~ POV ALICIA ~

 

 

- Meu Deus, Camila, fala comigo, por favor. – Comecei a sacudi-la, sangues escorriam pela sua cabeça. – Camila, meu amor, fala comigo, por favor.

 

Me desesperei com que estava acontecendo, e comecei a gritar.

 

- Juci, Cida, me ajudem, socorro... – Lembrei que a Cida não estava em casa aquele dia, mas no desespero quem iria lembrar?

 

Camila estava caída entre o Box e o vaso sanitário, estava nua e desacordada, com certeza pelo tanto de sangue que escorria de sua cabeça deveria ter levado uma pancada feia, eu não conseguia vê direito pois era muito sangue e meu desespero não me mantinha calma, e continuei a gritar por ajuda.

 

- Alicia, cadê vocês? – Era a voz de Juci.

 

- Aqui no banheiro Juci.

 

- O que aconteceu aqui, meu Deus... Camila... Camila... Ela não responde. – Juci se desesperou, tentando sacudir ela, eu barrei no mesmo instante.

 

- Não a sacode assim, ela esta sangrando. Por favor, chama uma ambulância, rápido.

 

- Vou ligar.

 

Juci saiu do quarto desesperada, eu já chorava descontroladamente com a Camila em meus braços, conseguir puxar uma toalha que estava próximo a mim, e comecei a enxugar seu rosto coberto de sangue, tentando achar onde foi a pancada, mas sem sucesso, não conseguir vê. Meu corpo já estava banhado de tanto sangue, meu coração apertado com medo de perde-la.

 

- Meu amor, por favor, acorda.... Não me deixa, eu preciso de você, acorda. – Eu chorava desesperadamente enquanto limpava o rosto da Camila que a cada momento ia ficando mais pálida.

 

Depois de alguns minutos Juci retornou ao quarto avisando que o socorro estava a caminho e me questionando o que tinha ocorrido, narrei que ela tinha ido ao banheiro tomar banho e quando percebi que estava demorando entrei e a encontrei dessa forma, ela fez uma cara de desconfiada, mas eu nem me apaguei a isso, pois o estado da Camila em meus braços estava me apavorando. Pedi a Juci para pegar uma roupa pra ela, e conseguir vesti-la para quando o socorro chegasse... Eu estava apavorada, a cada segundo eu chorava mais e mais, tentava acordá-la, mas ela não reagia de nenhuma forma, a Juci ficava com a cara dela de pateta nos olhando, até que os paramédicos chegaram.

 

- Entrem, elas estão aqui. – Juci os guiaram até o banheiro.

 

- Boa noite senhora, o que houve por aqui? – Um dos médicos chegou nos abordando.

 

- Fui na cozinha beber água e ela foi tomar banho, quando retornei fiquei aguardando ate que ela demorou, quando percebi que a demora estava extrema eu abrir a porta do banheiro e a encontrei aqui, assim. – Minha voz saia embargada pelo choro e soluços e meu corpo todo tremia.

 

- Ela tem costume de desmaiar assim, ou algo do tipo?

 

- É.. Eu .... – Juci viu a minha embaralhação, porque de fato eu não sabia quase nada da Camila.

 

- Não senhor, ela não costuma ter desmaios. – Juci respondeu.

 

- Antes de ocorrer esse desmaio, houve alguma coisa? Alteração do organismo? Quem foi a ultima pessoa que estava com ela? – O médico disparou em perguntas e começou a examina-la.

 

- Foi eu doutor, e antes do banho ela tinha tido um pesado que a deixou conturbada.

 

- Fale mais sobre isso, senhorita.

 

- Ela se debatia e suava muito, e acordou chorando. – Narrei em partes do sonho, pois não sabia ate onde eu poderia ir com a Juci ali.

 

- Pela narração e nenhum histórico de desmaio da paciente o que pode ter ocorrido foi uma hiperventilação. – A equipe já estava mobilizando a Camila em cima da maca.

 

- O que é isso doutor? – O questionei.

 

- A Hiperventilação ela contrai os vasos sanguíneos, e isso inclui os vasos no cérebro que consequentemente faz a pessoa sentir-se fraca e com tontura, e por ela ter levantado da cama e ir pro chuveiro seja ele quente ou frio pode ter ocasionando isso.

 

- E ela não vai acorda doutor?

 

- Vamos leva-la para o hospital, fazer os raio x da cabeça e verificar o que houve, porém os sinais vitais estão bom, mediante o local da pancada só vamos saber quando estivermos com os exames e eles vão nos responder porque ela ainda esta desacordada, e o corte pelo que pude examinar não foi muito profundo.

 

- Doutor, ela vai ficar bem?

 

- Sim, vamos levá-la agora.

 

A equipe já estava com a Camila na maca posicionada para descer, Juci queria ir e pediu para eu ficar com o Gustavo, e obvio que neguei na hora, não por ele e sim porque eu que iria acompanhar a Camila, inclusive, peguei a sua bolsa que com certeza tinha seus documentos, me lavei e troquei de roupa rapidamente e fui seguindo a ambulância.

Ao chegarmos ao hospital a Camila foi direto pra sala de internamento para ser avaliada, e era uma ala no qual eu não poderia entrar, a cada segundo a angustia ia sufocando, eu não sabia se precisaria ligar pra alguém de sua família, então a única coisa que fiz naquele momento foi me acalmar e ligar pro Bernardo.

 

- Ber... – Comecei a chorar sem parar.

 

- Mana, o que houve? Onde você está? Alicia... – Sua voz era de sono e assustado.

 

- Ber a Camila desmaiou no banheiro e bateu a cabeça, e agora ela esta desacordada. – Chorava desesperadamente.

 

- Pera ai, calma! Onde vocês estão?

 

- No hospital.

 

- Estou indo pra ai, me passa o endereço por msg.

 

- Ta bom.

 

Desliguei o celular e passei o endereço pra ele, pelo menos teria meu amigo comigo porque estava mais perdida que cego em tiroteio. Depois de alguns minutos o médico veio ao meu encontro perguntando se haveria alguém da família para conversa, expliquei a ele que ela morava apenas com o irmão e as empregadas e que seus pais moravam longe e era apenas isso que eu sabia, por falta de opção o médico resolveu conversa comigo sobre a sua situação, que não estava nada favorável ao momento. Me explicou que devido a bancada sua cabeça obteve um coagulo no local que precisava ser operado pois estava oprimindo o seu cérebro, por esse motivo o seu sistema nervoso não estava respondendo aos sinais vitais, e precisaria operar naquele momento para que ela viesse a reagir, e vocês devem imaginar o meu ataque de pânico logo após essa noticia.

 

- Ali amiga, oh meu amor, você esta bem? – Bernardo chegou uns minutos depois que o médico saiu.

 

- Ber ela vai ter que operar... – Estava tentando manter a calma, mas estava impossível.

 

- Oh amiga, me explica o que houve....

 

Comecei a narrar tudo para o Bernardo, desde quando chegamos ao apartamento, sobre o sonho e o que houve no banheiro, meu amigo ficou espantado e tentou me acalmar de diversas formas, mas estava quase impossível nesse momento. Fomos conduzidos para uma sala de espera das famílias que aguardavam seus parentes em cirurgiae meu coração a cada segundo parecia sair pela boca.

 

- Oh mana, fica calma, vai da tudo certo. – Eu estava com a cabeça em seu ombro recebendo seus carinhos.

 

- Poxa Ber logo agora que encontrei alguém que me faz tão bem, tinha que acontecer isso.

 

- Calma, é apenas uma cirurgia, ela vai ficar boa e ela tem você para cuidá-la, pensa positivo.

 

- É difícil! Não era pra eu ter saído daquele quarto, eu vi que ela não estava bem, o sonho foi perturbador.

 

- Isso não são horas de ficar se culpando Alicia, você não iria imaginar que isso ia acontecer.

 

- Eu sei Ber, mas se eu fosse com ela não iria acontecer isso.

 

- Pode para... nada de pensar isso! Imprevistos acontecem e agora é rezar pra que tudo venha se encaixar novamente.

 

- É...

 

- Em falar nesse sonho, estranho, né? Ela nunca te contou nada a respeito do seu passado? – Meu amigo me olhava com cara de desconfiado.

 

- Pior que não, mas da pra perceber que ela é super traumatizada, eu não consigo nem tocá-la para fazer um carinho que ela surta.

 

- Pelo que você me disse parece ter sido forçada a algo em sua infância ou adolescência, não sei, só sei que é estranho.

 

- Também pensei nisso Ber, mas não posso ficar fazendo suposições, tenho apenas que entender e respeitar e esperar o momento que ela acha que deve me contar.

 

- É verdade amiga, mas que é estranho é... Talvez se você tentasse fazê-la falar ate pra ajudá-la.

 

- Ber eu já perguntei algumas vezes e ela simplesmente se transforma ou desconversa ou me diz que ainda não é o tempo, tu quer que eu faça mais o que?

 

- É, então esperar o tempo passar e ela se abrir pra você.

 

- Unhum...

 

Quando a Camila saiu da sala de cirurgia já era de manhã, a acompanhei até o quarto onde ela ficaria internada e a equipe médica se reuniu comigo para falar sobre, graças a Deus eles disseram que a cirurgia foi um sucesso e que eles tinham retirado o coagulo que agora esperaria ela acorda para fazer as devidas revisões. Perguntei se eles teriam uma base de quantas horas mais ou menos ela acordaria, me disseram que se fosse pelo efeito da anestesia em menos de uma hora, porém como cirurgias na cabeça são bastante complicada vai da reação do corpo do paciente de 6 a 12h para reagir, mas me tranquilizou que mesmo ela demorando para acorda era normal.

 

- Nossa, ontem foi o Gustavo que estava aqui, agora a Camila! Meu Deus, o que de pior pode vim acontecer agora. – Eu fazia carinho na Camila desabafando com o Bernardo.

 

- Amiga, nada de pior vai acontecer, pelo amor, vai pra lá com sua zicaviu.. – Bernardo falou com seu jeito engraçado se benzendo.

 

- Realmente, eu devo ter uma zica viu, porque essas semanas estão sendo as piores da minha vida e hoje da vida da Camila também.

 

- Acho que a senhorita deveria é ir pra casa descansar, tomar um banho, comer alguma coisa, isso sim.

 

- Nem casa eu tenho em primeiro lugar, e em segundo NÃO, não deixarei a Camila aqui sozinha.

 

- Eita esqueci, sua sem teto – Bernardo riu. – Mas tem a minha casa pra sua sorte, sou bonzinho, e também você ouviu que o médico disse, ela deve acorda de 6h a 12h, tempo suficiente pra você fazer tudo isso que eu te disse.

 

- Não, eu vou ficar aqui com ela, nem adianta insistir.

 

- Ta bom, mas pelo menos vamos tomar nem que seja um cafezinho? Aqui mesmo no hospital.

 

- Tá, aqui mesmo e não vamos demorar. – Depositei um beijo na testa da Camila e deixei o quarto.

 

Seguimos para a lanchonete, e tomamos café, eu não tinha muito dessas coisas de que porque estava preocupada ou triste iria ficar sem comer, se eu sentisse fosse eu comeria e pronto, e nesse momento eu estava faminta, mesmo não querendo abrir mão de esta ao lado da Camila, mas já que era aqui mesmo no hospital acabei cedendo.

Engatamos em um papo sobre as coisas que estavam ocorrendo, o Bernardo fazia cada pergunta pior que a outra, parecia que nem estávamos no hospital com a Camila naquele estado, mas no fundo eu sabia que meu amigo queria me fazer sorrir de qualquer forma.

 

- Nossa mana, ta é apaixonada mesmo, seus olhos estão brilhando mais que estrela quando você fala dela. – Ele gargalhava da minha cara.

 

- Af, confesso que tô mesmo, esse jeitinho dela misterioso, durona, fechada, séria, me excita de uma forma Ber, que nem sei explicar.

 

- Nossa, quem te viu quem te vê. O importante é que to muito feliz por você amiga, principalmente porque você encontrou alguém totalmente ao contrario que o Luan de todas as formas, que ninguém merece você ficar em um relacionamento por comodismo, temos que buscar nossa felicidade todos os dias, mesmo que isso nos faça recomeçar, pois a vida é assim. Recomeçamos todos os dias.

 

- Verdade amigo, eu só não tinha coragem de recomeçar, a correria do dia a dia me dava medo, eu achava que não teria tempo para ir em busca de um novo amor.

 

- Pois é, se enganou e feio, porque você nem precisou ir em busca desse novo amor.

 

- Verdade, o destino até foi generoso comigo, mas como nem tudo são flores, esse novo amor veio carregado de surpresas, mas te confesso algo...

 

- O que?

 

- Eu to mais que preparada para encarar essas surpresas, viu... – Dei risada e pisquei pra ele.

 

- É assim que se fala, to gostando de vê. – Meu amigo deu seu melhor sorriso.

 

Ah como eu o amava, nossa história era tão especial, e ele sempre compreensivo na época que namorava o Luan, muitas vezes deixei meu amigo de lado, sozinho, sem lhe dar atenção por causa do traste do Luan. E sempre que precisei ele esteve ali pra mim, exceto essas semanas ai que estava atrás desse boy magia.

 

- Falando nisso, cadê seu boy magia?

 

- Ah amiga, não deu certo, mas como te falei acima, já estou recomeçando.... – Caiu na gargalhada.

 

- Você não perde tempo, viu...

 

Ficamos conversando amenidades, até que percebi que já estávamos ali a quase duas horas, e resolvi voltar pro quarto, como era sábado o Bernardo disse que ficaria comigo, não é um fofo gente?

Estávamos voltando para o quarto onde a Camila estava, e comecei a ver uma movimentação estranha, enfermeiros correndo pelos corredores, uma agonia, e corri pra vê, quando dei por mim estavam todos em cima da Camila tentando reanima-la.

 

- O QUE ACONTECEU, CAMILAAAAAAAAAAAAAAAA... – Corri pra cima da cama dela e entrei em choque quando vi o aparelho apitando sem sinais vitais.

 

- Tire ela daqui por favor, senhora você precisa se afastar... – Vozes falando ao mesmo tempo.

 

- Carrega em 200.... – Mais vozes falando.

 

- CAMILAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA... – O Bernardo me agarrou pela cintura tentando me tirar do quarto.

 

- Alicia, por favor, fique calma, eles estão fazendo o possível.

 

Eu estava perdida naquele momento, pessoas se comunicando ao mesmo tempo, eu gritando, o Bernardo pedindo para me acalmar, a zuada da máquina constatando que não havia mais sinais vitais, eu me debatendo nos braços do Bernardo tentando voltar para a cama onde estava meu amor.

 

- Camila, por favor, não me deixa, não me deixa, fica comigo... – Eu gritava desesperada no corredor do quarto.

 

- Amiga, olha pra mim, ela não vai te deixar, ta me ouvindo, não vai te deixar....

 

Essas foram as últimas palavras que conseguir ouvir depois de desmaiar!

 

Fim do capítulo