Capítulo 7 - O corpo
Deram pela falta de Berg ainda no mesmo dia de sua morte, mas como o tio sabia que ele era rebelde e inconstante, não imaginaram que algo ruim teria acontecido. Esperaram o rapaz voltar, mas não foi o que aconteceu. Três dias depois, fizeram um B.O na delegacia por desaparecimento e foi quando começaram as buscas.
Lívia não demorou a organizar uma equipe e sair pela cidade a procura, estava estranhamente animada e apreensiva. Durante isso, Lara ficou na delegacia, organizando dezenas de arquivos antigos e dizendo as pessoas que procuravam saber se já tinham o encontrado, que as buscas ainda estavam sendo feitas, nisso, descobrindo uma mentirosa argilosa que nunca imaginou que pudesse existir dentro dela, não sentia remoço ou culpa e isso quase á preocupava, só se sentia tentada a contar onde o corpo dele estava, quando Lívia chegava cansada de mais uma busca incensante. Vê-la esgotada por algo no qual podia ajudar incomodava Lara em um nível incompreensível, mas não podia se deixar levar pelos sentimentos que aquela mulher a fazia sentir, tinha que se manter firme, fria e calculista, até tudo acabar.
Haviam descartado a possibilidade dele ter fugido, pois as roupas e os pertences pessoais tinham permanecido na casa do tio, onde ele morava. Todos estavam pressentindo o pior, passaram pela trilha oculta de terra onde Lara e Berg tinham se visto pela ultima vez e encontraram o corpo moribundo sendo devorado aos poucos por insetos e vermes, caído no chão de terra, ainda molhado, pois a chuva havia cessado poucas vezes desde o fatídico dia em que Lara havia se tornado uma assassina.
Eram quase oito da noite, mais policiais foram chamados ate o local e o tio de Guttenberg tinha sido chamado para reconhecer o corpo. Cheio de marra, tentando segurar o choro, confirmou ser o sobrinho. O clima era tenso e sufocantemente triste.
Por uma rápida observação se podia constatar um provável suicídio, mas a Delegada não acreditou nisso facilmente.
- Levem o corpo ao necrotério, eu quero que me tragam o relatório completo, se tem marcas no corpo dele, indícios de que ele resistiu, se estava sobre o efeito de álcool ou drogas. -Ordenava Lívia para um dos policiais enquanto revistava o carro de Berg estacionado e aberto do outro lado da estrada estreita.
-Mas senhora, mesmo que tudo indique suicídio? - O rapaz tentou retrucar, a morena se virou e olhou de cima para o rapaz baixo e fardado.
-Seriamos muito ingênuos se acreditássemos em suicídio assim tão facilmente,não acha?
-Sim, senhora.
-Delegada, Lívia, - chamou o policial Messias se aproximando, acompanhado de um dos oficias da pericia que segurava um saquinho plástico com a arma do crime. - Descobrimos uma coisa.
-Então diga, homem.- Dizia Lívia quase impaciente, estava extremamente cansada e após encontrar o corpo naquela situação, sentia que sua cabeça estava a ponto de explodir!
-A arma que foi usada era uma das armas da delegacia, senhora.
-Como assim? Como ele pode ter acesso?
-A cinco dias atrás...- ele deu um pigarro nervoso, sabia que tinha sido irresponsável e tinha medo da reação da delegada. - Ele passou na delegacia logo pela manhã, antes da sua chegada e disse que tinha que pegar uma jaqueta da senhorita Lara, que estava na sala de vocês. Os outros não deixaram ele entrar, mas como eu o conhecia da sorveteria achava que não teria problema, permiti que entrasse e o esperei do lado de fora. Foi rápido...
-Rápido o suficiente para roubar uma arma do armário que sempre está fechado! -Ela se exaltou. - A quanto tempo você está na policia? A 5 anos? Não é tempo suficiente para parar de ser irresponsável? Todos vocês?
-Mas Lívia...
-Nada de Lívia. Você mesmo viu a Lara antes de eu chegar,mela estava de jaqueta e não tinha jaqueta nenhuma quando eu cheguei lá. Vocês todos foram enganados por um garoto!
-Eu não podia imaginar que o armário estava destrancado!
-E não estava! - Ela se esforçou para pensar melhor. - Naquele dia, eu e Lara percebemos que o cadeado estava emperrado, não fechava totalmente,foi quando trocamos, mas nem se quer imaginamos a possibilidade de alguém ter o quebrado! - Ela respirou fundo. - Quantos policiais haviam na delegacia quando ele entrou?
-No minimo três ou quatro. - Respondia o homem de cabeça baixa.
Ela tomou a maior quantidade de fôlego que podia e tentou manter o foco:
-Encontraram mais alguma coisa com ele?
-Não, só os documentos e uma quantia em dinheiro.
-O celular?
-Não foi encontrado.
-Quero que amanha façam uma nova busca, a procura de pistas.
-Sim, senhora.
Os homens a deixaram sozinha. Ela estava exausta. Sentia sua cabeça latejar.
Alguns minutos depois o carro do cadáver já havia sido retirado do local, toda a estrada estava sendo interditada como local de crime e ela terminava de conversar com uns policiais quando seu telefone tocou.
Era a Lara.
-Oi, Lara, está tudo bem?
-Eu que pergunto Lívia... O que aconteceu? Encontraram alguma coisa?
-Sim... O corpo de Guttenberg foi encontrado, um pouco longe da cidade, numa dessas trilhas escondidas pelas qual você gosta de passar. - A loira ouvia atentamente do outro lado da linha. - Ele ao que tudo indica roubou uma das nossas armas a cinco dias atras para praticar o crime e aparentemente, teria se matado com um tiro certeiro na cabeça.
-Nossa... - Lara ensaiava seu tom de surpresa. - Eu não acredito que ele fez isso...Ele era estranho, mas, suicídio?
-É... O corpo já foi para o necrotério, vão realizar a pericia e os meus homens vão continuar procurando pistas.
-Mas você não acredita em suicídio?
-Uma parte de mim sim, mas a outra parte, a parte teimosa, diz que vai bem além disso.
Lara fez silêncio, sabia que estava lidando com uma mulher inteligente e isso ao invez de assusta-la, a deixava orgulhosa.
-Você vai descobrir exatamente o que aconteceu se pensa que não foi só isso... -A loira confortava a morena, por mais que parecesse contrario.
-Assim eu espero.
-Como você está?
-Eu estou péssima! Cansada, com dor de cabeça. Exausta para falar a verdade. Eu só preciso de um pouco de paz, em casa... - A morena pensou um pouco e fez uma careta. - Merda!
-O que foi?
-Quando eu chegar em casa, vou dar de cara com o Murilo, com aquele clima chato e do jeito que eu estou com sorte, é capaz dele querer discutir a relação!
-Isso não é problema... Eu tenho uma casa enorme... Posso te abrigar lá sem problema. Vai até ficar menos vazia...
-Eu não vou ser um estorvo para você? - Se preocupava a delegada. No fundo estava feliz por Lara ter feito esse pedido. Realmente precisava de paz e por mais estranho que fosse, Lara era a paz que ela procurava.
-Você nunca é um estorvo... Vai ser ótimo, eu compro até pizza ou se preferir cozinho algo para nós duas.
-Sei que você também está cansada, então vamos ficar com a pizza, pode ser?
-Você quem manda, delegada!
-Eu chego ai em 30 minutos.
-Ok, até logo.
-Até logo,Lara...
Lívia guardou o celular no bolso, mas ainda tinha a voz de Lara ecoando em seus ouvidos. Nunca pensara que alguém fosse capaz de passar uma paz tão grande mesmo sem que aquele fosse o objetivo. Aquela menina loira, com os olhos azuis mais lindos vistos por Lívia, tinha sem sombra de dúvidas ganhado um posto especial na vida da Delegada. Não conseguia imaginar algo que não envolvesse a garota e ela não sabia, mas isso seria a sua ruína... Ou talvez não.
Fim do capítulo
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