Capítulo único
Seu dia estava agitado, Marcelle precisava atravessar a cidade para mostrar uma casa ao último cliente do dia. O trânsito da capital estava lhe enlouquecendo. Havia alguns meses que estava planejando mudar-se dali, estava cansada de toda aquela correria.
Olhou para o céu e percebeu que a chuva anunciada, não demoraria a cair. Pediu aos céus que lhe ajudasse a chegar ao seu destino, antes dela cair. Meia hora depois e nada de conseguir chegar.
– Droga – bateu no volante.
Estava perdida e a chuva já dava pequenos sinais. Mexeu na bolsa a procura do endereço. Se deu conta que a agenda tinha ficado no escritório, a casa não seria difícil encontrar, por sorte lembrava onde ficava o bairro. O problema agora, era saber quem encontraria, afinal, o nome da pessoa também estava anotado na agenda.
Parou no sinal e se distraiu por alguns segundos, com o vidro embaçado não prestou a devida atenção no cruzamento que parou, sem perceber, fora atingida em cheio. Sentiu o carro rodar e imediatamente perdeu o controle dele. Tentou com todas as forças manter as mãos firmes no volante, não conseguiu, sua testa bateu no mesmo e apagou por alguns minutos.
Algumas pessoas foram se aglomerando no local. O carro estava com a frente e o para-brisa destruídos.
Brenda seguia seu caminho cantarolando uma música da Ana Carolina, percebeu um pequeno tumulto logo a frente, tinha por experiência que dias chuvosos eram mais propícios a acidentes no trânsito. Estava acostumada a situações daquele tipo, era médica emergencista, trabalhava no Hospital Geral do município.
O corretor que lhe desculpasse, mas, ia se atrasar. Saiu do carro colocando o capuz do casaco sobre a cabeça. Quando se aproximou da multidão ouviu alguém dizer:
– Não se mexa, você está sangrando. Já ligamos para SAMU, eles estão a caminho.
A moça dizia coisas desconexas com a mão na testa.
– Preciso, eu... vou. Tenho.
Se aproximou dizendo que era médica e pediu para que se afastassem. Por alguns segundos seus olhares se cruzaram e ela buscou na mente lembranças de onde a conhecia. Não podia perder tempo, a mulher a sua frente não estava bem, seu braço sangrava e a mão que mantinha na testa também. Precisava manter a moça quieta para que não se machucasse mais.
– Moça – chamou enquanto se aproximava. – A senhora precisa se acalmar, sofreu um acidente e a cada movimento pode se machucar mais.
– Eu... – olhou para a mão ensanguentada – preciso...
Brenda viu a cabeça dela pender para frente e a voz falhar, a adrenalina estava diminuindo e ela ia desmaiar. Não pensou duas vezes ao encostar na mulher a sua frente a amparando de forma ágil.
– Ela morreu – anunciou um curioso que estava ali.
Brenda que olhava a extensão do corte da moça, agora “em seus braços”, a ajeitou habilidosamente no banco, dizendo:
– Ela está viva, apenas desmaiou. Abram caminho para os socorristas – apontou na direção de dois rapazes com uma maca.
A equipe que tinha chegado ao local era do mesmo hospital em que Brenda trabalhava. Iniciaram os primeiros socorros ali e seguiram para lá.
A médica esqueceu completamente do seu compromisso, foi em seu carro para o hospital, estava preocupada com aquela estranha. Depois de saber como ela estava foi para casa. Ligou algumas vezes para o corretor, mas, ele não atendeu. Ligaria depois para remarcar a visita.
Marcelle saiu do hospital um dia depois, ia passar uma semana de “molho” em casa. Pensou em ir para a casa dos pais no interior, mas precisava resolver o “problema” do carro.
Depois de um banho relaxante olhou o curativo na testa, havia levado cinco pontos ali e estava com o braço imobilizado, além de ter alguns arranhões pelo rosto. Lembrava de muito pouco do ocorrido, sorte que no hospital lhe informaram o que tinha acontecido.
*****
Os dias passaram e devido a agitação no hospital, Brenda só conseguiu remarcar a visita para duas semanas depois. Estava exausta e largando um plantão extenso. Entrou no táxi e cochilou, sua mente a levou para aquele acidente de semanas atrás, aquela moça não saia dos seus pensamentos, volta e meia sonhava com ela. Abriu os olhos quando o motorista avisou que tinham chegado.
Na frente da casa encontrou uma moça de costas:
– Boa tarde. Marquei horário com um corretor, saberia me dizer...
As palavras morreram em seus lábios quando a moça se virou sorrindo. Encontrou seus olhos e se sentiu invadida por aquele par de esmeraldas brilhantes.
Marcelle, com o braço ainda imobilizado disse sorrindo ao estender a mão:
– Prazer, Marcelle.
– Brenda.
– Podemos iniciar a “visita”?
– Visita? – se distraiu olhando a outra que não parou de sorrir – Ah, sim. Vamos.
Terminaram a “visita” e Brenda estava hipnotizada, não pela casa. Mas pela bela mulata que a encantava a cada palavra. Marcelle percebendo o silêncio da outra, disse displicente:
– Obrigada pela ajuda!
Brenda sem entender balançou a cabeça e a olhou inquieta. A corretora sorrindo continuou:
– Dra. Brenda Monteiro. Esteve comigo no dia em que ganhei esse presentinho – apontou para o braço.
A médica abriu a boca algumas vezes sem conseguir dizer nada. Como Marcelle sabia quem era ela? A essa altura seu coração já batia descompassado.
Ao contrário de Brenda, Marcelle tinha feito a sua “lição de casa” e sabia que a mulher a sua frente, além de linda e simpática, estava solteira. E nada a impedia de fazer o que fez a seguir, mesmo que levasse um fora depois.
Deu alguns passos na direção da outra e a beijou com vontade. Inicialmente Brenda congelou, segundos depois seguiu o bailando que Marcelle fazia com sua língua, pedindo passagem em sua boca. O beijo que tinha iniciado de forma lenta ganhou mãos, desejo e paixão.
Afastaram-se quando o ar faltou. Marcelle acariciou o rosto de Brenda, que levou a mão da corretora aos lábios perguntando:
– Onde esteve antes que nunca te encontrei?
Marcelle enlaçou seu pescoço ao responder:
– Por aí, a sua procura.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
RosanePatell
Em: 21/05/2018
Ótimo! Viva o amor!
Resposta do autor:
Oiie, Rosane!
E que sempre prevaleça o amor.
Obrigada, bjs.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]