Semanas depois... 

"... I'm laughing at clouds.

So dark up above,.

The sun's in my heart

And I'm ready for love..."

Ela tamborilava os dedos no volante ao som da melodia enquanto tentava enxergar a pista que a levaria ao prédio dela. Já havia deixado essa estória se arrastar por tempo demais. Sabia que se fosse da vontade da outra não teriam a derradeira conversa.

Ela fugia. Sorria ao lembrar das tantas vezes que a pegou entrando na escada de emergência quando a via. Era ridículo, infantil, imaturo, enfadonho, engraçado, fofa... Opa! Sem elogios, okay?!  Tentava focar no "assunto" a ser discutido. 

A frente do Edifício Abalongas era insuportável, quando se falava em estacionar um carro ou apenas trafegar por ali em noites de chuva. Alem da pista ser estreita, tinha o fator "mão dupla" que complicava a situação do soteropolitano. 

Ela deixou o carro no estacionamento de um grande mercado e antes de sair, lembrou-se de pegar o guarda-chuva vermelho, presente da mãe. Chegou na portaria anunciando seu destino. O porteiro informou a saída da jovem e abriu a guarita para que a moça aguardasse. 

Se pôs a esperar...

Quando pensara em desistir, a viu. Subia a pequena ladeira em uma corrida constante. Seus trajes encharcados e o cabelo preso no alto da cabeça. Parecia cantarolar algo enquanto seguia sua série diária para manutenção da boa forma física. 

A mulher estava em estado de êxtase ao poder desfrutar de um momento que considerava único. Se já sentia seu coração acelerar nas raras vezes em que cruzavam-se, imagine depois de tão esplêndida cena. O porteiro tirou-a desse encanto ao anunciar a moradora que uma visita a aguardava.

Olharam-se em silêncio. Palavras mudas saiam dos olhos, gritando segredos e confissões jamais proferidas. Subiram em silêncio até o décimo terceiro andar. Após deixar a moça a vontade, seguiu para o banho em busca da serenidade perdida. Ao retornar a sala, observou-a por curto período.

- Podemos conversar. - Proferiu em seu timbre de rouco tom.    

Fim do capítulo