O RENASCER DE UM ANTIGO AMOR

Cap 08 - Parte da família

Já havia se passado dois meses e Isabel sentiu que devia informar seus pais sobre seu relacionamento com Fernanda antes de Mariana o fizesse. Pensou em contar primeiro e analisar a reação de ambos, mas como boa aquariana, resolveu causar.

Era tarde de sábado, apenas ligou dizendo que ia levar uma pessoa de quem estava gostando muito para almoçar no dia seguinte e ouviu algumas piadinhas de seu pai sobre finalmente ter tomado jeito.

No domingo esperou Fernanda na porta de casa, a viu sair linda como sempre e sorriu fazendo uma reverência.

-- Para com isso sua boba. -- Fernanda riu balançando a cabeça negativamente e entrou no carro seguida por Isabel.

-- Então? Preparada? -- A tatuadora perguntou olhando Fernanda de canto.

-- Acho que sim. -- A morena fez uma careta, conhecer a família de Isabel parecia um passo muito grande em um relacionamento que sequer tinha um status ainda. -- Vai me apresentar como o que?

-- Como assim? -- Isabel franziu a testa.

-- Vai dizer que eu sou o que sua?

A tatuadora refletiu um pouco, não tinha pensado nisso porque seus pais já conheciam Fernanda muito bem e sabiam o que ela significa para si.

Era o amor de sua vida.

-- Vou dizer que você é uma pessoa especial pra mim.

Fernanda fez uma careta, ela só podia estar brincando. -- Namorada. -- Disse firme.

-- O que?

-- Vai dizer que sou sua namorada.

Isabel piscou, namorada era uma palavra bem forte, e não conseguia admitir para si mesma, mas tinha dificuldades em imaginá-la como sua namorada, pois seu subconsciente insistia em dizer que Fernanda já tinha uma namorada.

Censurou seus pensamentos, não, Fernanda não tinha uma namorada, sua irmã simplesmente passara a nunca ter existido para ela.

-- Você quer ser minha namorada? -- Perguntou com as mãos suando.

Fernanda riu, era um momento estranho para fazer o pedido, mas não recusaria, estava esperando já.

-- Claro que sim. -- Beijou o rosto de Isabel. -- Agora me diz, quem eu vou conhecer hoje?

-- Minha mãe e meu pai… A Mari vai estar lá também.

-- Posso ver uma foto dos seus pais?

Isabel pegou o celular e abriu o grupo da família Monteiro, foi na lista de contatos e entregou para Fernanda. -- Meu pai é esse com a camisa do Palmeiras. -- Apontou para o contato escrito “Pai”.

Fernanda começou a descer a lista e encontrou Regina S. Monteiro, o contato indicava como “Mãe”. -- Você e a Mariana parecem mais com a sua mãe. -- Comentou.

Isabel riu. -- É, do papai só herdamos a alta miopia.

-- Nossa, sua família é grande… -- Disse vendo os 78 membros do grupo. -- Quem é essa? -- Mostrou uma foto de uma menina de cabelo rosa.

-- Joana, filha mais velha de uma prima minha. -- Isabel respondeu voltando a olhar para o trânsito.

-- E esse aqui? Carlos M. Monteiro… -- Mostrou um sujeito de cabelo grisalho e espetado.

-- Tio Carlos, é uma figura. -- A tatuadora riu.

-- Tem outro tatuador na sua família? -- Mostrou a foto de um jovem de cabeça raspada e corpo fechado de tatuagens com o nome de Felipo Tatoo’s.

-- Na verdade ele é meu amigo, eu o conheci num estúdio que eu trabalhava. Ele tá aí no grupo porque eu arranjei minha prima pra ele e eles acabaram se casando.

-- Baita cupido você… -- Fernanda disse rindo. -- Quem é Victória Monteiro? Abriu a foto e viu uma garota de óculos abraçada a Mariana, as duas eram extremamente parecidas.

Isabel gelou, se sabia que sua família mantinha o contato de sua irmã no grupo? Claro que sabia, e achava muito mórbido por sinal, porém tinha esquecido disso quando deixou o celular nas mãos de Fernanda.

-- Bom… Ela é… Minha irmã mais nova.

Fernanda franziu a testa. -- Você nunca falou dela, ela não mora com seus pais? Quantos anos ela tem? -- Disse apertando os olhos para tentar ver a foto, mas parecia escuro, como se tivesse sido tirada em alguma festa noturna.

-- Não, ela… sofreu um acidente e… nunca mais acordou.

Fernanda abriu e fechou a boca. -- Eu sinto muito, deve ter sido uma perda muito difícil pra sua família.

-- Não, ela não morreu, ela só… não acordou mais, entende? -- Disse Isabel desconfortável com o assunto.

-- Faz quanto tempo isso?

-- Muito tempo, nem lembro mais. -- Mentiu, lembrava-se muito bem, fazia 3 anos e 8 meses desde o fatídico dia que fez sua família desmoronar.

-- Eu não cheguei a te contar mas… Eu também sofri um acidente, esse ano.

-- É mesmo? Como? -- Isabel se fez de desentendida.

-- Eu não lembro, meu pai disse que eu entrei na contramão com a moto e fui atropelada… Mas eu nem sei dirigir. -- Falou de cabeça baixa. -- Eu acordei pensando que tinha 20 anos, cheguei no meu quarto e meu diploma da faculdade estava pendurado na parede, sendo que na minha cabeça eu ainda estava no primeiro semestre.

-- Você se esqueceu de tudo… -- Isabel concluiu.

-- É… Tem sido um pouco difícil, refazer minha vida. -- Segurou a mão da tatuadora. -- Você é… Digamos que uma das primeiras coisas que me aconteceu depois que eu acordei.

Isabel sorriu. -- Me sinto honrada então.

-- Imagine quando sua irmã acordar, ela provavelmente vai se sentir da mesma forma que eu me senti… Como se o mundo tivesse passado sem ela ver. -- Isabel se remexeu no banco do carro. -- A diferença é que no caso dela o mundo realmente passou sem ela ver. -- Concluiu pesarosa.

-- Ela não vai acordar Fernanda.

-- Porque você diz isso? Não tem esperanças?

-- Os médicos têm dado falsas esperanças pra nossa família por anos, e nada aconteceu. -- Isabel estacionou em frente a casa que Fernanda já havia frequentado inúmeras vezes. -- Agora chega de falar disso, tá bem? -- Disse fazendo um carinho no rosto da morena.

-- Assunto proibido? -- Fernanda perguntou inclinando a cabeça em direção a casa.

Dizer que sua irmã era assunto proibido? Não… Tinham muitas diferenças, mas era sua irmã.

-- Assunto a ser evitado. -- Declarou.

Assim que abriu o portão seu pai estava do lado de fora acendendo a churrasqueira como todo domingo, com a mesma animação de todo domingo.

Certas coisas não mudavam nunca.

Assim que Ícaro ergueu o olhar para encarar a filha, seu sorriso morreu ali mesmo, como se tivesse visto alguma assombração.

-- Oi papai. -- Isabel parou na frente dele. -- Essa aqui é a Fernanda.

Ícaro não conseguia se mover para cumprimentar a jovem que parecia estar começando a ficar assustada. Encarou o olhar suplicante de Isabel e balançou a cabeça discretamente, em sinal de negação.

-- Tudo bem Fernanda? Meu nome é Ícaro. -- Tentou falar da forma mais natural possível.

-- Tudo sim, prazer em conhecer o senhor. -- Fernanda falou se perguntando se o espanto dos pais de Isabel se dava pelo fato dela ser uma mulher, porém tinha quase certeza de que a tatuadora era assumida.

-- Isa… Você avisou seus pais de que a pessoa que você ia trazer era uma mulher? -- Perguntou baixinho assim que entraram.

-- Hum? -- Isabel riu de canto.-- Acho que eu não preciso avisar isso.

-- Mari! -- Fernanda disse ao avisar a jovem entrando na sala. Por um segundo pareceu que elas se conheciam a anos, porém na verdade Fernanda só estava aliviada por ver um rosto familiar.

Assim que Regina ouviu aquela voz veio direto para a sala, não era possível que Fernanda estivesse lá. A abraçou fazendo Isabel arregalar os olhos, talvez devesse ter avisado antes, sua mãe provavelmente estava achando que Fernanda havia recuperado a memória.

-- Parece que a senhora gostou da minha namorada, né mãe? -- Disse Isabel fazendo Regina se desprender do abraço e encarar Fernanda que sorria confusa.

Regina olhou para trás a procura de algum sinal de Mariana que apenas fez uma careta.

-- Mamãe tava ansiosa pra conhecer a famosa Fernanda. -- Mariana falou dando um fim a aflição que Isabel demonstrava.

-- Claro… -- Regina disse, ainda tentando buscar nos olhos de Fernanda a garota que cuidava tão bem de sua filha caçula. -- Seja bem-vinda Fernanda.

Encarou Isabel com uma cara de quem teria uma séria conversa com ela mais tarde.

-- Fique sabendo que já te considero parte da família. -- Deu um beijo no rosto da morena e seguiu para a cozinha, precisava de um copo de água com açúcar para aguentar as bizarrices que sua filha mais velha aprontava.

 

Mariana deu um meio sorriso com a frase dita por sua mãe. Realmente Fernanda já era parte da família há muito tempo.

Fim do capítulo