CapÃtulo 31 - Depressão
Depressão
Estou descendo as escadarias da grande casa da fazenda. Sei que vovó Catherine não gostou muito da ideia de que eu iria embora. Mas essa era a minha decisão. Nunca gostei de despedidas. Acho absurdo ter que dizer adeus. Mas esse era apenas um até logo. Papai estava no topo da escada. Seus olhos escuros fixos em mim. Mas eu não lhe dei importância. Ele deixou de significar em minha vida há muito tempo. Dr. Gustavo tentou falar comigo por diversas vezes. Mas todas elas foram uma verdadeira catástrofe. Eu não conseguia olha-lo sem sentir uma magoa profunda. Então passei a ignora-lo. Como ele sempre fez comigo. Até que não era tão difícil.
Samantha estava passando por um momento difícil. Sei o quanto ela idolatrava o pai. Essa dor era tudo o que eu tentei evitar. Mas descobrir que cada um precisa enfrentar seus próprios dilúvios. Olho em volta, sentirei saudade todos os dias. Rodrigo ainda não aceitava muito bem a minha partida. Hoje logo pela manhã ele apenas saiu sem dizer para onde iria. Eu até que o entendo. Vovó Rúbia já me esperava acomodada no banco de trás do carro. Vovó Catherine estava sentada ao lado de vovô Bernardo. Eles nos levariam.
Olho uma última vez para a casa que sempre foi o meu lar. Dou um suspiro, estou realmente indo embora. Um barulho chama a minha atenção. Viro-me, e vejo o carro de Rodrigo se aproximando. Um sorriso involuntário escapa de meus lábios. Poderei finalmente me despedi de meu irmão de alma. Espero o carro estacionar ao lado da caminhonete vermelha de vovô. Três pessoas saem do carro do rapaz de olhos acinzentados. Priscila, Samantha e ele. Meu coração acelera desesperadamente quando os olhos amarelados se encontram com os meus. “O que essa garota está fazer aqui?” Penso angustiada.
-Não acredito que iria embora sem se despedi?! - Priscila me acusa se aproximando em passos lentos.
-Você que não atende as minhas ligações desde o dia em que lhe falei de minha partida. - Reclamo sentida pela ausência de minha melhor amiga nos últimos dias.
-Desculpe. - A morena diz envergonhada. A garota para a minha frente. Seus olhos verdes já estavam cheios de lágrimas. –Não acredito que está fazendo realmente isso.
-Eu preciso. - Digo em voz baixa. Pri se joga em meu pescoço em um abraço apertado.
-Não se atreva a me esquecer. - A garota me intimar. –E não se atreva a me trocar por uma daquelas americanas sem graça.
-Eu não farei isso. - Digo apertando-a em meu abraço. –O que ela faz aqui? – Pergunto baixinho ao seu ouvido.
-Ela é a nossa última esperança de fazê-la ficar. - Priscila sussurra. –Foi ideia de seu primo.
-Não deveriam ter feito isso. - Falo sentida. A garota de olhos verdes se afasta.
-Sinto muito. - Seus olhos claros estão calmos. –Mas não acho que ir embora seja uma boa ideia. Aqui é a sua casa. Tudo o que conhece e ama estar aqui. Eu não entendo por que precisa fugir. Não há mais nada para...
-Não estou fugindo. - Olho-a com atenção. –Estou apenas recomeçando em outro lugar. Acho que mereço ao menos isso. Preciso respirar sem que eles... – Meus olhos caem em Samantha parada inquieta logo atrás de Priscila. E logo depois olho para Dr. Gustavo que continuava com as mãos nos bolsos da frente de sua calça social no topo da escada. –Me sufoquem com um tipo de amor que só machuca. Um tipo de amor que me reduza a pequenos pedaços cortantes. - Seguro a minha mão esquerda com a direita. Ela continua enfaixada. Não por precisar, apenas é assustador olhar para as cicatrizes que ficaram. –Não consigo mais perder. - Os olhos atentos acompanham o meu gesto com compaixão.
A garota a minha frente apenas me dar outro abraço forte e se afasta. Meu Primo reproduz o mesmo gesto da namorada, ele se aproxima calmamente. Ele me acomoda entre os seus braços e logo depois me ergue do chão. Ele não diz nada, apenas fica ali comigo entre seus braços por tanto tempo. Conversamos bastante sobre esse assunto nos últimos dias. Rodrigo tentou de todas as formas me convencer a mudar de ideia. Mas foi inútil.
-Você não deveria ter feito isso. - Digo baixinho em seu ouvido. O rapaz loiro apenas gargalha.
-Por quê? Está com medo de desistir dessa sua ideia estupida?
-Não! - Minha voz sai firme. –Estou com medo de machuca-la. Por que por mais que ela o tenha feito comigo. Eu não consigo aceitar que eu possa fazer o mesmo. Não posso aceitar machucar alguém que eu amor. - Minha voz sai confusa e assustada. –Mesmo que ela mereça, eu só não consigo odiá-la o bastante. Não consigo bater profundamente.
Rodrigo se afasta com os olhos assustados. Ele me olha em um silêncio sufocante. Então ele finalmente entendeu.
-Eu... eu... sinto muito, Liz. - Ele diz confuso. Rodrigo se aproxima e beija o topo de minha cabeça. Fecho os meus olhos com esse ato. –Eu deveria saber. Eu... eu só tive medo de te perder. Eu apenas fui egoísta. - Ele diz e se afasta.
Não olho novamente para onde Samantha está. Respiro fundo. E em passos lentos me aproximo do carro de vovô que apenas observava tudo com paciência. Mas antes que eu possa entrar, sinto as suas mãos sobre mim. Eu conhecia tão bem aquele toque. Eu não queria olha-la. Não queria que esse momento acontecesse. Ela não tinha esse direito. Mas lá estava ela, invadindo o meu mundo.
Samantha me puxa para os seus braços me protegendo entre eles. A garota de olhos amarelados chorava baixinho. Isso partia o meu coração. Mas chegou o momento de dizer adeus. Chegou o momento de me deixar partir. Ela me devia isso. Sam segura o meu rosto entre as suas mãos, ela o ergue. A garota estava tremula e assim como eu, assustada. Então os seus olhos amarelados atingem os meus. E eu não sinto mais aquela sensação de borboletas no estomago. Isso era assustador. Ela se aproxima e seus lábios tocam os meus com urgência. Mas já não existe aquela magia. Permito que ela aprofunde. Mas não demora para que se afaste assustada.
-Não... Liz... - Ela reclama chorosa. –Não! - Samantha dar alguns passos para trás.
-Adeus Samantha. - Olho-a por uma última vez. E entro no carro. Fecho a porta e abaixo a cabeça. Deixando as minhas lágrimas caírem. Nenhuma das pessoas que estavam no carro se atreveu a dizer uma palavra.
É quando sinto um baque forte no vidro ao meu lado. Meus olhos vão assustados. E lá estava ela. Implorando que eu fique.
-Liz! - Samantha gritava batendo desesperada no vidro do carro. –Por favor, meu amor. - Sua voz rouca atingiu a minha alma. –Por favor... só não faz isso... eu ... eu sinto muito. - Seus olhos me imploravam. Mas eu não podia. Eu não estava pronta para ficar. -Liz, fica por favor. Eu prometo me redimir meu amor. Só... só não faz isso.
-Liz... - Vovô Bernardo me chama em um fio.
-Por favor, vovô. - Digo desviando os meus olhos da garota na janela. Vovô liga o carro. De canto de olho posso ver Rodrigo se aproximar rapidamente e puxar a garota de olhos amarelados para um abraço. Como se com aquele ato pudesse protegê-la.
-Liz! - Samantha continuava me chamando. –Por favor, meu amor...
Estou sentada em meu recamier, olhando pela janela. Sempre acordo assustada após ter os mesmos pesadelos consecutivos. Isso vem acontecendo desde a primeira noite que chequei em Nova York há exatamente um mês atrás. Samantha me implora para ficar em todos eles, mas eu apenas vou embora sem olhar pra trás uma única vez. Vovó Rúbia está preocupada, não que eu faça de proposito. Mas é como se tudo o que era bom tivesse diluído. Às vezes eu acordava chorando, e passava o restante do dia assim. Algumas vezes eu apenas mergulhava no silêncio. Em meu mundinho composto de caos e ruina.
Era tão difícil respirar aquele ar danificado. Saber que deixei Sam pra trás me tornava uma covarde. Mas eu tenho plena certeza que não teria forças para lutar. Não quando ainda existem as marcas que ela deixou dentro de mim. Não que o meu amor por ela tenha diminuído. Apenas não sei como cura-lo. Não sei como arrancar aqueles pedaços de velhice. Por que sinto que meu amor esteja assim, velho demais para resistir.
Às vezes converso com as pessoas que deixei no Brasil. Vovó Catherine sempre reclama pela minha demora em lhe contata. Vovô Bernardo disse alguns dias atrás que chegaram alguns novos cavalos Anglo-Árabes. Mas eu não me importava mais, não após a morte de Júpiter. Esse meu fascínio por esse tipo de animal se esvaiu como tudo o que era bom em mim.
Rodrigo assim como Priscila tentavam ao máximo não comentar sobre Samantha, mas sempre deixavam alguma coisa escapar. E quando isso acontecia, eu era atingida com brutalidade por uma saudade que jamais diminuía. Fiquei sabendo que ela estava em depressão. E isso me feria com tanta profundidade. Será que esse amor nunca diminuiria?! Será que terei que lembrar de seus olhos cada vez que fecho os meus?! Será que terei que sentir essa dor para sempre?! Por que por mais que eu a ame, eu não consigo perdoa-la. Não consigo esquecer que ela me traiu. Não consigo acalmar essa magoa por tudo o que ela causou em meu mundo.
Dr. Gustavo tentou entrar em contato comigo algumas vezes. Mas em nenhuma delas eu aceitei falar com ele. Eu o esqueci no momento em que entrei no carro e fui em direção ao aeroporto. Pra ser sincera, eu o esqueci no momento em que acordei do coma no hospital. No exato momento em que descobrir o estrago que ele causou em minha alma. Ele, assim como Samantha souberam perfeitamente como me reduzir. Sam destruiu meu coração. Dr. Gustavo destruiu o meu elo mais precioso.
Minha mão continua incomodando. Ela dói mais do que deveria. Semana passada fui parar no hospital. As dores estavam cada vez piores. Isso era tão assustador. Eu não suportava olha-la sem que o ar me faltasse.
-Você precisa comer! - A senhora de olhos acinzentados reclama pela centésima vez ao descobrir que eu não estava me alimentando direito. Olho de rab* de olho para Lúcia. A senhora de expressão calma fingi que não é com ela.
Lúcia trabalha para vovó desde que me entendo por gente. Ela é uma senhora de aproximadamente quarenta anos. Brasileira, mas especificamente da Bahia. Lúcia é uma negra dos olhos castanhos expressivos, sorriso fácil e de uma alegria que contagiava. Eu sempre a adorei, mas ultimamente queria que ela me deixasse um pouquinho em paz. Ela parecia a minha sombra. Sei que ela, assim como vovó estava preocupada com meu estado de inercia. Mas eu não conseguia fugir dele.
-Não estou com fome. - Digo fazendo uma careta.
-Como assim não está com fome?! - Vovó faz cara de desagrado colocando as mãos na cintura.
-Não estando.
-Lizandra! - Vovó me repreende.
-Desculpe. - Falo sem animo. –Só não estou com fome.
-Você sempre está sem fome, menina. - Lúcia me acusa. –Daqui a pouco está caindo pelos cantos, ai eu quero ver. - A senhora de olhos castanhos diz fazendo bico. –Você nunca dispensou a minha comida. - Reclama contrariada.
-Não é sua comida, Lú. - Digo baixinho. –Só não consigo.
As duas mulheres mais velhas trocam um olhar cúmplice. Vovó dar um suspiro desanimada. Se aproxima do sofá, se abaixa beijando a minha cabeça. Sei que preciso me alimentar, mas não consigo. Às vezes é difícil até mesmo sair de minha cama quando acordo. É difícil abrir os olhos todas as manhãs. É difícil respirar.
Fim do capítulo
Meninas o momento Flashback vai demorar mais um pouquinho. Rsrsrs... Ao menos uns 13 capítulos a partir desse e contando. Ao menos foi o que conseguir adiantar da história. Se eu não mudar nada daqui até lá. Então... Continuaremos no passado! Hahahha...
Beijos e bom dia!
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SPINDOLA
Em: 17/05/2018
Bom dia, Luah
Voltei.
Sinceramente relendo os dois primeiros capitulos, cheguei a conclusão que a Liz é uma pessoa fria sim e muito ruim de coração, em não perdoar a Sam em 10 anos, afinal ela não voltou para o país dela neste tempo.
Afinal sejamos sinceros, qual a porcentagem de casais que confiam cegamente em seus parceiros, não duvidam deles e aceitem pacientemente que o parceiro guarde segredos que podem afetar o seu relacionamento. A Sam queria assumir a Liz e ela adiando, ela tinha fortes motivos para isso sim, mas a coitada da Sam não sabia, deu no que deu. A Sam errou com a Liz, traiu, mas se coloquem no lugar dela, você ama demais uma pessoa que não te assume e fica sabendo, mesmo que seja mentira,que ela ficou com outra pessoa que vive na companhia dela, quem não surta.
Enfim, a Liz foi muito cruel e dura com a Sam nestes 10 anos de distancia, não a perdoando. Só pensa nela com rancor, e o amor que dizia sentir, tem 25 anos e age como adolescente ainda. Em relação ao pai eu até entendo, mas com a Sam não consigo aceitar as atitudes da Liz.
A Sam deveria sofrer pela traição, mas não 10 anos. CRUEL DEMAIS.
Curiosa do que aconteceu com a Sam nestes 10 anos de ausencia da Liz, você bem que poderia contar um pouquinho para nós leitoras ansiosas.
bjs
Resposta do autor:
Boa tarde!
Hum... Uma defensora de Sam. Rsrsrs...
Ok. Vamos lá.
Esse é o primeiro amor de Lizandra. E ela ainda é uma adolescente, tudo sempre é mais intenso. Sei que não justifica, mas ela precisou carregar os segredos de outras pessoas. E para alguém de sua idade isso é sufocante. E tudo o que ela queria de Sam é que ela apenas confiasse e esperasse o seu tempo. Mas então entra a questão. Ela sempre foi clara com Samantha sobre os seus sentimentos. E sempre lhe falou que se alguma coisa a incomodasse que conversasse com ela. Mas Sam não fez isso. Preferiu se ariscar acreditando em outra pessoa colocando o seu relacionamento em xeque.
Sim, dez anos é muito tempo para ficar distante. Mas esse é o seu tempo. E acho que Liz passou por coisas o suficiente para isso. Eu nem mesmo voltaria. Rsrsrs...
Então não acho que ela seja uma pessoa fria e com o coração ruim. Apenas acho que ela seja um ser humano que se machucou demais por um amor que só soube lhe destruir pedaço a pedaço. Um sentimento que lhe tirou tudo. Então ela tem sim todo o direito de se resguardar até que esteja preparada para voltar.
E em relação a Sam, como já lhe disse fico te devendo. Rsrsrs...
bjus...
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Caranguejeira
Em: 16/05/2018
To com pena da sam..coitada..
A liz foi muito egoista e dramatica..nao precisava de tudo isso..ta ate precisava ir embora..mas continua a distância cm a Sam..poxa
Resposta do autor:
A Liz sempre se afasta quando algo a machuca. E Sam fez exatamente isso. Ela a machucou profundamente.
Então veremos como tudo isso vai acabar. Rsrsr...
Bjus...
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SPINDOLA
Em: 16/05/2018
Boa tarde, autora.
Apesar da Sam ter errado feio com a Liz, confesso que fiquei com pena dela. Estou curiosa autora, além da depressão, como está a Sam, você bem que podia falar um pouco dela também como está fazendo com a Liz, por favor mata um pouco da minha curiosidade rsrssrsr
Estava relendo os dois primeros capítulos e cheguei a uma conclusão que, de que adiantou a Liz ter ido embora, ou segundo seus avós e amigos "ter fugido", passou 10 anos e ela continuou com os mesmos sentimentos conflitantes de quando foi embora. Dez anos é muito tempo, era pra ter se tornando uma pessoa mais forte, sem medo de voltar para o país, de ficar cara a cara com o pai e a Sam. Se alguém bater o pé mais forte perto dela é capaz de sair correndo rsrsrssr.
Por favor autora acaba com minha ansiedade, fale um pouco sobre a Sam. Uma história sensasional desta deveria ter capítulo todos os dias. Ahhhhhh como seria bom!!!!!!
Bjs
Resposta do autor:
Bom dia!
Sinto muito. Mas vou ficar te devendo essa. Rsrsr...
Estou escrevendo em primeira pessoa. Então só saberemos tudo através da Liz. E em relação aos dez anos que ela passou longe podem ter acontecido algumas coisas que a impediram de voltar. Fica a dica. Rsrsrs...
Veremos se ela sai correndo quando estiver frente a frente com Sam e o pai. Ai saberemos se valei a pena ter ido para longe e ficando tanto tempo sem as pessoas que ela ama. Vamos ver se valei a pena ter deixado tudo para trás por um período tão longo. E quanto ela mudou com isso.
E fico muitíssimo honrada pelo sensacional. Essa é a minha primeira estória. Então...
Bjus...
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patty-321
Em: 16/05/2018
Poxa. Que situação, foi impossivel nao chorar com do das duas. Sam errou e tá pagando pelo erro. Toa jovens e é tudo tao intenso nesse período. As duas deprimidas. Triste. Creio que elas irao superar bravamente, mas terão qie passar pelo proceso. Bjs
Resposta do autor:
Disse tudo.
Ah, a intensidade da adolescência. Quantos erros não cometemos nesse período de autoconhecimento?! Quantos corações não partimos ou quantas vezes não partiram o nosso?!
E então descobrimos que morreríamos por isso. Rsrsrs... Ao menos uma parte.
Bjus...
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preguicella
Em: 16/05/2018
Que agoniaaaa! Quanto sofrimento! Chego a estar com pena de Sam!
Infelizmente a vida é assim, altos, baixos, depressão, superação! Vamos ver o que vai vir por aí!
Bjão
Resposta do autor:
Muito drama. Rsrsr...
Amo
bjus...
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