Capítulo 11
Acolhimento no Terreiro
O trabalho estava começando e Adriana sentia imensa alegria por está de volta. Havia conversado com o pai de santo que estava feliz em ver como a filha estava alegre com o encontro da amiga.
O defumador enchia o local com o cheiro das ervas e todos ali respiravam, buscando renovar as energias. O terreiro estava cheio, muitas pessoas em busca de alento e os cânticos entoados chamavam pelo Caboclo que era a entidade dirigente que incorporava no pai de santo da casa que logo se fez presente. Sua voz firme e amorosa fez o espaço do terreiro se encher quando ele disse:
— Salve Deus meus queridos irmãos e salve todos os Orixás. Venho nesse dia de hoje pedir a todos os irmãos que paremos um pouco, que deixemos de pensar um pouco em nós e que possamos vibrar numa prece de amor e compaixão pelo nosso orbe terreno. Pedindo a mamãe Oxum que derrame sobre todos os seres humanos, o seu amor. Ergamos as nossas mãos em doação e cantemos... Minhas mãos estão cheias da graça de Deus, minhas mãos estão cheias das graças de Deus, todo aquele que eu toco, bendito será, todo aquele que toco bendito será.
E todos cantaram de mãos erguidas, das quais ia saindo uma luz branca. A voz do caboclo se fez ouvir novamente quando ele disse:
— Obrigado queridos irmãos, o orbe agradece. Agora vou pedir que vocês pudessem se retirar momentaneamente, para que possamos dar início aos nossos trabalhos e logo um irmão irá vos chamar para o acolhimento que vieram em busca.
Todos saíram, Lana saiu despedindo-se de Adriana com um sorriso, estava imensamente emocionada. Tudo ali lembrava o terreiro no qual aprendera tanto, a simplicidade do altar, da casa, a energia dos cânticos, e ela agradeceu a Deus, agradeceu aos Orixás por está ali, por está com Adriana, por está viva!
Uma moça foi chamada e o caboclo tomou suas mãos e ela chorou, ele esperou que ela se acalmasse e disse:
— Seja bem vinda filha, o que a traz hoje aqui?
— Estou angustiada caboclo. Sou casada há vinte e dois anos e conheci um rapaz, apesar de toda a minha resistência eu acabei me envolvendo com ele. Na verdade estou apaixonada, mas não tenho coragem de separar-me do meu marido, mesmo sabendo que ele tem outra mulher, que sempre me traiu.
O caboclo ouvia a jovem senhora sem nada dizer, sentia que ela precisava desabafar e ela continuou a falar:
— Casei quando ainda ia fazer quatorze anos e ele já tinha dezoito, não quero justificar a minha traição, mas ele sempre foi muito duro e já me agrediu fisicamente algumas vezes, tenho medo dele, eu acho.
O caboclo pediu que Ana Luísa ficasse na frente da moça e colocasse a mão em seu coração, a moça continuou falando da sua dor. Consuelo foi chamada e se posicionou atrás da jovem senhora que chorava muito. Do lado ficou Luis Antônio e do outro Rafael e o caboclo pediu para cantar esse ponto assim... Moça me dá um cigarro do seu pra eu fumar, porque dinheiro eu tenho pra comprar, moça me dá um cigarro do seu pra eu fumar porque dinheiro eu tenho pra comprar, vivo sozinho, vivo na solidão, Maria Mulambo me dê a sua proteção.
Ana Luísa incorporou a pomba gira Maria Mulambo e disse dirigindo-se para o caboclo.
— Salve sua força nobre caboclo.
— Salve Mulambo.
— Quero pedir sua permissão para desfazer algo que foi feito para a moça.
Nesse instante Soraia arregalou os olhos, como ela sabia disso? Não havia dito nada sobre o que seu amigo havia feito a pedido de seu marido, uma vez que ela havia tido coragem de separar-se dele.
— Tem toda moça. Faça seu trabalho no amor e na caridade do Cordeiro e em nome dele, desfaça o que atrapalha a moça de seguir seu caminho.
Maria Mulambo se dirigiu a Soraia e disse:
— Salve sua força minha querida, eu sei que sabe do que estou falando, sabe que seu amigo fez um trabalho de amarração para você a pedido do seu marido, ouça bem o que vou te dizer: o que vou fazer, é apenas desagregar as energias que ele manipulou, para que tu possas seguir sem os nós que te faz tão medrosa. Desmanchando esse trabalho, tu terás condições de decidir a tua vida, sem tanto medo, se assim você desejar.
— Por favor, senhora pomba gira, eu peço que me ajude nisso. Esse amigo disse que fez esse trabalho pensando na minha família, que ele trabalha para a família, mas que não fez para o mal.
— Não estamos aqui para julgar minha querida, mas ninguém, por mais boa vontade e amor que tenha pela família, não pode infligir no livre arbítrio do outro e não cabe a nenhum ser humano amarrar o destino de um ser a outro, seja em nome do que for. O livre arbítrio é algo sagrado e não cabe a um ser humano violar essa benção de Deus.
Maria Mulambo pediu uma vela branca e uma vermelha, pediu um alguidá grande com água do mar, pediu a jovem senhora sentasse no chão, fazendo o mesmo. Pediu as pedras de cristal que ela usava, pedindo uma rosa com formato de coração, a cambona ia trazendo o que a pomba gira pedia. —Traga para mim também rosas brancas e vermelhas, minha querida, alfazema e busque alecrim no jardim dos orixás. – Disse Maria Mulambo.
Maria Mulambo cantava... Vivo sozinha, vivo na solidão, Maria Mulambo me dê a sua proteção... Todos cantavam. A pomba gira macerou as rosas, colocando as no alguidá onde estava a água do mar, macerou também o alecrim e colocou junto um pouco de alfazema. Pediu a jovem que escrevesse o nome do marido na vela branca, ela o fez, depois entregou a vela vermelha para ela e pediu que nela escrevesse o seu nome completo, que no ato da escrita, imaginasse força e coragem para que ela seguisse seu caminho na força do Cristo e que Ele quebrasse todas as forças que haviam sido emanadas para que ela perdesse sua força original, pediu que ela falasse em voz alta o seu desejo e a senhora começou a escrever e a falar :
— Em nome de Deus eu me liberto de toda e qualquer energia que fez paralisar as minhas forças, que todo mal seja desfeito e que o bem prevaleça. Amém.
Maria Mulambo soltou uma gargalhada e nesse instante uma jovem médium incorporou à senhora Sete Saias e ela se juntou ao trabalho com a outra pomba gira. Maria Mulambo tomou o cristal rosa em formato de coração e entregou para Soraia dizendo a ela:
— Minha querida, esse é o seu coração, nesse alguidá contém água do mar e na força de Iemanjá você vai lavar seu coração, pedindo a Ela que tire dele toda e qualquer amarra, que o liberte de toda energia que foi colocada e que não deve está nele. Lave com cuidado, com pensamentos de amor e carinho, não peça nada de ruim para quem o amarrou, apenas que Iemanjá o liberte.
Soraia fazia o ritual imbuído de fé e amor, sentia forte emoção e a magia ia se fazendo, Sete Saias tomou duas rosas vermelhas e as passava ao redor do corpo da senhora que sentia fortes arrepios e nesse instante permitiu que as lágrimas descessem pelo seu rosto. Maria Mulambo acendeu a vela que estava com o nome do esposo da moça, pedindo a Iemanjá que queimasse tudo o que não fosse dele em relação à esposa, que o fogo sagrado fizesse a limpeza dos cordões energéticos entre os dois, colocou a vela do lado do alguidá, depois pediu à moça que acendesse a vermelha, pedindo a Iemanjá forças para caminhar e assim Soraia fez. Maria Mulambo pediu uma cadeira e indicou para que Soraia sentasse, pediu a ela que colocasse seus pés dentro do alguidá e os lavou, um de cada vez, pedindo a mãe das águas salgadas que na força da magia do amor, que libertasse seu caminhar, que seus pés caminhassem pelos caminhos que os Orixás determinassem para o seu melhor. Maria Mulambo cantou... Ela é a dona das ondas, ela é a rainha do mar, odoiá Iemanjá... Ela é a dona das ondas, ela é a rainha do mar, odoiá Iemanjá, o terreiro se ilumina pra Iemanjá chegar, trazendo sua magia, sua benção vem nos dá, com seu lindo manto azul, é a força que nos guia, aos caminhos da bondade pra crescer a cada dia, odoiá... Iemanjá. Todos cantavam e a magia enchia o terreiro, era a magia do amor que desfazia o mal.
Terminado a acolhimento Maria Mulambo disse a Soraia:
— Fique em paz minha querida e saiba que está livre do que amarrava você e que seguirá ao lado do teu esposo ou ao lado do homem que o seu coração escolher. A escolha será tua, sem que ninguém a obrigue a nada. Salve Iemanjá e salve todos os Orixás.
— Salve! – Responderam todos. Soraia chorando disse:
— Salve senhora Maria Mulambo, eu agradeço muito e me sinto muito mais leve, sei que tudo ficará bem.
O caboclo tomou as mãos da jovem senhora e disse:
— Segue na luz filha. E quando quiser voltar a casa está aberta para ti.
Soraia saiu entre risos e lágrimas, sentindo-se leve, como se estivessem tirado de suas costas um fardo.
Lana adentrou o salão, estava nervosa, dos seus olhos as lágrimas desciam e o caboclo tomou suas mãos:
— Seja muito bem vinda filha, que os Orixás estejam contigo. Estou feliz que esteja aqui.
— Eu agradeço caboclo. Estou muito feliz e tudo o que desejo é agradecer a Deus e aos Orixás que me trouxeram de volta para a minha vida.
O caboclo pediu a Ana Luísa que viesse para frente e que Jorge um jovem médium que ficasse atrás dela e que colocasse a mão em suas costas, nesse instante o jovem começou a se contorcer, seus olhos abriam e fechava, num rito estranho, o caboclo sabia quem estava chegando e colocou a mão na testa do jovem que começou a falar, mostrando ódio e desespero.
— O que vocês querem comigo? Solte-me, eu não admito ser prisioneiro.
O caboclo chamou outro médium e cantou... Portão de ferro cadeado de madeira, portão de ferro, cadeado de madeira, no portão do cemitério sarava exu Caveira, no portão do cemitério sarava exu Caveira e o exu incorporou, saldando o caboclo que disse:
— Salve sua força Caveira, o moço é todo seu.
O exu Caveira soltou alta gargalhada e no espírito que estava incorporado no médium, foi rompida uma membrana espessa que circundava seus olhos e ouvidos. O senhor Caveira se aproximou e disse:
— Bem vindo Pedro. Que Deus esteja contigo.
— Você de novo? O que quer comigo? Eu disse para você não se meter onde não foi chamado e não me lembro de ter lhe chamado.
— Você se engana Pedro, não estou me metendo onde não fui chamado, exu só vai onde é chamado ou mandando pelo Cordeiro e é a ele que obedeço me metendo nesse caso.
— E o que quer? Sabe que eu não vou desistir, que nunca vou permitir que Lana fique com Adriana, que é na verdade o maldito Ariel, que foi também o maldito Lorenzo.
— Muito bem. Agora veja isso, olhe para esse espelho que está sendo colocado em sua frente e acompanhe as cenas que ele vai te mostrar.
Nesse instante como que num passe de mágica foi plasmado um grande espelho na frente de Pedro e as cenas começaram se desenrolar e ali ele via a sua traição a Ariel, viu-se matando sua esposa, depois forjando a morte de seu meio irmão, para então se casar com Mellisa. Depois viu quando ele era Samuel e que Ariel era então Lorenzo, viu-se novamente cometendo assassinato e viu quando Valentina suicidou-se por ter sido obrigada a voltar para casa.
— O que é isso? Que bruxaria é essa, senhor exu do diabo? Quer me confundir? Nunca fui isso, amei Mellisa, depois a amei no corpo de Valentina e Ariel sempre me tirou seu amor. O que quer com essa mentira?
— Até quando vai querer se iludir meu caro? Sabe que não é bruxaria, sabe que isso aí, como você disse, é você. Sabe que é devedor de Ariel e de Mellisa, sabe que de agora em diante não mais será permitido a você que acesse a energia das duas e que elas seguirão caminhos de alegria e de novos desafios, trabalhando na Umbanda sagrada, refazendo cada uma, seus caminhos de enganos. Então...
— Então... O quê? Quem afirma que não poderei mais acessar a energia das duas?
— O Cordeiro. Eu afirmo em nome Dele e sabe que eu estarei sempre por perto, sabe que Lana logo será uma médium que me ajudará no trabalho na Umbanda, me permitindo galgar na evolução espiritual e a defenderei de teus ataques, sabe disso. Sabe o que te aguarda se não aceitar o convite que venho te fazer em nome do Cordeiro crucificado, você é um ser inteligente Pedro, sabe que está dando murro em ponta de faca, sabe que não pode fazer mais nada, que a porta para você foi cerrada e que somente restam duas opções para ti.
— E quais são, meu caro exu?!
— Seguir comigo para a CASA DO PASSADO, onde irá aprender o trabalho e o respeito pela Umbanda, para reencarnar e nela militar ou o sofrimento no umbral do inferno astral. A escolha é tua, é livre para ela.
— E reencarnar como? Em que família? Portando o quê? Posso saber?
— Sim meu caro. Ouça você vai reencarnar menina, vestirá a carne feminina, virá cega, negra, carregará o desafio da homossexualidade e vai adentrar o solo umbandista para aprender a humildade.
— E quem aceitará uma filha em condições tão desgraçadas assim?
Perguntou Pedro com imensa angústia.
— Apesar de você achar que o amor é para poucos, o Cordeiro deseja que você saiba que o amor é para todos e você encontrará um casal que irá lhe acolher, depois que sua mãe biológica morrer, o que se dará, meses depois do seu nascimento.
— E se eu não aceitar a reencarnação?
— Então... Eu apresento a você a irmã Dor, segue com ela, mas sabendo que nada é para sempre.
Pedro não disse nada, o orgulho rebuliçava dentro de seu ser, depois de alguns segundos ele disse:
— Não tenho escolha, sigo com você exu Caveira.
E o espírito foi levado pelo senhor Caveira que saldou o nobre caboclo e seguiu para a CASA DO PASSADO.
Lana chorava de emoção, Adriana limpou os olhos e entregou para sua amada um lenço de papel. O caboclo disse:
— Como se sente Lana?
— Em paz senhor caboclo. Eu gostaria de fazer um pedido, caso o senhor achar que eu possa.
— Diga filha.
— Quando morei em Catalão trabalhava no terreiro e gostaria muito de continuar meu aprendizado sobre a Umbanda, meu coração encontrou aqui imensa paz, então se o senhor permitir eu gostaria de fazer parte do grupo.
— Seja bem vinda filha. Coloque sua roupa branca e venha nos ajudar na lida.
Adriana sorriu e agradeceu, Lana abraçou o caboclo em agradecimento a aceitação no terreiro.
— Venha semana que vem com sua roupa branca e seja muito bem vinda filha.
Lana saiu.
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O exu Caveira adentrou o hospital da colônia CASA DO PASSADO e lá reverenciou a preta velha Maria Conga que aguardava Pedro. Caveira disse:
— Minha velha salve sua força. Trouxe o homem, com a graça do Cordeiro e que seja feita a vontade Dele.
— Salve sua força nobre Caveira e que seja feita a vontade do Cordeiro. Pedro irá aprender, assim como todos nós estamos aprendendo.
— Vó e como será a volta dele? Adriana e Lana precisam passar por isso? Perdão minha velha, ainda sou muito bruto, gostaria de entender um pouco mais essa história, para que eu possa ajudar da melhor maneira possível.
A velha Maria Conga tomou a mão do exu Caveira e seguiu para o jardim que ficava ali em frente ao hospital, nesse momento aproximou-se a nobre pomba gira Maria Navalha trazendo o suco da alegria, a preta velha pegou dois copos e entregou um ao exu e Maria Navalha seguiu para o hospital, iria servir suco aos pacientes que ali estavam.
— Minha velha esse suco faz um bem enorme em mim. – Ele disse e sorriu, já sentindo o que faria aquele preparo em seu ser, depois que tomou o primeiro gole ele disse:
— Vó eu sei que esse suco está ficando conhecido, mas eu gostaria muito que a senhora falasse dele, qual o motivo desse fruto ter vindo de Aruanda para cá e quais os benefícios que ele traz para os seres que aqui vivem ou para os que aqui vêm da Terra em tratamento ou em aprendizado.
Vovó Maria Conga sorriu, acariciou a mão do exu e disse:
— Seu pedido é uma ordem fio, a veia vai falar do fruto da alegria. Esse é um fruto de Aruanda e nós, os negos veios, percebemos que ele seria de grande utilidade aqui na CASA DO PASSADO, aqui fio, é uma colônia que fica muito próxima da Terra e sofre muito os ataques da tristeza que é muito gerada pela raça humana, então nobre Caveira, esse fruto foi trazido e aqui é combinado com algumas substâncias que lembram a dopamina, a serotonina, a triptofano, endorfina e outras mais, fazendo desse fruto um forte aliado no tratamento humano.
— O que ele combate minha velha?
— Caveira, meu nobre guerreiro, a Terra tem sido acometida por imensa tristeza, esse sentimento tem sido fortalecido pelo medo, da tristeza vai gerando a falta de fé, a falta de confiança na vida, em Deus, acometido pela tristeza em grau elevado, o ser humano pode ser levado ao suicídio, vosmecê entende?
— Sim minha velha, a Terra tem sofrido esse mal, as pessoas andam cada dia, mais desanimadas, cada dia mais entristecidas, enraivecidas e isso são os primeiros passos para a desistência da vida e muitos, eu sei, buscam o suicídio, por não encontrarem mais alegria na vida, achando, minha velha, que na morte irão encontrar o alento. A tristeza tem feito com que muitas pessoas passem a viver de maneira como vivem os mortos vivos, sem vontade, sem alegria, sem luz e acho isso que o suco da alegria, faz uma coisa fantástica.
A preta velha sorriu da maneira como o exu Caveira se referiu ao suco e disse:
— Isso é verdade fio, o suco da alegria é uma coisa fantástica, como tudo na natureza. Então temos observado que ele está funcionando, vejo muitos filhos na Terra que já começam a sentir o efeito dele. Estamos pegando casos críticos, casos que segundo a visão humana, a pessoa não tinha mais motivo para ser feliz, estamos tratando pessoas que na visão humana, já deviam ter desistido da luta. Durante a noite quando ele ou ela, dorme, é trazido para cá, em desdobramento e começamos o tratamento com o suco.
O exu Caveira sorriu, sabia do que a velha falava, ele acompanhava alguns casos. E a velha Conga continuou:
— Oia que a coisa tá funcionando que é uma beleza, Caveira, a veia vê muitos filhos, sem saber entender o motivo da alegria que tá sentindo e passam o dia vibrando melhor, agradecendo a Deus por esse sentimento e a gratidão vai aumentando a alegria e as coisas vão melhorando cada dia que passa.
— Vó isso é verdade, o suco da alegria tem feito milagre em muitos filhos da Terra e aqui na CASA DO PASSADO tudo isso é mais sensível, porque libertos do peso da matéria o tratamento funciona melhor. Então o que dizer disso tudo? Só agradecer ao trabalho dos senhores pretos velhos amados, que tanto faz por nós.
— Agradecer a Deus, fio, a Zambi nosso Pai amado e aos Orixás que estão sempre com todos nós. Agora vamos falar de Adriana e Lana, meu nobre exu guerreiro.
— Sim minha velha. Elas precisam mesmo passar por isso, criar uma criança cega, negra e que é na verdade o algoz de tantos anos? Que vai descer a Terra portando o desafio da homossexualidade?
— Não, Caveira, elas não precisam passar por isso, Pedro poderia adentrar o orbe e viver sem ninguém, abandonado nos orfanatos ou pelas ruas feito mendigo, mas Adriana pediu a Deus que permitisse a ela, acolher e Deus na sua infinita misericórdia aceitou a oferta dela.
— Coração bom tem essa moça, minha velha.
— Assim como o seu meu nobre exu.
O exu Caveira soltou uma risada, depois se pôs sério e limpando uma lágrima, disse:
— Sabe que isso não é verdade, minha velha, sabe das maldades que já pratiquei, sabe do mal que fiz a mulher que mais amei na Terra e que nada seria de mim, se não fosse a tua bondade e paciência em me ensinar o que é o amor. Sabe que desci ao inferno da dor e que de lá os guardiões me resgataram, a pedido do seu amor. Sabe que sou um ser endurecido e tosco e que para mim a dor humana ainda é muito presente. – Ele disse e tomou um gole do suco, também estava em tratamento com aquele antídoto, precisava dele para combater a tristeza que ainda insistia em assolar seu coração, por conta de seu passado.
— Meu nobre exu Caveira, não se puna mais por isso, o passado é o dia em que nada mais podemos fazer nele, não volte mais lá. Maria Padilha assim como vosmecê segue no trabalho e vai sarando as suas dores, alegre pelo seu ingresso na lida dos Guardiões da Noite. Então fio, alegra teu coração e lembra que não há santidade na raça humana, estamos todos nós em processo de aprendizagem e que hoje estamos melhores do que ontem. E oia, meu nobre Caveira, a veia tem imenso prazer em trabalhar com vosmecê. Segue na luz, sem olhar mais para os dias de escuridão.
— Minha velha, suas palavras são bálsamo para meu coração tão denegrido pelo erro, sou imensamente grato ao seu amor, grato a ajuda dos guardiões que me ensinam a ser um exu e a vós minha velha, o meu amor eterno.
— Deixemos de mi mi mi meu nobre exu Caveira, vosmecê sabe que somos todos irmãos e que somos todos imperfeitos, o que vai nos fazer melhorar é o trabalho no amor e na caridade, não perca sua fé meu grande exu, porque vosso coração também sabe amar.
— A senhora tem razão minha velha. Sou abençoado por está ao seu lado e ao lado da minha amada Maria Padilha. – Caveira sorriu e em seu olhar apareceu um brilho diferente, a velha Maria Conga sorriu e disse:
— O amor está nos seus zoios fio. Saiba que ele também tá no coração da senhora Maria Padilha. Agora vamo, fio, que o hospital precisa de nós, o que nos sara, é o trabalho, então vamo, fio.
Maria Conga seguiu abraçada com o exu Caveira, que sentia imensa alegria por tudo o que tinha. Havia sido resgatado do mais profundo inferno da dor e ingressado no trabalho dos Guardiões da Noite e era grato por isso. Ele era grato, aquela preta velha que coordenava o grupo ao qual ele pertencia, amava aquela preta velha que havia abdicado do paraíso de Aruanda para militar ali na CASA DO PASSADO, ajudando aos exus e pombas giras a lidar com o amor.
Fim do capítulo
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