A essa altura Silvana já sabia mais sobre minha vida, que minha mãe tinha morrido, que minha melhor amiga era a Alexia e que eu gostava de mulheres. Por isso fiquei surpresa ao dar carona para ela na primeira vez, me segurou bem apertado na cintura, suas pernas se abriram e encaixaram-se no meu quadril. Todo meu corpo vibrou com isso, já estava claro que a essa altura já tinha dado todo meu coração para Silvana e a Lavínia também. Eu as amava como se fosse minha família, mas não eram.

E tudo isso explodiu na minha cara alguns meses depois que ela começou a trabalhar na empresa. Todos os dias almoçávamos juntas, como técnica podia fazer o meu horário e lógico que tirava junto com ela.

Foi numa quarta-feira que tudo começou a mudar, estranhando o fato que já era tarde e Silvana não tinha me chamado para almoçar, fui atrás dela. Fui parar na recepção, mas a outra moça que trabalhava com ela me informou que Silvana já estava no refeitório, deveria ter desconfiado, mas não fiz, e quando a notei na mesa com Pedro, meu coração deu um salto bem errado e depois disparou dentro do peito.

Os dois estava sentado bem juntos, a mão dele de vez em quando pousava na coxa dela e Silvana deixava. E percebi enquanto me servia e me dirigia a mesa deles, que não parava de dar o seu meio sorriso e mexer nos cabelos.

Então senti algo que nunca havia sentindo nos meus 28 anos de vida, ciúmes.Mas quando me juntei a eles, parecia a própria dalai lama, calma por fora, congelando minhas expressões e ações, enquanto por dentro fervia um vulcão. Apenas disse:

- valeu por me deixar morrer de fome.

Silvana fez cara de culpada, mas antes que ela pudesse responder, o Pedro falou:

- desculpa Flor a culpa é minha. Insisti demais para Sil almoçar comigo.

- me desculpa Flower.

Ela não me chamava pelo meu nome traduzido e mesmo no meu estado de quase explosão, ainda fiquei emocionada por ela me chamar pelo nome de batismo. Burra eu sei, mas fazer o que?! Atire a primeira pedra quem nunca se apaixonou e se sentiu uma idiota.

- tudo bem.- encarei os dois e soltei - atrapalho?

Silvana respondeu rápido:

- não.

- não, tenho que entrar mais cedo, sabe como é, as maquinas não podem parar.

Ele beijou-a no rosto, muito perto da boca, totalmente inapropriado para o ambiente de trabalho se você quer saber minha opinião e foi embora. Pedro trabalha na área de produção, era moreno, alto e magro. Não era lindo, mas bonitinho e antes dele dar em cima da minha Silvana , observe como uso a droga do pronome, eu achava um cara muito gente boa. Era trabalhador, pelo que sabia solteiro. Mas claro que Silvana iria me contar muito mais dele, naquele exato momento, começou a arrasar meu coração:

- amigaaa... nem te conto.

Mas contou, disse que fazia algum tempo que os dois estavam de paquera, que no começo ela estava meio enferrujada nesse negócio de flertar, mas que Pedro tinha sido um fofo e aos poucos tinha quebrado o gelo, agora estavam na fase de esperar quem convidaria quem para sair. Eu fingi comer, fingi ser a confidente dela, fingi que aquilo não estava me matando. Falei pouco e dei força menos ainda, mas Silvana parecia bem animada e feliz.

E o inevitável aconteceu, foi no churrasco que a empresa dava para os funcionários quando atingíamos a meta. Detestava esse churrascos, mas Silvana havia pedido tanto, quase implorado que acabei indo.

Fomos de uber, porque levamos a Lavínia.

Foi em uma quadra de futebol alugada, não posso nem descrever a cara de surpresa dos meus colegas quando chegamos, fui apenas uma vez nesses eventos e se Alexia descobrisse que tinha declinado da sua festa para ir aquele churrasco, me mataria. Bom ela já andava querendo mesmo, porque como boa apaixonada, tudo o que queria era ficar perto de Silvana, e há meses havia meio que abandonado minha amiga querida.

Pois bem assim que pisamos na área externa, Pedro logo largou seu jogo e se aproximou de nós, todo suado, apenas eca. Já logo puxou conversa com Lavínia, (esperto ele, ganhado a filha para enfim pegar a mãe),mas ela estava estranhamente tímida, nos duas nos afastamos para pegar carne e bebidas. Eu porque não aguentaria a babação de ovo e Lavínia logo descobrir que por outro motivo.

Sentamos no chão mesmo, na sombra e comemos em silêncio, meus olhos correndo a todo momento para o novo "casal", até que senti-me observada:

- tudo bem Flor?

- ta sim.

- sabe, por um momento achei que você queria beijar minha mãe.

Me engasguei com o refrigerante, olhei boquiaberta para Lavínia, será que estava demonstrando o que sentia? Perguntei meio assustada:

- o que?

- a mamãe me contou que você gosta de beijar meninas, sabe não me importo.

- não se importa se eu beijar sua mãe?

Tudo bem ,aquela conversa estava bem doida, mas resolvi continuar. Lavínia comeu um pedaço de carne e pensou por um instante, depois com seus olhos cravados no meu respondeu sincera:

- acho que estranharia no começo, mas adoro você Flor, então se minha mãe também quisesse, não me importaria não.

- ah! Bom sua mãe e eu somos apenas amigas...

E pensei tristemente que se tivesse na disputa, pelo menos teria o apoio de Lavínia. Emocionada continuei:

-... também te adoro Lala.

Nos duas desviamos o olhar, não éramos de declarações. Depois de um tempo Lavínia voltou a falar:

- quero minha mãe feliz, ela não era com meu pai. E ele também não, agora os dois estão bem.

Olhei aquela criança, tão madura, gentil, com uma capacidade imensa de amar, e desejei que a mãe dela me quisesse, para ela poder ser um pouquinho minha também. E como disse, eu as amava, e amava pouca pessoas. Ela continuou me surpreendendo:

- sabe, quando mamãe me contou que você gosta de beijar menina, fiquei pensando que se também gostaria.

- e?

- não acho que queira.

- não tem problema Lala, a gente pode beijar quem quiser. Ninguém pode mandar no nosso coração.

Eu sabia bem disso.

- e verdade.

- mas?

- acho que quero beijar um menino, ai Flor ele é tão bonito e gentil. Mas parece que me vê só como amiga. A gente joga bola junto.

Larguei meu prato, e meio sem jeito abracei a Lavínia, não era do tipo que dá conselhos, mas tentei:

- sabe Lala, dê um tempo. Talvez ele comece a notar você, não fique apressada para isso.

Lavínia não disse mais nada, mas entendi porque ela estava tão calada naquela tarde, amor não correspondido. Disso infelizmente entendia bem demais. Meus olhos voltaram para Silvana e Pedro, eles estavam dançando um sertanejo daqueles melosos, ela apoiada nele, e ele com mão perigosamente perto da bunda dela. Meu sangue ferveu de novo, foi nesse momento que duas meninas chegaram perto de nós, pareciam um pouco mais velhas que Lavínia, e a chamaram para jogar futebol  na quadra agora vazia. A menina parecia mais leve depois do desabafo, logo abriu seu sorriso caraterístico e se juntou a coleguinhas.

Fiquei remoendo mais um pouco o ciúmes, Silvana em nenhum momento me procurou, me chamou para aquela bosta e me largou só. A raiva cresceu e quando vi estava mandando mensagem para a Alexia, pedindo que ela me buscasse, não iria perder meu sábado ali, vendo o grande romance nascer. Iria para a festa da minha amiga. Ela não me perguntou o porquê pela mensagem, mas sabia que seria sabatinada assim que entrasse no seu carro. Meia hora depois , ela me avisou que estava no portão , pensei seriamente em apenas ir embora, mas não fiz. Chamei Lavínia e me despedi dela, que ficou surpresa, mas não disse nada, o que foi diferente da sua mãe. Consegui desgrudar Silvana de Pedro e avisei:

- to indo.

- o que? Porque?

- minha amiga vai dar uma festa hoje e veio me buscar.

Silvana me encarou por um longo tempo, não sei o que ela queria investigar, talvez achando que mentia. Mas o caso e que não veria nada, mesmo que assim fosse.

- tudo bem. A gente se vê amanhã?

- claro.

No carro Alexia me encarou por um longo momento, ela era a única pessoa que poderia me ler. Ela não estava montada, mas desde que começou com os shows, nunca mais voltou a ser Alex. Tinha o cabelo platinado e comprido, que era dela mesmo, suas roupas era sempre decotadas e mostrava seus novos seios. Eu a achava linda. Ela ligou o carro e perguntou na lata:

- quem é a mulher que te deixou assim?

Não tinha falado de Silvana, tentei ganhar tempo:

- não sei do que você está falando.

- primeiro disse que viria ao churrasco, e faltaria a minha festa! E agora está com essa cara de cu. Alguma merd* aconteceu, anda logo Flor, não adianta esconder. Te conheço bebê.

Não adiantava mesmo, então contei. Para seu crédito, ela não ficou muito puta, mas me deu todos os conselhos que não deveria me apaixonar por uma mulher hétero, que tinha muitas mulheres me querendo.

Não tinha tanta mulher assim me querendo, exagero de Alexia, mas eu realmente não precisava me esforçar muito. Acho que minha altura, meu corpo magro, meu ar de mistério, meus olhos cinzas facilitava as coisas. É claro que tinha meu narigão, mas Alexia me dizia que combinava perfeitamente com meu rosto, bom teria que acreditar nela. Não que ficasse com muitas, era bem santa para dizer a verdade. Namorada mesmo só tinha tido 2  e alguns casos, nunca fui de ficar por ficar. Eu gostava mesmo e de conhecer, me encantar e depois quem sabe algo mais.

Mas naquela noite quebrei minhas próprias regras, bebi muito, dancei muito, e com Alexia me incentivando, ela não tinha problema com casos de uma noite apenas, acabei ficando com Regina.

Ela era bonitinha, do tipo fadinha, baixinha e bem magrinha, quase não tinha seios, mas não me ligava na embalagem e sim no que a pessoa me passava, e Regina era doce, alegre e muito inteligente. E fazia tanto tempo que ninguém me tocava ou tocava alguém, que não resisti.

Confesso que quando ela me levou para casa dela e trans*mos, só pensava em Silvana. Quando acordei de manhã, me sentia culpada, então a acordei e quando trans*mos novamente tentei a todo custo tentar tirar Silvana da equação. Quase consegui.

Fim do capítulo