - respondeu já ligando o carro.

- Vamos. - Respondi feliz com a ideia de passar a tarde com ela.

Ela ligou o som e cantava baixinho enquanto dirigia, assim q começou a tocar La Belle De Jour- Alceu Valença ela aumentou um pouco o volume e começou cantar um pouco mais alto, amei ver aquela cena. Primeiro por ver que ela aos poucos ia relaxando como se tirasse o peso dos problemas dos ombros, lembrei de ter ouvido a mesma música algumas vezes na casa da Julia.

- Mas Belle de Jour

No azul viajava

Seus olhos azuis como a tarde

Na tarde de um domingo azul

La Belle de Jour!

Ah hei! Ah hei! Ah hei!

Ah hei! Ah hei! Ah hei!

Ela tava tão animada que me contagiou e comecei a balbuciar a música, cantava baixinho olhando para o trânsito.  A música terminou terminou e começou a tocar Xote da Alegria - Falamansa, quando percebi estávamos a duas cantando bem alto dentro do carro, paramos no semáforo olhamos uma para a outra e começamos a sorrir.

- Você não tem cara de que gosta de fórro. - Ela falou em meio as risadas.

- Você também não tem cara de que ouve fórro.

- Julie me ensinou a gostar e de quebra me ensinou a dançar.

- Ia amar te ver dançando. -Falei em um tom de voz que pareceu uma cantada, senti meu rosto ficando inteiro vermelho.

- Gosto muito de dançar, um dia a gente pode ir. - Ela falou e olhou pra frente, parecendo ignorar meu tom de voz, o que me sentir um alívio. - Vamos comer primeiro? O shopping é aqui perto, podemos comer e depois vamos para lá.

- Para mim tá ótimo. Estou morrendo de fome. -Respondi amando a mudança de assunto.

Ela estacionou em frente a uma churrascaria, assim que entramos falei que precisa ir ao banheiro e deixei ela escolhendo a mesa.

- O que ta acontecendo com você Leticia? - perguntei para o meu reflexo no espelho. - Você é hetero! Ela é uma mulher! Isso é só carência, então se controle antes que ela entenda errado.

Joguei água no rosto novamente, enxuguei, respirei fundo e sai do banheiro. Assim que saí avistei ela sentada próxima a janela do outro lado do salão falando com uma garçonete. Assim que me aproximei sentei na cadeira em de frente a Fellipa. Ela tava fazendo o pedido, assim que terminou de fazer o pedido a garçonete olhou para ela, piscou e falou que não demorava a trazer o almoço. Tenho que admitir que ver aquela cena me deixou um pouco incomodada. - Isso é só carência. - repeti mentalmente.

Não demorou a garçonete trazer o almoço, que por sinal estava uma delícia. Pagamos a conta e ficamos sentadas conversando, mas de repente a expressão da Fellipa mudou, quando olhei para o lado vinha uma mulher vindo em na nossa direção.

- Oi Pippa, que surpresa boa. - Essa disse assim que parou ao lado da nossa mesa, e fingindo ignorar minha presença.

- O que você quer Izabela? - Falou num tom bem áspero.

- Nossa meu amor, não fale assim comigo. - disse e foi sentado na cadeira ao lado da Fellipa, foi quando olhou para mim e fingiu cara de surpresa. - E quem é essa?

- Essa?! - Meu sangue subiu na hora que ouvi o deboche na voz daquela mulher. - Não acho que seja da sua conta quem eu sou e se não percebeu você está atrapalhando.

- Nossa a gatinha tem garras...A Dominique sabe que você ta com outra? - Ela falou me olhou de um jeito bem malicioso.

- Na moral Izabela hoje não to afim do seu veneno. E a minha vida não é da sua conta.

- Que ignorância meu amor. - Falou e passou o braço em volta do pescoço da Fellipa. Nesse momento não sei o que me deu me levantei.

- Vamos Fellipa. - Levantei dei a volta peguei a mão dela, ela se levantou e ficamos ali de mãos dadas como namoradas.- Izabela passar bem, vamos amor. - Falei sem pensar.

- Vamos Meu Amor. - Respondeu Fellipa passando o braço em volta da minha cintura, fazendo meu corpo inteiro esquentar.

Saímos da churrascaria e fomos caminhando de mãos dadas até o carro, eu meio que estava segurando a respiração e assim que entramos no carro soltei o ar de uma vez, quando olhei para o lado vi a Fellipa com uma expressão séria.

- Me desculpe por isso! - Ela falou sem olhar para mim como se estivesse com vergonha.

- Não se preocupe, não foi nada....Você está bem?

- Desculpa, e eu que tinha que perguntar isso.- Ela olhou para mim e de novo segurei o ar. - Você está bem?

- Não se preocupe comigo. - Tentei responder controlando minha respiração sem que ela notasse. - Quem era aquela?

- Um passado errado. - Ela respondeu e ligou o carro. - Vamos ao shopping? - Ela perguntou mudando de assunto.

- Vamos. - Sorri um pouco sem graça, e preferi não insistir no assunto.

Fim do capítulo