Espero que gostem :)
Capítulo 19
No dia seguinte, na sala de aula, fingi que estava tudo bem. Não ia demonstrar para quem quer que fosse que estivesse mandando os DVDs que isso estava me fazendo mal.
Kimi chegou e uns minutos depois Caio adentrou a sala.
— Preciso falar com vocês dois. – Falei baixo. Percebi que Flávio não estava na sala.
— É sobre a ajuda da filmagem? – Kimi perguntou e eu concordei.
— Antes de você contar... O que houve no seu pescoço? – Caio perguntou. — Parece que tentou se enforcar.
— Na verdade, tentaram me enforcar.
— É assim que vocês fazem? Você sabe... sex*? Não sabia que a Lígia gostava disso. – Caio perguntou sem graça.
— Não foi isso. – Fiz uma careta. — O marido da Lígia tentou me enforcar no sofá lá de casa.
— Você também está pegando ele? – Caio tornou a perguntar mais sem graça ainda.
— Não Caio. Ele tentou me matar mesmo. – Caio e Kimi fizeram uma cara assustada.
— E é por isso que eu quero que me ajudem com uma coisa, amanhã. É muito importante, eu preciso descobrir isso e preciso de vocês dois.
Contei aos dois sobre ontem e sobre o que queria que eles fizessem. Os dois aceitaram.
O dia transcorreu super bem, não vi o Júlio em lugar nenhum. Lígia estava enrolada durante a tarde com os papéis do divórcio, mas a noite a visitei e namoramos um pouco na casa dela, já que lá teríamos mais privacidade do que no meu quarto.
— Então é amanhã? – Lígia perguntou se referindo ao plano.
— Sim. Você falou com ela? – Perguntei.
— Sim, ela vai estar lá. Concordou em fazer isso.
— Ok. E depois? Se provarmos que foi o Flávio, ele será preso?
— Eu vou fazer o possível para que ele arque com as consequências, não se preocupe. – Lígia sorriu.
— Eu não me preocupo, ele é que tem que se preocupar.
No dia seguinte, não apareci na primeira aula. Cheguei na faculdade perto do horário do intervalo e me encaminhei para o banheiro. Uns minutos depois Lígia apareceu com uma mulher ao seu lado.
— Alex, essa é a Jaqueline. Uma amiga minha de longa data e policial. – Nos cumprimentamos. — Pode mandar a mensagem para o Caio agora.
Mandei a mensagem para o Caio e esperei a resposta positiva. Agora era só esperar.
O horário do intervalo chegou e ficamos lá, esperando Kimi aparecer. As mulheres que iam entrando no banheiro estranhavam a nossa presença ali. Mais para o final do intervalo Kimi apareceu, com a cara vermelha, parecia que havia chorado.
— Conseguiu? – Perguntei baixo e ela afirmou.
Peguei o celular das mãos delas e já fui fuçando a galeria, por sorte não havia senha.
— Como você fez para pegar? – Perguntei para Kimi enquanto olhava o celular.
— Eu fingi que estava chorando e que tinha que falar com a minha mãe urgente, ele me emprestou depois de certa resistência. Por falar nisso, o Flávio está esperando aí fora e disse para não demorar, o Caio está conversando com ele para distraí-lo.
Vasculhei a galeria e vi o que eu estava procurando. E encontrei até mais do que eu gostaria de ter visto. Lá no celular do Flávio não havia só as duas filmagens minha e da Lígia, havia também vídeos de pornografia infantil. Entreguei o celular à policial, que o pegou. Ela usava luvas nas mãos para não deixar digitais.
— É, esse rapaz está muito encrencado. – Jaqueline falou olhando as fotos e vídeos das crianças, depois entregou o celular de volta para Kimi.
Kimi saiu rapidamente do banheiro e ficamos lá até o intervalo acabar. Lígia e Jaqueline saíram depois que o corredor já estava mais vazio e eu fui para a sala. Entrei fingindo estar atrasada e me sentei ao lado de Caio e Kimi.
— Ele desconfiou? – Perguntei.
— Acho que não. – Kimi respondeu. – Depois que entreguei o celular, ele saiu olhando alguma coisa. Deve ter visto se não apaguei nada.
Lígia chegou e deu bom dia, começando a chamada logo a seguir. No meio da aula dela, bateram na porta interrompendo-a. Era uma mulher que eu nunca tinha visto antes e atrás dela estavam duas pessoas, a mesma mulher do banheiro, Jaqueline, e outro policial. Os dois fardados.
— Professora Lígia? – A mulher à frente dos policiais se manifestou.
— Pois não, Reitora? Em que posso ajudá-los? – Lígia perguntou.
— Esses dois policiais querem fazer uma... é... querem falar com uma pessoa daqui.
— Com licença. – O policial falou entrando na sala e fazendo um sinal com a cabeça para Lígia. — Recebemos uma denúncia sobre alguém dessa sala, chamado Flávio.
— Eu? Por quê? – Flávio levantou assustado. — Isso deve ser um engano.
— Sentado. – Jaqueline mandou e Flávio obedeceu. — Recebemos uma denúncia de que o senhor está com posse de pornografia infantil e algumas filmagens não autorizadas. Peço que o senhor nos acompanhe até lá fora.
— Isso não é verdade. – Flávio tentou se justificar ignorando o pedido de Jaqueline.
A sala inteira estava olhando o desenrolar daquela situação e eu estava quase vibrando no meu lugar.
— Me dê o aparelho celular e me acompanhe, por favor. – O policial pediu.
— Isso é um engano. – Flávio passou a gritar. — Foi você, não foi? – Ele apontou para Kimi. — Você armou pra mim!
Em um momento que Flávio achou que os policiais estavam distraídos, tentou correr da sala, mas o policial mais esperto que ele, o agarrou e o jogou no chão, imobilizando-o.
— Eu sou inocente! – Flávio gritava enquanto o policial o algemava.
— Então porque tentou correr? Do que tem medo? – Jaqueline perguntou enquanto pegava o celular no bolso dele e o olhava.
— É, o senhor possui alguns vídeos aqui, pelo que vejo.
O policial levantou Flávio e deu voz de prisão, levando-o da sala.
— Isso não se vê todo dia. – Caio comentou em voz baixa.
— Me desculpe Lígia, pela interrupção. – A Reitora disse e saiu apressada para acompanhar o caso de Flávio.
Lígia me olhou e me deu um sorriso, dando uma piscadela em seguida. Ela tentou terminar a aula com dificuldade. Todos estavam curiosos sobre o que aconteceu na sala.
Após a aula nós ficamos para falar com a Lígia.
— O que acontecerá com o Flávio, professora? – Kimi perguntou.
— Eu sei que vocês já sabem das filmagens, então mesmo se fosse só pelas filmagens envolvendo Alex e eu, ele já estaria bastante encrencado. Meninos entendam uma coisa: se uma pessoa captar imagens de outra pessoa ou dos seus objetos ou espaços íntimos, sem o seu consentimento e com intenção de invadir a sua vida privada, designadamente a intimidade da sua vida familiar ou sexual, pratica o crime de devassa da vida privada, punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 240 dias. Entenderam? – Lígia nos olhou e concordamos.
— Mas e se for o contrário, sem intenção de invadir a vida privada? O que acontece? – Kimi tornou a perguntar.
— Se o ato de fotografar ou filmar outra pessoa for praticado sem intenção de devassar a vida privada, mas contra a vontade dessa pessoa, comete‑se uma infração diferente, embora punida com as mesmas penas: o crime de gravações e fotografias ilícitas, que visa proteger especificamente a imagem das pessoas, mesmo quando não esteja em causa a sua intimidade ou vida privada. – Ela olhou para cada um de nós e sorriu talvez sabendo que não estávamos entendendo nada. — Continua a haver crime se o indivíduo guardar as fotografias para si, porque a infração consuma‑se com a captação das imagens. A punição será agravada em um terço nos seus limites mínimo e máximo se o ato for praticado para obter recompensa ou enriquecimento, para causar prejuízo à outra pessoa ou ao Estado, ou através de meio de comunicação social.
— Entendi. – Kimi falou. Eu mesma não tinha certeza se a Kimi tinha entendido tudo.
— Mas agora, como ele estava com posse de pornografia infantil, já agrava mais ainda a situação. Mesmo que ele esteja só com a posse de vídeos, sem repassar, a pena é: reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. – Lígia falou.
— Caramba. – Caio falou. — Algo me diz que não voltaremos a ver o Flávio na nossa turma.
— Também acho. – Kimi falou.
— E quanto aos nossos vídeos? – Perguntei.
— Saindo daqui irei até a delegacia. A Jaqueline me mandou uma mensagem pedindo para ir até lá. Espero que não se importe de eu ser a sua advogada, Alex? – Lígia me perguntou com um sorriso.
— Não, não me importo. – Sorri também.
— Bom, eu preciso ir meninos. – Lígia pegou seus pertences e foi saindo da sala.
— Não está se esquecendo de nada não, Lígia? – Perguntei com um sorriso sapeca e ela me olhou com cara de interrogação.
Aproximei-me e lhe dei um beijo sob os olhares atentos de Caio e Kimi que estavam bem atrás de nós. Lígia sorriu sem se preocupar com os olhares deles.
— Você não tem jeito mesmo, não é Alex? – Ela me deu um beijo rápido e saiu.
— É, parece que as coisas estão entrando nos eixos, afinal. – Falei sorrindo e saindo da sala, sendo acompanhada pelos meus dois amigos.
Fim do capítulo
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