O RENASCER DE UM ANTIGO AMOR

Cap 06 - O Fim do Mundo

Fernanda viu de longe seu pai se aproximar, fez uma careta, não tinha avisado que ia chegar tarde, na verdade, sequer estava planejando chegar tarde.

-- Papai… Desculpa não ter avisado que ia demorar.

Oscar encarou Isabel que tinha uma expressão quase que debochada. Passou a mão sobre o rosto que ganhava tons de vermelho.

-- Tudo bem filha. -- Falou se contendo. Aparentemente a tatuadora não havia contado nada demais para sua Fernanda.

Mas é claro que ela não contaria, quando teria uma oportunidade melhor do que aquela de ter a mulher que sempre sonhou para si?

Viu a irmã de sua ex-nora se aproximar a passos lentos e lhe estender a mão.

-- Prazer, meu nome é Isabel… Eu sinto muito ter preocupado o senhor, foi culpa minha que ela se distraiu do horário.

Oscar pigarreou notando o olhar da filha que provavelmente estava estranhando o comportamento irritado dele.

-- Prazer. -- Segurou a mão de Isabel. -- Obrigado por trazê-la para casa… Eu fiquei preocupado com ela sozinha na rua a essas horas.

-- Ah, não foi nada. -- Isabel encarou Fernanda. -- Se depender de mim sua filha vai estar sempre em segurança.

Fernanda sorriu abobada, não queria se iludir, mas a tatuadora era um amor.

-- Vamos pra dentro Fernanda… -- Oscar falou tocando o ombro de sua filha e empurrando-a levemente.

Sentiu muito ódio naquele momento, mas não podia fazer nada sem que Fernanda achasse muito estranho.

Mariana chegou em casa pouco depois da meia noite, Isabel ainda não havia chegado e pelo que conhecia de sua irmã não era certo de que chegaria antes do amanhecer.

Tomou um banho rápido e se dirigiu ao corredor que levava até seu quarto, entretanto, parou no meio do caminho, de frente para a porta de madeira que estava sempre fechada.

Abriu devagar pois não queria que seus pais escutassem, o quarto de Victória continuava o mesmo depois de anos, como se ela tivesse apenas saído e fosse voltar em algumas horas.

Sua mãe fez questão de proibir que mudassem qualquer coisa do lugar, as fotos, as roupas, a mochila jogada no chão, as revistas sobre o criado-mudo… Continuava tudo exatamente do jeito que foi deixado.

Sentou-se na cama, já perdera as contas de quantas vezes esteve ali depois do acidente de sua irmã. Pegou um porta retrato de quando eram pequenas, Isabel com 9 anos usava uma camiseta de banda de rock e fazia careta para a câmera, sua mãe sempre brigava com a filha mais velha por nunca sorrir nas fotos. Uma Victória de 5 anos tapava o rosto encolhida no sofá, aborrecida com o flash da câmera, enquanto ela, com 7 anos, sorria polidamente, sempre havia sido a “metida a certinha” como Isa gostava de dizer.

-- Eu sinto tanto a sua falta… -- Passou os dedos sobre a figura da menininha franzina que usava um óculos “fundo de garrafa” na época.

09 de fevereiro de 2014

O sábado havia amanhecido ensolarado, sua mãe faria um almoço para comemorar a recente aprovação de sua irmã no curso de gastronomia em uma ótima universidade da região.

Victória já estava na sala abraçada com Fernanda em um canto do sofá, as duas conversavam sobre alguma coisa em tom baixo.

-- Você ganhou na loteria hein Nanda, namorando uma futura chef de cozinha. -- Brincou com a cunhada.

Fernanda riu e ergueu o rosto para dar um beijo em sua irmã. -- Se ela não soubesse cozinhar a gente ia comer só miojo quando casasse. -- Falou fazendo um carinho no rosto de Victória.

-- Hummm já estão planejando casamento? É por isso que estão cochichando aí? -- Brincou. -- Eu quero ser madrinha. -- Ergueu as mãos para o alto. -- Pronto, falei.

-- Madrinha de que? -- Ouviu a voz de sua irmã mais velha que havia acabado de chegar.

Victória fez questão de erguer a cabeça e encará-la. -- Do meu casamento com a Fernanda. -- Falou em tom firme.

Mariana suspirou, Victória tinha um ciúme descontrolado de Fernanda, o que não tinha muita lógica, porque mesmo sabendo do descarado interesse de Isabel em si (que afinal, todo mundo sabia) Fernanda não tinha olhos para outra mulher que não fosse a sua.

-- Porque você faz isso? -- Ouviu Fernanda cochichar se referindo a alfinetada em Isabel.

-- Porque ela merece. -- Resmungou Victória.

-- Casar? Vocês duas? Vocês mal saíram da adolescência. -- Isabel riu balançando a cabeça negativamente, entretanto, por dentro se sentiu muito mal com a ideia de Fernanda se casar mesmo com sua irmã um dia.

-- Até que enfim essa menina disse alguma coisa sensata. -- Sua mãe apareceu tocando o ombro de Isabel. -- Vocês duas são muito novas, não precisam pensar nisso agora como se fosse o fim do mundo.

Mas o que Regina não sabia, era que um mês depois daquele dia, o mundo acabaria para as duas, de uma forma cruel o bastante para desestabilizar Fernanda.

A Fernanda que viu ao lado de Isabel naquela noite se parecia muito com a Fernanda antes do acidente de sua irmã, e isso foi a única coisa que acalentou seu coração.

Os anos que se seguiram desde o fatídico dia que deixou sua irmã em uma cama de hospital haviam transformado Fernanda em outra pessoa e por isso, apenas por isso, entendeu e respeitou a decisão de Oscar em apagar tudo que remetesse a Victória.

Mas Isabel era um poço de teimosia, e Mariana sabia que a aquela altura já era tarde demais, pois sua irmã havia conseguido o que tentou por tanto tempo em vão.

Os olhos da mulher que amava voltados para si.

Naquela noite Fernanda foi dormir com um sorriso no rosto, era uma romântica incurável, por isso se perguntou várias vezes antes de pegar no sono: “Seria Isabel, o amor batendo a sua porta?” Era do tipo que acreditava em histórias de amor com final feliz.

Riu de si mesma, tinha 24 anos, mas sua cabeça estava parada nos 20, o quanto havia mudado durante aquele tempo todo? Será que a Fernanda de 24 anos ainda acreditava no amor? Ou será que ela tinha tido tantas decepções que ficara amarga?

A julgar pelo desconforto de seu pai em conversar sobre o assunto tinha quase certeza de que nunca ia saber.

Porém talvez não fosse tão necessário, talvez a Fernanda de 24 anos era uma chata e sequer prestaria atenção em Isabel.

Fim do capítulo